Por Miguel da Rocha Cavalcanti1
Chitãozinho e Xororó assinam a nova grife de carne, que deverá ser comercializada pelo grupo Pão de Açúcar
Foi lançado ontem, em São Paulo, o segmento paulista do projeto que visa produzir, diferenciar e comercializar uma carne de qualidade com a marca Montana Premium Beef. O segmento do Mato Grosso do Sul já havia sido lançado na semana passada durante a ExpoGrande, em Campo Grande/MS, com a presença do ministro Pratini de Moraes.
A nova marca utilizará a imagem da dupla de cantores sertanejos Chitãozinho e Xororó, sócios da rede de churrascarias Montana Grill e da rede de fast food Montana Grill-express. A carne desse programa será utilizada pela rede Montana Grill.
Mas o projeto tem objetivos bem mais ousados, como a comercialização na grande rede varejista. Para isso, os coordenadores do projeto contactaram o grupo Pão de Açúcar, maior varejista brasileiro, que já demonstrou interesse em comercializar essa marca de carne nas 95 lojas do estado de São Paulo que carregam a bandeira Extra, além da loja de Campo Grande/MS.
É o primeiro programa de carne de qualidade que começa com uma marca já conhecida pelo consumidor urbano, além de contar com o endosso da dupla sertaneja.
A certificação dos processos em São Paulo ficará a cargo da equipe do Fundepec, com apoio da Embrapa. O frigorífico responsável pelos abates é o Marfrig, de Promissão (SP).
Requisitos do programa
Para participar do programa, que não tem preferência por nenhuma raça, é preciso se adequar aos padrões de qualidade do projeto. Após o abate, é feita uma classificação de carcaças onde é analisado o acabamento, peso da carcaça, sexo e idade dos animais.
Para ser aceito no programa, o animal precisa ter as características:
– se for macho castrado, é necessário que tenha no máximo 4 dentes e peso mínimo de carcaça de 250 kg.
– Se for fêmea, é necessário que tenha no máximo 4 dentes e peso mínimo de carcaça de 190 kg.
– Para machos inteiros, o requisito é igual ao de castrados; no entanto, só serão aceitos animais com no máximo 0 dentes (somente dentes de leite).
Para que a carne desse animal se torne Montana Premium Beef é preciso ainda que a carcaça tenha um acabamento (cobertura de gordura no contra-filé) mínimo. No caso dos machos, com 3mm de gordura esse animal tem um preço premium de 2% da cotação do dia do preço da arroba, pelo boletim diário do CEPEA/ESALQ/USP. Com um mínimo de 6mm de gordura, esse sobre-preço é de 3%.
Para fêmeas, 3mm garantem mais 3% no preço da arroba de vaca, com base no mesmo boletim, e 6mm dão ao produtor um acréscimo de 4% no preço do dia, novamente a partir do preço da arroba de vaca.
As carcaças que não se adequarem em algum dos critérios acima apresentados não terão sobre-preço.
Escala de abates
Este sempre foi um problema nos programas que visam garantir um suprimento de carne de qualidade diferenciada. Nos meses de final de entressafra, setembro a novembro, é comum sobrar animais com o acabamento e peso ideais, em sua maioria saídos de confinamentos e semiconfinamentos. Já no período de safra, a oferta tende a ser muito reduzida.
Por esse motivo, os cerca de 30 pecuaristas convidados para esse primeiro encontro estiveram entre os que melhor se adequaram ao sistema durante os programas de novilho precoce, ainda existentes no MS, mas que foram interrompidos em SP.
De acordo com Marcos Antônio Molina dos Santos, proprietário do Marfrig, o Projeto Montana Premium Beef buscará, no futuro, premiar os pecuaristas que cumpram suas escalas de abate com maior eficiência e precisão.
Além da premiação, os pecuaristas que se participarem do programa poderão ter outras facilidades, como a possibilidade de pagamento à vista, o que seria garantido pelo Banco Bradesco.
O projeto prevê começar a abater ainda no início de maio, com 500 bois por semana em SP e mais 500 bois no MS. Em breve, espera-se que seja possível abater 1.000 animais por semana em cada estado.
Responsáveis pelo projeto: Luiz Fernando Cabrino, Chitãozinho, ambos do Montana Grill, Marcos Antônio Molina dos Santos, do Marfrig e Ari Nedeff, também do Montana Grill.
Entidades e empresas participantes
– rede Montana Grill, como proprietária das marcas
– Departamento técnico e controle de qualidade do frigorífico Marfrig, responsável pelo controle de qualidade, além do processamento, embale e distribuição
– FUNDEPEC, como certificadora dos processos
– Embrapa Pecuária de Corte (Campo Grande/MS), responsável pela assistência técnica
– Associação dos produtores de novilho precoce do MS
– Rede de supermercados Pão de Açúcar e Extra Hipermercados, como parceiros
Rastreabilidade
Foi desenvolvido um programa de identificação e rastreabilidade para o programa. É possível identificar a fazenda produtora e relacioná-la com os cortes do produto nas gôndolas do supermercado.
O programa permite a utilização de brincos ou marca a fogo, desde que respeitados os locais de marcação. Em breve, será lançado um programa de valorização da qualidade do couro, para o qual estima-se um sobre-preço de 1-2% no preço da arroba, fruto desse incentivo.
Produtos
Serão oferecidos produtos resfriados e embalados a vácuo, com validade de 45 dias. Também estarão disponíveis cortes embalados a vácuo, congelados por meio de um processo ultra-rápido que conserva as características da carne. Esse tipo de produto tem validade de até 18 meses se estocado em freezer.
Serão oferecidos os seguintes produtos:
– Inteiros: Picanha, Miolo de Alcatra, Maminha, Fraldinha, Filé Mignon Contra-filé, Sete de Paleta, Noix, Miolo de Paleta, Peixinho, Costela, Lagarto, Acém e Tortuguita.
– Porcionados: Tornedo com bacon, Carpaccio, Prime Ribe, T-bone, Tiras para Strogonoff, Cubos para Fondue e Picadinho, Carne Moída, Bife de Noix, Filé do Sete do dianteiro e Rabada.
Os programas anteriores a esse enfrentaram grande dificuldade em garantir um sobre-preço aos produtores, pois somente os cortes nobres alcançavam um preço premium no mercado.
Desta forma, é interessante notar, neste projeto, que serão comercializados cortes de dianteiro, visando a agregação de grande parte dos cortes bovinos, permitindo assim o pagamento de um sobre-preço aos produtores.
Outra inovação é que todos os cortes saem do frigorífico prontos para ser comercializados, o que está de acordo com a tendência atual de que os supermercados têm cada vez menos área para processar esse tipo de produto. Hoje, a tendência é que o açougue dentro do supermercado deixe de existir e que toda a comercialização seja feita em um sistema self-service. Para isso, é necessário que a carne ofertada (já embalada) tenha uma qualidade constante e uniforme, pois surpresas desagradáveis pós-compra farão com que esse consumidor (cada dia mais exigente) se recuse a comprar novamente essa marca.
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1Miguel da Rocha Cavalcanti
Eng. Agrônomo pela ESALQ/USP, Coordenador do BeefPoint