Quais as lições de liderança que o campo ensina hoje para a cidade grande?

Por José Luiz Tejon Megido, Diretor Vice Presidente de Comunicação do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável (CCAS), Dirige o núcleo de agronegócio da ESPM, Comentarista da Rede Estadão – ESPN.

Um dia, anos 80, retornando de Itumbiara em Goiás, passando por Uberlândia, Uberaba, rumo certo via Ribeirão Preto, retornava para a cidade grande São Paulo, depois de uma jornada pelos campos do agronegócio brasileiro. Não haviam ainda Tocantins, Oeste da Bahia, Sul do Piauí, muito menos Lucas do Rio Verde em Mato Grosso, Cacoal de Rondônia. Pelo menos não haviam na perspectiva como se transformaram em não mais do que 25 anos. Nessa estrada, dirigindo um VW GTS 1.8 da época, escutando no rádio do carro a música Terra Tombada com Chitão e Xororó, tive a inspiração e escrevi a musica Peão Boiadeiro. Nela antevia o dia em que o rumo do país seria revertido e invertido. Não mais voltaríamos para a cidade grande e sim para a construção do trabalho e da riqueza no novo interior do Brasil.

Essa música foi recentemente gravada pela dupla Jack & Jhonny:

Quais as lições que o campo tem ensinado sobre liderança para as nossas cidades grandes?

Heróis brasileiros da ciência, tecnologia e pesquisa se dedicaram concentrada e profundamente ao conhecimento da agropecuária em condições do Cerrado Brasileiro. Outras levas de heróis e heroínas, enquanto crises vinham, iam, planos Collor, Real, Rússia, eleição do Lula, bolhas imobiliárias, estagnação em investimentos; migravam de suas micro, pequenas e médias propriedades e nos caminhões, dormindo sob lonas, saídos do Sul, Sudeste e de outras partes do país; tomavam posições nas novas fronteiras, pagando o preço de legítimos pioneiros – os agricultores e suas famílias.

E mais sonhadores de todas as profissões, educadores, comerciantes, operários, peões, agrônomos, veterinários, verdadeiros empreendedores, resultantes de uma espetacular mistura de todas as raças, enfrentando frustrações, falta de infraestrutura, empurrados pelo lado saudável do cooperativismo e do trabalho; iam em paralelo a isso tudo criando os famosos “clusters”, em torno do conceito de cadeia de valor do “agribusiness”, o antes, dentro e pós-porteira das fazendas.

Esse novo campo, esse novo interior do país, não foi feito com facilidades, não foi erigido com zonas de conforto, não foi construído sem sangue, suor e lágrimas. A principal lição de liderança que podemos hoje tomar dos últimos 20 anos do campo brasileiro, e trazer para a cidade grande e para as nossas vidas pode ser resumido na vontade intrépida de realizar com as próprias mãos a materialização da riqueza. Superação é o que esses milhões de brasileiros nos ensinaram. As coisas não continuam fáceis. A incerteza da atividade agropecuária é enorme.

Os preços não são definidos numa planilha do computador e mandados colocar nos rótulos das gôndolas; e sem estudo, conhecimento e muita tecnologia fica impossível fazer o que foi feito. A coisa está pronta? Não, ao contrário, o que mais fascina no país brasileiro é o quanto existe para ser feito. Porém, o que foi feito merece ser olhado com respeito e análise responsável, por parte de qualquer analista sério. E agora, podemos cantar: “Oi leva eu, eu também quero ir, estou perdido na cidade grande, não posso mais viver aqui”.

José Luiz Tejon Megido, autor desse artigo, fará palestra de encerramento do BeefSummit Brasil, evento que acontecerá nos dias 10 e 11 de dezembro na cidade de Ribeirão Preto. Será um grande encontro da pecuária, com mais de 1.000 participantes de todo o Brasil, para aprender, debater e celebrar a pecuária de corte. O BeefPoint irá reunir quem faz hoje a pecuária do futuro.

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