Diversas vezes somos questionados por alunos, produtores e técnicos sobre a viabilidade do uso de creep-feeding, as problemáticas e seus benefícios dentro de um sistema de produção. Existem alguns mitos a respeito destes fatores, e muitas vezes apregoados de forma errônea, levando a interpretações erradas a respeito do creep-feeding. Desta maneira, o objetivo deste radar é de esclarecer algumas dúvidas com relação ao creep-feeding que, inclusive, foi foco de discussão no Fórum Técnico do BeefPoint.
Estima-se que o segmento de cria seja responsável por 70% do custo total, com o consumo (vaca/bezerro) de cerca de 50% dos nutrientes exigidos para a produção de carne. Nesta fase, o desenvolvimento do bezerro é basicamente influenciado pela produção de leite da mãe que, por sua vez, é determinado pela disponibilidade de nutrientes para a vaca. A produção de leite passa a diminuir acentuadamente partir de dois meses pós-parto, principalmente em vacas zebuínas, prejudicando o crescimento do bezerro, especialmente os de cruzamento industrial que apresentam maiores exigências para crescimento. Em contrapartida o bezerro tem um crescimento linear e consequentemente, suas exigências nutricionais também aumentam. Desta forma, as pastagens e o leite da própria mãe não são capazes de suprir as necessidades nutricionais do animal para que este tenha o seu potencial de ganho maximizado.
O uso de Creep Feeding vem a ser uma estratégia importante para aumentar as taxas de crescimento do bezerro na fase de aleitamento, por complementar as exigências nutricionais parcialmente supridas pela ingestão do leite materno. E no caso de bezerros de cruzamento industrial, pode suprir menor produção de leite da vaca zebu. Isto permite maior peso a desmama dos bezerros, repercutindo no desempenho futuro do bezerro (Figura 1).
Quanto ao consumo de leite, este é inalterado, ou muitas vezes pode até aumentar em virtude do aumento de peso e, consequentemente, das necessidades nutricionais dos bezerros que, segundo Lusby et al. (1994), é freqüentemente relatado na literatura. Lusby et al. (1994) demonstraram que, ao fornecer cerca de 2 kg/cab/dia de concentrado para bezerros, houve redução em 12% da forragem ingerida em relação ao tratamento controle porém, sem alterar a quantidade de leite ingerido (Tabela 2).
Os autores mencionam, com base neste estudo, três prioridades para o bezerro se alimentar: 1o Leite, 2o Ração de Creep altamente palatável, e 3o Forragem. Assim, se a forragem for mais palatável que o creep, este não será consumido, mas o consumo de leite nunca é alterado pelo creep feeding. Vários técnicos e produtores acreditam que, o creep-feeding vai “aliviar” a vaca da função de redução da freqüência das mamadas e da quantidade de leite ingerida, porém isto é raramente relatado em pesquisa.
A suplementação alimentar de bezerros em creep feeding é apenas uma ferramenta a ser usada no sistema, recomendado em função dos objetivos e estratégias do mesmo, se para produção de novilho precoce, super precoce, ou apenas para suprir o déficit nutricional.
O uso de fontes alimentares mais nobres nesta fase é o mais indicado, sendo que, em hipótese alguma, deve ser utilizado uréia, pois o animal ainda é um pré-ruminante.
Em um sistema convencional, os bezerros são desmamados com 25-35% do peso de abate (450 kg), com o uso de creep, esta relação pode ser de 41% para Nelore e 54% para mestiços. Implicando de modo efetivo no menor tempo para os animais atinjam o peso de abate, deste que sejam manejados adequadamente nas fases subsequentes. Bezerros criados em sistema de creep-feeding vão apresentar maior peso e, consequentemente, maior exigência, devendo estes, serem suplementados pois, vão entrar no período da seca. Caso contrário todo o benefício adquirido durante a fase de creeping vai ser totalmente perdida durante a seca.
Os benefícios a serem obtidos com tal técnica são diretamente relacionados ao bezerro, que terá maior peso a desmama. Indiretamente, tem-se melhor condição corporal das vacas em função da diminuição do consumo de forragem pelos bezerros, melhorando a oferta para as vacas, ou ainda especula-se que por serem menos exigidas para produção de leite pode melhorar o índice de fertilidade Porém, esta última afirmação não condiz com os resultados de pesquisa. Para melhorar os índices de fertilidade, a melhor estratégia é o bom plano nutricional da vaca (figura 2).
Silveira, A. C.; Arrigoni, M. D. B.; Oliveira, H. N.; Costa, C.; Chardulo, L. A. L; Silveira, L. G. G.; Martins, C. L. 2001. Produção de novilho superprecoce. In: A produção animal na visão dos brasileiros, Ed. Wilson Roberto Soares Mattos, et al., Piracicaba-SP. FEALQ, p. 284.
LUSBY, K. S. Creep feeding beef calves. Oklahoma Cooperative Extension Service Division of Agricultural Sciences and Natural Resources Oklahoma University. www.ansi.okstate.edu/exten/beef/E-848.PDF. (1994)
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Com certeza o creep-feeding assume um papel importantíssimo nos processos de intensificação de produção, principalmente quando se trabalha em regiões de terras valorizadas e da competição da pecuária com a agricultura, mas devemos avaliar os aspectos econômicos da técnica, uma vez que o leite materno é o alimento mais em conta que nós podemos oferecer aos bezerros na fase de desmama.