“Gostei muito do fato de que a sustentabilidade se torna cada vez mais importante para os produtores brasileiros. Assim como a rastreabilidade do rebanho bovino, que é algo muito positivo, que vai ajudar o Brasil a exportar ainda mais para os mercados um pouco mais exigentes”. Essa é a avaliação de Roland Mohr, conselheiro para Alimentação e Agricultura na Embaixada da Alemanha, que foi um dos dez representantes de embaixadas que participaram do Programa de Intercâmbio AgroBrazil, promovido pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).
Essa foi a 9ª edição do evento, que visa apresentar a agropecuária dos estados brasileiros para delegações estrangeiras. Dessa vez, o grupo conheceu a produção do Mato Grosso do Sul. De 18 a 21 de setembro, os diplomatas visitaram propriedades rurais e agroindústrias em Campo Grande, Terenos, Aquidauana, Sidrolândia, Dourados, Naviraí e Caarapó. O foco principal da missão foi a produção de carne bovina, em propriedades que unem tecnologia e preservação ambiental.
Tipaporn Attasivanon, segunda secretária da seção Política e Econômica da Embaixada da Tailândia, também faz uma avaliação positiva da expedição. “Eu não conhecia o Mato Grosso do Sul. Me chamou muita atenção a potência agrícola e pecuária que esse estado tem. Conhecemos o bioma Pantanal, que eu já tinha ouvido falar muito. Me impressionou também a variedade de atividades agropecuárias no estado”, ressalta.
A diplomata lembra que a Tailândia também é um país agrícola e que tem uma relação bilateral muito boa com o Brasil há mais de 60 anos. “Eu vou compartilhar informações com o meu embaixador e com nosso time da embaixada, a fim de analisar o que mais a gente pode fazer no futuro. Não somente no Mato Grosso do Sul, mas no Brasil, porque nosso objetivo é fortalecer as relações bilaterais com o país. Temos muitas coisas para intercambiar e aprender com o Brasil”, afirma.
Roland também se prepara para compartilhar as experiências e informações obtidas durante os quatro dias de visitas. “Vou apresentar um relatório para o pessoal da embaixada e para o Ministério da Agricultura da Alemanha, para informar o que está acontecendo no setor aqui no Brasil”, conta. E acrescenta: “infelizmente, meus colegas de Berlim não podem participar e conhecer de perto alguns dos produtos que o Brasil está produzindo e há coisas que não dá para compartilhar no relatório”, diz, referindo-se aos aromas e sabores da degustação de produtos fabricados por pequenas e médias empresas no Mato Grosso do Sul, integrantes do programa Agro BR.
O programa realizado em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) apoia empreendedores rurais que desejam exportar produtos, com foco principal em pequenas e médias empresas e foi um dos projetos apresentados no programa. Também participaram da expedição diplomatas da Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Indonésia, Reino Unido e Turquia.
Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da CNA, comenta que essa edição do evento reuniu países representativos de vários continentes. “Reunimos Europa, América do Norte, Ásia e isso é sempre bom, porque as visões e as prioridades do ponto de vista de segurança alimentar e de interesses no Brasil, no setor de agricultura, são diferentes”, considera.
Ela ressalta que há muito desconhecimento sobre a realidade brasileira no campo. “O principal objetivo é mostrar o que é a agricultura do nosso país. O fato de sermos o terceiro maior exportador de alimentos do mundo faz do Brasil um player muito visado”, pontua.
Estreitar o relacionamento com as embaixadas e com os responsáveis pela área de agricultura nessas instituições é outro objetivo do programa que, nos últimos seis anos levou representantes de 36 delegações estrangeiras para conhecer a agropecuária dos estados da Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Pará, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Santa Catarina, além do Mato Grosso do Sul.
Para definir as embaixadas convidadas para cada edição, o principal critério é estar entre os maiores compradores mundiais das cadeias produtivas que serão visitadas. Dessa maneira, a China é um país que participa com frequência do programa de intercâmbio, uma vez que está entre os maiores importadores globais, mas por questões internas declinou do convite dessa vez.
“Acredito que há uma movimentação por causa do programa. Questões como promoção de imagem e defesa de interesses são processos longos, que não têm um resultado imediato. Mas temos negociações de abertura de mercado e de acordos comerciais com vários países que participaram desta edição do programa, como Canadá e Coreia, e essa aproximação é importante”, observa Sueme.
A diretora da CNA acrescenta que em qualquer tipo de acordo comercial bilateral, a agricultura é sempre o lado “ofensivo” da negociação, devido às exigências relacionadas ao setor. “A gente tem estreitado muito a relação e acabou abrindo outras frentes de cooperação e de mercado a partir do Agrobrazil”, frisa.
Os diplomatas conheceram o campo experimental do Centro de Excelência de Bovinocultura de Corte da Embrapa e visitaram propriedades rurais de referência em áreas como produção sustentável de bovinos no bioma Pantanal, sistema de integração lavoura-pecuária, produção de soja e milho com a técnica do plantio direto na palha e criação de peixes nativos. Além disso, visitaram agroindústrias como uma destilaria de etanol de milho e fábricas de fécula e amido de mandioca e de fios de algodão.
O presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e vice-presidente da CNA, Gedeão Pereira, acompanhou o grupo e destaca o potencial da agropecuária do Mato Grosso do Sul. “Vimos propriedades de alta eficiência produtiva que estão entre as melhores do mundo, não só do Brasil. Além disso, mostramos que conseguimos produzir duas safras por ano e proteger o meio ambiente, investindo na integração lavoura e pecuária, melhorando a qualidade do solo, com áreas de reserva legal, e isso nos dá uma diferença competitiva espetacular”, analisa.
Uma das visitas da missão foi na fazenda Nossa Senhora das Graças, em Caarapó. A área possui 3,2 mil hectares, sendo 24% da área com reserva natural. O produtor rural André Bartocci faz a recria e engorda de bovinos com integração com soja, milho e pastagem, por meio de plantio direto, sem gradear os solos.
“É importante entender que nós evoluímos o sistema de produção pecuária tropical, que fica muito interessante quando se implanta a integração lavoura-pecuária. São muitos benefícios, entre eles intensificar a produção, melhorar gradativamente o solo e obter o crédito de carbono”, resume André.
A bovinocultura de corte é uma das principais atividades agrícolas no Mato Grosso do Sul. Em 2022, o rebanho do estado chegou a 18,4 milhões de cabeças (7,8% do rebanho brasileiro), segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 21 de setembro. Corumbá ocupa o segundo lugar no ranking nacional entre os municípios, com 2 milhões de cabeças. O Valor Bruto da Produção (VBP) da pecuária de corte no estado, em 2022, chegou a quase R$16 bilhões, representando 9% do VBP do setor do Brasil.
Dados compilados pela Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul), mostram que os principais setores do agronegócio exportados no estado, em 2022, foram o complexo soja com mais de 38% de participação nas receitas, seguido pela celulose com 19%, e a carne bovina em terceiro com 14%. A China segue sendo o principal destino das comercializações, responsável por 38,4% do faturamento; Países Baixos é o segundo maior comprador com 5,2%, e o Japão o terceiro, com 4,9%.
O estado foi o 3º maior produtor de carne bovina e o 5º maior exportador do produto naquele ano. Também ficou com o 3º lugar como maior produtor de milho e o 2º maior exportador.
Fonte: Globo Rural.