Carne maturada
29 de novembro de 2004
Sistemas de gestão pela qualidade em agropecuária
1 de dezembro de 2004

Qualidade da carne brasileira: percebida ou assegurada

Acredita-se hoje no Brasil que a carne brasileira é reconhecida mundialmente como de alta qualidade, sendo essa uma das razões do grande avanço brasileiro no mercado internacional. Será que essa afirmação representa o real posicionamento do Brasil no mercado mundial?

A carne brasileira é percebida no mercado internacional como de qualidade e segura. Acredita-se que devido ao nosso sistema de produção nossa carne é segura. No outro extremo, poderíamos citar a carne inglesa que, apesar dos recentes esforços de programas de segurança e divulgação, ainda não recuperou o “status de carne segura”. Outra grande vantagem da carne brasileira é o baixo custo de produção, que tem permitido uma excelente lucratividade para os compradores da carne brasileira no exterior.

Por outro lado, nossa divulgação no exterior tem se baseado no fato do sistema brasileiro de produção ser a pasto. Assim teríamos a garantia de segurança da carne ofertada. E graças ao clima e produção de forragens tropicais nossa carne é oriunda de animais jovens e bem-acabados.

Hoje a qualidade de um produto é medida de acordo com valores locais de cada mercado e, nos últimos tempos, os quesitos avaliados têm extrapolado os tradicionais, como maciez, textura, coloração, etc, no caso da carne. Atualmente vários compradores internacionais começam a exigir que exista garantia de bem-estar animal (vide o programa do McDonalds nos EUA ou da Tesco no Reino Unido), responsabilidade social das empresas envolvidas e respeito ao meio ambiente como nas certificações mais modernas. Na Sial 2004, que ocorreu em outubro passado, a ABIEC distribuía um folder em inglês e francês, com informações sobre a Amazônia e afirmando incentivar a produção de carne de forma ecologicamente responsável no Brasil.

Vemos também, ainda que poucos exemplos, pecuaristas buscando diversos tipos de certificação, como orgânico e Eurep. E também os programas de associações de raças como a de Nelore e Angus, que ganham importância a cada dia, ainda que não auditadas por organismos certificadores reconhecidos internacionalmente.

São indícios que as exigências dos clientes e as pressões de grupos de consumidores estarão cada vez mais fortes. Além disso, a “recompensa” automática por alcançar grande destaque na participação no mercado internacional é o aumento da competição de todos os outros países que deixam de ver o Brasil como “apenas mais um no mercado”, como ocorreu anos antes, para sermos considerados a maior ameaça a lucratividade de países como a Irlanda, por exemplo.

Por outro lado, ao analisarmos nosso vizinho do Mercosul, Uruguai, extremamente especializado em produção de carne bovina (uma das principais atividades econômicas do país) e preocupado em aumentar o valor da produção interna, busca através de certificações reconhecidas internacionalmente aumentar a confiança da carne uruguaia e posicionar o produto de forma diferente, além de desenvolver um interessante trabalho de posicionamento do país como fornecedor de carne segura, saudável e saborosa.

Em um mercado onde todos os agentes afirmam possuir carne de animais produzidos a pasto (a grande maioria dos países baseia sua divulgação nesse quesito), o Uruguai alcançou a certificação “Process Verified” do departamento norte-americano de agricultura (USDA) para seu programa “Carne Natural do Uruguai”. Além disso, obtiveram o selo Eurep para o mesmo programa. Com isso acessam o mercado europeu e norte-americano com um diferencial. O reconhecimento do USDA tem gerado até “ciúmes” dos produtores dos EUA, que reclamam que o próprio governo americano auxilia os uruguaios a competir no mercado americano. Inclusive são poucos os programas norte-americanos que já alcançaram essa certificação de processos do USDA, o que torna maior a possibilidade de geração de valor.

Analisando-se essas novas exigências dos mercados internacionais e comparando-se o potencial de cada país de fornecer carne segundo esses padrões com grande volume, o Brasil se apresenta de forma muito privilegiada, sendo o país que tem maior potencial de se tornar o grande fornecedor de carne no mundo.

No entanto, grande parte de nossa qualidade ainda é baseada em percepção (o que não deixa de ser um excelente trunfo), mas que pode ter seu valor diminuído com o passar do tempo e das estratégias e inovações de outros países.

Será que o Brasil vai precisar de garantias auditáveis para assegurar os atributos de qualidade e segurança da carne produzida aqui, ou vamos conseguir manter nossa posição sem essas ferramentas cada dia mais utilizados por outros países?

0 Comments

  1. Walter José Verdi disse:

    Miguel :

    A dica foi dada, pelo palestrante americano, quando expôs o trabalho de mídia do café colombiano e seu ícone Juan Valdez.

    Quanto à qualidade de nossa carne, não é à tôa que os gringos ficam extasiados, quando provam e se fartam de nosso churrasco, motivo pelo qual nossas churrascarias quando se instalam no exterior, fazem o maior sucesso.

    É de se pensar em firmar a marca “Brazilian Churrasco” e se formarmos alianças mercadológicas com produtores, frigoríficos e até estas churrascarias funcionando como “show room” de nossos produtos, e ainda obtermos os padrões de certificação internacionalmente exigidos. Padrão e qualidade sei que temos de sobra !

    Abraços,

  2. Zelia Teresinha Gai disse:

    Parabéns pelo comentário. Está certo que a maior preocupação do mundo deve-se a vaca louca, mas eu pergunto: E a Tuberculose a Brucelose em nossos rebanhos?

    Os trabalhos de controle e erradicação destas doenças realmente está acontecendo pelos órgão responsáveis? E a carne que nosssa população consome? A grande maioria não é provienente de abate clandestino? Alguém está preocupado com isso ou só em aumentar as exportações? E a saúde de nosso povo, quem defende e se preocupa?

    Será que o mundo sabe o que o brasileirinho consome? Pois sabe-se que existe dois tipos de INSPEÇÃO: uma para os gringos e outra que mem existe para o mercado interno. Gostaria de um dia ler o seguinte: “A qualidade higiênico-sanitária da carne consumida internamente é da mesma qualidade da do que está sendo exportada”, daí eu acreditaria que realmente está se fazendo um trabalho sério.

    Zelia Gai

  3. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Miguel,

    Muito interessante o seu artigo sobre qualidade percebida e assegurada.

    Vamos ter que convencer os componentes da cadeia de carne que a qualiddade assegurada só traz vantagems para todos tanto no mercado externo como interno.

    Um desafio e tanto para nós no Brasil e no BeefPoint.

    Um forte abraço,