Na última publicação (2011) do National Beef Quality Audit, um informe publicado a cada cinco anos financiado por toda a cadeia de carnes dos Estados Unidos, mostra as mudanças e a evolução do que se denomina “qualidade” da carne. Enquanto há 20 anos o consumidor criticava a quantidade de gordura externa dos bifes e pedia sabor, maciez e consistência, atualmente tem ficado no topo da demanda conceitos como segurança alimentar (entende-se sanitária), satisfação ao consumo e origem do gado. Fica demonstrado dessa maneira a dinâmica do conceito de qualidade: a demanda do consumidor mudam e aumentam.
Outro aspecto relevante do informe mostra que, da auditoria feita nas plantas frigorificas (conduzida por especialistas da Universidade do Texas A&M), observa-se que 50% do gado tinha identificador contra 39% no último levantamento em 2005. Também se apresentou outra importante informação, que indica que a porcentagem de carcaças que se classificam para as duas categorias mais valiosas, de acordo com o padrão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) – Prime e Choice – chega a 61%, enquanto em 2005, era de 55% e em 2000 era de 51%.
Deixando de lado este relatório e observando as campanhas de qualidade das raças também nos Estados Unidos, aparece uma novidade que será muito controversa e, portanto, tem criado expectativa: a American Angus Association lançou uma campanha publicitária onde pretende acabar com o arraigado conceito de que o cruzamento com outras raças produz um animal de melhor desempenho do que o de raça pura.
A frase abaixo é da campanha da Associação Americana de Angus, e diz:
“Os ganhos marginais alcançados pela heterose não são suficientes se associados ou comparados com o investimento em genética, pois pode aumentar a exigência por mais trabalho e tempo de melhoramento“.
Baseado no fato de que é a raça mais popular, e a mais controlada nos Estados Unidos (quase 295.000 animais registrados em 2011 versus o segundo, a raça Hereford, com 70.260 animais), espera-se poder convencer os criadores que sobram (há relatórios que estimam que aproximadamente 70% do rebanho norte-americano tem ao menos alguma influência Angus) a aumentar sua porção do mercado. A base da estratégia seguirá o forte respaldo de controle de dados históricos que apresenta a raça. O coração da estratégia está no argumento de que não vale a pena sacrificar qualidade da carcaça e consistência genética para ter uns quilos a mais. Veremos como isso se seguirá e se outras raças contestarão o desafio.
Agrega-se às tecnologias pecuárias um produto que revolucionará as medições e que é apresentado por um laboratório norte-americano, denominado HD50K Global Angus, que permitirá através de uma análise simples de DNA (amostra de pêlo ou sangue) entende o mérito genético de um bovino – para uma série de 18 atributos de valor econômico – dessa raça e classificá-lo em relação a uma média formada por um conjunto das principais populações Angus medidas (Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e América do Sul). Isso é só outra amostra das tecnologias que já estão disponíveis no mundo.
Há algumas semanas, foi realizado em Montevidéu o sétimo Congresso da cadeia de carnes denominado “Do campo ao prato”. Neste evento, pôde-se apreciar com toda clareza as razões pelas quais nosso vizinho tem avançado ao lugar tão alto na produção e no comércio de carnes.
O livro não dá uma boa classificação para a Argentina: quase desde o começo da República, os autores classificam as instituições argentinas como extrativas (permite criar riqueza, para depois tirá-la; não incentiva o investimento tecnológico) e um sistema político que não é plural.
Voltando ao caso uruguaio e ao congresso da cadeia de carne, pode-se apreciar o entusiasmo de ter conseguido um sistema de rastreabilidade que é modelo internacional (exemplo até para o próprio Estados Unidos) de ter uma indústria frigorifica que se classifica cada vez mais a destinos mais exigentes, políticas públicas estáveis no tempo e que surgem da interação madura entre o Estado e o setor privado. Em resumo, nenhum mistério: puro senso comum e honestidade necessária para poder colocar acima dos interesses de cada um dos conjunto do país e de seus cidadãos.
O texto é de Arturo Vierheller para o La Nación, traduzido e adaptado pela Equipe BeefPoint.
1 Comment
sou pecuarista no RJ e tenho animais angus/cruza e PO e tenho obtido bons resultados, porém concordo com a matéria por ter visto várias pessoas vendendo animais de pelagem marron(tons) preto(tons) que não têm nenhuma relação com cruza angus, muito menos com heterose de cruza/industrial e se prevalecem para valorizar (pegam carona) realmente prejudicando o mercado.