Qualidade Total e meio ambiente

Da mesma forma que outras diversas nações, o Brasil tem apresentado, principalmente em anos mais recentes, alterações graduais, porém contínuas, em seu ambiente sócio-econômico e demográfico.

Nesse sentido, uma das modificações mais relevantes, principalmente no contexto do setor agroalimentar, consiste na progressiva uniformização dos hábitos de consumo.

Essa padronização aconteceu, sobretudo, em decorrência do processo de urbanização, da ampliação das redes de comunicação nacionais e internacionais e da disseminação dos canais de distribuição de alimentos.

Dessa forma, os consumidores se viram estimulados a substituir alguns alimentos por outros, considerando, entre alguns aspectos, a comodidade, rapidez no preparo e a praticidade dos mesmos.

Essa tendência, aliada ao aumento da oferta dos alimentos em geral, tem impulsionado as empresas a se articularem com os demais elos da cadeia, a fim de elaborar novas estratégias que viabilizem sua competitividade e, consequentemente, sua sobrevivência.

Sendo assim, conhecer o padrão de comportamento do mercado consumidor a ser atendido torna-se essencial, enquanto opção estratégica, o que aumenta a necessidade de maior compreensão do conjunto de fatores que definem como as famílias e/ou indivíduos elencam o conjunto de bens que faz parte de suas cestas de consumo, a fim de tornar mais preciso o delineamento de estratégias organizacionais de sucesso.

Nesse contexto, todas as empresas, vinculadas aos mais diversos setores da economia (indústrias, serviços, agropecuária), têm sido pressionadas a adotar posturas de mercado cada vez mais voltadas ao atendimento dos desejos do consumidor, sendo que a satisfação destas necessidades extrapola, nos dias de hoje, o simples fornecimento de um produto ou serviço.

Com isso se quer dizer que a sociedade preocupa-se, de forma crescente, não apenas com a mercadoria que lhe é oferecida, em termos de apresentação, qualidade do conteúdo e garantia de assistência ao comprador, mas também com seu processo de produção, perfil da empresa que a produz e efeitos sobre o meio ambiente.

Nesse sentido, vários estudos têm apontado para o fato de que a qualidade deixou de ser apenas um conjunto de técnicas que possibilitam o aumento de produtividade e lucratividade empresarial, via redução de defeitos, falhas, perdas e erros, e passou a ser encarada como um modo de viver.

Isso implica, consequentemente, em responsabilidade social, que nada mais é do que a obrigação que têm os administradores de empreender ações que protejam e desenvolvam o bem-estar como um todo, junto com os seus próprios interesses.

De acordo com essa definição, dois aspectos são fundamentais e devem ser salientados:

– Obrigação, que implica em um dever moral;

– Empreender, que coloca a ênfase na iniciativa voluntária.

No caso particular do setor rural, um dos principais pontos de interação entre agropecuária, responsabilidade social, ecologia e qualidade total encontra-se em nível comunitário, já que os custos sociais, a esse patamar, são altíssimos. Nesse sentido, de acordo com o modelo agrícola atual, alguns aspectos merecem ser destacados, como:

a. Poluição das águas, dos solos e dos alimentos, de forma direta e indireta;

b. Redução, mais ou menos drástica da capacidade produtiva do solo, devido à erosão, técnicas inadequadas de cultivo e manejo do solo etc.

c. Baixa qualidade dos produtos alimentícios, devido à absorção desequilibrada de nutrientes, excesso de irrigação, resíduos tóxicos, etc.

d. Implicações sócio-econômicas perversas, principalmente no que tange à concentração das rendas, desemprego rural, impactos urbanos, etc.

Sob uma visão sistêmica, a alternativa para minimizar tais impactos seria repensar um modelo para a agropecuária, mais voltado para as questões ambientais e ecológicas, no qual o setor necessitaria dos fundamentos preconizados pela Qualidade Total, e esta, por sua vez, não poderia ser corretamente aplicada à agropecuária sem considerar as questões ligadas ao meio ambiente.

Ademais, se considerados todos os processos de interdependência existentes entre os diversos agentes das diferentes cadeias, o uso da Qualidade Total é ainda mais relevante, já que não apenas a produção primária passa a ser alvo de atenção, mas também todos os mecanismos de beneficiamento e elaboração do produto alimentar final.

Texto extraído da Disciplina Qualidade de Processos Agroindustriais do Curso de Pós Graduação em Gestão da Informação no Agronegócio (Agrisoft – UFJF – UFLA – EMBRAPA) proferida por: Profª. Viviani Lírio Silva.