O termo “colheita” é, geralmente, atribuído às atividades da agricultura. No entanto, o conceito de lavoura de carne está ganhando espaço no Rio Grande do Sul. A iniciativa propõe a integração entre agricultura e pecuária como estratégia de negócio. Só que a colheita, nesse caso, é medida em arrobas ou quilos de peso vivo por hectare.
De acordo com o diretor do Serviço de Inteligência em Agronegócios (SIA), Davi Teixeira, a ideia é conduzir a produção animal como uma lavoura. “Ou seja, tendo os mesmos tipos de cuidados que o agricultor tem nas suas lavouras de grãos, nas nossas lavouras de pasto, na correção de solo, nas adubações, na implantação, na qualidade da semente, no manejo de adubação de cobertura e, depois, na colheita disso tudo em carne”.
Segundo Davi, o modelo pode tornar a atividade mais competitiva que a própria produção de grãos. “Nos últimos anos, as lavouras de soja e milho têm sofrido muito com estiagens e enchentes. A pecuária, quando conduzida como lavoura, oferece maior resiliência e pode trazer rentabilidade superior”, destaca.
Ele explica que o processo exige atenção em cada etapa. “Tudo isso trabalhado na excelência dentro dessa intensificação do uso da terra, na base da fertilidade do solo e da implantação de boas pastagens e na condução do pasto como lavouras, pra que se tenha uma pecuária mais verticalizada, uma pecuária mais condizente com o potencial de colheita dessa atividade”.
O modelo foi tema central do 1º Seminário Lavoura de Carne, que aconteceu nesta quarta-feira, 1º de outubro, durante a Fenatrigo, em Cruz Alta (RS). O evento abriu uma série de encontros que a SIA pretende realizar em feiras agropecuárias do Estado. A meta é chegar a dez seminários até o primeiro semestre de 2026.
Casos reais da aplicação foram apresentados no seminário. Na Estância da Ama, em Lavras do Sul (RS), por exemplo, um sistema piloto de pastagens permanentes já alcança quase uma tonelada de ganho de peso vivo por hectare ao ano. “O pasto vai o ano inteiro rodando, diferentes espécies forrageiras, e a gente está mensurando a produtividade animal”.
Agora, a ideia é avançar em escala no sistema ILP, com redução da lavoura de grãos e aumento da lavoura de carne.
Outro exemplo é a Fazenda Rosa Maria, em Charqueadas (RS), uma pequena propriedade que tinha as áreas degradadas e com baixa performance. Em três anos, saiu de 100 quilos para até 400 quilos de peso vivo por hectare.
De acordo com o diretor, além do resultado financeiro, ambas as propriedades passaram a registrar balanço de carbono negativo, ou seja, deixaram de ser emissoras de gases de efeito estufa para atuar como mitigadoras. No caso da Fazenda Rosa Maria (RS) o balanço de carbono passou de +1,5 para -2,7 toneladas de CO₂ (equivalente por hectare) ao ano.
Fonte: Estadão.