Síntese Agropecuária BM&F – 06/11/03
6 de novembro de 2003
Missão chinesa vem ao Brasil inspecionar frigoríficos
10 de novembro de 2003

Que Deus nos acuda!

Estou atônito com a divulgação bombástica de notícia sobre um touro gigante.

Fico pensando se esse “oba-oba” todo teria o suporte técnico da ABCZ, órgão que representa os criadores de zebu no país, uma vez que o criatório não visa obter gigantes, pois o boi é abatido com 450 kg.

Anos atrás já houve grande alarde sobre um bezerro que nasceu com 80 kg requerendo 6 pessoas para o parto. Na ocasião, o Depto. Técnico da ABCZ considerou o caso como uma anomalia genética, mas, para nossa surpresa, o anômalo “aleijando” (palavras de T.H.R.C.) foi registrado e admitido na Expozebú…

E agora? Vamos considerar o touro gigante como um expoente genético, recomendado e valorizado para que o respectivo sêmen venha a fecundar “in vitro” oócitos sugados de fêmeas mal provadas e igualmente obesas?

Será que o caminho da superalimentação, do ambiente de cocheira, da valorização da massa corpórea exagerada e da análise subjetiva da “harmonia”, nos dará um zebuíno de corte a ser produzido em grande escala, a custos competitivos, de carne a ser certificada como “natural”?

Tal sistema não faz muita diferença na pecuária de países que requerem abrigo do frio e reserva de feno no inverno nevoso, seguido de engorda a grão em confinamento, para venda de carne graxenta de alto custo.

Mas aqui, nas condições tropicais, seria o caminho certo, se o objetivo é suprir um mercado que deseja carne enxuta “natural”, oriunda do capim verde, do sol, da chuva, do calor e das noites frescas?

Não seria o caso de se promover um simpósio “neutro”, de alto nível, para analisar os procedimentos recomendáveis para melhoramento do zebuíno a ser criado, recriado e terminado a pasto?

Que pena o insigne Prof. J. Bonsma não estar mais entre nós. Gostava muito do Nelore e do Brasil e poderia vir a tirar minhas dúvidas. Ou nossas?

Que Deus nos acuda! …enquanto é tempo.

0 Comments

  1. Luciano O. Debs disse:

    Sou médico e pecuarista em Goiania.

    Quero parabenizar pelas considerações pertinentes e oportunas.

  2. Isabel Penteado disse:

    O Sr. Fernando Penteado Cardoso está coberto de razão, quanto ao gigantismo dos animais em exposições.

    É inadmissivel num país como o Brasil, selecionar essas aberrações gigantescas! Essa não é a nossa realidade!Temos que produzir animais a campo com o mínimo de custo.

    TEMOS QUE ACABAR COM OS “MODISMOS” !!!

  3. Ana Léa Moreira Martins disse:

    Muito adequado este comentário.

    Temos que nos concientizar que não estamos criando elefantes!

  4. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Agradeço a Isabel Penteado,Sta.Cruz de Palmeira/SP; Ana Léa M.Martins,Sta.Cruz do R.Pardo/SP; e Luiciano O.Debs, Goiania/GO pela gentileza de haverem lido meu artigo e o elogiado.

    Dois pecuaristas e uma consultora, certamente diligentes, mas nem por isso do grupo que aparece sempre nas revistas e jornais.

    Ao segundo grupo ouso perguntar: que acharam da matéria? Porque não defendem o melhoramento do Nelore em ambiente de cocheira e muita bóia, nas condições do criatório predominante do Brasil?

    Agora, que o gado fica bonito, fica! Só que essa beleza não se transfere para a carcaça…e custa muito mais caro!

    Mais uma vez muito obrigado.

  5. Carlos Arthur Ortenblad disse:

    Muito pertinente o artigo do Dr. Fernando Penteado Cardoso.

    Como já disse um destacado criador, com o qual concordo plenamente, exposições de raças de corte no Brasil deixaram de ser “concursos de raça, e tornaram-se concursos de ração”.

    Este foi um dos motivos que me levou, como responsável pela Fazenda Água Milagrosa, a abandonar as pistas de exposição, após 30 anos na atividade, e comparecimento em mais de 100 exposições, de norte a sul do país.

    Para finalizar, gostaria de saber qual o custo da @ deste ultra nutrido touro. Certamente, será um valor proibitivo. O Brasil tem de produzir animais precoces, que propiciem abate rápido, promovendo giro de capital ágil, e, em consequência, a custos de produção reduzidos.

    Não podemos perder jamais o foco de que somos um país pobre, onde a maioria da população não apenas é carente de proteínas, como, e pior, carente de renda para adquiri-las.