A eterna briga entre produtores e frigoríficos, talvez não seja nem tanto a negociação pelo valor a ser negociado a @, mas sim o diferencial de peso entre a pesagem na fazenda e o peso no gancho, resultando em rendimentos menores que o esperado. Vários fatores podem afetar o rendimento da carcaça, não só as relacionadas ao abatedouro (toalete excessiva), mas sim ao próprio manejo em que o animal fora exposto na fazenda ou no transporte para o frigorífico. Neste contexto iremos abordar sobre fatores que afetam o diferencial de peso entre a fazenda e frigorífico. ver também: Comentário semanal Rendimento de carcaça: fonte de conflitos constantes entre produtores e frigoríficos 15/2/2002 Espaço aberto: Quebras de Peso no Abate – Visão do Produtor 21/6/2002
A principal causa da redução ou quebra do peso ao abate se deve ao jejum prolongado em que os animais são submetidos desde a saída da fazenda, o transporte para o frigorífico e o período que permanece no curral de espera. Isto pode ser menos ou mais acentuado, dependendo principalmente da distância da fazenda ao frigorífico, além é claro do período em que o animal ficou preso antes de embarcar. Este tipo de redução de peso se deve ao esvaziamento do conteúdo gastrointestinal, devido à defecação, além da perda de líquidos através da urina. Porém, se o animal retorna à dieta, o peso é recuperado rapidamente. A figura 1 ilustra bem a perda de peso até 25 h de jejum de animais em pastos de trigo, e que ao retornarem ao pasto recuperaram rapidamente o peso. Pode-se observar que as perdas de peso chegaram a 8 % do peso vivo inicial, sendo isto basicamente conteúdo gastrointestinal.
Fig. 1 Efeito do tempo de jejum e perda de peso de animais em pastagens de trigo
Tabela 1: Efeito do jejum de animais a pasto na perda de peso vivo e no rendimento de carcaça
O tipo de dieta em que o animal fora submetido é um outro fator que afeta de maneira significativa o ganho de peso o rendimento de carcaça. Animais que recebem dieta constituída com altas proporções de volumoso apresentam menores rendimentos de carcaça que animais com maiores proporções de concentrado, como animais em confinamento, por exemplo. Isto ocorre por razões óbvias, ou seja, a menor digestibilidade da pastagem causa maior enchimento do rúmen, que dietas com concentrado, e ao impor ao animal o jejum a perda de peso, devido à defecação maior.
Na tabela 2 é possível observar que o rendimento da carcaça aumentou com a diminuição da proporção de forragem na dieta, independente do peso de abate. As diferenças, no caso, foram pelo aumento do “enchimento” do rúmen e pela menor gordura de cobertura com o aumento das proporções de forragem.
Tabela 2: Efeito da dieta no rendimento e espessura de gordura da carcaça.
O tempo e a distância em que o animal é transportado também tem influência na diminuição do peso por enchimento, sendo estimado uma perda de cerca de 2 % a mais em relação ao jejum no curral por igual tempo (tabela 3).
Tabela 3: Perda de peso (%) de animais submetidos a diferentes tempos de jejum
A perda de peso vivo, além do enchimento pode ocorrer também pela diminuição do peso dos tecido corporais, devido a perda de fluídos intra e extra celulares após longos períodos de jejum de sólidos e líquidos. Na tabela 4 é possível observar que a perda de 6,5 % do peso vivo de novilhos após 24 h de transporte. Praticamente metade da perda de peso foi devido ao enchimento, entretanto a outra metade foi em função da diminuição de peso de tecidos do trato intestinal, da carcaça e outros componentes (pele, pelos, vísceras, cabeça, pernas). A perda de peso por enchimento, sem dúvida é o que mais afeta o peso, porém com o passar do tempo e intensificação da restrição alimentar e hídrica a perda dos tecidos passa a ser a principal causa de perda de peso, e este tipo de perda, ao contrario da de enchimento, é mais difícil de ser recuperada que o outro tipo.
Tabela 4: Fontes de perda de peso (%) de novilhos com 290 kg de PV após 24 h de transporte
Outros fatores também podem afetar a perda de peso e consequentemente o rendimento de carcaça, como o grupo genético. Sendo que animais com 50 % ou mais de sangue Bos indicus apresentam menores perdas de peso, que por terem trato gastrointestinal menor, têm menor conteúdo intestinal.
De forma geral, a principal causa da quebra de peso e redução do rendimento de carcaça é o efeito de “enchimento” do conteúdo gastrointestinal. Esta “perda” de peso, invariavelmente é o motivo do descontentamento daqueles pecuaristas menos atentos, portanto este diferencial deve ser considerado ao calcular o rendimento. O rendimento de carcaça é dado por (Peso da carcaça/Peso vivo)*100. Por exemplo, se o animal antes de ser embarcado na fazenda pesou 460 kg sem o jejum, e a carcaça no frigorífico pesou 230 kg, este animal terá um rendimento de 50 % baseado no peso cheio. Porém se o mesmo animal for pesado após 16 h de jejum pré abate, e considerarmos um “esvaziamento” de 6 %, o peso deste animal será de 423 kg, e o peso da carcaça vai continuar sendo 230, assim o rendimento da carcaça será de 53 % baseado no peso vazio.
Ao pesar animais na fazenda o produtor pode usar descontos para estimar o peso de carcaça e o rendimento aproximado, usando fatores de 6 e 4 % para animais de pasto e confinamento, respectivamente. Estes valores podem ser maiores ou menores em função da oferta ou não de água, e da adaptação dos animais ao curral.
Literatura consultada
Barnes, K.; Smith, S.; Lalman, D.; Managing shrink and weighting conditions in beef cattle.
Hand, R. Dressing percentage in slaughter cattle. Alberta Feedlot Management Guide. 2.
McKiernan, B.; Gaden , B.; Sundstrom, B. Dressing percentages for cattle.