A busca por uma maior agregação de valor aos produtos de origem animal e carne de alta qualidade estão cada dia mais presentes, embora ainda seja um caminho difícil, mas perfeitamente possível. O tema do próximo Workshop BeefPoint será Marcas de Carne e aconteceu nos dias 20 e 21 de novembro, em São Paulo.
O Workshop BeefPoint Marcas de Carne, reuniu quem há anos trabalha com esse nicho de mercado. Conhecemos grandes exemplos de nosso setor que têm trabalhado para produzir um produto com valor agregado e que seja bem aceito pela maioria dos consumidores. Serão apresentados estudos de caso, troca de experiências e conhecimento, em um ambiente de conversa e debate. Será um encontro de discussões em alto nível, para conhecer quem tem feito um excelente trabalho no Brasil.
Para conhecer melhor os palestrantes do Workshop BeefPoint Marcas de Carne, preparamos uma série de entrevistas com cada um deles. Além dos palestrantes, vamos conhecer também o trabalho de profissionais que trabalham com carnes de marca, donos de casa de carnes e restaurantes que trabalham com carne de qualidade e que são referência no país.
Confira a entrevista com Fernando Furtado Velloso, que atuou como gerente do Programa Carne Angus até 2010. Em 2011 e 2012 foi gerente de operações – Exportação de Gado Vivo no Minerva. Sócio da Assessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha desde 2008, empresa dedicada ao suporte técnico e comercial de produtores e usuários de reprodutores e genética.
Fernando Furtado Velloso acompanhou o Programa Carne Angus desde o seu princípio, mesmo antes deste ser público e conhecido. Naquele momento (ano 2000) falar de carne de qualidade no Brasil e em certificação de um produto parecia algo muito distante. Desta forma, foi necessário construir todo o processo: padrão de qualidade, relação com a indústria, implementação de uma certificação dentro dos frigoríficos, capacitação de pessoas etc.
Este período foi muito importante para desenvolver este processo e para aprender fazendo. Em paralelo ao desenvolvimento do produto, a luta permanente foi de obter melhor remuneração ao pecuarista e foi nesse momento que começou o histórico dos sistemas de premiações, bonificações, previsões de abates etc.
O livro comemorativo aos 10 Anos do Programa Carne Angus é uma boa fonte de informações para quem busca um pouco de história. O livro dos 35 anos do CAB (Certified Angus Beef – EUA) é também leitura de muita qualidade e conteúdo neste tema.
BeefPoint: Atualmente, quais os maiores desafios para consolidar uma marca de carne?
Fernando Furtado Velloso: Creio que hoje o maior desafio não seja mais produzir carne superior, mas sim de coordenar verdadeiramente a produção e o fornecimento. Critica-se nos dias de hoje a “pescaria” de carcaças superiores no abate regular dos frigoríficos, porém, esta foi a forma de iniciar a construção dos programas de carne.
Nos dias atuais, atrelar produção e escalas de abate à real demanda de produto final é que permitirá ganhos máximos ao produtor e não desperdício de produto.
Relativo à qualidade final do produto, o desafio é que os produtores de carne com marca verdadeiramente respeitem os padrões técnicos, as especificações (de idade, raça, gordura, processo industrial etc). A demanda aquecida pela carne de qualidade faz às vezes alguns empresários “rasgarem os cadernos” e esquecerem que o pilar do produto é a garantia de sua especificação, o seu padrão.
BeefPoint: O que precisa evoluir no setor para que aumente a produção de carne com qualidade?
Fernando Furtado Velloso: No passado, o limitante era ter volume, disponibilidade de animais. Entendo que hoje o que necessita evoluir é organização e coordenação da produção, como já disse.
BeefPoint: O que deveria ser feito para melhorar o marketing da carne no Brasil?
Fernando Furtado Velloso: Promoção e informação sobre o nosso produto. Somos conhecidos e reconhecidos como grandes produtores de volume de carne, porém a imagem de carne de qualidade ainda não está atrelada ao nosso país.
É um trabalho lento de mostrar que no Brasil temos produtos de diferentes características, para diferentes propósitos e mercados. Creio que a ABIEC já está fazendo parte deste trabalho e agora o importante é a persistência na continuidade de ações que construam este entendimento.
BeefPoint: Em sua opinião, qual é o país referência na produção de carne com qualidade? O que ele tem feito de diferente?
Fernando Furtado Velloso: Atualmente, vejo como países referência os EUA e Austrália. Em ambos países, há um grande trabalho para desenvolvimento do produto e de mercados.
A Argentina já esteve muito bem posicionada no segmento de carne de qualidade e infelizmente vem perdendo importância ano a ano. É um mau exemplo de como decisões políticas podem acabar com posições de mercado e marcas consideradas consolidadas.
Mais recentemente, o Uruguai tem sido um bom exemplo de construção de marca e do trabalho contínuo para acesso a mercado que remunerem mais.
BeefPoint: Quais são as marcas de carne no Brasil hoje que você considera referência?
Fernando Furtado Velloso: Felizmente, hoje há diversas marcas disponíveis no mercado. Destaco os trabalhos da Carne Angus VPJ, Angus Cooperaliança, Zaffari Angus, Beef&Veal, Bassi, Swift Black, entre outras.
BeefPoint: Em sua opinião, qual setor serve de referência para a pecuária no que diz respeito a marketing e por quê?
Fernando Furtado Velloso: Bons exemplos estão na indústria de aves e suínos. Mesmo com um produto que tem suas limitações na preferência do consumidor, foram desenvolvidas novas apresentações, embalagens, formas de preparo, orientações ao cliente etc.
BeefPoint: Qual exemplo de profissional dessa área você mais admira?
Fernando Furtado Velloso: Temos muitos profissionais competentes neste segmento, mas destaco o trabalho de Luis Saafeld (Frigorífico Coqueiro, São Lourenço – RS), Roberto Barcellos (Beef&Veal) e os envolvidos no projeto Swift Black.
BeefPoint: Que mensagem você deixaria para aqueles que desejam criar e consolidar uma marca de carne em nosso país?
Fernando Furtado Velloso: Não esquecer que a qualidade do produto é soberana. Ela existe ou não. Somente marca e publicidade funcionam por muito pouco tempo.
Quem manda neste negócio é o consumidor disposto a pagar mais por carne diferenciada. Ele aceitará somente uma vez a frustração de comprar uma carne abaixo de suas expectativas. Este é um negócio para quem acredita em excelência. Quem não pratica excelência, fará só um passeio neste mercado.