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22 de abril de 2010
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26 de abril de 2010

Quem tem medo das vans do JBS?

O JBS Friboi começa a expandir sua estratégia de venda porta a porta, com entrega em casa dos produtos. A principal reclamação é dos pequenos varejistas que se vêem ameaçados com essa nova investida. Precisamos analisar melhor essa questão, suas possíveis motivações e impactos. O JBS está inovando. Traz um conceito e formato que muitos apostam que é inviável. Ganha desafetos por causa disso. Pode errar, mas toda inovação envolve risco. Mas essa situação isolada não se mostra nem um pouco prejudicial ao pecuarista, muito pelo contrário. Essa inovação pode nos ajudar a uma reflexão que precisamos de forma urgente.

O JBS Friboi começa a expandir sua estratégia de venda porta a porta, com entrega em casa dos produtos. A principal reclamação é dos pequenos varejistas que se vêem ameaçados com essa nova investida. Precisamos analisar melhor essa questão, suas possíveis motivações e impactos.

Lendo as dezenas de cartas de leitores do BeefPoint sobre esse tema, minha conclusão é que o maior incômodo não é com a venda porta a porta, mas com o apoio (via financiamento e compra de participação) do BNDES. Muitos consideram injusto e/ou duvidoso o acesso ao capital do governo que a empresa vem obtendo. O ponto positivo é que está se construindo um gigante brasileiro no mercado mundial de proteína animal. O ponto negativo (e muito criticado e comentado) é que esse enorme crescimento achata margens do pecuarista e impede a livre concorrência. Separar o tema porte da empresa e venda porta a porta é importante, para um assunto não contaminar o outro. Meu objetivo aqui não é avaliar o mérito dos aportes do BNDES nesse artigo, mas a questão das vans.

Para cada vez mais empresas, está claro que há uma grande oportunidade no mercado interno. O Brasil foi dos países menos afetados pela crise mundial. O consumo das famílias segue crescente. A população é muito grande. Estamos em ano de copa do mundo e eleições. Tudo conspira a favor do aumento do consumo interno. Estar preparado, inovar, é uma ótima maneira de tentar colher os resultados dessa oportunidade. Nos últimos 15 anos, a indústria de frango e suínos ganhou muito mercado por oferecer novos produtos. Uma iniciativa como essa pode ajudar a chacoalhar o mercado de carne bovina junto ao consumidor.

Todas as empresas estão buscando novas formas de lucro. No passado as fontes foram: dólar valorizado e boi barato. Essas duas fontes secaram. É preciso ir além. Outro ponto importante é que um grande problema para a cadeia da carne é o comércio e consumo de carne clandestina. Um percentual muito grande do nosso abate ainda é informal.

Estamos numa economia de livre mercado, da livre iniciativa e isso é muito bom. A reclamação de que uma inovação vai atrapalhar meu negócio atual é muito parecida com a reclamação dos fazendeiros irlandeses em relação a carne brasileira. A questão que precisa ser checada é tributária e sanitária. Essa iniciativa, se for adotada em larga escala, não irá apenas reduzir empregos nos açougues, mas também criar empregos para motoristas e atendentes que irão trabalhar nas vans. É preciso avaliar o quadro como um todo.

Essa iniciativa é interessante também por ajudar a gerar demanda por carne bovina. Será que ter mais opções de consumo, ter opções diferentes de embalagem, qualidade, tamanho/peso da peça e prazo/forma de pagamento não vai ajudar a vender mais carne?

A empresa está cada vez mais próxima do cliente. Isso é muito importante para a lucratividade. Ser dona da marca que o cliente final consome, conhecer as demandas do consumidor, seus interesses, suas mudanças é fundamental. Imagine quanto o JBS não poderá aprender junto ao cliente final, se relacionando diretamente, sem intermediários. Ao mesmo tempo que vende, faz pesquisa, divulga sua marca, aprende. Fica mais conhecido e conhece mais. Do ponto de vista de marketing, faz todo sentido.

Outra pergunta importante: onde se vai vender carne bovina no futuro? Se o JBS (e outros) quebrarem o paradigma de que é possível vender carne a vácuo (ou congelada) porcionada será possível vender carne bovina não só em açougues e supermercados, mas em bancas de jornais, padarias, pequenas lojas. Até em farmácias. Para o setor como um todo é muito bom. Quanto mais pontos de venda, maior a chance de se vender mais.

E os açougues, vão falir? Os açougues pouco profissionais, sem qualidade, com atendimento fraco certamente terão problemas com mais um concorrente. Aqui em Piracicaba, o açougue do Zillio, onde compro carnes, dificilmente será muito afetado. Ele conhece os clientes pelo nome, atende muito bem, tem relacionamento de anos (as vezes décadas) com cada cliente. Oferece uma grande variedade de produtos, serviços extras (churrasco em casa, etc) e também tem vários pequenos detalhes que fazem sua loja diferente e especial. Na porta há réplicas de bois, carneiros e porcos em tamanho natural. Meu filho adora brincar por lá e subir no boi e no carneiro. Ir a esse açougue é mais do que comprar carne, é uma experiência, um divertimento. As boas lojas de varejo, em qualquer ramo, primam por qualidade, atendimento e relacionamento. Isso não se constrói em poucos meses, nem se destrói rapidamente.

Eu acredito que o principal alvo não são os açougues. Um dos objetivos é mostrar as grandes redes de varejo que existem outras possibilidades de venda. O grande varejo vende 60-70% da carne comercializada formalmente no Brasil. Cada vez exige mais (vide o programa de certificação sócio-ambiental) e tem margens altas. Em média, o markup é de 100-120% frente ao preço de compra, segundo a Abrafrigo. Ou seja, o varejo fica com mais da metade de todo o valor pago pelo consumidor final.

E os outros frigoríficos? Se essa iniciativa ainda em teste der certo, terão que se mexer. Mas acredito que as possibilidades serão muitas. Podem vender também usando vans. Podem atender os outros canais de distribuição (supermercados e açougues) que deixarão de ser o principal foco do JBS. Outra possibilidade é o lançamento de mais produtos embalados a vácuo ou congelados para serem vendidos em canais alternativos. A carne congelada ou a vácuo precisa apenas de um bom sistema de refrigeração. Não precisa de instalações na loja para corte e processamento da carne. A questão sanitária e de espaço necessária fica muito mais simples, pois não há manuseio, apenas estoque.

E o preço ao produtor? A criação de novas formas de comercialização de carne bovina para o cliente final só pode trazer benefícios. Maior e mais diversificada demanda pela carne bovina será traduzida em maior demanda por boi gordo. Precisamos de mais iniciativas inovadoras como essa para vender mais carne bovina, de novas formas. É claro que isso não significa preços automaticamente mais altos, mas não se pode relacionar maior demanda por carne com menor demanda por boi.

O JBS está inovando. Traz um conceito e formato que muitos apostam que é inviável. Ganha desafetos por causa disso. Pode errar, mas toda inovação envolve risco. Mas essa situação isolada não se mostra nem um pouco prejudicial ao pecuarista, muito pelo contrário. Essa inovação pode nos ajudar a uma reflexão que precisamos de forma urgente.

O que o pecuarista pode fazer de muito diferente no seu negócio, para melhorar sua rentabilidade e poder de negociação?

0 Comments

  1. Antonio Pereira Lima disse:

    Vamos voltar no tempo para tentar entender e julgar.Quando menino comprar carne era só no açougue,assim como verdura era na quitanda,pão na padaria ou entrgue na porta de casa junto com o leite na carrocinha,arroz,feijão,açucar etc.. era na venda(secos e molhados),sapato na sapataria e roupa nos turcos ou na pernambucana e era assim que a gente consumia,uma ou duas vezes por ano na loja de roupa,uma vez por mes na venda e todo dia no açougue ,quitanda e padaria.Foi pensando em acabar com esta via sacra e ter o cliente todo dia que juntaram tudo no mesmo barracão e surgiu o supermercado,mas o cliente, no começo quando a carne não era embalada e até sangrava no carrinho junto com outras compras,comprava tudo menos a carne,que continuava sendo comprada no açougue,os supermercadistas então levaram estrategicamente os açougues para o fundo dos supermercados,onde estão até hoje,e começaram vender carne abaixo do custo,perdendo dinheiro na carne mas fazendo o cliente transitar dentro da loja,foi um caos para os açougueiros,os mais rápidos viraram conveniencias os que teimaram em vender só carne quebraram,hoje açougue vende de cigarro até ração prá cachorro.Portanto eu não vejo uma van,ou um açougue à moda antiga,que vende só carne,ser um avanço na comercialização,no meu ponto de vista é um retrocesso,se é golpe de Marketing ou não vamos esperar,agora todo golpe quando não é bem dado encontra o contra golpe,e este é fatal.Um abraço

  2. Antonio Pereira Lima disse:

    Miguel respondendo a sua pergunta,o produtor que engorda até 1000 reses por ano,principalmente novilha, pode escalonar a produção para 80 a 100 por mes,aproveitar os pequenos frigoríficos que estão prestando serviço para terceiros,e montar o próprio açougue,vender carne na média de R$8,00 Kg,ganha o couro e os miudos,e dá a barrigada branca ea limpeza.Somente com o dinheiro do couro,e com o que os frigoríficos estão roubando na balança paga toda a despesa.Este pode ser o contra golpe.Um abraço

  3. Pedro Eduardo de Felício disse:

    Caríssimo Miguel, seus argumentos a favor da venda de carnes ao varejo utilizando vans são muito consistentes, mas eu vou insistir num ponto que salientei mais de uma vez no BeefPoint e que você aborda, mas minimiza em seguida (“Meu objetivo aqui não é avaliar o mérito dos aportes do BNDES nesse artigo, mas a questão das vans”): muito capital, prinicipalmente incrementado pelo dinheiro público, mata a liberdade concorrencial.

    Para mim, esse é um ponto inegociável, não adianta dizer que quem é bom no que faz sobreviverá; contra o excesso de poder econômico as chances são pequenas.

    Tem dois outros aspectos que não sei se já foram abordados pelos debatedores que escreveram para o BeefPoint porque não li todas as opiniões, mas referem-se a quem pode vender carne nas ruas das cidades e a qual legislação estarão subordinadas as vans.

    O primeiro é importante porque se um atacadista pode sair vendendo carne ao varejo, então qualquer varejista também pode, ou não? Quais são as exigências? Na feira-livre também pode? Procurei mas não consegui encontrar a legislação que proíbe a venda de carnes vermelhas em feiras-livres na cidade ou no estado de São Paulo, não estou certo disso, mas sei que existe e é do tempo de Jânio da Silva Quadros em meados da década de 50 (governador), ou de 80 (prefeito) de São Paulo.

    Bem, o segundo aspecto é justamente sobre legislação a que está submetido esse tipo de comércio. Por mais que procurasse, só encontrei leis e decretos que tratam de “estabelecimentos” de vendas ao varejo e “casas de carne”, nada que faça referência a açougues sobre rodas ou algo assim. Quem deve fiscalizar as condições higiênicas e de temperatura de armazenamento e exposição das carnes nesses veículos? Autoridades sanitárias municipais, estaduais ou federais? Sendo a venda no município a inspeção poderia ser municipal, ou seja, de abate municipal? Clandestino não, certo?

    Para finalizar este comentário, a Justiça de Apucarana, PR, decidiu favoravelmente às vans e contra a Prefeitura Municipal, alegando que a atividade se enquadra na “lei do livre comércio”. Com todo o respeito, livre para quem Exmo. Sr. Magistrado?

  4. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    Caro Miguel,

    Como pecuarista não vejo a menor diferença como a carne é vendida. Não sei se este novo canal de distribuição vai aumentar o consumo ou simplesmente deslocar o local de compra de carne, mas certamente não vai prejudicar as vendas consolidadas.

    Como consumidor minha preocupação é somente sanitária. É preciso entender como será feita a fiscalização sanitária desta operação. Não sei qual o marco legal e a estrutura real dos órgãos competentes para cobrir esta nova modalidade de comercialização de carne.

    Aspectos fiscais e de geração de emprego são complexos e precisam ser analisados de maneira global. Mas a princípio também vejo mais remanejamento que destruição de empregos.

    O financiamento da operação é um ponto polêmico, mas para os produtores não vejo como esta expansão do JBS na “distribuição” possa prejudica-los.

    Mas uma coisa continua chamando a minha atenção: aparentemente esta operação de distribuição por vans não deve ser mais barata que a do varejo tradicional e só pode basear-se em margens muito altas na etapa final da cadeia – a comercialização para o consumidor final.

    Mas para os pecuaristas o que seria realmente importante é encontrar um nova forma de vender sua mercadoria….o boi….uma tarefa gigantesca e que até o momento avançou muito pouco.

    Att,

  5. Fabio Martins Guerra Nunes Dias disse:

    Achei essa ai em Aragarças/GO.

    Minha opinião sobre esse tema é muito simples: tudo que melhora a margem de meu cliente é bem vindo.

    Pecuaristas vendem boi gordo para frigoríficos, portanto nosso cliente é o frigorífico. O cliente do nosso cliente é o varejo. O cliente do cliente do nosso cliente é o consumidor de carne. Temos que ter isso claro, quanto mais gente intermediar o produto primário, sem adicionar valor, menos vai sobrar para pagar ao fornecedor da cadeia, no caso o pecuarista.

    Portanto vejo com bons olhos a iniciativa do JBS de procurar o contato direto com o consumidor, encurtando um ou dois passos na cadeia de distribuição.

    Confesso que, apesar de torcer pelo sucesso da iniciativa reconheço um grande risco e um enorme desafio no movimento iniciado pelo JBS.

    Mas se não for o JBS a topar esses desafios, quem o faria? Quem pode topar de frente com os mamutes do varejo?

    Me arrisco a dizer que vejo neste movimento um primeiro resultado positivo da criação dos novos gigantes do abate bovino brasileiro. Parece que finalmente temos grupos industriais capazes de brigar por margens nas etapas posteriores ao abate dos bois. Antes só tinha um caminho: apertar o fornecedor (pecuarista) reduzindo o valor pago pela arroba ou, no limite, aplicar um calote neles. Agora pelo menos são duas pontas a receber pressão dos frigoríficos.

    Um abraço,

    Fábio Dias

  6. Ricardo Machado disse:

    Não sou pecuarista, apenas um meio termo entre consumidor-final e profissional do churrasco. É com esta lente que comento o assunto.

    O artigo é “ótimo”, mas, desculpe o autor, previsível. Repleto de obviedades naquilo que lhe interessa (e ao JBS) e, claro, obscuro naquilo que não lhe interessa: sua fonte generosa de financiamento, o BNDS, e inobstante a duvidosa qualidade dos seus produtos no mercado interno e seu complicado relacionamento com os pecuaristas.

    Como “profissional de marketing” – e é sob esta ótica que o autor se exprime – só faz valorizar o Deus Mercado, como qualquer prosélito. Liberdade a qualquer custo. Livre mercado. Negócio é negócio. Precisamos nos modernizar. E isto e aquilo. Grana acima de qualquer coisa, que se dane o resto.

    Nem tudo a deus nem tudo ao diabo. A ponta final na cadeia interna, o consumidor, não é tão idiota.

    Aqui no Rio, o JBS tem presença marcante no varejo. Seja com a carne comum, sujíssima, seja com as da linha Maturatta.

    A embalagem à vácuo, nos dois casos, é ruim, fora de padrão. As picanhas comuns, um desastre. As da Maturatta, uma enganação: duas, entre três peças são péssimas. Metade lagarto-plano ou coxão-duro e a outa, não raro menor, de picanha propriamente dita, com um mínimo de gordura. Nada a falar, porém, do coração da alcatra. Raras vezes vem ruim.

    Mais: o JBS afirma agora – porque antes não colocava na embalagem, que além de “resfriada” as carnes da Maturatta são também “maturadas”. Ora, salvo minha ignorância, isto é mais que um contra-senso, uma enganação, fraude. Ou é resfriada ou maturada. , embora toda carne maturada seja, originalmente “resfriada”.

    Há quase três anos, escrevi sobre isto no meu blog e pedi explicações por e-mail. Recebi, primeiramente, por telefone, ameaça de processo por um advogado do JBS. Há um mês, mandaram-me dois e-mail, ratificando o processo de maturação. Ainda não tive tempo de responder, mas vou.

    Querer mudar o paradigma do varejo com vans – aproveitando-se do vácuo legal – é muita pretensão e gana. Não vai conseguir. Alguns varejistas do Inteiror vão quebrar, mas não vejo futuro. Aqui no Rio? Nem pensar.

    Aqui, os açougues estão desaparecendo: o varejo se concentra em supermercados.Só falta os compradores destas organizações conhecerem mais a fundo as manhas do frigoríficos e comprarem carnes de frigoríficos que, além de preço, ofereçam qualidade.

    O consumidor interno agradece. Os churrasqueiros também.

  7. Ricardo Cauduro disse:

    Miguel parabéns!

    Para quem não se “Atentou” o Miguel como Dir. de MKT do BeefPoint nos deu uma aula do que o JBS está fazendo e que podemos resumir suas próprias palavras em:
    -Gigante Brasileira da Proteína Animal Vislumbrando Grande Oportunidade no Mercado Interno Busca:
    1 Aumentar suas margens comerciais
    2 Conhecer o consumidor final
    3 Divulgar a própria marca- Fundamental
    4 Desenvolver novos canais de venda ( mesmo que ainda não seja o definitivo)
    5 Diminuir a concorrencia do abate informal
    6 Mostrar que é capaz de inovar
    7 Quebrar paradigmas ( Carne a vácuo)
    8 Aumentar demanda
    9 Cortar intermediários
    10 E como diz em sua última frase, despertar os pecuaristas, no que eles podem fazer de Muito Diferente, para melhorar sua rentabilidade.

    Acredito que esta seja a mensagem do JBS.
    Obrigado.
    Abarço.
    RC

  8. Geraldo dos Santos Tupinambá disse:

    Prezado Miguel.

    Finalizou seu artigo com a pergunta:o que o pecuarista pode fazer de muito diferente em seu negocio, para melhorar sua rentabilidade e poder de negociação.

    Ao meu ver, nada de muito diferente, acredito que a profissionalização do setor ( como a agricultura faz ), o poder de negociação e outros pontos surgem.

    A tecnologia para a pecuária esta disponivel a todos, reza acreditar e usar, dentro da realidade de cada fazenda.

  9. Gilberto Hoberrek Filho disse:

    Senhores, “questao saintária”?
    Com certeza será melhor que comprar numa grande rede de supermercados (Wall Mart, por exemplo). Se a empresa irà cuidar diretamente da distribuiçao, com certeza a refrigeraçao será a adequada. há uma questao de mkt aì.
    Experimentem entrar no estoque de uma grande rede de supermercados, garanto que vocês só comprarao produtos embalados, e nao mais a granel.
    Grande abraço!
    Giba

  10. Alexandre Rodrigues Gozer disse:

    Caro Miguel,
    Me deparei com uma dessas vans no municipio de rosário oeste, cerca de 100km da capital cuiabá, como sou da região, e conheço bem os gostos da baixada cuiabana, parei meu carro e perguntei ao “motorista diga-se atendente” se as vendas eram satisfatórias, e felizmente ele me respondeu que não estava alcançando sua meta diária, pois a população estava refugando a carne embalada, pois na cultura daquela população carne embalada é sinônimo gosto ruim, a maioria prefere, e vão continuar preferindo a carne lá do balcão do açougue do dito, que recolhe seus impostos no municipio, e gera 4 empregos, e não tem ajuda do BNDS pra tocar seu açougue.

    É quase inevitável não tocar nesse “investidor do grupo JBS” pois com esse dinheiro que o JBS detêm advindo do de lá, até eu montaria uma rede mundial de distribuição de carne, e não é muito dificil, basta apenas pagar pouco aos pecuaristas, arrendar plantas de outras industrias que estão “falidas” ou em “recuperação judicial”, negar o pagamento da dívida das mesmas, e voilá! meu negócio crescerá uns 120% ao ano no mínimo, ai vou nessa onda por uns 4 a 5 anos, e depois, sem explicação fecho as portas e foi-se a cadeia produtiva da pecuária brasileira pro espaço, pois eu denterei cerca de uns 50 a 60% do mercado interno, e mais um pouco não é?

    dai eu pergunto, se Deus quiser isso não acontecerá…. mas se essses caras arrumarem uma manobra dessas, onde ficaremos, nós os pecuaristas, técnicos e demais envolvidos com a cadeia da pecuária de corte??? PENSEM NISSO

  11. Paulo Westin Lemos disse:

    Miguel.
    Está muito claro que o tema aparentemente simples, na verdade não é tanto. Sua análise é bastante abrangente, muito bem elaborada e toca em pontos muito interessantes.
    Viva a livre iniciativa e o livre mercado. Também acho que a “ética” do capital do JBS, é um assunto a parte e prefiro deixar para quem conhece mais a fundo, opinar sobre isso. Como já disse em outro comentário, sua majestade o consumidor é quem manda e não há como chorar e espernear quando o custo/beneficio é favorável.
    Não podemos nos esquecer que se o consumidor é favorecido em preço e qualidade, os benefícios aparecem mais cedo ou mais tarde em toda a cadeia porque o consumo aumentará, a imagem da carne será melhor perante a sociedade. O Brasil é o maior exportador de carne do mundo e também um dos maiores em potencial de consumo, com espaço enorme para crescimento do mercado interno. Pequenas elevações no consumo per capita interno podem significar até falta de excedentes para exportação, abrindo espaço para uma melhor remuneração do produtor, como você bem disse. Depender menos de exportações significa também sofrer menos com dólar desvalorizado, um problema complicado hoje.
    Penso que o mais importante é que a coisa seja bem feita, porque se houver problemas de qualidade, sanidade ou custo alto, o marketing será negativo para a carne que já sofre com tantas campanhas contra seu consumo. Da mesma forma que a imagem e o consumo da carne podem melhorar, também temos que ter muito cuidado com os imitadores de fundo de quintal que fatalmente aparecerão se a idéia prosperar. O problema não é copiar a idéia mas sim fazê-la porcamente e então perderemos todos. Haja fiscalização competente para isso. Copiar não é problema, mas sempre aperfeiçoando e melhorando as idéias. Num setor em que praticamente não há investimentos em marketing, penso que pelo menos neste aspecto teremos algum, caso tenha sucesso. Não tenho dados para calcular, mas alguém já fez a conta de quantas vans seriam necessárias para atender significativamente um grande número de cidades em qualidade, quantidade e freqüência? Imagino que a quantidade seria tão alta que os efeitos seriam localizados e temporários. Obviamente se o JBS pretende uma fatia significativa do varejo, terá que investir muitíssimo mais em pontos fixos também, com atrativos e diferenciais de qualidade e preço perante a concorrência. Informações do próprio JBS de Campo Grande na imprensa indicam que os preços nas vans não serão menores que no mercado e portanto, uma vantagem a menos para o sistema, já que a eliminação de intermediários deveria se refletir no preço final do produto. Logicamente o sistema está em fase de experimentação e com certeza haverá ajustes. O tempo é o senhor da razão e não podemos pensar que nossas opiniões são definitivas. Com certeza haverá um aprendizado importante com o sistema. Vejo mais possíveis pontos positivos que negativos e o mérito pela iniciativa do JBS.
    Um abraço

  12. Gomes José Monteiro Neto disse:

    Proteção de mercado com vistas a um equilíbrio socioeconomico é uma utopia para um sistema capitalista no qual vivemos. O poder está no capital e não no sentimento de resguardar a fatia de certa classe de indivíduos.

  13. Paulo Neves disse:

    Como vai ficar o vendedor de carne do JBS friboi que tem em sua carteira de clientes,varios açougues e mercados de pequeno porte???? vai oferecer somente aquilo que o frigorifico tem que botar para fora e geralmente ninguem quer???
    vai vender somente os embutidos??? espero que os açougueiros abram os olhos e vejam em que se transformou o parceiro que eles mesmo criaram e agora vem querendo matar o criador

  14. Carlos Alberto de Godoy Bueno disse:

    Após ler o brilhante artigo e os excelentes comentários, num giro de 180 graus, passei a gostar da nova forma de venda, que tende a beneficiar os produtores rurais, no curto e médio prazo, com concomitante acomodação do mercado distribuidor da carne bovina. O defeito está na concessão de crédito privilegiado a apenas um grande grupo econômico, de atuação internacional, comprimindo os concorrentes e demais elos da cadéia, com o risco sempre presente na colocação dos ovos em uma única cesta. Cabe aguardar que outros possam obter os meios para seguir o mesmo caminho.

  15. Raphael Fernando messias da Silva Peixoto disse:

    Prezado Miguel,

    O que o pecuarista pode fazer de muito diferente no seu negócio, para melhorar sua rentabilidade e poder de negociação?

    Respondendo a sua pergunta, não acredito que possamos fazer algo de muito diferente, pois não contamos com tão significativo aparato do BNDES e sabemos que poucos são os pecuaristas que se preoucupam em responder a indagações como essas, ainda que essa lhe proporcione melhor rentabilidade e poder de negociação.Essa minha arfimativa baseia -se que numa instituição de ensino superior de Zootecnia a qual eu pertenço, buscamos a todo momento respostas para tal perguntas e mesmo quando as encontramos sentimos dificuldades em repassá – las para os pecuaristas pois nem sempre estão dispostos a aderir o que é taxado de “diferente”.Hoje, sob um olhar clínico, percebo que os pecuaristas que sofrem de neofobia, não serão capazes de propor algo de “diferente” para melhorar a atividade pecuária.
    Abraço!

    Att,
    Raphael Peixoto

  16. Rodrigo Paniago disse:

    Caro Miguel,

    parabéns por ter suscitado este ótimo debate. Não vou comentar a dicotomia no tratamento praticado pelo BNDES aos investidores do mercado da carne brasileira, pois este deveria ser o mote específico de outra discussão. Nós vivemos em um mundo capitalista e estamos sujeitos a este tipo de situação, infelizmente. Só espero que a questão da ética seja cada vez mais valorizada, para que possamos seguir evoluindo e não o contrário.

    Sobre a questão que você abriu para o debate, devo iniciar dizendo o seguinte, o pecuarista é um tomador de preço e só lhe resta aumentar a sua eficiência para ter uma atividade sustentável. Aqueles que deixaram de lado a choradeira por conta do contínuo achatamento de preços pago ao produtor e, não menos importante, seguido crescimento dos preços dos insumos, ou seja, aqueles que não se submeteram, foram atrás de soluções e com certeza se depararam ou vão se deparar com a visão de que é na gestão onde estão as melhores oportunidades, pois é lá em que eles poderão reduzir os desperdícios e melhorar os processos de produção, diluindo os custo de produção ao mesmo tempo em que preservam seu patrimônio ao contrário de muitos que buscam a via extrativista.

    Contudo, mesmo aumentando a eficiência do seu negócio o pecuarista continuará como tomador de preço, ou seja não tem e não terá, infelizmente, domínio sobre o preço que pagará pelos insumos nem pelo valor de venda do seu animal. Portanto, usando as suas palavras, para que o pecuarista possa fazer algo muito diferente é preciso que ele verticalize o seu negócio, como já estão fazendo os agricultores. Como exemplo disso podemos utilizar a notícia desta semana de que a Libero, trading de produtores de algodão e cereais do Centro-Oeste, já iniciou suas atividades com a venda de algodão para uma estatal chinesa. Ou seja, os agricultores estão se unindo e pulando os atravessadores.

    É verdade que no caso da carne a cadeia é mais complexa, em especial no setor de transformação, porém não é uma saída inatingível. A grande questão no entanto, não é a estratégia e sim o perfil do investidor, o pecuarista por natureza é do tipo mais conservador, entrar na seara do comércio é algo um pouco distante da maioria, ou seja, não é uma alternativa para qualquer um. Então, talvez, a saída seja a criação de uma cooperativa, onde a participação possa ser mais genérica.

    Esta saída também já foi tentada antes, não é novidade. Mas, o fato de que um ou dois empreendimentos desta natureza não tenham obtido êxito não significa, obviamente, que um próximo não possa tê-lo, em especial se a visão de negócio dos envolvidos for de longo prazo.

    Saudações,

    Rodrigo Paniago
    Boviplan Consultoria

  17. Augusto Zacharias Gontijo disse:

    Caro Miguel:
    Lendo seu artigo acima, é bastante coerente sua analise. Ressalto os aspecto de mercado, marketing e sobretudo de oportunidade comercial que vislumbrou o JBS.
    Concordo estar vinculado aumento de consumo a preço da matéria prima, porém é um contos de fadas achar que a indústria frigorífica irá repassar qualquer ganho obtido com esta ação para os produtores, pois o mercado é soberano e não uma casa de caridade. Há de se lembrar ainda, que estratégia como esta certamente estará afetando com dureza os pequenos e médios abatedouros que em ultima analise fazem o contra ponto no preço pago pela vaca ou por lotes de animais em menor quantidade, desta forma haverá cada vez mais a oligopolização do setor , o que de fato já ocorre e isto não é bom para nós pecuaristas, que ficaremos cada vez mais a mercê dos grandes grupos transformadores e como ressaltou um dos comentaristas acima, continuaremos ser meros tomadores de preço no mercado de gigantes frigoríficos, portanto entendo ser importante esta estratégia de ponto de vista de mercado pois em um cenário capitalista sobrevive o mais competente, mas é necessário dar as mesma oportunidades aos demais para vivermos numa plena democracia.
    Att.
    Augusto Z. Gontijo- pecuarista

  18. Carlos Alberto Barros disse:

    Como é fácil ser eficiente e inovador com o respaldo do BNDES – aliás essa deveria ser a tônica, o padrão de todas as ações desse Banco que distribui o nosso dinheiro: apoiar as empresas sérias que geram empregos, cumprem com suas obrigações legais / fiscais, e buscam na qualidade dos seus serviços o norte de seu crescimento e sobrevivência. Infelizmente não é….
    Utilizando um pedaço do editorial acima – “…E os outros frigoríficos? Se essa iniciativa ainda em teste der certo, terão que se mexer…”, creio que todos (ou ao menos os sérios) conseguiriam a mesma inovação, ou até melhor, se o BNDES os apoiasse da mesma forma que financia o JBS.
    Miguel, você explorou – como você mesmo disse – apenas um aspecto do assunto. O outro, relativo ao apoio do governo (leia-se “uso do Nosso Dinheiro”), a meu ver mais sério, por comprometer ao extremo a livre concorrência e fortalecer o monopólio, mereceria também uma abordagem de marketing (de “Market” = Mercado).
    Carlos Alberto – Consultor de TI.