

A produção de carne bovina brasileira deve recuar entre 5% e 6% no próximo ano em relação a 2025, totalizando 10,5 milhões de toneladas em equivalente carcaça. Conforme perspectivas divulgadas nesta quarta-feira, 29, pelo Rabobank, o recuo é resultado dos três anos consecutivos de abates de fêmeas que têm desencadeado quedas históricas, tanto no rebanho de vacas quanto na produção de bezerros.
Como reflexo da queda na oferta de animais, espera-se uma sustentação de preços da arroba bovina, principalmente no segundo semestre de 2026. “Entendemos que a variável do lado da demanda, de incremento de poder de compra, deve ser positiva. Ainda não estamos projetando R$ 400,00 a arroba para o ano que vem, mas certamente no segundo semestre devemos ver preços maiores do que R$ 350,00, principalmente por conta de uma reposição com valores elevados”, disse o analista de pecuária do Rabobank, Wagner Yanaguizawa.
O fator climático também está no radar da produção de carne bovina. A confirmação do fenômeno La Niña no último trimestre deste ano, se estendendo até o início de 2026, pode impactar o potencial de engorda da produção extensiva.
Isso, segundo o Rabobank, deve ocorrer uma vez que a previsão de chuvas abaixo da média no Sul do Brasil e o excesso de precipitação no Centro-Oeste e na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) podem impactar negativamente a recuperação das pastagens e comprometer a engorda a pasto na primeira metade de 2026. “A qualidade das pastagens deve melhorar com o início das chuvas no último trimestre, mas o risco de invernadas e déficit hídrico permanece elevado nessas regiões”, salienta o especialista.
Conforme a análise, a possibilidade de negociação de uma tarifa reduzida ou ampliação da cota de exportação da carne bovina do Brasil para os Estados Unidos poderia mitigar parte dos impactos negativos causados pelo cenário climático. A instituição ainda vê um movimento de recuo de cerca de 4% na oferta de animais nos EUA, apesar da leve recuperação do rebanho já observada no país.
Enquanto isso, a demanda pela carne bovina seguirá aquecida. Do lado do mercado doméstico, dois eventos no próximo ano podem favorecer, temporariamente, o poder de compra da população: a Copa do Mundo de futebol e a eleição presidencial.
De acordo com Yanaguizawa, são fatores de sustentação da carne bovina no mercado interno. “A gente entende que é uma variável historicamente importante em termos de repasse de poder de compra temporário, que deve ser, em termos de sustentação de preço para a carne bovina, uma variável importante, principalmente quando comparamos em relação a este ano de sustentabilidade de preço, principalmente frente a frango e a suíno”, indica.
Ele explica, contudo, que a expectativa de preços maiores para a carne bovina nos próximos meses deve elevar a competitividade das proteínas animais mais baratas, interrompendo a sequência de recuperação do consumo de carne bovina iniciado em 2023. Nesse aspecto, o Rabobank projeta queda entre 8% e 9% no consumo per capita de carne bovina em 2026, chegando próximo a 30 quilos por habitante ao ano.
Olhando para a variável da demanda externa, a expectativa é de incremento das exportações, com o Brasil seguindo como protagonista global e a China puxando esse movimento. Conforme o Rabobank, a forte aceitação da carne brasileira entre os consumidores chineses tem feito com que haja uma migração para cortes mais acessíveis, o que pode sustentar a demanda mesmo em um cenário de menor crescimento do país asiático.
Entretanto, fica o alerta para o anúncio do fim das investigações de salvaguarda para importação de carne bovina pela China, que deve ser feito em 26 de novembro. Dependendo da decisão, pode haver barreiras ou limitações de embarques através de cotas para a carne bovina brasileira.
“As principais oportunidades que o Brasil tem na China, do lado da demanda, ficam para o setor de varejo online. A gente tem visto um crescimento interessante, deve ser um fator interessante em termos de puxar a demanda, principalmente porque o Brasil deve continuar sendo o principal mercado fornecedor. E acredito que isso não deve mudar para o ano que vem”, diz o analista.
Fonte: Estadão.