A raça bovina Murray Grey, formada na Austrália, chega ao Brasil tendo Goiás como Estado pioneiro em sua criação. A introdutora de mais uma opção para a produção de carne no País é a Fazenda Água Limpa, de Leopoldo de Bulhões, de propriedade dos pecuaristas Aldi Alves Bezerra e Aldi Alves Bezerra Filho. Eles procuravam uma raça que fosse ao mesmo tempo produtiva e compatível com as condições de produção a campo na região Centro-Oeste do País.
Nos Estados Unidos conheceram a Murray Grey, indicada por um amigo, veterinário brasileiro radicado nos EUA, professor da Universidade de Ohio, por ter características desejáveis para a produção a pasto, explica Audi Alves Bezerra. A raça, já difundida em vários países do mundo, vem sendo utilizada no cruzamento industrial com o Nelore, paralelamente à formação de um plantel de animais puros.
O desempenho dos primeiros bovinos meio-sangue nascidos na Água Limpa demonstra que a escolha foi acertada, considera Audi Filho, que também é veterinário. Ele ressalta que os animais têm se mostrado resistentes às condições ambientais nem sempre favoráveis encontradas na região Centro-Oeste. “É uma raça muito bem pigmentada, tanto de casco quanto de couro, o que a faz resistir bem ao sol”, avalia.
O cruzamento do Murray Grey com o nelore tem resultado em animais de cor padronizada e pelagem curta. Todos os bezerros nascidos até agora, mesmo tendo sido cruzados com o gado Nelore padrão, de chifres, nasceram mochos. Os pecuaristas começaram a trabalhar com a raça há quatro anos, importando material genético, e inicialmente pensavam em produzir o meio-sangue, apenas. Os resultados favoráveis os levaram a investir também na criação da raça pura.
Dois touros e algumas fêmeas foram adquiridos nos EUA e são mantidos no Estado de Ohio. Os sêmens e embriões são coletados e enviados diretamente para o criador em Goiânia. Esse procedimento, explica Aldi Filho, facilita muito a adaptabilidade dos animais, pois já nascem no local onde serão criados.
Desempenho
A Água Limpa já dispõe de cinco animais puros nascidos no Brasil, quatro prenhezes confirmadas e mais cinco à espera de confirmação. A habilidade materna das fêmeas F1 foi uma das surpresas do cruzamento com o Nelore. O bezerro mama com facilidade mesmo na criação a pasto, o que resulta em uma relação custo-benefício positiva.
Além da transferência de embriões, as matrizes F1 vêm sendo retidas para a obtenção de animais puros por cruza e também se mostram ideais como receptoras. Outra opção é o aproveitamento dessas fêmeas para a produção de animais três quartos ou o tricross, utilizando uma outra raça de corte. Aldi Filho vem coletando os dados que obtém a partir do desempenho dos animais nascidos na Fazenda, pois não há informações técnicas sobre o comportamento da raça no Centro-Oeste.
Os animais meio-sangue têm sido abatidos na faixa de 20 a 22 meses, com 18 arrobas líquidas, alimentados exclusivamente a pasto e suplementados com silo de milho na fase terminal por um período de 60 dias. Dois abates já foram realizados, num total de 100 animais, aproximadamente.
Os cruzados, principalmente os meio-sangue e os três quartos, apresentam pelagem escura, por ser a raça originária do aberdeem angus, de cor negra. A coloração aberdeen torna-se mais acentuada na medida em que a raça é apurada com sucessivos cruzamentos com animais puros .
Parceria na difusão
O Murray Grey surgiu a partir do cruzamento de um touro Aberdeen Angus com uma vaca White Shorthorn. Os primeiros animais nasceram em 1905, no vale do Rio Murray, na Austrália. A capacidade de produzir carne marmorizada, sem excesso subcutâneo ou intermuscular de gordura, tornou a raça competitiva nos mercados mundiais, propiciando a difusão para a Nova Zelândia, Ásia, Canadá, EUA, Europa e Brasil.
A introdução da raça no Brasil exigiu dos pecuaristas goianos a disponibilização de um pool genético variado o suficiente para o sucesso do projeto. Para isso foi estabelecida parceria com o presidente da Associação Americana dos Criadores de Murray Gray, que repassará, a preços adequados à realidade brasileira, doses de sêmen de 15 touros americanos e australianos. As doses serão disponibilizadas a preços em torno de US$ 5,00. O preço dos embriões é variável, depende do padrão genético da mãe e do pai desses animais.
Fonte: O Popular (Evandro Bittencourt), adaptado por Equipe BeefPoint