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Raça Nelore mostra força do boi de capim em Rondônia

Quem ainda imagina que Rondônia é um Estado pouco desenvolvido, repleto de florestas e povos nativos, deve mudar de opinião. Nos últimos 12 anos, a pecuária cresceu 411% e revolucionou a economia local. Com um rebanho de 7,578 milhões de cabeças, o setor hoje responde por mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual. Foi nesse cenário que os produtores resolveram, em uma atitude pioneira no país, investir no Programa de Qualidade Nelore Natural, desenvolvido pela Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB). A idéia é valorizar a carne do gado criado no campo, alimentado apenas com pasto e suplementação com sal mineral, o chamado boi de capim.

O empenho da cadeia produtiva da carne e do poder público em desenvolver a pecuária e garantir a sanidade dos animais pode servir de exemplo de estratégia de marketing para os tradicionais produtores do Sul. Atualmente, 80% do rebanho pertencem à raça nelore, que mostrou excelente adaptação às características de solo e clima do Estado. O clima quente e úmido de Rondônia é um dos segredos do crescimento da criação. A abundância de pastagens de boa qualidade é difícil de ser verificada em outras regiões do país.

Em contatos com os técnicos da ACNB, os produtores descobriram que pouco precisavam fazer para se adequar às normas do Nelore Natural. O sistema de produção já estava perfeitamente adaptado, faltava apenas mais conhecimento para aperfeiçoar a qualidade da carne. O programa, criado no ano passado, inclui quatro módulos: qualidade da carne, rastreabilidade dos sistemas de cria, rastreabilidade de engorda e qualidade de reprodutores.

Por enquanto, está em implantação o primeiro. Para melhorar e atestar a qualidade da carne do nelore produzido em Rondônia, são estabelecidas algumas normas: o animal deve ser abatido com até três anos e meio, o peso deve ser entre 240 e 285 quilos e o acabamento estabelece de dois a oito milímetros de gordura distribuídos uniformemente na carcaça. Os critérios são observados desde a criação até o abate no frigorífico e a classificação das carcaças. O objetivo é garantir que os cortes embalados com a marca Nelore Natural estejam dentro dos padrões. No lançamento do programa, em setembro do ano passado, 20 pecuaristas estavam cadastrados. Atualmente, 250 produtores participam do projeto.

Aumento de renda

Um dos atrativos que motivou os pecuaristas de Rondônia a aderirem ao Programa de Qualidade Nelore Natural foi a possibilidade de melhor remuneração. Boa parte dos produtores já recebe um acréscimo de R$ 0,50 por arroba quando o animal é classificado e enquadrado nas normas do programa.

Os critérios foram estabelecidos pela ACNB a partir de 10 julgamentos de carcaça realizados em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Minas Gerais, Rondônia e Goiás. A análise deu origem a um banco de dados sobre a raça no Brasil, estabelecendo índices definidos como ideais. Os dados sobre o padrão da carcaça são tabulados e, caso a carne corresponda aos índices exigidos pelo programa, o animal é classificado como Nelore Natural, o que permite o pagamento do sobrepreço.

No próprio frigorífico a carne é desossada e embalada com o selo da marca Nelore, para depois ser distribuída nas redes de supermercados. Até a metade do mês de maio, mais de 44 mil bovinos já haviam sido abatidos em Rondônia dentro do Programa Nelore Natural.

O diretor do frigorífico, Luís Bertoncini, explica que, por enquanto, a empresa está cobrindo a diferença no preço. A intenção, no entanto, é recuperar a diferença por meio da maior valorização do produto final, quando o consumidor aceitar pagar mais pela carne diferenciada. O técnico da ACNB, Carlos Grossklaus, explica que em todas as etapas da cadeia produtiva, desde o pecuarista até o supermercado, é necessário assinar um termo de adesão, no qual é formalizado o compromisso com os critérios exigidos. Três grandes redes de supermercados (duas de São Paulo e uma do Rio de Janeiro) já vendem a carne com a marca Nelore Natural.

Os segredos do pioneirismo

Até o momento, Rondônia é o único Estado brasileiro que já está abatendo animais pelo Programa de Qualidade Nelore Natural, desenvolvido pela Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB). Isso significa que toda a carne com a marca Nelore Natural comercializada nos supermercados brasileiros sai, necessariamente, das fazendas rondonenses:
– Rondônia foi o primeiro Estado a implantar um acordo entre as todas as etapas da cadeia produtiva, o que facilitou a adesão ao programa.
– O frigorífico Novo Estado, com sede em Vilhena, já fornecia carne para grandes redes de supermercados da Região Sudeste. Foi a Rede Andorinha, de São Paulo, a primeira a aderir ao programa.
– A partir de então, os pecuaristas de Rondônia foram chamados. O objetivo era formalizar a criação do Nelore Natural, com a assinatura dos termos de adesão para atestar que a carne produzida nas propriedades seguia os padrões do programa.
– Com a oficialização, o frigorífico poderia vender a carne desossada e embalada com o selo Nelore Natural, associado à carne saudável de um boi alimentado com pasto.
– Os pecuaristas de Mato Grosso também se preparam para iniciar em breve os abates e pretendem atingir ainda o mercado externo, já que o Estado é considerado zona livre de febre aftosa com vacinação.

Fonte: Zero Hora/RS (por Alessandra Mello), adaptado por Equipe BeefPoint

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