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Rally da pecuária, uma odisseia pelos pastos

Rally da Pecuária 2012 inovou e identificou diversas oportunidades para os pecuaristas brasileiros.

No Brasil as pastagens são de elevada importância para a produção pecuária. A região tropical, o “know how” acumulado nas universidades e na iniciativa privada, somada à qualidade das forragens presentes nas fazendas não deixam dúvidas: maximizar a eficiência do uso das forragens traz ganhos tanto aos produtores como para toda a cadeia produtiva da carne e do leite no Brasil.

É fato que quanto melhor for a qualidade dos animais, maior será a demanda energética na sua nutrição, o que exige suplementação com alimentos concentrados como o milho, a polpa cítrica, sorgo e farelos em geral. Com isso, evidentemente, as melhores dietas tendem a ser obtidas a partir de mistura total de ingredientes previamente balanceados e fornecidos no cocho, em sistemas confinados.

No entanto, engana-se quem acredita que a produção em pastagens seja baseada na baixa tecnologia e no baixo rendimento da área. No período chuvoso, quando as pastagens concentram 70% a 80% da produção anual, é possível associar o uso das pastagens, potencializando sua produtividade, a lotação animal e fornecendo suplementos, minerais ou mesmo concentrados separadamente em cochos de suplementação. Em outras palavras, pastagens bem tratadas, fertilizadas e manejadas com planejamento, possibilitam altas produtividades por área em um sistema de menor custo e bem mais acessível aos pequenos produtores. Na pecuária leiteira, este conceito é a base do sucesso do programa Balde Cheio, desenvolvido e fomentado pela Embrapa Pecuária Sudeste.

Apesar do potencial das pastagens, a grande maioria dos produtores brasileiros ainda dá pouca atenção à correção e fertilização do solo, tratos culturais e aplicação de conhecimento para que as pastagens desenvolvam o potencial. O resultado desse baixo aporte tecnológico é ocupação subaproveitada das áreas de pastagens brasileiras. Hoje, segundo estimativas da Bigma Consultoria, as cerca de 212,5 milhões de cabeças do rebanho brasileiro povoam 171 milhões de hectares de pastagens, com um índice de ocupação de 1,24 cabeças/hectare ou 0,94 unidades animal (450 kg de peso vivo)/ha.

Do total do rebanho brasileiro, é provável que entre 24% a 26% se envolvam de alguma forma com a produção leiteira, incluindo bezerros que irão para o corte, nascidos em propriedades leiteiras e vacas de raças específicas para corte usadas no fornecimento de leite.

Justamente para diagnosticar as condições das pastagens, e a condição geral do rebanho, em 2011 a Agroconsult resolveu retomar o projeto Rally da Pecuária, cuja primeira e única edição havia sido realizada em 2004. Nos anos de 2011 e 2012, a Agroconsult contou com o apoio da Bigma Consultoria para elaborar e executar o ousado projeto – maior levantamento “in loco” num curto espaço de tempo feito na pecuária nacional.

Em termos de rebanho, o foco do Rally da Pecuária foi na pecuária de corte, que representa a maior parte dos bovinos brasileiros. Nas pastagens, no entanto, o projeto avaliou aleatoriamente as condições a campo, independente de consistirem propriedades de corte ou de leite.

E os resultados desta avaliação possibilitaram observações surpreendentes das condições das pastagens no Brasil.

Descrição do projeto

O planejamento do Rally da Pecuária contou com quarto critérios de coleta de informações: entrevistas e pesquisas individuais com produtores, entrevistas em encontros com 3 a 5 produtores, questionários auto preenchíveis em jantares e amostragem aleatória das pastagens. Aqui vamos nos ater apenas às pastagens, haja vista que o foco dos produtores tenha sido voltado à pecuária de corte, conforme já comentado.

Circulando as principais regiões de pecuária do país (com exceção do Rio Grande do Sul), quatro caminhonetes com a equipe do Rally da Pecuária totalizaram 52 mil km percorridos entre agosto e outubro de 2012. A cada 20 km a 40 km (dependendo do trecho) as equipes entravam numa estrada lateral e percorreriam outros 2 a 5 km e amostravam aleatoriamente as pastagens que encontravam no local.

As principais informações eram o registro fotográfico por vários ângulos, anotação das coordenadas pelo GPS (global position system), altitude, topografia, presença de gado, contagem de cupins, placa de fezes, infestação e tipo de invasoras, pesagem da massa morta e original em um metro quadrado (foco no ponto coletado), amostragem para altura do capim, tipo de capim presente, avaliação das condições do pasto por um critério de notas, contagem do stand das plantas, qualidade das cercas e diversas outras características relevantes para analisar a condição da área.

A distribuição do tipo de capim presente nas pastagens brasileiras ficou dentro do esperado com cerca de 68,2% dos pastos cobertos por cultivares de Brachiaria brizantha e suas diversas variações melhoradas e apresentadas ao mercado. Outros tipos de braquiárias (decumbens, ruziziensis, humidícolas, etc.) representam outros 9,1% dos capins presentes nas fazendas. Capins do gênero Panicum totalizaram 10,2% do total das amostras, como pode ser constatado na figura 1.

O principal critério de avaliação da qualidade geral das pastagens foi o uso de um sistema de gabarito fotográfico elaborado para cada tipo de forragem. Neste gabarito eram apresentadas situações diversas de pastagens para as condições que podiam ser vistas a campo, distribuídos em um sistema de notas para cada uma daquelas condições.

As principais características avaliadas foram: homogeneidade do capim, infestação por invasoras, quantidade massa, stand ou população de plantas e presença de erosão (incluindo a laminar). No sistema de notas, a avaliação do stand pesava mais e, inclusive, a medição do ponto confirmava ou não a nota que estava sendo atribuída a este critério.

O objetivo com o critério de avaliação foi estabelecer e quantificar a curva de degradação (ou de qualidade) das pastagens ao longo da amostra realizada pelas equipes do Rally. Essa curva é uma figura comum, muito utilizada didaticamente para representar o decréscimo da qualidade dos pastos à medida que o vigor de rebrota e a qualidade vão caindo com a não reposição dos nutrientes extraídos e exportados pela planta.

Apesar do conceito bem disseminado, o grau de degradação das pastagens é pouco conhecido no campo e este foi o objetivo das consultorias Bigma e Agroconsult com o estabelecimento de tal critério: identificar quanto realmente das pastagens está degradada e quanto poderia voltar a produzir com simples aplicação de insumos na área.

As figuras 2 e 3 representam três dos principais itens avaliados, quantificados nas curvas que geralmente são usadas para ilustrar o processo de degradação das pastagens. Observe os resultados.

A tabulação final dos dados e a quantificação da qualidade das pastagens trouxe surpresa para toda a equipe organizadora do projeto, por gerar uma perspectiva diferente com relação do uso e do aumento de produtividade das pastagens.

Antes da conclusão final do projeto, acreditávamos que a qualidade geral das pastagens estivesse bem pior do que encontramos. Observe que usando o critério de stand e condição geral dos pastos, podemos classificar que mais da metade das áreas de capins no Brasil estão em boa ou ótima qualidade.

Bom, antes de continuar vale uma ressalva importantíssima. Dizer que as pastagens estão em boa ou em ótima qualidade não significa dizer que estão produzindo adequadamente. Muito pelo contrário, pois as mesmas continuam subutilizadas e produzindo muito pouco diante de um potencial até mesmo mediano que poderiam oferecer ao produtor. A classificação entre boa e ótima qualidade significa que são capins que poderiam responder rapidamente e com ótimo benefício/custos a estímulos para ampliar a produtividade e melhorar o manejo.

Em outras palavras, trata-se de pastagens que poderiam rapidamente melhorar significativamente a renda do pecuarista, seja na produção de leite ou de carne. E, caso nada feito com elas, em breve estes pastos estarão representando foco de preocupação e demanda de recursos para que voltem à uma condição.

Neste estado intermediário, o qual chamamos de pastos “meia vida” ou stand ainda adequado, estão entre 26% a 31% das pastagens amostradas. São estes os capins que o produtor deveria olhar com atenção e adotar medidas para que não iniciem a curva de degradação chegando, finalmente, a um ponto de onde não há alternativa que não seja a reforma ou recuperação.

Do total da amostra, entre 16% e 17% das pastagens estão em estado avançado no processo de degradação e, caso nenhuma interferência seja feita, em breve estarão no ponto seguinte da curva, onde a única saída será a reforma total das pastagens por já terem se degradado completamente. Algo entre 3% a 7% das áreas amostradas estão neste estado, que requer imediata reforma das pastagens.

Ainda, contrapondo as informações com as avaliações feitas junto aos produtores, apesar de que apenas cerca de 3% a 7% precisem de reforma, identificamos que os produtores, em média, estão reformando 14,5% das áreas de pastagens. E só não reformam mais pelo limite de capital para refazer os pastos.

A quantidade de pastos reformados fica bem próximo da avaliação das infestações de pastagens, cuja avaliação de campo identificou que cerca de 13% dos pastos estão com um nível muito alto de infestação por invasoras. Observe a figura 4.

Grosso modo, apenas 16% das pastagens poderiam ser classificadas como livre da presença de invasoras na área, embora 54% estejam com baixa infestação, o que indica um momento adequado para controlar quimicamente a baixos custos, evitando o avanço da ocupação da área. Do total das pastagens avaliadas 21% estão alta infestação de invasoras e apenas 9% estão numa condição intermediária, já exigindo algum controle.

Mesmo com infestação alta, a pastagem pode não estar necessariamente degradada, o que possibilitaria que a área fosse recuperada e não necessariamente reformada. É o que apresentam os números do Rally. No universo pesquisado, o produtor está reformando entre 100% a 150% a mais do que a necessidade.

A recuperação envolve o controle de invasoras e a restituição da fertilidade do solo, com aplicação de corretivos e fertilizações. A reforma, por outro lado, implica em refazer todo o capim, revolvendo o solo e reinstalando novamente a forrageira.

Além do risco de exposição do solo durante o período compreendido para as operações de aração, gradagem e semeadura, sabe-se que o custo de uma recuperação de pastagem fica, em média, cerca de 60% do custo de uma reforma completa.

Com isso, podemos concluir que os recursos poderiam ser bem melhor aplicados caso os produtores fizessem uma avaliação técnica mais aprimorada das condições das pastagens nas propriedades. Em outras palavras, a decisão de reformar ou recuperar o solo, o que pode implicar em grande economia para os produtores, será bem melhor elaborada a partir de um inventário das condições dos pastos nas fazendas.

Por fim, essa informação é de grande relevância para identificarmos e planejarmos as medidas que podem ser adotadas pelos produtores. E dentro das propriedades, qualquer produtor pode levantar o grau de degradação pasto a pasto, o que permitirá que ele elabore a melhor estratégia possível para as pastagens presentes em sua área.

Tanto na pecuária de corte como na pecuária leiteira, os melhores resultados econômicos são obtidos nas empresas que conseguem as maiores produtividades por hectare, o que torna a importância dos capins extremamente relevante para o lucro do produtor.

Aplicar um estudo semelhante ao do Rally da Pecuária na própria fazenda permitirá avaliar bem a potencialidade e dimensionar os recursos e as estratégias para cada uma das áreas da empresa. Hoje em dia, mais do que nunca, é imprescindível implementar medidas que permitam economicidade e maximização de retorno sobre os ativos da propriedade. E as pastagens representam um dos principais ativos da pecuária.

O Rally da Pecuária 2012 foi patrocinado pelas empresas Dow AgroSciences, MSD Saúde Animal, Vale Nutrição Animal, Fertilizantes Heringer e Grupo Marfrig/Seara. Contou ainda com o apoio da Mitsubishi Motors, Fiesp, Inpe, Embrapa Monitoramento por Satélites e BeefPoint.

Fonte: Bigma Consultoria.

Artigo originalmente publicado na revista Balde Branco.

1 Comment

  1. Hércules Alves de Arruda disse:

    Parabéns aos organizadores do Rally da Pecuária, foi um excelente trabalho e com certeza nos servirá de base e aprimoramento sobre a realidade do segmento. É importante e pertinente frizar sobre os dados levantados, a importancia de o Pecuarista pegar o time certo para o controle das plantas invasoras nas pastagens, que é quando a infestação ainda não está muito elevada, onde se consegue com menores custos uma rápida melhora das pastagens e em menor período de tempo.