Está muito claro que a pecuária de corte do Brasil precisa se adequar o mais rápido possível às exigências dos grandes importadores de carne bovina, principalmente em relação à rastreabilidade, caso contrário continuará atrás de nossos concorrentes, especialmente a Austrália.
Sou testemunha da competência e eficiência dos nossos concorrentes, especialmente em relação ao marketing. Eles são realmente agressivos nos grandes eventos internacionais, como Anuga e SIAL. Precisamos estar melhor organizados para vender melhor nossa carne, ou poderemos continuar sendo um grande fornecedor de carne vermelha, mas sem diferenciais.
Hoje, para se ter idéia, nosso produto é comprado, não vendido. Na União Européia, a carne brasileira é pouco valorizada. A preferência é pelo produto argentino ou uruguaio. Apenas na falta de opção vai a nossa carne. Isso porque não possuímos padrão, nem mesmo sabemos identificar a origem do produto. Concordo que essa situação está mudando, é verdade, mas não o suficiente nem no ritmo necessário para tornar o Brasil o principal fornecedor de carne bovina no mundo em poucos anos.
A efetiva rastreabilidade do rebanho brasileiro ao que parece não será um processo simples e rápido. A própria instrução normativa do Ministério da Agricultura que oficializou o Sisbov (Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem de Bovinos e Bubalinos), ainda gera dúvidas.
A saída é não ficar esperando a rastreabilidade bater à porta. Devemos tomar a iniciativa. Nossa empresa, em 2002 promoveu encontros para esclarecer os produtores e técnicos e firmando parcerias com outros grupos pecuários para identificar e rastrear os bovinos e certificar a origem da carne, atendendo às exigências dos nossos clientes do exterior.
Vale lembrar, ainda, que atualmente apenas a União Européia exige que a carne tenha certificação de origem, mas em breve outros importantes mercados, como o asiático, também deverão ter regras mais rígidas para importação de carne bovina. Ainda dá para recuperarmos o tempo perdido.
O que não podemos é dar passos para trás ou querer tirar vantagens dessa situação em que se encontra a rastreabilidade no Brasil. Pecuaristas, frigoríficos, certificadoras e governo devem trabalhar juntos e fazer a lição de casa, seguindo as normas de qualidade. Toda a cadeia produtiva ganha com isso.
Por falar em ganhar, a rastreabilidade traz aos pecuaristas outra vantagem importantíssima nos dias de hoje: ela é uma ferramenta de controle e administração da qualidade nas fazendas. É possível controlar produção, reprodução, nutrição, pastagens, sanidade e potencial genético do rebanho. Ganho de peso, fertilidade, qualidade de carcaça e desfrute também são avaliados com mais eficiência. Portanto, é preciso maior conscientização do mercado e dos pecuaristas, principalmente, pois o Brasil tem potencial de sobra para se tornar o maior fornecedor de carne vermelha do mundo, basta acreditar e fazer a coisa certa.
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Concordo com a rastreabilidade.
Porém discordo de como o governo vem impondo regras que poderiam ser mais simples, certificando entidades já preparadas para esta função tais como ABCZ, Fundepec e outras.
Concordo com o Marcos que escreveu sobre a não autorização de administrador rural fazer parte da rastreabilidade. Como técnico em agropecúaria também protesto pela não colocação nossa no processo, já que somos capazes de realizar tantas outras atividades no setor agropecúario.
A necessidade de aplicação da rastreabilidade nos animais, irá forçar os produtores a fazerem a organização da gestão administrativa e esta irá conduzí-los para a aproximidade da realidade de sua atividade.
É muito raro ver uma propriedade utilizar ferramentas computacionais (programação linear, programação multiobijetivo, simulações,…, etc), nos seus processos de tomada de decisões, portanto, enquando não houver um planejamento sério por parte do produtor e uma política agropecuária por parte dos governos federal, estadual e municipal, continuaremos perdendo para os Argentinos e Uruguaios.
Eng. de Alimentos
MSc Gerson Ribeiro Homem.
Doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos (Informática Aplicada à Agroindústria de Alimentos e Bebidas)