O impasse entre pecuaristas e frigoríficos sobre quem vai pagar a conta da adesão ao Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov) pode afetar as vendas de carne bovina do país para a União Européia (UE) no próximo mês, admitem os exportadores.
A partir de segunda-feira (02), apenas carne bovina rastreada e com certificação de origem poderá ser embarcada para a UE, mercado que responde por quase 50% das exportações brasileiras de carne bovina in natura. Desde julho, quando entrou em vigor a exigência do bloco europeu, o governo vinha garantindo os embarques, certificando o produto com base nas informações contidas nas Guias de Trânsito Animal (GTAs) e nos dados sobre os animais nas propriedades.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) considerou necessário um período de transição para que a cadeia produtiva se adaptasse às novas regras. Também nesse período foram credenciadas sete certificadoras para garantir o rastreamento dos animais.
Apesar do período de transição, a oferta de animais em processo de certificação ou já certificados é inferior à demanda dos exportadores. Dados obtidos junto às certificadoras indicam que há cerca de 1,2 milhão de animais nessas condições. São machos e fêmeas, em diferentes idades. Apenas parte deles destinada ao abate imediato.
Já a demanda dos frigoríficos exportadores é de um milhão de cabeças de gado por mês, estima o presidente do Instituto Gênesis, Henrique Victorelli. Esse número se refere à necessidade de cerca de 70 plantas frigoríficas habilitadas a exportar para a UE. O volume de gado é alto porque cada animal rende poucos quilos dos cortes destinados à UE. A estimativa do diretor da Organização Internacional de Agricultura (OIA), José Amaral Wagner Neto, é de uma necessidade mensal de 600 mil animais. “Deve haver uma procura forte por animais rastreados”.
Para o gerente-comercial do frigorífico Tangará, Ricardo Simões, as exportações para a UE devem diminuir “um pouco” em setembro pela pequena oferta de animais certificados. A Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec) também prevê recuo nas vendas para o bloco. “Tanto frigoríficos quanto pecuaristas acharam que podiam empurrar esse problema com a barriga. Agora, as exportações podem ser afetadas”, lamenta um especialista do setor.
Na avaliação do diretor da Biorastro, Valmir Rodrigues, a adesão ao Sisbov é baixa porque o pecuarista quer saber se receberá mais pelo animal rastreado.
Por enquanto, poucos frigoríficos pagam um diferencial pelos animais certificados. Entre eles estão Independência, Bertin e Minerva. Os dois primeiros pagam R$ 2,00 a mais por animal. “É uma ajuda de custo ao pecuarista”, reconhece o gerente-comercial do Independência, João Luiz Mella. O Minerva paga R$ 1,00 a mais por animal.
Mas os pecuaristas, que não são obrigados a aderir ao Sisbov, querem um incentivo maior para investir na rastreabilidade. “O que alguns frigoríficos pagam não corresponde nem a 50% dos custos por animal”, afirma o coordenador do Fórum Nacional da Pecuária de Corte da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Antenor Nogueira, que defende o pagamento de R$ 1,00 a mais por arroba de animal certificado.
Fonte: Valor On Line (por Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint