Luiz Alberto Martins Villela1
Muito pertinente o comentário feito pelo Dr. Romão em 25/01 (veja artigo), ainda mais com o assunto ´rastreabilidade´ começando a se tornar pauta de conversas e indagações sobre aonde chegar e o porque deste procedimento.
O momento que vivemos no aspecto pecuário, aliado aos fatos recentes externos que têm tomado destaque nos noticiários, são propícios a considerações importantes.
O destaque talvez mereça ser dado à importância que tem a pecuária nacional como atividade que promoveu o desbravamento e ocupação dos sertões brasileiros, até bem pouco tempo atrás – nas décadas de 30 e 40 – como ainda eram chamados o interior de São Paulo, o que é hoje o Mato Grosso do Sul e o Paraná.
Como não eram regiões de mineração, atividade que atraía pessoas com a idéia de possível riqueza rápida, a esse interior convergiam pioneiros e seus familiares para se estabelecerem, primeiramente com o algodão e café, que seguiam ao desmate. Com as poucas pessoas então dispostas a encarar esse ‘sertão’, a pecuária foi tomando esse espaço e posteriormente se tornou a atividade primeira após as derrubadas, em terras que comportavam o colonião.
Sempre seguindo com os desafios que regiões inóspitas proporcionavam, esses novos bandeirantes levavam atrás de si pessoal que gradativamente estabeleceu as novas cidades que surgiam no rastro e nos pousos de suas primeiras boiadas. O primeiro grande salto da pecuária nacional se deu com o gado nelore, com sua indole e produtividade que tão bem se adaptaram à nossa condição de clima, que tornou possível a pecuária extensiva em regiões desabitadas. Depois, com os caminhões, já nas décadas de 60 e 70, essa atividade pode seguir para bem além das poucas linhas férreas que até hoje continuam praticamente iguais ou piores do que naquela época, fruto do desgaste pelo tempo.
Graças à familia das brachiarias e à soja, o potencial agropecuário de nosso país pode deslanchar e sair do ciclo do café e, ao ingressarmos no mercado mundial com novas commodities, chega agora a hora da produtividade adquirida abrir para a carne brasileira um novo e talvez ímpar espaço no contexto mundial. É interessante notar que, até muito pouco tempo, a produção mal equilibrava com o consumo interno, vide as épocas de safra e entressafra com seus preços diferenciados. Há menos de uma década, os históricos de preços mostram uma oferta regular e de certa forma estável, onde tivemos no ano passado o exemplo maior, visto que, mesmo com um dos menores índices pluviométricos em várias regiões, estivemos aptos a exportar sem desabastecimento e com preços de mercado interno situados entre os menores do mundo.
A gestão ambiental, fato bem colocado em pauta por Dr Romão Miranda Vidal, chega no momento apropriado por si só, já que em terras de baixa fertilidade e com uma forma extrativa de pensar e agir por parte de certos pecuaristas e agricultores, torna o sistema ‘rapadão’ e a erosão, fatos óbvios que demonstram a incapacidade produtiva de uma forma rentável, sustentável e apropriada em certas regiões, com o inconseqüente comprometimento de áreas, de aguadas e nascentes.
A tendência natural será o preço das terras nessas regiões ou fazendas degradadas desvalorizar a ponto de atrair empresas produtoras de carne e grãos de uma forma conjunta e adequada para, com o tempo e manejo apropriados, voltarem a exibir a diversidade que outrora lhes era peculiar.
Talvez com a nova metodologia para desmatamentos que está sendo votada para implementação, colocada em prática nas fronteiras agrícolas da região norte, esse fato logo se torne uma conseqüência real, já que essas terras possuem a favor para esses investimentos o acesso mais fácil e o conseqüente valor para suas produções.
A rastreabilidade é uma ferramenta que, além de garantir a origem e procedência, dá a possibilidade de o importador ou comerciante, ciente das preocupações e anseios do consumidor moderno, obter mercadorias com qualidade e, mais do que isso, uma forma de produção que possibilite esse que talvez seja o maior valor agregado que um produto primário, seja carne ou outra commodity, possa ter: ser oriunda de fazendas onde a gestão ambiental é levada a sério.
Neste ponto, acredito que a rastreabilidade será, para a pecuária de corte, proveniente de fazendas com gestão apropriadas e com nosso gado herbívoro, a forma de garantir seu real valor como o melhor alimento do mundo, e tal fato possa ser considerado daqui a algum tempo como o outro salto em nossa pecuária, após a disseminação do gado zebu.
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1Empresário Rural
Diretor FNeT – Fornecedores Naturais e Trade Ltda
Araçatuba-SP