Romão Miranda Vidal
Muito se tem falado a respeito do assunto rastreabilidade e dentre os técnicos que tem se posicionado de forma coerente e com conhecimento de causa, citamos o Dr. Antônio Carlos Lirani. Sem sombra de dúvida, se há no Brasil um profissional com posicionamentos corretos a respeito deste assunto, não se pode esquecer e nem deixar de reconhecer os méritos desta pessoa.
Entendemos ser a rastreabilidade uma das maiores revoluções que a Pecuária Nacional estará experimentando nestas últimas décadas. Tudo parece ter acontecido com o embargo que os canadenses impuseram às nossas exportações aeronáuticas, com repercussões diretas no produto carne. Nesta carona, outros países de forma velada já vinham colocando obstáculos as nossas exportações. Mas então o que aconteceu ? O tiro saiu pela culatra. A CE (Comunidade Econômica Européia) ao exigir a rastreabilidade da produção nacional de carnes bovina e bubalina, nunca poderia imaginar que o Brasil teria e tem a capacidade de se organizar tão rapidamente a respeito deste assunto e, mais ainda, nunca poderia imaginar que no Brasil teríamos um Ministro Pratini de Morais, que arregaçou as mangas junto com sua equipe e nos colocou em pé de igualdade com qualquer outro país que se disponha a exportar para a CE.
A rastreabilidade, no nosso entender, ainda passará por um processo de “cura”. Muitas são as opiniões e até atitudes que se tem tomado a respeito deste assunto, mas ainda não se concluíram parâmetros de procedimentos, não se estabeleceu sequer um protocolo que oriente o pecuarista, assim como as empresas que pretendam participar deste novo ferramental.
Estas exigências são mais do que normais se formos estudar um pouco o que está acontecendo. A CE assim como outros países asiáticos, estão sofrendo de duas síndromes: a síndrome do medo e a síndrome da fome.
Explico. Síndrome do medo. Os fatos, as seqüelas ainda não foram esquecidos, quando refere aos acontecimentos da doença da vaca louca (EEB). A outra síndrome, a da fome. Os países que pertencem a CE, estão capitalizados, com dinheiro suficiente para comprar carnes bovinas e bubalinas, mas não estão comprando, e por esta razão estão, digamos, com fome de carne. O medo de um surto de um nova doença, leva o cidadão europeu a desconfiar de tudo. Então, como desbloquear estas duas situações? Exigindo que os fornecedores cumpram determinadas exigências, que se lhes parecem seguras, em termos de alimentação, manejo, sanidade, procedimentos industriais e etc.
Mas ainda está faltando algo, no que se refere rastreabilidade.
O que seria ?
Esta será a segunda grande exigência: gestão ambiental em pecuária de corte.
No momento seguinte que cumprirmos todos os itens exigidos pela CE, em referência a rastreabilidade, eles passarão a exigir a gestão ambiental em pecuária de corte.
Seria salutar que nos adiantássemos a este respeito, demonstrando não só à CE, mas também para os demais países, que somos capazes de produzir dentro de um processo de gestão ambiental em pecuária de corte, mostrando que obedecemos às Leis que dizem respeito à Ecologia e ao Meio Ambiente, que as propriedades rurais produtoras de gado de corte para exportação não usam mão de obra escrava, que não utilizam mão de obra de menores, que cumprem com as Leis Trabalhistas, que preservam as matas ciliares, que providenciam educação para os filhos e filhas dos funcionários, que buscam uma melhoria na Qualidade de Vida para seus funcionários e vizinhos, que utilizam de meios seguros de transporte, tanto interno como externo de seus funcionários, que as habitações são condizentes com as mínimas exigências de conforte e segurança, que não se colocam em riscos vidas humanas, que fornecem equipamentos e meios seguros para o bom desempenho das funções de seus funcionários, que o atendimento social e sanitário de seus funcionários faz parte de uma rotina. Mais ainda, que os animais são manejados de forma a permitir um Bem Estar Animal, que se utilizam de formas adequadas de manejo de pastagens, que não permitem a degradação de pastagens, que protegem as fontes e mananciais de água, que não se utilizam de produtos proibidos, que não fazem uso de endo e ectoparasiticidas que venham a ocasionar resíduos maléficos à saúde humana, que tenham uma política ambientalmente correta, não usem de artifícios não permitidos para incrementar ganhos de peso, que busquem dentro de uma política racional a implementação da ISO 14000 – Gestão Ambiental – no sentido de serem certificadas as propriedades produtoras de bovinos, cujas carnes serão destinadas à exportação.
A gestão ambiental em pecuária de corte, será uma nova exigência. Mais ainda, pode-se afirmar que hoje a rastreabilidade e a gestão ambiental em pecuária de corte são complementos, pois ao se rastrear, digamos um corte de carne, através do Código de Barras, todas as informações sobre gestão ambiental em pecuária de corte, estarão disponíveis ao consumidor final. Isto representará mais um ponto importantíssimo em termos de Segurança e Seriedade.
Este advento não está longe. Seria de suma importância que o setor produtivo iniciasse um processo de antecipação, mostrando ao mundo que além de sermos altamente competitivos neste ramo de produção de carnes bovina e bubalina, também estamos nos adiantando de forma eficiente no que se refere à gestão ambiental em pecuária de corte.
Voltando ao assunto rastreabilidade, o Brasil apresenta hoje condições incomparáveis de sistemas alternativos de produção, as variações de clima e solo regionais, as inúmeras raças bovinas, tanto do tronco europeu como indiano, dão ao Brasil uma peculiaridade toda especial. As opções de se produzir tão somente bovinos europeus para atender uma demanda de carnes com diminuta camada de gordura e marmoreio, se emparelha com a rusticidade, precocidade e vitalidade dos zebuínos. Mas ainda temos mais: os rebanhos de búfalos que vão do Rio Grande do Sul ao Amapá, nos colocam em situação vantajosa ante as demais nações que estão no mercado exportador para a CE. Como anteriormente nos referíamos, a rastreabilidade, se veio para colocar em cheque a pecuária nacional, conseguiu nos colocar na dianteira dos acontecimentos. A rastreabilidade não se aplicará tão somente à pecuária bovina de corte; ela será aplicada em pouco tempo na suinocultura e na avicultura. Se de um lado temos uma pecuária que ainda capenga com ajuda de muletas, por não poder acompanhar o carro da história, onde os avanços tecnológicos são evidentes e serão alijadas do mercado se não emparelharem com o que o mercado está exigindo, temos a pecuária de ponta, onde a rastreabilidade já vinha sendo conduzida no melhoramento de rebanhos, com acompanhamento genético de primeiro mundo. Arrisco a afirmar, que muitos países de primeiro mundo não possuem um acompanhamento – rastreabilidade – tão acurado como o que se tem no Brasil, que o diga a ANCP e um dos responsáveis pelo suporte técnico, o Dr. Antônio Carlos Lirani.
Conclusão
Rastreabilidade e gestão ambiental na pecuária de corte serão dois novos ferramentais que nos colocarão no top mundial de produção de carnes bovina, suína e de aves. As dinâmicas são muito rápidas, as exigências de um mundo amedrontado, com dinheiro para adquirir comida, mas passando fome, encontrará na rastreabilidade e gestão ambiental na pecuária de corte a segurança e a certeza de que a pecuária brasileira proporcionará a qualidade do produto em toda a sua cadeia produtiva.
1Médico Veterinário
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