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Rastreabilidade e produtividade

Por Tito Livio Machado Jr1

Rastreabilidade, a grande oportunidade para: aumentar a produtividade, incrementar a área de trabalho de técnicos e melhorar os serviços de saúde animal.

A rastreabilidade trará um incremento no valor de qualquer produto, sempre que tiver uma credibilidade indubitável. Para isso, é imprescindível dispor de uma base de dados oficial que contenha o total de informações de uma população, em tempo real, e assegure a impossibilidade de fraude.

Dentro da pirâmide populacional de cada espécie animal, incluído na rastreabilidade, é imprescindível que, em um determinado momento, para uma área especifica, essa população se torne hermeticamente fechada. Qualquer incremento só poderá ocorrer por nascimento ou importação de animais; e sua diminuição ocorrerá somente por morte (informando a causa e destino da carcaça), abate (com local e data) e/ou exportação (destino, data).

O programa de erradicação da febre aftosa dispõe das informações necessárias para iniciar o processo na espécie bovina em cada Estado. Esses dados estão arquivados nos escritórios locais, discriminados por estabelecimento (fazenda) produtor, estrutura da população bovina (bezerros, novilhos, vacas etc.) e são periodicamente atualizados através dos processos de vacinação e permissões de trânsito dos animais (GTA).

Hoje, encontra-se disponível e operacional sistema de informações que permite o acesso remoto (escritório local) a uma base de dados oficial, sendo possível ao técnico local, transmitir todos os dados de um estabelecimento, incluindo o número de bovinos por faixa etária, bem como solicitar permissão para trânsito e emissão de documento, para despacho de animais a serem enviados para outro estabelecimento ou abatedouro.

Da mesma forma, é possível fornecer a permissão e senha para que técnicos de empresas certificadoras, com isso possibilitando a transmissão de informações individuais (nascimentos, mortes, identificações individuais) de animais existentes nas propriedades atendidas pela empresa, bem como visualização de os dados fornecidos pelo técnico, e a solicitação de documentos para movimentação e despacho de bovinos para outra propriedade ou abatedouro.

Nesse sistema está previsto esquema de segurança com credenciamento de usuários e senhas, com níveis de acesso ás informações da base de dados, especificadas para cada usuário, bem como uma estrutura de verificação e validação de dados levando em conta a espécie animal, o sexo (macho, fêmea ou castrado), período de gestação, no máximo de crias e a possibilidade de um animal ser matriz ou reprodutor, assegurando a veracidade dos dados, e emitindo um alerta automático para possíveis erros de entrada.

É possível fixar-se eventos para diferentes tipos de estabelecimentos como fazendas (Ex: teste de tuberculose), abatedouros (Ex: inspeção), quarentenários (Ex: coleta de sangue), recintos de leilões e feiras (Ex: exame de brucelose) etc., bem como para animais (Ex: vacinação antiaftosa).

Para formação da base de dados a partir da situação atual, o sistema foi adaptado para permitir que se inclua o animal individualmente (tamanho do grupo = 1), ou em grupo (tamanho do grupo no de indivíduos maior que um), com a opção que um grupo possa sempre ser subdividido e identificado, na propriedade ou abatedouro.

Dessa forma, tornou-se possível registrar, na base de dados oficial, por estabelecimento, os grupos de animais hoje existentes nas fichas dos escritórios locais. A base de dados oficial já tem a identificação (código) do estabelecimento, com isso torna possível que as certificadoras privadas identifiquem os animais, detalhando os indivíduos que, pelo serviço oficial, faziam parte de um grupo etário específico, de um determinado estabelecimento.

Para cada estabelecimento inclui-se as variáveis de latitude e longitude, que permitem delimitar uma área geográfica no mapa e, imediatamente, utilizando o GIS (Geografic Information System), se obter informações agregadas (estabelecimentos existentes, número de animais por categoria, vacinados ou não etc), dos que se encontram incluídos na área definida (focal ou perifocal etc.). Além disso, é possível acrescentar outras variáveis (tipo de instalações e/ou administração etc) a nível de estabelecimentos.

No que diz respeito aos criadores é possível identificar todos os estabelecimentos de que individualmente são proprietários e/ou possuem animais, nome, endereço etc., e incluir qualquer variável que possa parecer importante como, se é pessoa física ou jurídica, grau de instrução etc.

No momento em que se define local do estabelecimento (estado, município, distrito, linha etc.), esse já absorve o status sanitário da região, especificamente para cada espécie animal, sendo que para qualquer movimentação de animais, de uma determinada espécie, o sistema analisa as condições exigidas (proibido, permitido, sob condições etc.) para saída do estabelecimento de origem ao estabelecimento de destino.

Após a última epidemia de febre aftosa da Inglaterra, ficou demonstrada a necessidade de incluir o registro de todas as empresas de transportes e veículos utilizados, sendo possível rastrear todos os estabelecimentos visitados por um veículo específico, antes e depois de uma determinada data, bem como fazer uma análise de animais e propriedades estiveram em contato com um animal específico (Ex: suspeito ou doente), antes e depois de uma data definida.

A rastreabilidade, do ponto de vista do produtor, exige a identificação individual de seus animais, o que gera custos com material (brincos ou chips), implicando na manutenção de informações sobre ocorrências, medicamentos e tipos de alimentação e no pagamento da visita do técnico da empresa certificadora.

É imprescindível que além da expectativa de obter maior remuneração para seus animais e produtos, seja oferecida ao produtor orientação técnica que permita o aumento de produção e produtividade, pois a individualização de cada animal e o registro de dados de manejo permite identificar os indivíduos que produzem com lucro ou prejuízo, bem como os entraves e pontos fracos do seu esquema de produção.

Se agregarmos à identificação individual e visita técnica (custo de veículo e horas de técnico) uma ferramenta que permita, operacionalmente, analisar as informações normalmente solicitadas ao criador pelas credenciadoras, torna-se imediatamente possível orientá-lo sobre medidas de curto (descarte), médio (manejo) e longo (seleção) prazos, que, indubitavelmente, trarão um aumento de produtividade.

Hoje se dispõem de programas que oferecem aos criadores e técnicos informações organizadas em listas automáticas, tabelas e gráficos que, com uma rápida análise, permite estabelecer animais improdutivos (descarte) e indicadores (intervalo entre parto, peso na concepção, ganho de peso etc.), que demandam atenção e providências dos produtores.

Esses softwares modernos estão habilitados a comunicar-se automaticamente com base de dados à distância, fornecendo informações (nascimento, compras, vendas, mortes etc.) de modo automático e dinâmico.

No sistema proposto, é possível se disponibilizar uma cópia gratuita do programa de acompanhamento do rebanho para o produtor (versão reduzida).

Esse programa, na propriedade, possibilita a entrada dos dados diários de manejo individual dos animais, fornece listas de todos os eventos programados (serviços, diagnóstico de prenhez, animais para desmama, partos, cios previstos etc.) para um determinado período, e permite automaticamente que se possa compactar e enviar o arquivo de dados (e-mail ou disquete) para um técnico local que mantém os dados de todas as propriedades sob sua supervisão.

O técnico local da certificadora receberia, periodicamente (por e-mail, disquete ou listas geradas pelo programa e completadas na propriedade), os dados atualizados de 100% das propriedades sob sua responsabilidade, em termos de rastreabilidade.

A versão técnica completa do programa pode enviar, automaticamente, todos os dados das propriedades, para a base oficial de dados e, facilita que o técnico local faça, rápida e facilmente, uma análise dos dados (gráficos e listagens pré-estabelecidos) enviados pelo produtor, permitindo que na sua visita à propriedade, ofereça orientação técnica para aumentar a produção e produtividade.

Dentro do esquema proposto, é possível, hipoteticamente, o atendimento de 100 por um técnico local sendo que 10 a 20 propriedades tenham uma consultoria técnica completa (reprodução, produção, manejo de pastos, seleção genética e economia), além do serviço de rastreabilidade.

Os estabelecimentos engajados no esquema de consultoria (duas visitas de 4 horas por mês) poderão ser atendidos junto com os demais, nos outros estabelecimentos (80 ou mais propriedades), os exames individuais e a identificação de animais serão feitos somente nos que forem entrar (compras e nascimentos) no esquema de rastreabilidade.

Considerando que é possível enviar com antecedência a lista dos animais que deverão estar prontos para exame individual, definindo a hora e propriedade, a operacionalização e otimização das visitas permitirão que, através de um roteiro preestabelecido, seja reduzido o custo operacional da rastreabilidade e conseqüentemente seja menor o valor a ser cobrado do produtor.

A nível regional, é possível se transformar todas as propriedades atendidas pelo técnico local da certificadora (100 ou mais) em uma só, permitindo a análise de indicadores (gráficos e tabelas), para uma orientação técnica a essa área específica.

Gradativamente esse esquema teria, como conseqüência, um número crescente de produtores interessados na consultoria integral, aumentando assim a demanda por técnicos da área.

Resumindo deve se ressaltar que, a credibilidade da rastreabilidade tem como suporte uma base oficial de dados que, por sua vez, serve de esteio para a operacionalização e eficiência do serviço de saúde animal a nível estadual.

O status sanitário de uma espécie animal, em um Estado, é imprescindível para a manutenção da condição de exportador de animais e produtos.

O valor da rastreabilidade, como remuneração melhor do produto, está diretamente ligado à condição sanitária do Estado, o que lhe credencia para condição de exportador.

O produtor, que arcará com o ônus da implantação da identificação individual, para permitir a rastreabilidade, deve ter além da esperança de ser remunerado melhor pelo seu produto, um lucro marginal em termos de aumento da produção e da produtividade.

As certificadoras privadas, únicas a trabalhar com animais individualmente identificados, deverão agregar a seus serviços a orientação técnica ao produtor, dando aos seus funcionários técnicos a oportunidade de serem muito mais que meros conferentes de identificações individuais e/ou aplicadores de brincos.

Concluindo, será imperdoável, se perdermos essa oportunidade de aumentar a renda do produtor, melhorar os serviços de saúde animal e ampliar as oportunidades de trabalhos técnicos ao nível de campo.
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1Tito Livio Machado Jr é médico Veterinário, Mestre em Medicina Veterinária Preventiva e Ph.D pela Universidade de Reading – UK.

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