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Rastreabilidade e trapalhadas

Por Marcus Vicente Petrosino1

Amigos pecuaristas e técnicos:
Ao tomar conhecimento da IN do MAPA, delineando as normas para a instalação do SISBOV, fiquei chocado pelo tamanho despreparo da equipe que o constituiu, evidenciado principalmente em alguns fatores que menciono a seguir:

Sendo a rastreabilidade uma exigência de mercado, de um mundo suposta e tendenciosamente “Globalizado” por quê torna-la obrigatória em todo o território Nacional?

Para quê e com que recursos rastrear o boi “pé duro” do Sertão, que nem se sabe se tem aftosa ou não?!!! Iremos exportar este tipo de animal? Seria uma maneira de transferir receitas para as empresas certificadoras oportunistas? Ou para a indústria de Brincos, chips, etc…?

Talvez rastrearemos o “Boi Baguá Pantaneiro”, de seis anos de idade e que até o mercado interno já o está rejeitando…

A propósito, poderiam os engravatados responsáveis pela elaboração de tal IN fazerem pessoalmente, a instalação do chip neste boi?

Por favor, amigos pecuaristas, vamos pressionar o MAPA para que torne a rastreabilidade uma ferramenta optativa, ou seja, faz quem quer; Faz quem vislumbra atingir um mercado mais exigente e que pague por isso. Faz quem quer ter a chance de exportar para os amigos alemães, franceses, ingleses…

Antes de tudo, faz quem tem condições operacionais e financeiras!

Sou à favor da rastreabilidade, mas de maneira optativa, até que no mínimo esteja totalmente erradicada a febre aftosa em todo o território nacional, este sim um entrave vergonhoso às exportações. Os engravatados fazedores de leis deveriam se preocupar e destinar recursos para realizar um verdadeiro mutirão para eliminar a febre aftosa, utilizando-se inclusive das nossas guerreiras e tão ativas FORÇAS ARMADAS.

Uma vez erradicada a febre aftosa de todo nosso território, aí sim passamos a empregar a rastreabilidade como mecanismo de segurança alimentar.

Outro ponto cômico, se não fosse trágico, se dá quando a I.N. mensiona a obrigatoriedade de um registro e histórico individual de cada animal, devendo levar consigo a cada comercialização, do nascimento ao abate deverá cada animal possuir a sua caderneta de identificação. Mais papel na parada. Já não chega as GTAs?? Com certeza quem elaborou estes pontos nunca subiu na carroceria de um caminhão boiadeiro para conferir a boiada. Provavelmente estas pessoas imaginam que sendo o Boi envolvido por seu próprio couro, seria muito fácil cada boi tecer sua própria “Pochete de Couro” para carregar por toda sua vida, seu documento de Identidade.

À propósito, algum pecuarista ou entidade representante da classe pecuarista foi chamada para opinar quando da elaboração de tal ofício? Imagino que não.

Como se são bastasse, o MAPA acaba de divulgar que cada animal será identificado por nada menos que um código com 17 (sim, 17 !!) dígitos.

Como técnico fico indignado com a continuidade de “atitudes de palanque” que mantém ocupados alguns funcionários públicos.

Já que falamos também em aftosa reforço minha posição de que deve ser prioridade extrema para todos do meio pecuário e do governo, sua erradicação de forma imediata (num prazo de até 3 anos) e realizada com o auxílio até das forças armadas. Sou da opinião também que uma vez erradicada, não deixaria de vacinar todo o rebanho por um prazo mínimo de 250 anos…Neste aspecto, não confio em nossos países vizinhos, e muito menos no controle de fronteira. Aliás, o passo seguinte à erradicação da aftosa no Brasil, deverá ser o auxílio operacional e com doses de vacina, aos países fronteiriços na erradicação da aftosa no continente Sul-Americano. Sonho? Utopia? Talvez sim, mas prefiro sonhar em ter o controle de aftosa no continente do que ser obrigado a rastrear “meu gadinho de leite” por que algum europeu pediu pro tal “mercado globalizado”.

Às vezes fico imaginando um negociador de carne brasileira na Europa, tentando convencer o comprador globalizado: …- “Nossa carne agora é totalmente rastreada, os Srs. ganham a cada carcaça uma pochete de couro exclusiva, mas talvez contenha também alguns exemplares do vírus da Aftosa…”

É o final dos tempos…

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1Marcus Vicente Petrosino é Engenheiro Agrônomo pela ESALQ/USP e Consultor em Pecuária de Corte

0 Comments

  1. Jorge Andrade de Carvalho Gomes disse:

    Vale lembrar que na instrução normativa nº 1, de 9 de janeiro a adesão ao programa é voluntária.

  2. LUIS FELIPE disse:

    UFA!!!!Finalmente alguem falou alogo de útil sobre a tal rasteabilidade. Que a meu ver vai ser coisa para inglês ver.

  3. Roberto Doria disse:

    Parabéns. Finalmente alguém escreveu racionalmente, com boa argumentação e clareza sobre a rastreabilidade. Alem desses méritos, a redação é gostosa de ser lida.

    A Austrália, que adotou o sistema da rastreabilidade voluntária, está recebendo adesões de seus principais pecuaristas. Devíamos seguir seu exemplo.

  4. Leonardo Galvão Netto disse:

    Antes mesmo de ler seu artigo já pensava sobre estes absurdos, e até comentei no forum técnico a necessidade de se ter uma equipe de pecuaristas e técnicos para ajudar o MAPA a consertar os erros da lei de rastreabilidade bovina no Brasil.