Os produtores do Uruguai mostraram um alto grau de cumprimento com a leitura de campo obrigatória de todo o rebanho bovino, cujo prazo terminou nessa semana. O Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca (MGAP) já definiu sanções para os que não cumpriram com a norma.
O Sistema de Identificação e Registro Animal (SIRA), que determina a rastreabilidade de todo o rebanho bovino uruguaio, tinha estendido por 15 dias o prazo para leitura obrigatória de campo de todo o rebanho bovino do país e esse prazo venceu agora.
A diretora do SIRA, María Nela González, disse que houve um alto grau de cumprimento e o que faltava eram os pequenos produtores que manejam 20 ou 30 bovinos, concentrados nas regiões de Canelones, San José e parte de Tacuarembó.
Segundo González, nesses casos, o SIRA não descarta colocar equipes territoriais para fazer as leituras de campo ou se os produtores o fizerem – devem fazer através de operadores especializados -, enviem o arquivo às equipes territoriais do SIRA. O que não está determinado é o tempo que poderia demandar essa manobra.
Ela disse que são recebidas muitas cartas de produtores argumentando porque não tinham feito as leituras dos animais. Essas justificativas, em alguns casos, são válidas.
Por outro lado, os serviços jurídicos do MGAP já definiram as sanções que serão aplicadas aos produtores que não cumprirem com a lei vigente, mas González preferiu não adiantá-las.
A leitura de campo obrigatória que foi impulsionada esse ano no fechamento do exercício pecuário (até 30 de junho) veio para ficar. Ela afirma que até que se faça a leitura do animal, não se sabe qual seu status e como está sua rastreabilidade, que justifica a imposição dessa leitura de campo obrigatória. Cumprir com essa obrigação não somente serve para contrastar a realidade do que se vê no campo com o que temos no sistema, mas sim, para ver o status de todo o rebanho.
Em setembro de 2006, começou a obrigatoriedade de identificar e registrar todos os bezerros nascidos em cada estação de cria (outono e primavera) e, em junho de 2011, foram identificados todos os bovinos adultos. Desse modo, o Uruguai é o único país do mundo que conta com todo seu rebanho bovino rastreado (pode-se saber a história de um animal até seu nascimento) e seu modelo quer ser copiado por vários países.
González destacou que há uma grande capacidade de usuários novos que estão tendo acesso ao portal do SIRA e uma grande atividade através de todos os operários. Isso destaca a grande responsabilidade dos produtores de apoiar o sistema e de cumprir com suas obrigações. Porém, a responsabilidade do Uruguai é maior. Unindo os dados gerados pelas caixas pretas dos frigoríficos com os armazenados nos identificadores do gado, pode-se rastrear do corte de carne ao animal vivo.
Comentário BeefPoint: O grau de acompanhamento e checagem das autoridades parece ser muito alto. E o grau de envolvimento dos produtores também. Na viagem técnica do BeefPoint ao Uruguai em agosto, vamos procurar aprender mais sobre isso.
Pergunta BeefPoint: O Brasil conseguiria manter (e não apenas lançar) um sistema de rastreabilidade como esse?
A reportagem é do El País Digital, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.
4 Comments
Fazemos o inventário anual do nosso rebanho, com leitura de identificação individual dos animais, desde 2003. Tivemos que superar algumas dificuldades iniciais, mas hoje as novas rotinas já estão incorporadas ao dia e dia das fazendas. Inventário confiável em grandes rebanhos sem identificação individual não existe. Muito mais que prestar contas a terceiros estamos convencidos da sua importância para nossos próprios controles. E com melhores controles pudemos ajustar pontos de nossa operação e melhorar nossa rentabilidade. O Uruguai segue liderando o mundo neste aspecto.
Alguns dos problemas e das discussões uruguaias se encontram aqui nestes links. Felizmente o Brasil se livrou de imposição ditatorial semelhante, e agora existe até lei que nos protege destes tiranetes, que pelo visto ainda imperam também no nosso RGS.
http://www.todoelcampo.com.uy/espanol/problemas_con_la_trazabilidad-15?nid=1503#.Ue2jtI3VDX6
http://www.eltelegrafo.com/index.php?id=75934&seccion=rurales&fechaedicion=2013-07-13
http://www.planagropecuario.org.uy/publicaciones/revista/R91/R91_20.htm
É o caso de se perguntar: o sr. Tarso Genro e seu secretário da Agricultura vão ignorar lei decretada pelo Congresso Nacional sancionada pelo PRESIDENTE DA REPÚBLICA?
LEI Nº 12.097, DE 24 DE NOVEMBRO DE 2009. Conceito e aplicação rastreabilidade cadeia carnes bovinos e de búfalos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12097.htm
O nó para implantação da rastreabilidade está na falta de conhecimento e principalmente de ferramentas que facilitem o cadastramento e acompanhamento do rebanho. Estive no Uruguai, inclusive com a Dra. Maria Gonzales, propondo digitalizar todo o processo que é feito através de enormes guias, escritas a mão. Aguardo uma decisão do governo Uruguai que irá permitir que os operadores ( figura fundamental para a rastreabilidade dar certo lá ou aqui no Brasil), utilizem as ferramentas. Os Uruguaios realmente são de uma tenacidade invejável, lá a rastreabilidade é literalmente fiscalizada e cumprida. Aqui será necessário a pavimentação do caminho. Primeiro: instituir a figura do operador de rastreabilidade, profissional credenciado e responsável, juntamente com os proprietários pelos cadastros enviados ao BDU do MAPA/CNA.
Aonde está o animal, quais suas características, qual seu histórico, de quem é, para aonde vai e por qual motivo e para quem vai. Essa é a “trazabilidad” do Uruguai.
Segundo: nosso governo deve encontrar uma maneira de pagar por isso. Credito em tributos seria o caminho mais acertado, algo como R$ 30,00 por animal, isso é apenas o custo dos identificadores e a mão de obra de implantação e manutenção dos cadastros.
Exigir e fiscalizar que frigoríficos municipais, estaduais e federais só abatam animais cadastrados.
Sem isso podemos aguardar pelo menos mais uma década e nossa pecuária na fase de terminação ficará na mão de poucos grupos de confinamentos, com muitos animais por m2. O soja, a cana e os reflorestamento agradecem este tiro no pé que a cadeia da carne está dando em si mesma. Lamentavelmente!
Cordialmente,
Olivio José Silveira
O êxito da rastreabilidade uruguaia mostra o grau de cultura deste povo. É encarar o que é importante e vai beneficiar todos, não existe a cultura de tirar proveito, de levar vantagem.