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Rastreabilidade: uma necessidade do mundo globalizado

Por Nelson Pineda1

Introdução

Lirani (2002) coloca de uma forma muita clara a conceituação da rastreabilidade como uma medida da competência que possuímos, ou não, para realizar um trabalho de reconstituição dos fatos históricos que marcaram o ciclo de produção e transformação do boi no pasto até a gôndola do consumidor. Desta forma o processo de rastreamento bovino se inicia com a implantação de um sistema de registro de manejo e identificação que existe em qualquer fazenda organizada. Esta informação precisa de um tratamento sistêmico e padronizado para conseguir interagir com outros sistemas dentro da cadeia produtiva da carne bovina.

A rastreabilidade, via de regra, está vinculada aos aspectos de segurança, porém nem tudo na rastreabilidade está vinculado à contaminação. A rastreabilidade é uma ferramenta na procura da qualidade, pode-se desta forma identificar um lote de carne de excepcional qualidade e associar esta carne aos animais geradores, identificar seu manejo e os proprietários, tornando estas informações como ponto de partida para o constante incremento da qualidade e produtividade no campo. O tratamento sistêmico dos dados fornecidos pela rastreabilidade deverá ser um instrumento fundamental para alavancar inovações tecnológicas e promover a integração da a cadeia produtiva.

Dificilmente o sistema de rastreabilidade será implantado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sem um programa de conscientização e sem a criação de um novo patamar de negócios que permita a real motivação do pecuarista em termos de remuneração através de um processo de agregação de valor por um produto que possa satisfazer os anseios do mercado internacional. A implantação do programa de rastreabilidade se dá sem dúvida em primeira instância pelas exigências do comprador. É fundamental portanto que entendamos o que está sendo solicitado pelo comprador e atender à suas exigências, pelo menor custo e da melhor maneira possíveis através de um sistema modular adaptado à realidade nacional. Deveremos também, aproveitar a implantação da rastreabilidade para incentivar a integração da cadeia produtiva e introduzir programas de qualidade e marketing que nos ajudem na conquista de novos mercados (Pineda, 2002).

O cenário atual da pecuária

Segundo Favaret & De Paula (1997) a pecuária de corte brasileira pode ser analisada a partir de duas características básicas a diversidade e a descoordenação. Já nesta época os autores chamavam a atenção das conseqüências deste cenário sobre a rastreabilidade dos produtos de origem bovina1. Hoje o cenário não mudou e enfrentamos um novo fator complicador as exigências mercadológicas a nível internacional.

Os múltiplos sistemas de produção e de rotas tecnológicas diferentes, as condições sanitárias de abate e as variadas formas de comercialização configuram um cenário de uma complicada diversidade na pecuária brasileira.

O pecuarista pode optar por diferentes alternativas dependendo das condições particulares, do clima, da região e do mercado. Outro claro indicador desta diversidade é a concorrência desleal entre frigoríficos alinhados com as exigências internacionais de exportação e os abatedouros clandestinos, a maioria em condições inteiramente inadequadas.

Existe um freqüente e persistente desequilíbrio nas relações entre criadores, frigoríficos, atacadistas e varejistas. As relações entre os agentes da cadeia de suprimentos são inteiramente baseadas no mercado. Não existe como na avicultura, contratos de longo prazo vinculando produtores e industrias. Ademais, o poder de barganha dos pecuaristas que historicamente foi muito forte, pela possibilidade de reter animais no pasto, sem desembolso monetário está diminuído pelo novo cenário de estabilização monetária e pela falta de coordenação dos produtores. A posição dos frigoríficos esta também claramente diminuída pela concentração crescente do mercado varejista.

A prevalêcencia de relações de mercado não seria um problema como no caso da avicultura que conseguiu desenvolver um sistema que demonstrou enorme capacidade de aumentar sistematicamente a produtividade e sobreviver em meio a um declínio persistente de preços. Com isso, somado à diversificação e segmentação da oferta, a industria avícola conseguiu também subtrair expressiva parcela de mercado da carne bovina e reduziu o poder de fixação de preços do setor, contribuindo de forma clara a crise que assolou o setor da pecuária de corte e que acreditamos ter superado.

A descoordenação entre os elos da cadeia produtiva da carne bovina tem como um de seus principais efeitos a falta de rastreabilidade dos produtos. Isso significa que o consumidor não consegue estabelecer as ligações entre o produto que adquire e o fornecedor. Os frigoríficos na sua grande maioria trabalham sem marcas. Os açougues, quase por definição, não podem assegurar a procedência da carne e os produtores entregam seus produtos em situações diferenciadas de idade, raça, sexo e gordura.

A rastreabilidade é a palavra que explica a criação de uma aliança vertical na produção, industrialização e comercialização de carne bovina. Será crescente a necessidade de informar ao consumidor as características do produto e, mais do que isto, de todo o processo de produção e comercialização. Rastreabilidade do produto é um conceito técnico necessário para garantir qualidade. Alianças verticais entre pecuaristas, frigoríficos, comércio e consumidores representam uma alteração cultural nos contratos comerciais entre os elos da cadeia da carne bovina essencial para trabalhar a rastreabilidade. Ela pressupõe transparência, honestidade e permanente diálogo entre as partes na procura da satisfação do consumidor e estímulo para os participantes do processo (De Camargo, 1997).

Rastreabilidade e segurança alimentar

As exigências dos consumidores sobre a segurança alimentar acentuaram-se a partir da declaração do governo britânico no início de 1996, admitindo que o consumo de carne bovina de animais que apresentaram Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), mais conhecida como doença da Vaca Louca, poderia transmitir aos seres humanos o mal de Creutzfeldt-Jakob (CJD). A reação das autoridades européias e dos agentes do setor à crises provocada pela Vaca Louca apontaram para um tema crucial: a necessidade de estabelecer um enfoque integrado entre os elos da cadeia, de modo a recuperar a confiança entre os consumidores. Houveram medidas mais imediatas como as restrições ao comercio de certos tipos de carnes, elevação dos estoques de intervenção, introdução de programas de abate de animais e incentivos a sistemas de produção menos intensivos. Porém o maior desafio colocado pela doença foi a instituição de padrões que permitissem operações de rastreabilidade e acompanhamento do produto (product tracing and product tracking) para em um momento dado de emergência recolher rapidamente o produto contaminado (recall) (Enriquez-Cabot & Goldberg, 1996 in Favaret & De Paula, 1997).

Entre as múltiplas conseqüências houve a introdução de sistemas rigorosos de identificação animal e rastreabilidade dos produtos cárneos. A diretiva da Comunidade Européia (CE) no 1760/2000 que veio substituir a no 820/1197 estabelece um sistema de identificação animal e registro de bovinos, sistemas de rotulagem obrigatória e um sistema de rotulagem facultativa para a carne bovina. Estes aplicam-se tanto aos países membros da Comunidade Européia (CE), quanto aos seus fornecedores de produtos cárneos. A CE baseada nos princípios de equivalência exigiu desde junho de 1998 de forma opcional e de forma obrigatória desde janeiro de 2000 e por mera tolerância a partir de julho de 2002 que todos os paises terceiros, que exportem para aquele mercado, adotem um sistema de identificação e registro de animais e um sistema de rotulagem com garantia de rastreabilidade, de acordo com a legislação que está em vigor para todos os paises da comunidade. De acordo com esta legislação, devem constar na rotulagem destes produtos as seguintes informações: país de nascimento do animal, país onde o animal foi criado, engordado e abatido, número de registro do animal, tipo de criação e alimentação, idade do animal no abate, sexo, data do abate, estabelecimento do abate (SIF), nome do corte, data de validade do produto (Lombardi, 1998).

A Comunidade Européia compra 45% da carne brasileira exportada in natura. A identificação individual dos bovinos nesta Comunidade é feita com marcadores auriculares (brincos). A viabilidade da introdução da identificação eletrônica está sendo estudada em vários países do mundo, sobretudo na Austrália e na Holanda. Todos os países membros da Comunidade Européia devem ter uma base de dados informatizada para registrar a identidade dos bovinos, cadastrar as propriedades e proprietários de animais, emitir o passaporte animal e controlar a sua movimentação.

Os registros dos eventos ou atividades na propriedade são de responsabilidade dos proprietários e podem ser feitos com sistemas informatizados ou não (através de registro em fichas escritas). O sistema de rotulagem da carne bovina e seus produtos, obriga a todas as indústrias ou estabelecimentos que comercializam carne bovina, nacional ou importada a rotulá-la nas diversas fases da comercialização. O rótulo deve conter: o número ou código que permita a identificação do animal ou grupo de animais que deram origem à carne, local de abate (país e código do estabelecimento) e local de desossa (país e código do estabelecimento). Desde 1/01/02 como mencionado é obrigatória a inclusão dos códigos dos países onde os animais nasceram, foram recriados, engordados, abatidos e desossados.

Para facilitar e tornar essas identificações únicas e reconhecidas mundialmente, a EAN criou os Aplicativos Identificadores (AI) específicos no seu código de barras S-128. O AI (10) identifica o lote, o AI (251) registra a identificação do animal e os AIs (421), (422), (423) e (424) referem-se aos países de nascimento, engorda, abate e desossa respectivamente. O AI (7002) identifica a espécie animal, os cortes, a categoria (sexo e idade), as demais certificações, cobertura e cor da gordura, tipo de marmoreio, modo de abate e outros. Essas novas demandas do mercado têm exigido de todas as instituições ligadas à agricultura, uma mudança radical nas suas legislações, objetivos, metas e ações, visando atender essas novas demandas dos mercados nacional e internacional, oferecendo produtos com certificação de origem e qualidade. A rastreabilidade é uma resposta às exigências do consumidor pela sua segurança alimentar, é uma necessidade para recuperar mercados perdidos e não pode ser interpretada como uma imposição descabida da Comunidade Européia.

A rastreabilidade e integração da cadeia produtiva

“A rastreabilidade do produto é um conceito técnico necessário para garantir qualidade” (De Camargo, 1997), é ela que explica a integração da cadeia produtiva através da criação de alianças verticais entre a produção, a industrialização e a comercialização. A rastreabilidade é a única ferramenta de diferenciação que oferecerá uma justificativa econômica para investimentos em genética para procurar carcaças de melhor composição e teor de gordura, de sistema de resfriamento e tratamentos post mortem que melhorem a maciez da carne. A segmentação do mercado e diferenciação do produto somente poderá ser feita e trabalhada com rastreabilidade. A tendência de inclusão de etiquetas e selos de garantia vão incentivar a criação das alianças verticais.

A rastreabilidade é o primeiro passo para atender as novas demandas dos consumidores do mundo todo, que estão se tornando cada vez mais exigentes quanto à qualidade e à inocuidade dos alimentos. O número único dentro do sistema de controle nacional e a identificação individual dos animais através da marca a fogo, tatuagem, brinco ou microchips é simplesmente a primeira etapa do processo que envolve a rastreabilidade.

A implantação dos sistemas de rastreabilidade está variando de país para país, de acordo com os hábitos alimentares dos consumidores e a sua classificação no mercado mundial como importador ou exportador. Também são diferentes as razões pelas quais os indivíduos, empresas e governos estão exigindo a implantação de estes mecanismos que têm um objetivo único fundamental: a segurança alimentar da população. O produtor precisa dela como uma nova e poderosa ferramenta de gestão, captação de dados zootécnicos e de manejo. Os governantes, por sua vez, necessitam um mecanismo que permita reconstruir a vida de um indivíduo e seus deslocamentos para assegurar à população inocuidade dos produtos alimentares para, em um momento dado, efetivar medidas de apoio ao mercado, controle de doenças e prevenção de fraudes. Empresas comerciais, principalmente as do mercado varejista, desejam a identificação, para oferecer aos clientes produtos de qualidade e de origem conhecida. Finalmente a dona de casa exige saber a origem da carne que consome, o ambiente onde o animal foi criado, o respeito que teve o produtor com o meio-ambiente, o bem-estar animal nas fazendas, como este animal foi abatido, como a sua carne foi manipulada e como os pacotes foram elaborados.

O modelo europeu de rastreabilidade

Após a primeira crise da Vaca Louca em 1996 num primeiro momento chegou a ser registrada uma queda de 50% do consumo em alguns países, recuperado gradativamente após as medidas de eliminação do plantel exposto a possibilidades de contaminação. Mesmo assim o consumo per capita de carne bovina na Europa registrou queda de 10%. Já o consumo de carnes em geral registrou queda de apenas 3%. Houve clara substituição da carne bovina por frango, suíno e peru. Após a nova crise do ano 2000 de maiores magnitudes, pois houve casos na Itália, Espanha e Alemanha, o medo se propagou para fora da Comunidade Européia chegando ao Médio Oriente e Japão, além de um fator complicador que foi o aparecimento de focos de febre aftosa na Inglaterra, na Argentina e em Rio Grande do Sul. Porém o comportamento do consumo foi muito parecido ao do ano de 1997 como mostra a tabela 1.

A tabela 1 mostra que o consumo mundial de carne foi 232,6 milhões de equivalentes de carcaça; este consumo representou um crescimento de 1,5% em relação ao ano 2000. No mesmo período o crescimento demográfico foi de 1,1%, e a carne bovina foi à única com crescimento retraído devido ao aparecimento de casos de EEB e de febre aftosa em vários lugares do mundo como mencionado anteriormente. Porém, o consumo de carne bovina na União Européia recuperou os espaços perdidos, provavelmente graças à eficiência do sistema de prevenção da EEB e de rastreabilidade implantados e às campanhas de marketing e orientação dos consumidores feitos pelo CIV (Centre d´Information de la Viande) na França e o MLC (Meat and Livestock Commission) na Inglaterra (Pineda & Rocha, 2002).

Tabela 1 – consumo de carnes no mundo (mil toneladas de equivalentes de carcaça).

O sistema de identificação/registro dos animais e de rótulos para os produtos da Europa foi adotado pela França de forma pioneira há três décadas, quando foi criado o Centro de desenvolvimento de Certificados de Qualidades Agrícolas e Alimentares (CERCA). O sistema de integração e de alianças verticais se estende ao longo de todas as cadeias produtivas e existe uma avaliação constante através de certificadoras de produtos e de sistemas produtivos que recebem uma chancela que representa um alto valor agregado aos olhos do consumidor. Essa chancela visa garantir ao consumidor um produto de qualidade superior, o que viabiliza preços até 20% acima do normal. No caso da carne bovina, o sistema abrangia ao final de 1996 cerca de 30.000 produtores, 100 fabricantes de alimentos, 300 empresas de abate e 3000 pontos de venda sendo 80% de açougues (Favaret & De Paula, 1996).

A viabilização deste sistema na França é possível graças a cooperação entre as instituições governamentais e os vários segmentos do setor, o que configura um padrão diferente do tradicional. O sistema de identificação francês existe desde 1978 o qual é obrigatório e começa com uma pré-identificação feita na orelha direita no máximo dois dias após o nascimento por um brinco plástico, de metal ou por tatuagem contendo o número seqüencial de nascimento da fazenda. Subseqüentemente, chama-se o veterinário responsável da fazenda para introduzir estes dados na fichas de controle de bovinos o caderno de registro o qual fica na propriedade. Até o quarto mês após o nascimento, o animal entra no sistema nacional de identificação através de um agente autorizado que coloca da mesma forma na orelha esquerda um segundo brinco plástico, de metal ou por tatuagem com o numero único de identificação de dez algarismos, este numero é transcrito no livro de registro oficial da propriedade, transmitido ao Instituto de População Bovina (IPG) onde fica disponível em um banco de dados a todos os agentes do sistema e se emite o Documento de Acompanhamento Bovino (DAB) ou passaporte animal que deverá acompanhar o animal nos seus deslocamentos. No momento de um deslocamento a guia de transporte animal ou atestado sanitário contendo as datas de vacina e exames de laboratórios é colada no verso do DAB e o receptor do animal é obrigado a verificar estes documentos, transcrever no seu caderno de registros bovinos a data e motivo da entrada, coordenadas do vendedor e a identidade do animal a partir do DAB e chamar o seu veterinário para efetuar a introdução destes dados nas fichas de registro bovino.

Rastreabilidade global

Em 2001 a Comissão Econômica para a Comunidade Européia, da Organização das Nações Unidas (UNECE) concluiu o projeto iniciado em 1997 que teve por objetivo a criação de uma linguagem internacional para carne bovina. Trata-se de um sistema de padronização, nomenclatura e numeração de atributos de produtos, desenvolvidos por peritos das principais regiões produtoras e exportadoras do mundo, para facilitar o comércio internacional de carne bovina, permitindo superar as dificuldades de comunicação técnica entre compradores e vendedores. As especificações são transmitidas por meio de mensagens eletrônicas padronizadas e as embalagens são identificadas com códigos de barras que pode estar associado a rastreabilidade individual ou por lote (De Felício, 2001).

Esta sistemática de trabalho para os cortes de carne deverá ser precedida também por sistemas de rastreabilidade por meio de captura automática de dados, processamento dos mesmos e comunicação eletrônica das informações sobre a produção e procedência dos animais. A diversidade dos sistemas de produção de gado a nível internacional e das múltiplas práticas utilizadas pelas cadeias de suprimentos requerem uma visão holística de toda a cadeia de suprimentos, possível apenas com a utilização de padrões internacionais de comercio, como por exemplo os padrões EAN.UCC2 (EAN International, 2002).

A chave para elaboração de sistemas de rastreabilidade eficientes e econômicos é conseguir satisfazer clientes distintos e necessidades legais por meio da aplicação de um padrão global. O sistema utilizado precisa possibilitar o gerenciamento eficaz da cadeia de suprimentos e o comércio internacional, além de fornecer ferramentas padronizadas que permitam a todos os atores da cadeia produtiva se comunicarem por uma linguagem global de negócios. A EAN International e as organizações-membros EAN tem feito esforços para criar este padrões globais de rastreabilidade bovina. Aqui no país a EAN BRASIL estruturou no ano 2001 o Grupo de Trabalho para Automação, Rastreabilidade e Padronização Comercial da Carne Bovina onde todos os atores da Cadeia da Carne Bovina Brasileira estão representados (Yugue, 2002).

Os códigos de barra EAN.UCC são portadores de dados. O código de barra é utilizado no sistema para representar números, em outras palavras, um código de barras consiste em uma série de barras e espaços paralelos e adjacentes. Padrões de largura predeterminados são utilizados para representar dados reais no código de barras. O raios laser do equipamento de leitura óptica percorre o código de barras e dessa forma os padrões de largura e espaço das barras são analisados pelo equipamento de leitura e os dados originais são recuperados. Isso permite que eles sejam coletados com rapidez e precisão em tempo real.

O sistema EAN.UCC é um conjunto de ferramenta que deverá padronizar as informações dentro da cadeia de suprimento da carne bovina, permitindo uma rastreabilidade que atenda um comercio global da carne bovina.

Quadro 1 – modelo de rastreabilidade da cadeia de suprimentos de carne (Adaptado de EAN International, 2002).

Os sistemas de numeração da EAN.UCC oferece uma exclusividade global e elimina problemas de confusão, duplicação e interpretação errônea, pois todos os usuários do sistema EAN.UCC seguem as mesmas regras de codificação. Uma numeração EAN.UCC é reconhecida não apenas por empresas locais que são parceiras entre elas, mas por empresas que também operam no exterior. Cada número da EAN.UCC é exclusivo no mundo inteiro, dessa forma não existe a possibilidade de confusão. Este sistema de numeração também oferece a possibilidade dos itens carregarem informações adicionais.

O modelo brasileiro de rastreabilidade

As novas demandas do mercado têm exigido de todas as instituições ligadas à agricultura, uma mudança radical nas suas legislações, objetivos, metas e ações, visando atender essas novas demandas dos mercados nacional e internacional, oferecendo produtos com certificação de origem e qualidade. No Brasil, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento criou o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação Bovina e Bubalina (SISBOV) através da Instrução Normativa no 01 de 09/01/02 e regulamentou sua implantação pela Instrução Normativa no 21, de 27/02/02 e no 47 de 31/07/02. Contudo, estas instruções normativas trouxeram intranqüilidade, dúvidas e incertezas ao mercado, pelo simples motivo que as regras do jogo que deveriam ser bem definidas, estão difusas e permitem interpretações ambíguas, e existe pouca participação da empresa privada no processo decisório e as metas fixadas para o ano 2005/2007 parecem inatingíveis.

Segundo Lirani, (2002) a probabilidade de sucesso na implantação, está diretamente ligada à maior participação do governo na definição de regras, padrões e no controle, mas também na renúncia da sua participação na operação do sistema. Quanto menor a ingerência do governo na operação, melhor será a implementação do sistema. Por outro lado, a iniciativa privada deve assumir a operação do sistema e renunciar às atividades de definição de regras e padrões, as quais devem ser deixadas para os órgãos governamentais. De uma forma geral o sucesso do programa de rastreabilidade brasileiro dependerá de:

1. – Perfeito entendimento das exigências do Cliente.
2. – Sistema de identificação única do produto através de codificação aceita internacionalmente.
3. – Regras de operação claras e bem definidas.
4. – Sistema de operação informatizado.
5. – Participação ativa e coerente de todos os agentes da cadeia produtiva.
6. – Registros precisos e confiáveis.
7. – Sistemas de auditorias eficientes.
8. – Incentivar um novo patamar de negócios que valorize a @ certificada.

Possivelmente o maior entrave está nas metas fixadas e na criação de um Banco de Dados Nacional centralizado e de caráter oficial, Além de eventuais problemas operacionais, se não for oficialmente estabelecido que este Banco de Dados tem função única e exclusiva de servir aos propósitos de rastreabilidade e certificação. Existe a desconfiança entre os pecuaristas de que o sistema de rastreabilidade poderá ser usado para outros fins (fiscais por exemplo) e por em risco o próprio sistema como um todo. Outro grande impedimento a popularização na idéia da rastreabilidade é a idéia de impedir a ABCZ de ser uma certificadora, função esta, que exerce já através do registro genealógico das raças zebuínas alegando motivos técnicos que nunca foram bem esclarecidas ao mercado.

Mas o outro grande problema que surge de forma imediata é a falta de padronização entre os registros zootécnicos nas fazendas e a forma como as certificadoras até agora credenciadas estão atuando de forma agressiva adotado valores excessivamente fora da realidade a fim de angariar os clientes, o que poderá trazer sérios problemas de caixa para algumas certificadoras.

De uma forma geral o SISBOV representa um grande avanço na modernização da pecuária nacional, ele motiva a participação do pequeno produtor que deverá organizar-se via sindicatos e associações para viabilizar a rastreabilidade em pequenas propriedades, facilitará a gestão das fazendas e o fluxo de informações no meio rural, forçará o diálogo entre os pecuaristas e os frigoríficos, poderá trazer o equilíbrio de forças entre os agentes cadeia produtiva e poderá criar novos sistemas de comercialização.

Acreditamos que hoje dentro deste cenário de duvidas e incertezas entre os pecuaristas, sindicatos e associações de classe, deverá surgir uma discussão conceitual e ampla com os diferentes elos da cadeia produtiva. Seguramente este é o único caminho para qualquer tentativa de compreensão da atual conjuntura da rasteabilidade no país, que vai sem dúvidas provocar transformações estruturais importantes e aceleradas.

Finalmente para discutir o que convém ao BRASIL de forma permanente e douradora, é imperativo o dialogo construtivo e serio para a formação de uma massa intelectual crítica entre os mais variados setores da sociedade envolvidos no processo e, sobretudo, que seja ouvida pelos responsáveis legítimos da tomada de decisões, a voz dos produtores rurais que somos, em última instância, os maiores interessados, porque somos nos que deveremos fazer os primeiros investimentos.

1IDENTIFICAR é estabelecer a identidade. PRODUCT TRACING OU RASTREABILIDADE é a capacidade de encontrar e identificar a origem de um produto dentro da cadeia de suprimentos. PRODUCT TRACKING OU ACOMPANHAMENTO é a capacidade de seguir o caminho percorrido por um produto dentro da cadeia de suprimentos. CERTIFICAR consiste em aplicar um conjunto de medidas que permitam auditar um processo ou produto para afirmar, atestar, convencer ou asseverar alguma coisa a respeito do produto, sobre o processo de produção, qualidade ou a origem do mesmo. RECALL é a retirada de um produto do mercado.

2A EAN BRASIL – Associação Brasileira de Automação é uma entidade multisetorial sem fins lucrativo, que gerencia o licenciamento de Código Nacional de Produto, utilizado pelo mercado brasileiro. O sistema EAN.UCC é composto por padrões de numeração de identificação exclusiva, estrutura de código de barras e mensagens eletrônicas.

Referências bibligráficas

1.- DE CAMARGO, P.; Aliança na carne bovina. In: IV SIMPÓSIO: O NELORE DO SECULO XXI. Uberaba, 1997. Anais… Uberaba. MG. Brasil. ABCN. 1997. p. 45.

2.- EAN INTERNATIONAL “TRACEABILITY OF BEEF – Application of EAN.UCC Standards in implementing Regulation (EC) 1760/2000”. EAN International, Bruxelas,2002. http://www.ean-int.org/data/EAN%20Traceability%20of%20beef.pdf.

3.- DE FELÍCIO, P. E.; Padrões internacionais de carne bovina para exportação. In: 3o ENCONTRO NACIONAL DO BOI VERDE. Uberlândia, 2001. Anais. Uberlândia. MG. Brasil. 2001. p. 65 – 82.

4.- ENRIQUEZ-CABOT, J. & GOLDBERG, R. A.; Technology crises and the future of agribusiness: BSE in Europe. Harvard: Harvard Business School, sept., 1996. (mimeo)

5.- FAVARET Fo, P. & DE PAULA, S. R. L.; Cadeia de bovina: O novo ambiente competitivo. In: IV SIMPÓSIO: O NELORE DO SECULO XXI. Uberaba, 1997. Anais… Uberaba. MG. Brasil. ABCN. 1997. p. 125-140.

6.- LIRANI, A. C.; Rastreabilidade: conceito e aplicação. In: VI SIMPÓSIO: O NELORE DO SECULO XXI. Ribeirão Preto, 2002. Anais… Ribeirão Preto. SP Brasil. ABCN. 2002.

6.- LOMBARDI, M. C.; Rastreabilidade: exigências sanitárias dos novos mercados. In: 3o CONGRESSO BRASILEIRO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS. Uberaba.1998. Anais…Uberaba. MG. Brasil. 1998. p. 90-94.

7.- OFIVAL ANNUAIRE. Le marché des produits des viandes carnés et avicoles 2001. OFIVAL – PARIS – FRANCE. 2001.

8.- PINEDA, N. R.; Rastreabilidade uma resposta aos anseios do consumidor. In: 4o ENCONTRO NACIONAL DO BOI VERDE. Uberlândia, 2002. Anais. Uberlândia. MG. Brasil. 2002.

9.- PINEDA, N. R. & DE C. ROCHA, J. C. M.; Estratégias de marketing e alianças mercadológicas na cadeia produtiva de carne bovina. In: III SIMCORTE. SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE. Viscosa, 2002. Anais…Viscosa. MG. Brasil. UFV. 2002. p. 1-22.

10.- YUGUE, R. T.; Sistema de rastreabilidade bovina. In: III SIMCORTE. SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE. Viscosa, 2002. Anais…Viscosa. MG. Brasil. UFV. 2002. p. 22-28.
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1Por Nelson Pineda, Diretor de Informática da ABCZ. pineda@terra.com.br

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