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Rastreabilidade versus Realidade

Leandro Ries1

Este texto tem o objetivo de esclarecer e desmistificar uma série de aspectos em relação a esta nova necessidade posta para a cadeia produtiva da carne: a rastreabilidade bovina.

Em primeiro lugar devemos entender o que é rastreabilidade e depois quais são as atividades e funções a serem realizadas pelos pecuaristas em relação a esta nova demanda de mercado.

Definição

Rastreabilidade é a atividade de controlar e gerenciar uma série de informações em relação aos animais, individualmente, desde o seu nascimento até o abate. As informações controladas referem-se ao local de nascimento (propriedade rural), data ou período de nascimento, sexo, deslocamentos (entre propriedades de um mesmo produtor, entre propriedades de produtores diferentes e entre propriedade e frigorífico, exemplo: transações de compra e venda de gado), manejo nutricional e manejo sanitário.

Com este conceito apresentado, já existe um grande ponto de discussão: a relação existente entre a certificação de origem e a certificação de qualidade de produto. Quando falamos em rastreabilidade, estamos falando de certificação de origem. Isto por si só já é uma forma de qualificar o produto cárneo, mas não podemos confundir com certificação de qualidade do produto em relação a outras características, tais como, características obtidas de acordo com o manejo nutricional e sanitário dos animais.

Hoje a certificação de origem passa a ser obrigatória para qualquer pecuarista brasileiro, independente do manejo sanitário e nutricional adotado na propriedade. Para pecuaristas que desejam, por exemplo, produzir o “boi orgânico” ou o “boi a pasto”, estes necessitam fazer a certificação de origem mais determinados procedimentos, controles e auditorias para conferir a certificação de qualidade de produto de acordo com o que foi produzido a campo frente aos mercados desejados e prospectados.

Outro ponto a ser entendido são as funções e atividades a serem realizadas para efetivar a rastreabilidade a campo. Neste sentido, a rastreabilidade pode ser dividida em três partes: a utilização de sistemas de identificação animal, o sistema de processamento, armazenagem e gerenciamento dos dados (software) e a auditoria e verificação dos dados a campo (certificação de origem).

Sistemas de identificação

Através deste conceito, pode-se desmistificar mais dois grandes pontos de discussão: a necessidade e obrigatoriedade de utilização de sistemas eletrônicos de identificação animal e as empresas ou entidades que realizarão a auditoria e emissão dos “certificados de origem”.

Com relação aos sistemas eletrônicos de identificação animal, atualmente está se fazendo um vínculo desnecessário à rastreabilidade. Para fazer rastreabilidade bovina o pecuarista não é obrigado a identificar os animais com sistemas eletrônicos. O que ele deve fazer é identificar os animais de forma que garanta a individualidade e perpetuidade desta identificação ao longo dos anos e de acordo com a sua realidade de manejo. Desta forma, existem opções de identificação animal a serem utilizadas pelo pecuarista e, para cada tipo de identificação utilizada existem algumas regras a serem cumpridas. As opções existentes atualmente e as regras básicas para cada uma delas são as seguintes:

** animais com tatuagem e marca a fogo deverão, antes de deixarem a propriedade de origem, receber um brinco com a respectiva numeração seqüencial única a nível de Brasil da empresa ou entidade que gerencia a rastreabilidade.

Empresas prestadoras de serviço

Quando o pecuarista iniciar o trabalho de rastreabilidade bovina na sua propriedade, ele deve procurar no mercado empresas de software de rastreabilidade que contemplem a utilização de qualquer uma destas opções de identificação animal, buscando interferir o mínimo possível na sua realidade de manejo a campo. Desta forma, o pecuarista tem uma gama grande de sistemas de identificação animal a ser escolhido, de acordo com preço, aplicabilidade, segurança e aptidão de utilização dos mesmos.

Em relação a auditoria a campo e emissão de certificados de origem, devemos considerar que este trabalho será realizado por empresas privadas ou entidades, tais como ABCZ, Herd Book Collares, Sindicatos Rurais, entre outras. Estas empresas ou entidades devem ter um quadro de auditores espalhados por todo o Brasil e capacitados para realmente verificar e auditar as informações cadastradas dos animais. Ou seja, estes técnicos (veterinários, agrônomos ou zootecnistas) devem entender e dominar as formas de identificação animal possíveis de serem utilizadas pelo pecuarista para fins de rastreabilidade, devem conhecer o software (ferramenta de trabalho) utilizado pelo pecuarista e devem saber quais são as informações a serem conferidas e certificadas a campo.

Feito isto, o mesmo, através da empresa privada ou entidade a que está vinculado, emitirá o certificado de origem dos animais ou então homologará os animais no sistema ao qual estão vinculados. Mais uma vez, desta forma o pecuarista poderá escolher no mercado com quem ele deseja realizar a auditoria a campo, de acordo com preço do serviço, responsabilidade e idoneidade da empresa ou entidade e equipe técnica existente o mais próximo de sua propriedade.

Com estes conceitos e explicações comentadas anteriormente, restam ainda dois aspectos a serem comentados: a relação custo benefício da rastreabilidade e a questão de gestão dos dados da atividade pecuária.

Razões para a rastreabilidade

Atualmente a rastreabilidade tem sido encarada como um fator de custo a mais para os pecuaristas. Isto não é extremamente correto e existem dois pontos a serem considerados em relação aos valores despendidos na rastreabilidade.

Primeiro, a necessidade de se fazer rastreabilidade decorre por uma demanda de mercado, ou seja, para poder vender a carne é necessário fazer o rastreamento do gado desde o nascimento até o abate. Desta forma os valores despendidos são na verdade um investimento para que o pecuarista possa se manter no mercado ou até mesmo abrir novos mercados.

Segundo, os dados e informações necessários a rastreabilidade estão relacionados com a gestão e administração da atividade de pecuária propriamente dita. Ou seja, independente desta nova demanda de mercado (rastreabilidade), o pecuarista que deseja obter sucesso e rentabilidade na sua atividade de bovinocultura, já necessita coletar, processar e controlar estes dados e informações para sua própria tomada de decisão, de acordo com critérios técnicos, de manejo e econômicos em relação ao seu rebanho bovino. Assim sendo, este “custo” já existe no dia a dia da atividade de bovinocultura e valores despendidos para que os pecuaristas se adaptem a esta nova realidade na verdade são custos marginais ao que já deveria ser feito atualmente.

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1Diretor Grupo Planejar – empresa que é responsável pelo S.I.R.B. – Sistema Integrado de Rastreabilidade Bovina.
Maiores informações tel.:51 476 7776 ou e-mail: sirb@planejar.com

0 Comments

  1. José Paulo Abreu disse:

    Gostaria de saber como será possível no curto prazo atender os mercados que exigem a rastreabilidade, tendo em vista que os animais rastreados recentemente só estarão prontos para o abate em no mínimo 18 meses.