Criada há 26 anos para oferecer ao pecuarista uma alternativa de negócios mais segura e confiável, a Cooperativa Industrial de Carnes e Derivados de Goiás Ltda (Goiás Carne) entrou, neste ano, num duro regime para enrijecer os músculos e continuar crescendo. Mudou o foco de sua operação, que passa a se centrar na geração de resultados para os associados, enxugou despesas, acelerou o giro dos estoques, renegociou contratos, adotou uma nova política de compra de bois, reduziu seu passivo de curto prazo e alongou dívidas. “Trocamos a improvisação pelo planejamento”, afirma o diretor geral da Goiás Carne, Rodrigo Pena de Siqueira.
Os resultados começam a aparecer na contabilidade mensal. Depois de dois meses complicados, quando teve que fazer frente às despesas e encargos gerados pela reestruturação e ainda enfrentar a maré negativa do mercado, a Goiás Carne voltou a operar no azul desde março, com sua margem operacional pulando para 7%, e encerrou o primeiro semestre com um aumento de 20,5% no faturamento bruto. As receitas passaram de R$ 53,457 milhões nos primeiros seis meses do ano passado para R$ 64,428 milhões em igual período deste ano.
A meta estabelecida para a empresa neste ano prevê um faturamento bruto na casa dos R$ 135 milhões, o que representaria um ganho nominal ao redor de 8% sobre os R$ 125 milhões faturados em 2001. Siqueira adianta que o forte desempenho no primeiro semestre poderá não se repetir nos próximos seis meses, já que as vendas haviam crescido em ritmo acelerado no segundo semestre de 2001.
Saneamento avança
A partir de maio, a cooperativa, que apura cerca de 40% de seu faturamento no mercado externo, foi favorecida pela desvalorização cambial, mas o salto no faturamento aconteceu antes disso. “Se estamos crescendo agora, num momento em que o mercado não é favorável, a diferença vai ser grande quando a maré virar a nosso favor”, espera Siqueira.
As medidas de ajuste já implantadas deverão permitir que a Goiás Carne passe a operar com uma estrutura de custos 8% menor. O ganho alcançado até aqui se aproxima de R$ 2,3 milhões e representa cerca de 1,6% do faturamento bruto, o que corresponde a um acréscimo quase proporcional na margem líquida do negócio. Neste ano, depois de dois anos de resultados pouco animadores em função das condições adversas enfrentadas pelos frigoríficos que não foram favorecidos pela distribuição de créditos fiscais, a cooperativa conseguirá fechar o balanço com lucro, sustentando uma margem líquida de aproximadamente 3% sobre a receita.
Adicionalmente, a Goiás Carne, com capacidade para abater 800 animais por dia e uma matança efetiva ao redor de 700 bois por dia, conseguiu enxugar o equivalente a 35% de seu passivo de curto prazo desde o começo do ano, representando uma redução de R$ 12 milhões. A providência, que certamente terá um impacto positivo sobre a conta de encargos financeiros, foi possível graças também a uma decisão tomada pelos sócios em março deste ano.
Injeção de recursos
Com quase 98% de suas cotas sob controle dos grupos Otávio Lage, Canhedo e Agropecuária Vale do João Leite (Faculdade Anhangüera), a cooperativa receberá uma injeção de R$ 15 milhões até março do ano que vem. Desse total, R$ 9,8 milhões (65%) já foram integralizados até o momento, o que ajudou a cancelar passivos e reduzir despesas com juros e outros encargos.
Para completar a operação de saneamento financeiro, com o devido alongamento do prazo de vencimento de suas dívidas, a Goiás Carne espera a liberação de quase R$ 5 milhões pelo Banco do Brasil com recursos do Recoop. O pedido de crédito foi encaminhado há quase três anos e deveria financiar o investimento que a cooperativa faria a seguir para adequar sua indústria às exigências do mercado europeu.
O dinheiro não saiu e a cooperativa bancou com recursos próprios um investimento de R$ 7 milhões para modernizar sua planta e instalar uma sala de desossa e limpeza. Quando sair, os recursos serão utilizados para alongar o restante da dívida de curto prazo. “Pretendemos concentrar nossa operação financeira na contratação de ACC (Adiantamento de Contratos de Câmbio) e de créditos de longo prazo”, resume Siqueira.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Lauro Veiga Filho), adaptado por Equipe BeefPoint