Estive na Expointer 2010 e a própria feira foi uma reflexão do momento que passamos na pecuária. Passei três dias muito proveitosos por lá. Muitos contatos, negócios, além do reencontro com amigos do setor. A feira parece ter sido um sucesso para muitos. O ânimo dos pecuaristas é bom e o mercado está aquecido. No entanto, a Expointer é bem sucedida por ser mais do que apenas negócios. Os dias por lá foram muito agradáveis. A feira em Esteio respira cultura, tradição, emoção. No mesmo ambiente que as pessoas fazem negócios, você pode desfrutar de uma ótima carne, acompanhada de um bom vinho. Você pode fazer um tour pelas marcas de carne de Angus, Hereford, Brangus, entre outras. Há o restaurante do cavalo crioulo e lojas tradicionais com roupas e acessórios. Não é artificial, nem um museu, mas algo vivo, e bem real. Numa dessas lojas, encontrei a explicação do porque me senti tão bem em Esteio. O slogan da loja era "lujos camperos", em espanhol algo como luxos campeiros ou luxos rurais
Estive na Expointer 2010 e a própria feira foi uma reflexão do momento que passamos na pecuária. Passei três dias muito proveitosos por lá. Muitos contatos, negócios, além do reencontro com amigos do setor. A feira parece ter sido um sucesso para muitos. O ânimo dos pecuaristas é bom e o mercado está aquecido.
No entanto, a Expointer é bem sucedida por ser mais do que apenas negócios. Os dias por lá foram muito agradáveis. A feira em Esteio respira cultura, tradição, emoção. No mesmo ambiente que as pessoas fazem negócios, você pode desfrutar de uma ótima carne, acompanhada de um bom vinho. Você pode fazer um tour pelas marcas de carne de Angus, Hereford, Brangus, entre outras. Há o restaurante do cavalo crioulo e lojas tradicionais com roupas e acessórios. Não é artificial, nem um museu, mas algo vivo, e bem real.
Numa dessas lojas, encontrei a explicação do porque me senti tão bem em Esteio. O slogan da loja era “lujos camperos”, em espanhol algo como luxos campeiros ou luxos rurais. Era esse o negócio da marca: vender cultura rural, vender luxo rural.
Na minha opinião é isso que o pecuarista quer. Além de um negócio lucrativo, quer um negócio que seja integrado com a cultura, com a tradição, com a emoção que envolve a pecuária. Busca o resultado financeiro e também a realização pessoal.
É preciso ter os dois juntos. Só a realização pessoal, sem lucro não é sustentável, leva ao fracasso financeiro. Só o lucro não traz satisfação, nem alegria. Uma prova disso é que muitos pecuaristas preferem não trocar de atividade, mesmo com outra opção agrícola disponível que traga um pouco mais de retorno monetário. É como se dissessem: prefiro ganhar um pouco menos e fazer o que gosto.
Os dias que passei na Expointer me lembraram dessa agradável satisfação que o mundo da pecuária nos traz. Fiquei surpreso a fazer essa avaliação e me pegar pensando em como toda a experiência me agradou, mesmo não sendo gaúcho.
E me lembrei de encontrar pessoas dos mais diferentes estados na feira. Encontrei gente do norte do Mato Grosso, aproveitando a feira. Mas do que uma feira de tradições gaúchas, é uma feira de tradições pecuárias. Se você gosta e vive pecuária, vai gostar de passar alguns dias por lá, ver o gado, os cavalos, o ambiente, as comidas e as conversas.
Acredito que é fundamental avaliarmos a pecuária como algo mais amplo que apenas um negócio. É um modo de vida, uma tradição, faz parte da nossa cultura e da faz nossa sociedade. Entender isso é importante inclusive quando pensamos em como tornar esse negócio mais rentável hoje e no longo prazo.
A mesma análise pode (e deve) ser feita para o produto carne. E a carne bovina pode ser muito mais do que um negócio, de números. Ela pode aproveitar (e lucrar) com nossa tradição e cultura. Um anúncio de carne bovina da Nova Zelândia dizia algo como: “criamos nosso gado onde você gostaria de passar férias”, mostrando a beleza do lugar e fazendo um convite a conhecer o país.
Estamos entrando numa nova era mundial. A economia está crescendo novamente, o consumo per capita no mundo está crescendo e vai crescer em todos os produtos. Essa é uma tendência muito forte, que está impactando uma gama muito grande de produtos, aqui no Brasil e no exterior. O consumo de carne vai aumentar mundialmente. Essa é uma tendência muito forte e confirmada pelo desempenho da economia mundial (e brasileira) em 2010. Esse crescimento está vindo dos países emergentes, e não dos desenvolvidos (EUA, Europa e Japão ainda não se recuperaram e isso vai demorar).
Além disso, há uma outra tendência para a carne bovina. As outras proteínas animais como frango, suíno, peixe e lácteos vão ter seu volume de consumo crescendo numa taxa maior que a da carne bovina, devido ao custo mais baixo, maior velocidade de produção e menos terra necessária para produzir. Com isso, o tamanho do volume total fica maior, o volume total de carne bovina também cresce, mas o percentual da carne bovina frente ao total diminui. O preço da carne bovina vai continuar sendo mais alto que o do frango ou peixe. Dessa forma, vai ser cada vez mais importante aprendermos como vender valor e não apenas quantidade.
Nesse novo cenário, cada vez mais gente consome. E cada vez mais gente tem renda para buscar produtos além do essencial. Há mais e mais pessoas buscando o saboroso, o especial. Há cada vez mais espaço para se vender o conceito que vai além do produto básico. No caso da carne bovina, o básico é a nutrição: quantas gramas de proteína, de gordura, de vitaminas, etc. O conceito é como o animal foi criado, sua raça, a história do sistema de produção. A maciez e o sabor. Isso são coisas que cada vez mais gente valoriza, tem dinheiro e está disposto a pagar. Isso já é verdade, tanto que o corte com maior demanda no Brasil é a picanha e não um corte de dianteiro, mais barato.
Essa busca pela qualidade e diferenciação não torna a busca por eficiência e produtividade menos importante, mas em muitos casos não poderemos abrir mão da qualidade pelo menor custo. Se fizermos isso vamos correr o risco de tentar competir com o frango ou peixe no terreno deles: não por ser o mais saboroso, mas tentando ser o mais barato. A eficiência e produtividade devem ser buscadas sempre, mas com o foco na qualidade, no sabor, na experiência de consumo melhor que a carne bovina oferece.
Acredito que o sucesso e a atratividade da Expointer podem nos ajudar a entender a importância e o valor de olhar a pecuária com um olhar mais amplo. Buscando a rentabilidade e também buscando valorizar a tradição, a emoção, a história do setor. Porque tudo isso que parece menos importante pode nos ajudar a tornar a pecuária mais rentável.
Eu acredito firmemente que há um grande número de pecuaristas que querem lucrar com um negócio que é mais que um negócio e também que o mercado para produtos com história, com tradição, com qualidade só vai aumentar. Dessa forma, podemos fazer a pecuária mais rentável e mais agradável. Da mesma forma que me senti participando da Expointer esse ano.
12 Comments
Miguel!
Adorei este seu artigo e concordo em número, gênero e grau. Achei excepcional o exemplo da propaganda neo-zelandesa, e acredito que é esse tipo de iniciativa que está faltando entre os produtores de carne (toda a cadeia) no Brasil…
A mídia faz e fala o que quer contra o agronegócio e especialmente contra a pecuária, e quase não vemos um esforço do setor para rebater essa propaganda negativa! Tenho muita vontade de um dia sentar com você para um café e trocar umas ideias a esse respeito.
Quem sabe utilizando este princípio da tradição, da cultura e da satisfação inerentes ao mundo da pecuária conseguiremos produzir ideias e ações que desanuviassem a imagem atual do agronegócio.
Abraço,
Angela.
Caro amigo Cavalcanti.
Primores de percepções a respeito da maior feira agropecuária, cultural da américa latina. Sou gaúcho mas atualmente trabalho e resido no estado de RO. Posso lhe dizer que as suas percepções sobre a EXPOINTER não são infundadas pois a feira é mesmo cosmopolita, dinâmica, tem vida própria. Acompanhei durante muitos anos a feira, hoje, distante da terra e dos costumes sou mais um que relembra as grandes finais de freios de ouro. lembro de repassar os galpões, corredor a corredor analisando atentamente os animais num tempo em que charme e beleza faziam-se maiores do que o próprio negócio em si.
Homens são feitos de ideais e ideais nos impulsionam a fazermos as coisas porque acreditamos nelas. Este pensamento nos faz deixar o lucro de lado para vivermos tranquilos fazendo o que mais gostamos… Este pensamento á peça chave para quem é do campo e dele tira o sustento do corpo e da alma.
Acredito que tu conheças o Rio grande fora do parque de Esteio, mas teria o prazer de convida-lo um dia em que lá estiver a conhecer onde a melhor carne do mundo é produzida e tenho certeza absoluta que gostarás de lá passar tuas férias.
Obrigado pelo texto pois dele me sinto parte, obrigado por fortaleceres esta idéia de pecuária forte com base em pesamentos e ações fortes.
abraço. Ricardo
Parabens pelo artigo.este é o canal pelo qual devemos navegar,seguro,pois esta é a nova aspiração de todos os setores em todo o mundo,qualidade de vida,e isto implica em produtos de qualidade,estilo de vida com qualidade,uma grande pesquisa americana mostrou que as pessoas de melhor poder aquisitivo hoje,ja não se importam tanto com “ter”,mas sim em “ser”.isto implica em sermos cultos e preocupados com a qualidade do planeta.a época do desbravamento ja foi.quem não se atentar a isto estará fora do mercado e em contraposição a propria sociedade.
caro miguel,
é importante ver as constatações de alguem de fora, sobre esse importante evento (expointer) realizado em nossa terra (RS). melhor ainda quando os comentários são positivos e entusiasmantes.
realmente acho que a amostra foi um sucesso. recentemente escrevi um post sobre a importância de transformar esses eventos numa oportunidade para fazer bons negócios, trocar informações e network; mas voce teve a sensibilidade de acrescentar os itens tradição, cultura, satisfação… ficou ainda melhor.
ao mesmo tempo que o seu texto faz refletir, serve de motivação.
parabens!!!
grande abraço.
Para aqueles que não vivem da pecuária muitas vezes parece não fazer sentido, olhando apenas os números, a permanência na atividade. Certamente é um negócio de margens apertadas, de retornos econômicos modestos quando comparado a outros setores. Mas é um negócio extremamente seguro, com uma valorização patrimonial de longo prazo constante e principalmente extremamente agradável de ser conduzido. Nunca tivemos um ano de prejuízo no nossa história. E muita gente trabalha loucamente em outros setores 11 meses para poder justamente desfrutar de um ambiente igual do nosso trabalho. Prefiro seguir na pecuária.
inspirador, pragmático e realista como sempre. concordo com você.
abraço e feliz 2011 amigo!
Lujos camperos é um trecho de um tango cantado por Carlos Gardel:
“…bretes que mataron los lujos camperos,
gauchos que no saben de vincha y culero
patrones que en auto van a los rodeos…”
Olá Igor, muito obrigado pelo acréscimo de informações. Melhor ainda sabendo que é de Carlos Gardel. Abs, Miguel
Prezado Miguel.
De um Gaúcho de coração.
Gostei muito também de suas Reflexões da Expoiter e gostaria
dizer o seguinte.
1-Conforme o Slogan Neozelandes”criamos nosso gado onde voce gostaria de passar suas férias”, eles estão com tada razão. Morei e trabalhei com minha família por mais de dois anos na área rural de Nova Zelândia, a beleza natural daquele pequeno país, o carinho, a cultura e amor pelo agronegócio que lhes dá todo o direito de trabalharem este slogam sim.
2- Falei tudo isto só para dizer que o Rio Grande do Sul têm tudo o que a Nova Zelândia tem, e mais, uma História e um povo como o Gáucho.
3-E quem sabe junto com aquele café que a Angela Bittencourt sugeriu apreciar contigo, possa te oferecer pra juntos sorvermos um Chimarrão também, e falarmos do deserviço que alguns estão fazendo ao agronegócio brasileiro.
Att.
Ricardo Cauduro
Caro Miguel :
Muito bom o artigo ! Dá saudades da Expointer…
Acho que devemos lembrar porem, que uma feira deveria ser uma fotografia real do nosso campo. Raras as fazendas e estancias com aquele conteúdo. Vamos trabalhar mais para que a fotografia seja bem parecida com os personagens.
Bom dia,artigo muito inspirador, motivador, adorei o “slogan” da Nova Zelandia “criamos nosso gado onde você gostaria de passar férias” .Parece que foi criado pensando em minha região,o delta do rio Parnaiba.Aqui produzimos leite e carne em uma das ilhas do Delta.
Parabéns pelo texto. Cultura, administração e economia caminham juntas na maioria das propriedades sulinas. A cultura que o gaúcho da Serra e da cidade “vendem” se faz dia-a-dia no Pampa.