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29 de outubro de 2012
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29 de outubro de 2012

Relação boi gordo GO x SP tem diferencial recorde – por Rodrigo Albuquerque, pecuarista e leitor BeefPoint

Mantem-se o inédito diferencial de base estreito com SP e a certeza de que não teremos boi de pasto em GO em grandes volumes tão rápido. Sinal disto, é que frigoríficos localizados em área de engorda (como no Vale do Araguaia), de grande número de abate diário (acima de 1.700 cab/dia), tem dificuldade em ter escala com mais de 3 dias úteis.

Nesta segunda-feira, 29/out, Rodrigo Albuquerque (@fazendaburitis), pecuarista em GO e leitor BeefPoint, escreveu sua leitura sobre o mercado do boi gordo, analisando o diferencial de base GO x SP, oferta para o final do ano e a utilização do mercado futuro por pecuaristas. Rodrigo acompanha o mercado diariamente e envia sua análise à sua rede de contatos. Veja sua interpretação na íntegra:

Saudações ao nosso estimado exército de iguais (pecuaristas).

Sobre o mercado:

1. No dia 24/10 (última quarta-feira) às 17:50h, pouco antes do indicador daquele dia sair, o último indicador disponível na hora que eu analisava era o do dia 23.10, que foi o recorde de menor diferença de preços entre o boi de SP e o de GO (GO = SP – 1,98%). Acompanho isto diariamente desde 2008. Não é pouca coisa este recorde, portanto. Eu dizia que era importante o boi de SP subir, pois o boi de GO queria subir, mas tinha o “teto” perto demais. Igual a carro querendo embalar, mas com freio de mão puxado…

2. A estabilidade do boi de SP, “freiando o de GO” também foi notada pelo site agroblog, pois segundo eles o “mês de Outubro/12 foi o mais estável em 13 anos para o indicador do #boigordo do Cepea/Esalq”…

3. E o esperado aconteceu: em 24/10, saiu o indicador com alta de quase R$ 1/@. Era o que o mercado de certa forma esperava;

4. Imediatamente o mercado futuro reagiu forte na quinta, dia 25.10, e o contrato de novembro foi cotado acima dos três dígitos novamente, a R$ 101,63/@, mais de R$ 5 acima do preço atual do mercado físico;

5. Bom, no final das contas, o mercado fechou a sexta com o físico de SP em R$ 96,27/@, ou seja, R$ 1 acima do preço do início da semana e também do preço vigente desde o meio de outubro. Em SP, os preços giram agora em linhas gerais entre o R$ 95 e R$ 98 à vista, com 3 a 4 dias úteis de escala;

6. Na “terra do pequi”, as escalas e os preços estão de forma geral da mesma forma, ou seja, com 5 dias úteis de escala, preços se mantém com uma certa firmeza, com o balcão no R$ 93 à vista x R$ 95 à prazo;

7. Por aqui, tem-se escutado preços maiores que o balcão com mais frequência que nas semanas anteriores, acompanhando a alta de R$ 1,00 no físico de SP. O CEPEA de sexta (26/10) de Goiânia chegou a pegar o preço de R$ 97 no boi ap em GO. Bom demais!

Em linhas gerais, portanto, nesta última semana, no físico houve alta de R$ 1,00 e “um certo alvoroço” no mercado futuro.

Mantem-se o inédito diferencial de base estreito com SP e a certeza de que não teremos boi de pasto em GO em grandes volumes tão rápido. Sinal disto, é que frigoríficos localizados em área de engorda (como no Vale do Araguaia), de grande número de abate diário (acima de 1.700 cab/dia), tem dificuldade em ter escala com mais de 3 dias úteis.

A chuva engata ainda devagar. O clima em GO nesta semana passada, de Goiânia para cima, no Vale do Araguaia, voltou a parecer o do final da seca. Cadê a chuva em volume, São Pedro???? Dias muito quentes e sem as invernadas ainda. Clima e pasto completamente diferente de outros estados, com o MS e algumas áreas do MT, como um amigão meu (Ricardo Heise) relatou esta semana… Ele voou todo o norte pecuário do país… Sabe bem o que fala.

Mas, espalhou-se para alguns a “euforia” de preços. Alguns começaram a lembrar da arrancada de preços de 2010. Sigam o twitter, na hashtag #boigordo. Vão ver, é interessante.

Mas, baseado em nada mais do que sentimento, acho que estamos com exagero no mercado. Ainda tenho a pulga atrás da orelha com relação a uma possível arrancada fulminante de preços como em 2010. Acho o ambiente de preços de estável para firme, sim, com certeza, mas 2010 parecia-me bem diferente do que temos hoje. Firmeza de preços sim, mas não vejo nos olhos e na voz do comprador de boi o desespero que foi para eles em 2010. A ver…

Tomara que eu esteja errado. Mas, sinto isto. E sentimento é importante nos negócios. Para mim é. E muito. Escute seu coração.

Ué, Rodrigo, mas o mercado fala que o boi vai subir mais de R$5,00 de hoje para novembro? Não pode subir? Resp.: sim, pode. Pode ir até mais. Mas não sinto isto por ora. Apenas isto. E de novo: tomara que eu esteja errado. Mesmo porque novembro começa nesta semana que se inicia agora… Outubro já é um moribundo em termos de presente.

No “secar do bagaço”, então, tivemos alta de R$1,00 no físico e o mercado futuro explodiu, pagando um ágio considerável para o mês que vem… Hum… Mas o mês que vem é agora. Então vou dar ração para os bois que ficaram pois vou vende-los bem caros, né? Quanta inteligência de minha parte… Todo mundo pode pensar assim e aí…

Bom, este é um exemplo completamente errado e infelizmente muito comum de como lidar com a BM&F em pecuária de corte.

Individualizo 3 formas do produtor lidar com o mercado futuro:

1. Produtor ignora a BM&F: não liga para ela, não acompanha, e na hora que tem os bois gordos, liga para o frigorífico para saber o preço, ou apenas o confirma por telefone com um vizinho, ou no jornal do dia e negocia seus animais, como seu pai ou avô fazia;

2. Produtor que monitora a BM&F, não faz contratos futuros, não trabalha forte com opções, mas considera a BM&F uma espécie de baliza para nortear seus negócios no físico. É o exemplo acima, para nós muito errado.

3. Produtor que usa a BM&F como estratégia para reduzir riscos de preços e fixar preço de venda e em última análise, seu lucro.

Não sei qual é o pior, o “1”, ou o “2”. O número “1”, de certa forma, segue seu caminho, isoladamente, mas ao basear-se no mercado físico, nas suas conversas com agentes de mercado, vendo a sua fazenda, seus bois, seus vizinhos, etc, pode acertar e muito. Entretanto, fica com o seu lucro sem qualquer proteção. Pode ganhar muito, ou perder muito.

O “2”, pode cair numa “armadilha” várias vezes ao ano. Como no caso ilustrado acima, desta semana. A BM&F, como bem diz o Rogério Goulart da Carta Pecuária, é um “zoológico de pessoas” que compram ou vendem o mercado com os mais variados níveis de conhecimento, interesse e mesmo relacionamento/objetivo com a pecuária de corte. Portanto, as posições da bolsa podem ser tão sólidas como uma gelatina.

Ex.: quando há muita pessoa física vendida, como ocorreu na quarta, e há uma “bombada” do indicador, na quinta estas pessoas físicas, para pararem de perder dinheiro com a subida abrupta do mercado (que tem o jargão de “estopar”, estancar a sangria da perda de R$), tem que zerar a sua posição vendida, e fazem isto comprando lotes, ajudando mais ainda o mercado subir.

Foi uma das coisas que ocorreu nesta quinta, por exemplo. E aí, este pecuarista do tipo “2” já liga para a fábrica de ração e manda vir um “truck de suplemento”, pois o boi vai “bombar no mês que vem”. Sai ligando para o vizinho, etc… O problema é que o mercado futuro pode estar apenas “ficando” com a alta e ele está “casando” com a alta… A consequência você já sabe. O boleto da ração vem, e a alta, pode ser apenas uma “ficadinha” da BMF… Volúvel. Obs.: se você não sabe, pergunte ao seu filho ou sobrinho adolescente o que é “ficar”.

E você, qual dos três produtores é? Pense… Muito melhor do que “ficar” com a alta, é melhor “casar” com a lucratividade garantida…

2 Comments

  1. José Mauro Bertolini disse:

    Rodrigo,
    Parabéns pela análise e convite à reflexão.
    Concordo que não dá pra mudar de repente o rumo da viagem porque o vento mudou um pouco sua direção em um determinado momento.
    Abraço do amigo José Mauro

  2. Alessandro de Andrade Mendonca disse:

    Rodrigo, valeu pela analise e pelos alertas, especialmente para os imediatistas.
    O que acho interessante tambem para reflexao, sao as razoes macro que geraram a aproximacao tao grande das cotacoes de Goias a SP. Sou naive na area pecuaria, mas adoraria entender os porques.
    Alguns chutes:
    a) forte reducao do numero de animais confinados esse ano em Goias? como checar isso, e como mensurar isso para tomada de decisao no proximo ano?
    b)precos em SP atrasados, indicando que podem subir mais, ou indicando que a oferta la ainda e maior que no Centro Oeste?
    c) Efeitos de regimes de chuva diferenciados por regiao?

    O bom disso tudo eh que tem mais gente olhando o mercado, pensando, e encontrando espacos para discussao e disseminacao de ideias. Eu pelo menos tenho me aproveitado desses debates, obrigado.

    Saludos,
    Alessandro Mendonca