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Relação ganha-ganha na pecuária: futuro ou poesia?

A relação entre produtores e frigoríficos vem se deteriorando nos últimos tempos, com a imposição de novas exigências para comercialização de bovinos e a recente acusação de formação de cartel. O cenário não favorável de preços causado pela valorização do real, baixo poder aquisitivo da população e aumento da produção de bovinos, entre outros fatores, também contribui para o acirramento dos ânimos. Como diz o ditado: em casa que falta pão, todos gritam e ninguém tem razão.

O famoso escritor norte-americano Stephen R. Covey, autor do best-seller mundial 7 hábitos das pessoas altamente eficazes, define a relação ganha-ganha como “pensar em termos de abundância e oportunidades, e não em escassez e competições”. Hoje se percebe claramente um comportamento competitivo em nosso setor.

O produtor tem tradicionalmente pouco interesse em preservar o couro do animal produzido, pois acredita estar em uma situação perde-ganha, alegando que não é remunerado pelo couro. Por não produzir um couro de qualidade, torna impossível que se aumente o valor do couro e que esse valor possa ser distribuído. Por acreditar que o valor não será repartido, prefere que não se crie valor. Pode ser difícil conseguir que o frigorífico remunere o produtor pela qualidade do couro, mas será impossível existir essa remuneração, se a qualidade não existir. Parece óbvio, mas infelizmente é o que ocorre hoje, inúmeras vezes.

Um acontecimento recente, que por se mostrar claramente um contra-senso felizmente não teve nenhuma repercussão, foi a sugestão, levantada durante uma recente reunião, de boicote à vacinação antiaftosa. Essa situação é um exemplo claro de relação perde-perde.

No entanto, já existem casos de pecuaristas, que mesmo enfrentando dificuldades e “remando contra a maré”, procuram oferecer qualidade e atender a seus clientes diretos e indiretos (frigorífico e consumidor final) de forma adequada. Esses pioneiros da qualidade e da excelência acreditam que produzindo qualidade e gerando valor para o frigorífico, irão conseguir reter parte do valor criado. A Abrapec de Araçatuba/SP é um exemplo desse modelo, que visa aumentar sua remuneração através da produção de animais de padrão adequado ao que o frigorífico procura.

Os frigoríficos também não têm agido de forma a pensar em abundância, “em crescer o bolo”. As criticadas tabelas de desconto por padrão de peso, acabamento foram criadas com uma linha de raciocínio de escassez e não pela busca do aumento da oferta do produto (boi gordo) desejado. As tabelas puniam o padrão não desejado, mas não premiavam o desejado. Além do mal-estar causado, em nenhum momento estimulou a produção de qualidade, que iria trazer benefícios a todos. Há um ditado asiático que diz “torna as coisas mais fáceis para si mesmo quem torna as coisas mais fáceis para os outros”.

No atual cenário, onde a insatisfação é grande, pode parecer poesia pensar em uma relação de cooperação, numa relação ganha-ganha. O que me faz acreditar que teríamos todos a ganhar é uma análise do mercado consumidor e das demandas atuais, que impactam o consumo de carne, que influi em toda a cadeia produtiva.

Hoje somos os maiores exportadores de carne bovina do mundo em volume, mas por termos um dos preços médios da tonelada exportada mais baixos do mundo, só esse fato não está permitindo uma lucratividade a todos os setores envolvidos na produção de carne.

Para isso, é preciso adequar o produto brasileiro (carne no prato do consumidor final) às exigências do mercado atual. Essas exigências são muitas, indo de maior maciez a respeito ao meio-ambiente. Além disso, o Brasil precisa criar marcas de carne, para blindar os diferenciais a serem criados, da ação da concorrência. Para atender as essas demandas será preciso que frigoríficos e produtores trabalhem de forma mais sintonizada. Só dessa forma será possível entregar produtos de maior valor, para o consumidor final.

Essa é uma tarefa para toda cadeia. Os frigoríficos, principalmente por estarem mais próximos do consumidor, poderiam iniciar essa busca por maior valor do produto, poderiam ser os capitães dessa mudança. Isso permitirá um aumento do valor do total produzido pela cadeia da carne.

Há oportunidades no mercado interno e externo que não estão sendo aproveitadas pela cadeia da carne. E quem ganha com essa fraqueza são os produtos substitutos (como a carne de frango) no mercado interno e nossos concorrentes no mercado externo.

“Quem combate fogo com fogo geralmente acaba em cinzas”, Abigail van Buren, escritora norte-americana.

PS: Gostaria de convidá-lo a comentar meu artigo, principalmente se discordar do meu ponto de vista. O objetivo é que esse artigo seja o ponto de partida para uma discussão mais ampla, sobre as ações e rumos que devemos tomar, objetivando o avanço da cadeia da carne. Desde já, muito obrigado.

0 Comments

  1. José Joaquim Otaviano Pimentel disse:

    Acho que a única alternativa para os produtores é a organização da classe na defesa de seus interesses. Qualquer grupo só consegue se defender se trabalhar organizado. Vejamos o forte exemplo do sindicato dos frentistas, eles conseguiram impedir a instalação das bombas de gasolina de auto atendimento, pois isto levaria a uma grande baixa nos postos de trabalho da categoria.

    O nosso pecuarista vem aperfeiçoando a sua administração da produção. Conseguimos um enorme avanço nos índices zootécnicos que determinam a rentabilidade do negócio. Porém, o preço final do nosso produto não está remunerando os custos de produção. Não há muito espaço que um aumento de eficiência produtiva e gerencial supere a queda constante no valor do produto. Portanto, um grande número de propriedades estão sendo administradas de maneira eficiente, embora sabemos que muito ainda pode ser feito, o produtor fez o dever de casa.

    Resta agora atuar também fora da porteira. Se o pecuarista ficar esperando que terceiros intercedam por ele, nada vai acontecer. É preciso arregaçar as mangas, buscar representatividade para tornar a legislação mais favorável à classe.

    Faz-se necessário ampliar as exportações e estimular o consumo interno. A mídia no Brasil é categórica em colocar a carne vermelha como grande vilã da saúde humana. É preciso informar melhor os nossos médicos e principalmente os nossos consumidores sobre o valor nutricional e os benefícios do consumo de carne bovina.

    Couro: Sem dúvida existe uma visão muito medíocre por parte dos frigoríficos com relação ao couro. Grande parte dos animais abatidos possuem couro de excelente qualidade.

    A não valorização do couro destes animais, independentemente se forem 20% ou 1% dos couros, é o grande responsável pelo descaso do produtor com o couro na fazenda.

    O que é mais fácil vender: Um carro com os cinco pneus novos ou o mesmo carro com os cinco pneus em estado de calamidade. O vendedor de carros se apressa em observar para o potencial comprador que os pneus estão ZERADOS! Não há nenhuma justificativa para o pecuarista se preocupar com o couro.

    Enquanto não houver remuneração pela qualidade deste, não haverá bons couros em grande quantidade.

  2. ciro luna camargo barros disse:

    Prezado Sr,

    Concordo em gênero, número e grau; porém, quando se especula a possibilidade de serem criadas “Marcas de Carnes”, fortalecimento da cadeia produtiva, principalmente entre pecuaristas e frigoríficos, falta orientação sobre o lado prático.

    Uma Cooperativa? Arrendamento de frigoríficos?Uma SA? Ou Limitada? Quero dizer que ainda estamos na retórica, longe da prática.

    Porque não montar um curso técnico, jurídico, econômico, financeiro e contábil, sobre a “Possível Cadeia Produtiva da Carne” agregadora de valores?

    Os modelos americanos e australianos são adaptáveis ao Brasil? Ou seriam adaptáveis a algumas regiões de alguns Estados?

    Enfim, são necessárias mais indicações práticas no lugar das teóricas.

    Atenciosamente,

    Ciro Barros
    Agropecuária Embu

  3. Filipe Graeff disse:

    Prezado Miguel Cavalcanti,

    Acompanho e compartilho dos seus esforços quando utilizas este espaço visando a melhoria das relações e agregação de valor na cadeia produtiva da carne bovina. Todavia, embora esteja de acordo com a causa e seus fins, discordo dos meios para alcançar os objetivos propostos.

    No Brasil, quase todas as regras possuem certas peculiaridades, que são reflexos da nossa cultura sócio-econômica. Na cadeia produtiva da carne não é diferente. Quem dita as regras não são os consumidores, que normalmente são a mola propulsora de qualquer cadeia produtiva, e sim os frigoríficos, que estão no meio da cadeia.

    Por outro lado, uma regra de mercado não se altera: a lei da oferta e da procura. Temos muita oferta de matéria prima (gado), o que puxa seu preço para baixo. Da mesma forma, temos uma população de baixa renda, para a qual o fator preço ganha relevância nos critérios de escolha, o que estimula a cadeia produtiva de baixo valor agregado. Além disso, devido ao baixo valor (preço) interno e aos problemas da febre aftosa, a carne brasileira também é pouco valorizada no exterior, mesmo o Brasil sendo o maior exportador de carnes do mundo. Portanto, não é a toa que a carne brasileira é barata.

    Neste cenário, temos um alto consumo de carne tanto no Brasil, quanto no exterior, o que garante aos frigoríficos o volume de produção necessário para a extraordinária rentabilidade de seus negócios, tendo em vista que não trabalham com diferenciação de produto. Logo, não acredito que sejam, os frigoríficos, os agentes de mudança na cadeia produtiva, sendo este o meu ponto de divergência.

    Então, como mudar?

    Acredito que os pecuaristas têm, hoje, uma grande oportunidade de quebra de paradigma. A situação está muito clara e são eles os mais insatisfeitos, logo devem partir dos pecuaristas as ações de mudança na cadeia produtiva. Ora, não adianta reclamar dos frigoríficos, se são os frigoríficos que ditam as regras e estão satisfeitos com a situação.

    Os pecuaristas devem buscar sua independência em relação aos frigoríficos. Greve e retenção de matéria prima, já se mostraram ineficazes. Se luta é inglória, deve-se parar de lutar. A união de pecuaristas, para produção e abate dos animais, e também para comercialização de carne, pode ser o ponto de partida para esta quebra de paradigma.

    Estou falando dos pecuaristas terem seus próprios frigoríficos, suas próprias marcas e estabelecerem os seus critérios para diferenciação da carne. Assim, os esforços para melhorar a qualidade da matéria prima e do produto final, adequando-o a mercados e consumidores exigentes; e do couro, melhorando sua classificação e seu valor, com certeza irão remunerar o produtor. Os grandes frigoríficos atuais ainda teriam seu papel, trabalhando por volume, comprando e vendendo matéria prima e produtos de baixo valor agregado e, consequentemente baratos.

    Ações como estas fazem com que as mudanças ocorram de baixo para cima, tornando os pecuaristas não apenas os agentes da mudança, mas também a mola propulsora da cadeia produtiva da carne bovina.

    Assim estariam quebrando um paradigma no mercado brasileiro de carne.

  4. Eloísa Muxfeldt Arns disse:

    Miguel, penso que definiste de forma muito clara e consistente a questão sobre quem ganha ou perde na cadeia da carne.

    Enquanto alguns continuarem a querer, além de ganhar, ganhar sozinhos, muita discussão ainda vai rolar.

    Ajudar a si, ajudando os outros, parece ser o grande desafio.

    Parabéns pelo editorial.

    Eloísa Muxfeldt Arns
    COTRISAL
    São Borja/RS

  5. Paulo Cesar Bastos disse:

    Prezado Miguel Cavalcanti,

    Existem alguns fatos recentes na nossa pecuária de corte que merecem algumas reflexões.

    O melhoramento genético, o cruzamento industrial, o manejo sanitário e nutricional com mineralização e forrageiras mais eficientes, diminuíram bastante a idade de abate. O novilho, que era dito precoce já é hoje o novilho padrão. Foi um progresso técnico rápido que gerou uma oferta abundante de boi gordo.

    Enquanto havia esse desenvolvimento técnico e gerencial na base produtiva, não ocorria, como deveria, a evolução da comercialização. Continuamos vendendo o nosso produto com os mesmos riscos e incertezas e por preços impostos, nunca negociados, como no passado.

    A exportação ajuda, mas sozinha não é a solução para atingirmos o preço justo que remunere os cada vez maiores custos de produção, causados pelos insumos, mão de obra, obrigações e tributos.O mercado interno é, ainda, fundamental para a pecuária de corte. Ocorre, no entanto, que, infelizmente, o cardápio do brasileiro é montado pela renda e não pela vontade. Precisamos encontrar o caminho que remunere melhor o produtor sem afugentar e onerar o consumidor.

    Produtores, indústria e comércio devem entender que a saída é um plano imediato e urgente, com apoio governamental de incentivo, planejamento e crédito para transformar a maioria dos frigoríficos de unidades desmontadoras de carcaça bovina em indústrias processadoras de carne, produzindo além dos cortes tradicionais novos produtos com maior valor agregado aliado ao aproveitamento maximizado dos subprodutos, incluindo a implantação de fábricas satélites em volta dos grandes abatedouros, diminuindo os custos com uma logística mais eficiente.

    Os mais recentes artigos e opiniões, aqui no BeefPoint e na mídia especializada, mostram esse anseio e necessidade de modernizar e agregar valor, como já vem fazendo a cadeia produtiva do frango. Repito que às vezes o óbvio é difícil de ser compreendido ou, talvez, é impedido. Estimulando, porém, o debate e o fluxo das idéias visando o justo desenvolvimento e sobrevivência desse setor, pecuária de corte, tão importante para o nosso povo, vez que gera emprego e renda no interior, desafogando os saturados grandes centros urbanos, acharemos o caminho mais viável.

  6. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Miguel,

    Quero te parabenizar pelo excelente artigo “Relação ganha-ganha na pecuária: futuro ou poesia?”.

    Sem dúvida se trata de sua melhor e mais ampla abordagem dos problemas na cadeia de carne bovina. É curiosa que a distorção ou até ausência desta relação também é a principal razão para nossos problemas na sociedade brasileira e mundial até hoje (eu ganho, você ganha e o resto se dana).

    A Mente Brilhante do Dr. Nash nos deu uma contribuição fundamental com a sua teoria de equilíbrio, mas provou também que a ganância de um pode colocar uma cadeia inteira em xeque e comprometer o resultado final.

    E aí vem aquele velho e conhecido círculo vicioso onde um depende do outro e onde você é induzido a pensar que nada se pode fazer sozinho e daí tem então a pergunta “futuro ou poesia?”.

    Hoje eu vejo e acredito que a relação ganha-ganha somente acontece quando você toma a decisão de ter uma relação assim; isto é uma atitude, um estilo de vida que você tem mesmo sem necessariamente ter em primeira mão a certeza de que vai ser retribuído e, como quase sempre acontece com estes enfoques altamente positivos, tem tudo para dar certo porque um dos pré-requisitos para ter uma relação de ganha-ganha é de que você conheça profundamente as necessidades e oportunidades de todos os participantes nesta relação.

    Sem dúvida a ganha-ganha trata-se de abundância, oportunidades e inclusão.

    “Eu tenho uma atitude que requer que os meus produtos e serviços possibilitem e principalmente facilitem o fortalecimento e lucratividade para os demais componentes da cadeia e incluindo principalmente o meio ambiente e o bem estar do consumidor final; quanto mais valores podem ser agregados aos meus produtos e serviços, melhor para todo mundo e por isto para mim também”.

    Vamos tomar este decisão e possibilitar assim a ganha-ganha para todos.

    Louis Pascal de Geer

  7. José Luiz Martins Costa Kessler disse:

    Prezado Miguel,

    Certamente a relação ganha-ganha não é poesia. Ela já está começando. Os casos das alianças, dos programas de produção certificada, de novas marcas e grifes que pipocam em todo Brasil são os prenúncios deste novo tempo na produção da carne bovina brasileira.

    O comportamento competitivo que você identifica é real, mas muitos já perceberam seu prejuízo. O próprio Stephen Covey em seu best-seller classifica este comportamento como “sinergia negativa” e diz: Buscar alternativas é mudança de paradigma, representa o abandono da mentalidade você ou eu. O problema é que pessoas altamente dependentes estão querendo obter sucesso em uma realidade interdependente.

    Em seqüência faz as perguntas:

    Quanta energia negativa se despende quando as pessoas tentam resolver seus problemas em uma realidade interdependente?

    Quanto tempo se perde em apontar pecados alheios, em politicagem, rivalidades, conflitos interpessoais, medidas preventivas de proteção, maquinações e adivinhações?

    Desta forma, me parece cristalino, que neste momento devemos é criar sinergia positiva. Entender que temos grandes oportunidades em um quadro de dificuldades que nos parecem insolúveis.

    A interatividade na comunidade BeefPoint demonstra que não somos poetas.

    Nosso desafio é mudar comportamento. O começo sempre é difícil, mas com determinação, informação e capacidade de negociação, mudaremos individualmente para conquistar o sucesso de forma coletiva, traduzido na atitude ganha-ganha.

    Eng. Agr. José Luiz Kessler
    Produção de Gado de Corte
    Pelotas – Rio Grande do Sul

  8. Magno Augusto de Matos disse:

    É isso aí, caro Miguel; a relação competidora – Pecuarista/Frigorífico – no momento, só tem como objetivo que se torne ainda mais complicado o mercado de carne no Brasil.

    No meu ponto de vista a forma, pelo menos mais sensata, seria as parcerias – como exemplo a ABRAPEC – entre produtores e frigoríficos; e não esse “fura olho”, como ocorre atualmente.

    Cordialmente,

    Carlos Magno
    CONDOMÍNIO ITAVERÁ
    Campo Grande – MS

  9. Bruno Almeida disse:

    Caro Miguel,

    Antes de ser pecuarista, eu pertenci a vida corporativa por muitos anos. Essa experiência fez com que eu aprendesse muita coisa interessante a ser aplicada na nossa pecuária, principalmente a meritocracia. Acredito que o caminho da excelência produtiva e a premiação, ou seja, se você quer algo acima da média pague mais por isso.

    É fato que a relação entre produtores e frigoríficos está um tanto abalada, porém deve partir dos últimos o caminho a ser trilhado: se querem couro de qualidade, premie o produtor que ele o produzirá; se querem carne de qualidade, premie o produtor que ele aperfeiçoará as raças de bovinos a fim de atender o mercado.

    Também não sou contra a punição para o mau produtor, mas junto com ela deve-se dar a premiação para o bom.

    Abraço,

    Bruno Almeida

  10. aldo marino heck disse:

    Acredito que somente terá futuro numa pecuária com rentabilidade quem entender que deve fazer com que sua atividade tenha qualidade e foco no cliente, consumidor, pois este determinara as tendências a serem seguidas.

    Por isto acho que pode ser poesia a relação ganha-ganha, mas ela é fundamental para a sustentabilidade do negócio e deve ser buscada.

  11. Andrei Carvalho Baroni disse:

    Prezado Miguel,

    Conforme pude perceber, você acredita numa relação ganha-ganha entre produtor e frigoríficos, mas defende claramente que a iniciativa deveria partir dos produtores.

    Como podemos observar, e você mesmo já comentou, quando surgiram as tabelas de descontos por padrão, não havia premiação por excelência e qualidade. Então, o que fazer para que os produtores já escaldados e calejados com as brigas com os frigoríficos acreditem que sua relação possa ser de benefício mútuo e não unilateral por parte dos frigoríficos?

    Não seria mais interessante que os frigoríficos começassem a distribuir melhor os ganhos, primando por uma oferta de melhor qualidade?

    Se essa disputa de quem irá ceder primeiro continuar, a relação de ganha-ganha na pecuária, deixará de ser vista como futuro para certamente ficar como uma poesia!

    Andrei Carvalho Baroni
    Zootecnista da CNRA – Comp. Nac. Rastreabilidade Animal

  12. Bruno de Jesus Andrade disse:

    As exportações brasileiras crescem e neste contexto encontramos o setor pecuário.

    Nossos pecuaristas, em sua grande maioria, vem sofrendo com o baixo preço proposto pelos frigoríficos.

    Muito se diz sobre a existência de cartel, porém como vimos na Abrapec, existem soluções para reverter essse quadro.

    Portanto, como no artigo de Geraldo Perri Morais se torna muito importante a aliança entre os pecuaristas, para que tenhamos força e poder de negociação, hoje existente somente com os grandes frigoríficos.

    É claro que o frigorífico está cada vez mais procurando qualidade e por isso penalizações deverão ser feitas, caso a qualidade não exista, bem como premiações quando a qualidade da carne produzida for superior.

    O que eu proponho é uma maior participação dos pecuaristas no processo de comercialização da carne e não somente na produção.

    A partir do momento que o bovino passa pela porteira da fazenda para o abate um novo processo se desenrola e aí o produtor também deve estar.

  13. Eduardo Miori disse:

    Caro Miguel

    Mais uma vez concordo plenamente com sua visão.

    Principalmente no que se refere ao papel que deveria ser desempenhado pelos frigoríficos para o desenvolvimento do mercado e de produtos de maior valor agregado.

    O exemplo dado por Sadia, Perdigão, Seara e outros nos mercados de frango e suínos dá idéia do que poderia acontecer no segmento de carne bovina se houvesse clareza de propósitos e pensamento estratégico.

    Para isso serve o debate e o papel de pessoas como você é fundamental para podermos avançar.

    Obrigado,

  14. Antonio do Nascimento Rosa disse:

    Como sempre, oportuno e inteligente o seu ponto de vista, Miguel. Parabéns.

    Para que deixe de ser poesia, no entanto, e passe a ser realidade – e também não apenas futuro – falta muita coisa ainda. Não é questão de educação, apenas… civilização, seria?

    No perde-perde das relações egoístas o nivelamento é feito sempre por baixo. Os exemplos estão aí. Lamentavelmente.

    Grande abraço!

    Antonio do Nascimento Rosa
    Pesquisador – Embrapa Gado de Corte

  15. Walter José Verdi disse:

    Caro Miguel;

    Mais uma vez, somos testemunhos da nossa vontade constante, de se discutir caminhos viáveis, para se tornar a pecuária de corte como um investimento, ao menos razoável para os pecuaristas.

    E neste embate com a cadeia que nos remunera, no caso os frigoríficos, estamos “jogando a toalha” para citar uma analogia ao embate pugilístico. Quem nos dias de hoje, atuando numa área de consultoria, poderia, ou melhor correria o risco, de recomendar a um investidor, a dirigir seu capital para a atividade de pecuária de corte de BOVINOS?

    Como disse um colega, em relação a meritocracia, mesmo em cadeias mercadológicas existentes, a remuneração destinada à produtos certificados, rastreados, com escala e padrões bem definidos, é insignificantemente maior, que a dos produtos sem a menor qualidade, o que torna mais uma vez os investimentos nestas questões muito pouco atraentes, se agirmos na frieza da remuneração do capital investido.

    Se o pecuarista agisse como um investidor, hoje ele estaria vendendo o seu estoque, descongelando seus ativos de máquinas e implementos, e desfrutando sem a menor preocupação, de uma remuneração do mercado de capitais, muito mais vantajosa, que a dura batalha de tornar rentável a atividade da pecuária de corte.

  16. Marcelo Pereira de Carvalho disse:

    Miguel,

    Como disse Jean Paul Sartre, “O inferno são os outros”. É sempre difícil reconhecer as próprias falhas e limitações, sendo imensamente mais fácil culpar os outros pelas nossas mazelas.

    É interessante notar que, embora agir assim seja uma característica humana, alguns povos têm, digamos, maior predisposição a esse comportamento. O Brasil e outros países latino-americanos são pródigos nisso, ao passo que países do norte da Europa, por exemplo, tem uma cultura mais cooperativa.

    A relação ganha-ganha parte do princípio que todos têm sua parcela de culpa e de razão na questão levantada no artigo, e que é preciso superar o comportamento competitivo e focado no curto prazo pelo comportamento cooperativo, baseado no aumento do bolo e no entendimento da cadeia produtiva como algo que precisa constantemente gerar e distribuir valor aos seus elos.

    No leite, uma iniciativa que já dura 3 anos caminha nesse sentido. É o Conseleite, do Paraná, conselho formado por indústrias e produtores, sem interferência do governo, cujo objetivo é definir preços de referência para a matéria-prima a partir do mix de produtos vendidos, dos preços de venda e do peso da matéria-prima no custo final de cada produto.

  17. Janete Zerwes disse:

    Olá Miguel,
    Não consigo “racionalmente” encontrar argumentos para discordar do seu artigo.

    Se fosse fazê-lo, poderia usar como ponto de partida algumas deixas bastante truculentas, que constantemente me são expostas, quando cito a necessidade de organização, politizacão e gerenciamento por parte de nós pecuaristas:

    “Não adianta melhorar o gerenciamento se não se tem preço para carne.”

    “Para que rastrear o boi se o frigorífico não nos repassa o adicional do valor da carne exportada.”

    “Para que preservar o couro se não recebemos remuneração por ele.”

    “Para que a pecuária de cria, recria e engorda se viabilize temos que ter um desfrute de 30%, 40%, ou mais por % do rebanho.”

    “Como vamos controlar individualmente a eficiência do rebanho?! se já é difícil saber o que acontece com o boi que está lá… no fundo do pasto!!! ( E, veja bem, este comentário foi feito pelo representante de uma das mais conceituadas empresas de pecuária do Estado de Mato Grosso, estado que possui o maior rebanho do país, em torno de 26 milhões de cabeças).

    Gostaria de comentar o seu artigo, utilizando como “gancho” o termo usado por você: CONTRA SENSO.

    A nossa atividade parece estar recheada de contra sensos, quando se chega ao absurdo de aventar a possibilidade de boicotar o controle sanitário, falando em deixar de vacinar, ficamos até assustados com os limites a que podem chegar os contra sensos.

    Me parece que nos falta conhecimento.

    Conhecimento daquilo que acontece no campo, da porteira para dentro e, daquilo que acontece da porteira para fora. Conhecimento daquilo que acontece no mundo.

    Na função de defender e representar os interesses do agronegócio como um todo, me “pego” a pensar: “Hoje, em abril de 2005, temos uma situação de relativa turbulência no setor”.

    A pecuária que cedeu em torno de 10% de suas áreas de pasto para a agricultura – amarga com o preço mais baixo da @ comercializada no país (até permitiu a denúncia de formação de cartel pelos frigoríficos) está em depressão.

    A agricultura que alavancou os maiores índices de valorização imobiliária do país (chegando no período de 2003 a 2004 a acusar um índice de 187% de valorização do ha) – pede prorrogação de dívidas em função da queda de preços dos grãos no mercado internacional, motivada principalmente por excessos de oferta.

    Como você mesmo citou temos o maior volume de carne exportada no mundo pelo menor preço.

    Também citado por você, no que concordo, aumentamos a produção de bovinos.

    Ora! Se continuarmos estes comentários, e se eles fossem analisados por quem está de fora, no mínimo, pareceriam paradoxais, de difícil entendimento.

    Como se entende a cabeça de um empresário, que sabe que os preços daquilo que ele produz se determinam pela lei da oferta e da procura, mas que ao mesmo tempo, imobiliza recursos em terras para aumentar a área de plantio?

    Quando planta, remunerando financeiramente os recursos captados junto as instituições financiadoras: bancos, multinacionais compradoras de grãos, multinacionais vendedoras de insumos, etc…?

    A venda das terras de pecuária para agricultura, gerou um derrame de gado no mercado de abate, no mercado de reposição, que somado ao aumento de preços de combustíveis, insumos, impostos praticamente inviabiliza a pecuária.

    Resta perguntar: Somos investidores imobiliários, ou agricultores e pecuaristas?

    Se a resposta for como imagino – por que conheço, por experiência própria nossa vocação – AGRICULTORES E PECUARISTAS, então, precisamos repensar nossas estratégias comerciais e buscar maiores conhecimentos, para que tenhamos maiores lucros nas nossas atividades, ao invés de só proporcionarmos lucros aos especuladores imobiliários.

    Vamos formar alianças mercadológicas entre agricultores e pecuaristas, aproveitando conjuntamente nossos recursos potenciais na produção de alimentos, nos capitalizando, através da eficiência da produção e comercialização, que nem sempre significa aumento de área de plantio ou de rebanho, mas cálculo exato de custo/benefício de cada investimento.

    Lembrando sempre que a nossa responsabilidade social é muito extensa, haja visto que respondemos por 40% das exportações do país, 37% dos empregos.

  18. Janete Zerwes disse:

    Olá Miguel,

    Gostaria de me unir ao primo Felipe Graeff, produtor de carne de Porto Alegre-RS, meu Estado de origem. (Primo!? Meu nome nascimento é Janete Graeff Roese, de Carazinho – RS).

    O primo(!?), levantou a questão do couro, que é outro componente do boi a ser remunerado para o pecuarista, com valor comercial até superior ao da carcaça. Mas, pelo fato do couro não ter uma qualidade nem um volume constante, dentro do padrão exigido pela indústria coureira, interna e/ou externa, os frigoríficos ficam impossibilitados de explorar nichos de mercado mais compensadores para este “componente” do boi, e, consequentemente fazer o repasse dos valores agregados a carcaça, para o pecuarista.

    Como se sabe, a comercialização e/ou exportação de qualquer produto, depende da assinatura de contratos prévios de compra e venda, com cláusulas que garantam, ao comprador a entrega da mercadoria, no volume, padrão de qualidade e prazo previstos, de acordo com o estipulado em contrato.

    O fornecedor (comercializador/ exportador), fica sujeito a pesadas multas, caso não cumpra o acordado: entrega do produto, no volume, padrão de qualidade e prazos pré-determinados em contrato, o que implica em contratar com o pecuarista constância de oferta em volume e qualidade.

    Nada impede, que nos associemos em cooperativas, ou de outras formas, para que possamos abater e comercializar todos os produtos do boi, buscando nichos de mercado diferenciados e mais valorizados para cada um deles, e que assim possamos obter maiores rendimentos de nossos produtos.

    Mas ainda continuo acreditando, que obteremos melhores resultados, quando nos especializarmos e tecnificarmos na nossa área de atuação, no caso, na produção de carne e couro de boa qualidade, buscando eficiência gerencial dentro das nossas porteiras; aprendendo a nos agregar, juntar forças na comercialização, barganhando a qualidade.

    Concordo com o Louis Pascal De Geer, quando em resposta a este editorial, afirma que se ganha mais quando o ganho envolve todos os envolvidos no negócio, incluindo neste envolvimento os aspectos sociais e ambientais.

  19. Leandro Carlos Freling disse:

    Miguel,

    Parabéns.

    Me animo a trabalhar toda a vez que leio algo interessante que colocado de forma inteligente, afinal como podemos melhorar se não partirmos dos conceitos os quais você expõe em seu comentário.

    Temos que não só pensar em “ganha-ganha” e sim fazer isso nossa missão diária, pois partimos que somos integrantes de uma cadeia produtiva, a qual o nome já diz tudo CADEIA, e que unicamente buscando soluções conjuntas é que se resolvem os problemas.

    O setor pecuário bovino como um todo, deveria olhar para os lados e a observar porque as cadeias do frango e do suíno estão fazendo seu dever de casa, onde frigoríficos em conjunto com produtores buscaram nos últimos anos a excelência em termos de produtividade, qualidade e respeito aos principais responsáveis de esse êxito de ambos, os CONSUMIDORES FINAIS, pois me parece que ninguém se dá conta que todo o problema na verdade se concentra em aumentar consumo, melhorando qualidade do produto oferecido.

    Ma na verdade, o pior cego é aquele que não quer ver, que o mundo sofre mudanças rápidas e que precisamos nos adaptar a elas com a mesma velocidade.

    Acreditar em ganha-ganha não basta, se necessita mais ação CONJUNTA entre ambas partes. Copiar exemplos de sucesso, isso é a solução.

    Quem sabe os concorrentes estão nos ensinando algo e nós é que não queremos aprender.

    Obrigado pelo espaço.

    Leandro Freling
    Consultor Mercado Futuro Boi Gordo

  20. Carlos Fonseca disse:

    Caro amigo,

    Você tem toda a razão quando diz que devemos pensar positivo e arriscar a fazê-lo sozinho para sentir a reação na outra ponta. Afinal a física já nos diz que a toda ação haverá uma reação igual e em sentido contrário.

    Todavia é característica do agricultor e do pecuarista brasileiro querer levar adiante somente por si próprio ainda que dê de burro n’água. Difícil conseguir união para pensar positivamente. Há muita desconfiança no ar e o pensamento de que aquele que se esforça por unir, quer é tirar vantagem lá na frente.

    Eu por exemplo não acredito nos valores apresentados aos agentes de controle de nossas exportações de carne bovina.

    Sempre ficará no ar para mim:
    – A quem estão exportando?
    – Quais são essas empresas?
    – Qual o valor declarado e qual a diferença não declarada?
    – Quem são os verdadeiros acionistas dessas empresas aos quais exportamos?
    – Qual o valor de revenda, por exemplo, no Mercado Comum Europeu das carnes que exportamos?

    Complicado poder manter o pensamento ganha-ganha, exposto por você, quando não há transparência nessas questões.

    – Exportamos a U$ 1500 a ton? São revendidas a U$ 6500 ao mercado? Quem está ganhando tanto? Os pecuaristas com certeza não. Os exportadores? Coitados, segundo articulistas também aqui no Beefpoint, estão correndo sérios riscos. O revendedor ao mercado? Acho que só ele pelo que parece.

    Mas em dólar o pecuarista recebe o mesmo que em 2001 pela @. E em Euros? Será o mesmo?

    Muitas interrogações sem resposta. É isso que desanima a classe produtora.

    Todavia você se propõe pensar positivamente no ganha-ganha.

    Vamos lá, continuar a prover os frigoríficos de carne de boa qualidade e aguardar para ver se pagam na mesma proporção que devem estar ganhando.

    Abraço,

  21. Paulo José Villela disse:

    Caro Amigo,

    Acho que seu ponto de vista é válido, ainda mais quando cita ganha-ganha, penso que somente seremos produtivos, quando pensarmos como empresários, pois hoje de cada 1.000 pecuaristas, apenas 0,5% é empresário na verdadeira palavra dita “Empresário”.

    Sou zootecnista e supervisor de uma empresa do ramo mineral, bem como sou pecuarista, e que digo o seguinte “Porco e Frango não tem recria, porque boi tem que ter?”.

    O grande caminho para libertação do pecuarista, é entender que ciclo de vida dos animais tem que ser outro, certo assim no mesmo ano que ele desmama, ele tem que abater seus animais, para isso temos que ter vacas/novilhas, com ótima habilidade materna, e mais boas produtoras de leite, associado a isso uso de tecnologias, que quem lê sabe do que falo, peso desmama acima da média ridícula que é de machos 140/160 Kg e fêmeas 120/150kg, todos sabemos que é na fase de bezerro que se chega ao peso adulto mais rápido.

    Ainda mais a sobra de pastagem que sendo Brasil grande como é, fazer silagem de capim, para suplementação na seca, sendo que grande parte de material é perdido pela seca (como dizem muitos feno em pé), por que não aproveitar para ensilar, que melhora consideravelmente produto para ser ministrado na seca.

    Outro fator de destaque que vejo, são empresas enfiando no pecuarista alto volume de ração para dar ganho que com a metade do volume daria mesmo resultado, tudo é questão de custo, e este segundo volume de ingestão é metade do preço do primeiro (produto deve ter mesmos níveis de garantia de volume de 1% do PV, trabalho que tenho feito em minha propriedade e vizinho no TO).

    São estas as sugestões de um pecuarista que vê soluções, que pensa sempre no ganha-ganha, mas tem que ser uma soma de resultados que todos os segmentos que soma valor final na pecuária, quando sou fraco, ai sim que sou forte, é bíblico, e se ao somarmos seremos vencedores, mas depende de união da classe, hoje não é boi mais pesado que vale, mais sim mais precoce, mais bem acabado, enfim tem muitas informações em um a mesma propriedade, que devem ser tratadas em conjunto para resultado, e não isoladas.

    Abraços, e digo que se somarmos, nunca dividiremos, a não ser nossos bons resultados aos vizinhos e aos amigos distantes.

    Paulo Villela
    Zootecnista
    Produtor Rural Tocantins

  22. Rubens Ernesto Niederheitmann disse:

    Miguel,

    Parabéns pelo seu editorial.

    É preciso que cada vez mais opiniões como a sua, formuladas sem paixão, sejam colocadas. O problema da relação entre frigoríficos e produtores não é de fácil solução, se fosse, já estaria resolvido.

    Temos defendido que é preciso ter a visão do todo, a visão da cadeia produtiva onde é preciso ter equilíbrio entre os elos sob pena de, em médio prazo haver prejuízo para todos. Hoje o elo da produção está muito fragilizado, desorganizado, enquanto que os frigoríficos aproveitaram (talvez por conta de uma melhor visão estratégica) as oportunidades.

    Enquanto não houver uma boa organização dos pecuaristas, com uma melhoria geral de qualidade (o que temos ainda são ilhas de qualidade, muitas vezes sem continuidade, sem constância), com fortalecimento das organizações dos produtores que possibilite estabelecer negociações em pé de igualdade, a coisa não se resolve.

    Entendo a posição dos pecuaristas, porque se sentem impotentes diante da atual situação. Mas é preciso calma, inteligência, aperfeiçoamento na gestão das propriedades, união, comprometimento de todos e muito trabalho, afinal, há quantos anos esta situação existe?

    É preciso deixar de lado a desconfiança, o individaulismo, está provado que esta postura exercitada até hoje, não resolveu nada.

    É preciso valorizar as experiências existentes no caso da cadeia da carne bovina (Alianças Mercadológicas, Associações de produtores, Agências de Comercialização) e também outros como o CONSELEITE-PR no caso da cadeia do leite. Todas são iniciativas importantes que precisam ser aperfeiçoadas embora nenhuma seja a solução final.

    O foco hoje, não é o frigorífico, o foco é o fortalecimento do setor produtivo da carne bovina, para estabelecer um equilíbrio de forças e daí sim, em pé de igualdade, buscar o ganha-ganha.

  23. Nadia de Barros Alcantara disse:

    Olá Miguel,

    Mesmo você pedindo, não ha como descordar do seu ponto de vista.

    Realmente o que falta a cadeia da pecuária de corte brasileira é um acordo e um consenso entre os produtores e os frigoríficos, e por mais que tenha que partir de ambas as partes a iniciativa, concordo que o primeiro passo deveria ser dado pelos frigoríficos, por uma questão simples, de que eles são tem uma certa organização e tem o poder de atingir uma gama maior de produtores.

    Realmente se continuarmos nesta quebra de braços, os dois lados sairão perdendo, e acredito também que este concílio deveria se realizar o quanto antes, a fim de que não seja colocada em risco nossa atual posição no mercado mundial, e sim consolidá-la.

  24. Adriano da Silva disse:

    Esta incógnita de quem ganha mais está sendo comentada até pelo consumidor final.

    Como somos os maiores exportadores de carne bovina e nossos produtores, aqui no RS estão sempre queixando-se do baixo preço?

    Infelizmente os pecuaristas, com algumas exceções, não se unem. Os casos de Cite’s (Clubes de Integração e Troca de Experiências) estão dando resultados positivos para seus integrantes, que são produtores unidos que abrem suas propriedades e demonstram erros e acertos para outros integrantes e, com base nestas demonstrações, buscam as melhores formas de manejo e redução de custos na propriedade. Essa é apenas uma das oportunidades de melhorar esta situação.

    De início, parte desses grupos almejam simplesmente uma redução de custos, já que a estagnação econômica na pecuária já se estende a algum tempo e as perspectivas de melhores preços é remota.

    Mas essa experiência já é muita significativa, pois já mostra o interesse de alguns produtores em oferecer qualidade, tanto produtores em grupos, como produtores que levam suas propriedades individualmente.

    Com isso, a responsabilidade do frigorífico já aumenta, pois se alguns reclamam da qualidade dos animais que recebem, já existe no mercado produtos diferenciados, e é do frigorífico o passo principal a ser dado, para que se valorize mais a carne e o produtor seja estimulado a continuar na pecuária. Toda a cadeia produtiva será beneficiada, o consumidor valoriza a qualidade.

  25. leonardo leite de barros disse:

    Caro articulista,

    Infelizmente só conseguiremos um ambiente de cooperação entre produtores e frigoríficos, quando os dois estiverem em posições equivalentes no que se refere a poder de negociação.

    O que ocorre hoje é uma total desarticulação na esfera da produção, em contrapartida a um profissionalismo de gestão por parte dos frigoríficos.

    A produção deve se articular através de associações, acordos de governança, cooperativas, etc, entretanto temos que contar sim com atitudes enérgicas da parte de nossas lideranças, não existe bonzinho neste embate, temos que reagir agora, mas com competência.

  26. Fernando Manhaes disse:

    Miguel, você foi muito feliz no seu comentário.

    O pecuarista deveria esquecer um pouco este ato de querer ir de frente contra os frigoríficos e os frigoríficos deveriam entender mais a situação em que se encontram os pecuaristas e chegarem a um entendimento, pois se continuar esta “guerra” tudo que foi conquistado até hoje com a pecuária será perdido por falta de entendimento entre as duas classes.

    Um abraço,

    Fernando Manhães

  27. EVANDRO SILVA RUAS disse:

    Na minha opinião, há necessidade de profissionalização da cadeia da carne no Brasil, no sentido dos produtores se organizarem em cooperativas de produtores de carne.

    A partir desta organização os aprimoramentos virão com a busca de metas e objetivos, melhor poder de negociação com os frigoríficos, buscando aproximar produtor-frigorífico, fortalecendo este elo da cadeia produtiva.

    Profissionalizar no intuito de valorizar a carne brasileira, usar todo marketing para mostrar as qualidades do nosso produto, buscar novos mercados para o boi verde – greenbeef.

    Exposição não é lugar de show, mas de debates sobre a pecuária de corte.

    Um abraço,

  28. Vigilato da Silva Fernandes disse:

    Acho complexas as questões que envolvem o relacionamento entre as partes envolvidas na cadeia da carne, é notório a existência de uma paradoxo onde houve melhoria sanitária e de produtividade por parte do produtor e conquista de novos mercados pelos frigoríficos que exportam, sem que houvesse capitalização ou remuneração do setor como um todo.

    Seria mais fácil o diálogo entre as partes envolvidas nessa cadeia se o produtor não estivesse na situação em que está, subjugado a imposição de preços baixos aos seus produtos sem o menor estímulo para continuar investindo em qualidade, sem ter a certeza de algum tipo de compensação ou mesmo reposição financeira do investimento realizado.

    Acho que a maior parte das pessoas que lidam com pecuária o fazem também por paixão, mas ninguém está afim de ficar jogando dinheiro fora, a não ser que esse dinheiro seja ilícito e necessite ser lavado?

    De fato, falta à indústria da carne bovina competência na comercialização do produto nos aspectos de marketing, produtos novos, inovações, divulgação de novos produtos de forma interessante, sofisticada mais ou menos o que tem sido feito com o café.

    Seria um caminho interessante para os frigoríficos ao invés de achatarem mais o preço pago ao produtor com imposição de normas punitivas para as carcaças piores e dando a entender que o produto de qualidade seria mais que obrigação, ou seja , sem nenhum tipo de premiação ou incentivo para esses.

    Espero que essas questões possam ser resolvidas de forma rápida antes que o setor produtivo venha a se desestrururar havendo concentração desse setor somente nas mãos dos grandes produtores.

  29. Paulo Cesar Severino de Oliveira disse:

    Sou pecuarista do norte do Mato Grosso e quero acrescentar que os frigoríficos com raras exceções não valorizam o boi bem acabado, pois o preço além de ser o mesmo, uma prática muito comum hoje na nossa região é a devolução ao produtor de gado enviado para o frigorífico onde o produtor arca com todo o prejuízo.

    Acho eu que como o frigorífico, geralmente conhece bem o tipo de acabamento de bois de cada cliente seu, ele deveria valorizar o bom produtor e não usar esta prática do aparta aparta.

    O governo também deveria coibir esta prática, pois ela só vem a prejudicar a imagem da nossa pecuária.

  30. Ricardo Michaelsen disse:

    Caro Miguel,

    Parabéns por nos brindar com mais este belo artigo. Fazemos parte da cadeia do couro e a muito temos enfrentado o problema da qualidade do couro.

    Como bem colocastes estamos num perde/perde, quando poderíamos estar num Ganha/ganha para todos.

    Somos o maior produtor de couros e temos as piores peles, pois nunca chegamos a um acordo. Sempre fica o empurra/empurra. Produz melhor que pagamos melhor/ paga melhor que produziremos.

    Enquanto isso milhares de dólares se perdem pela falta de cuidados com as peles de nossos bovinos,

    Que diga-se também sofrem na tiragem de muitos frigorificos, nos transportes e até em alguns processos de conservação e curtimento.

    É urgente a necessidade de cuidados, para isto esta sendo ministrado pelo CICB um plano de conscientização junto aos produtores, mas seria bom que vocês também batessem mais neste assunto, de vital importância para todos.

    Parabéns pelo belo trabalho de todos do BeefPoint.

    Um abraço

    Ricardo Michaelsen
    Novo Hamburgo / RS