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Representatividade setorial: sustentabilidade e questões com frigoríficos, a experiência da Acrimat no MT (slides e artigo)

Luciano Vacari, superintendente da Acrimat - Associação dos Criadores de Mato Grosso - fala sobre como surgiu a entidade, como ela é organizada, quais os objetivos dela, ações praticadas relacionadas ao ambiente e a sustentabilidade, quais as maiores dificuldades, desafios e conquistas.

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Em 2006, a FAMATO – Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso – contratou a Universidade Federal de Viçosa (UFV) para fazer uma pesquisa no Estado de Mato Grosso, chamada de “Diagnóstico da pecuária de corte de Mato Grosso”, com o objetivo de identificar os problemas e propor soluções para a pecuária do Estado, visto que ninguém tinha a menor idéia do que estava acontecendo nesse setor.

Para isso foram entrevistados mais de 500 pessoas, entre pecuaristas, frigoríficos, revendas, transportadoras, lojas de insumos, governo do Estado e outras associações.

A conclusão da pesquisa permitiu fazer um diagnóstico da cadeia da pecuária no Mato Grosso, indicando que era preciso melhorar mais de cinquenta itens na pecuária, entre eles, “criar uma Associação dos Criadores do Mato Grosso, com enfoque de atuação nos aspectos mercadológicos da atividade e com vice-presidências ligadas a cada uma das atividades.”

Assim, a Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), que já existia há 45 anos, porém com pouca representatividade, resolveu se consolidar e assumir essa responsabilidade. Para facilitar os trabalhos, o Estado foi dividido em oito regiões, com um diretor em cada uma.

Com a preocupação de iniciar o trabalho de forma correta, a Acrimat contratou uma empresa para ajudar a fazer o planejamento estratégico, que foi baseado nas ações propostas pelo relatório da pesquisa.

Para facilitar, foram montadas comissões e subcomissões com ações específicas de trabalho, formadas por 50 membros, não remunerados.
• Comissão de Renda. Subcomissões: Gestão, Logística, Tecnologia e Pantaneira
• Comissão de Crédito
• Comissão de Sustentabilidade Sócio-Ambiental. Subcomissão do Trabalho
• Comissão de Fortalecimento Institucional

Entre as necessidades que constavam no relatório estavam a de promover mobilização estadual quanto à necessidade de discutir os procedimentos de rastreamento e o SISBOV e a de organizar o diagnóstico do meio ambiente de Mato Grosso ligado à atividade dos pecuaristas.

Para Luciano Vacari, existe a possibilidade de usar o SISBOV também como uma ferramenta de gestão, pois se tem controle do número de animais e de alguns procedimentos das propriedades. Mas a maioria dos produtores só se preocupa com o bônus que os frigoríficos pagam.

“O SISBOV é um sistema extremamente burocrático, e não tem estrutura operacional nenhuma, com fazendas aguardando há quase um ano a auditoria do Ministério da Agricultura.”

Com a preocupação maior em desenvolver as questões técnicas, e não discutir idéias, a Acrimat contratou uma empresa para fazer um levantamento de todas as áreas de pastagens do estado.

A análise desses dados permitiu observar alguns fatores até então desconhecidos. Por exemplo, no período 1996 a 2008 a área de pastagem aumentou 18% enquanto que o rebanho aumentou 66%, mostrando que, tecnicamente a pecuária melhorou, ainda que tenha muito a melhorar.

Os dados também revelaram que o aumento da produtividade, evitou o desmatamento de 6,62 milhões de hectares para a abertura de novas áreas. Atualmente, o estado de Mato Grosso possui 64% de área preservada, como mostra o gráfico a seguir. “Todo mundo fala de passivo ambiental, mas no MT existe um ativo ambiental.”

Hoje, a Acrimat assume a posição de defender a sustentabilidade, com argumentos, mas é preciso colaboração para ajudar a difundir, e discutir esses dados. Com isso, será possível interferir em políticas públicas e argumentar com as ONGs, por exemplo.

Nesse sentido a Associação vem participando do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável onde ONGs, bancos, varejo, frigoríficos e associações de produtores – em menor número – buscam discutir questões ligadas à sustentabilidade. “A grande lição que estamos tendo é que os caras não mordem”. O grande ponto é que estas discussões precisam ter embasamento técnico e em informações corretas.

Outra demanda que a pesquisa indicou, era de adotar um modelo de difusão tecnológica, baseado na utilização de propriedades-piloto, com ênfase ao adequado manejo alimentar, reprodutivo e na formação de pastagens.

Através de uma parceria com a Embrapa, foi implantado o programa BPA – Boas Práticas Agropecuárias – em 16 propriedades.

Para auxiliar os pecuaristas na questão de administração, a Acrimat elaborou um software de gestão, chamado GPS – Gestão de Propriedades de Sucesso – com uma linguagem simples, juntando a experiência de um pecuarista com a de um economista. É gratuito para os pecuaristas e ao final do ano cada propriedade recebe um relatório de como está a propriedade e o que precisa ser feito.

Outra necessidade era a de realizar um levantamento e caracterização das propriedades rurais, a fim de se conhecer melhor a realidade local e melhorar o direcionamento das ações e, ou, políticas de desenvolvimento setorial. Com isso, é possível saber aonde o animal nasce, aonde é feita as fases de recria e engorda e aonde ele é abatido. Descobriu-se, então, que do total de propriedades do estado, 33% tem até 30 cabeças.

Com o passar dos anos, e devido aos novos acontecimentos no cenário nacional e internacional, a Acrimat passou a incorporar mais itens ao planejamento estratégico. Quando ocorreram os problemas econômicos dos frigoríficos, a associação participou de todas as discussões com os credores, pois esse fato influenciou profundamente na pecuária.

Com a quebra, 15 frigoríficos fecharam, houve um rombo de 120 milhões de reais, 40% da capacidade de abate foi paralisada e 5.000 trabalhadores diretos mandados embora. Como resultado, a comercialização nas regiões noroeste e nordeste do Estado ficaram inviabilizadas. A cidade de Barra do Garças que sempre apresentou o preço mais valorizado da arroba, hoje tem o mais barato, porque só há um frigorífico atuando. A Acrimat propôs então a redução do ICMS para abate em outro estado, o que tornaria o gado mais competitivo, apesar do descontentamento dos frigoríficos.

O relacionamento entre pecuarista e frigorífico sempre foi muito ruim, ainda que hoje seja possível manter um diálogo. Por isso é que as entidades devem estar presentes, para cobrar, pois o Estado é muito grande, e as ações acontecem muito devagar.

Os principais desafios que a Acrimat considera para os associados é a sustentabilidade: ambiental, social e econômica, mostrando que não se pode desconsiderar o desenvolvimento e os avanços que a pecuária proporcionou ao Brasil.

No cenário atual da pecuária, é preciso de estratégias para manter o produtor na propriedade, fazendo gerar lucro com o negócio, pois muitos já abandonaram a atividade, migrando para outra mais lucrativa. É preciso mudar a situação do produtor, que hoje está marginalizado, oferecendo o tratamento com o respeito que eles merecem.

Em relação à prestação de contas, a Acrimat se preocupa em mostrar tudo ao seu associado. Uma vez por ano, em outubro, é feita uma reunião para decidir o destino dos recursos para o ano seguinte. Além disso, as prestações detalhadas das contas ficam disponíveis no site da Associação. Também, segundo o estatuto, não é possível a reeleição e a perpetuação do presidente.

A Acrimat possui 2.000 associados, o que representa 28% do abate do Estado, mas gostariam de ter de 5 a 10 mil associados, para essa mesma porcentagem de abate. É comum levarem alguns pecuaristas nas reuniões, para que eles voltem as suas regiões e levem o que aprenderam. Como o Estado é muito grande, existem limitações, inclusive financeiras, para chegar a todos.

O perfil do associado que eles desejam, é um pecuarista de vanguarda – difícil de encontrar, pois a maioria é extremamente conservadora – participativo, que tenha disposição em doar seu tempo e passar suas experiências, a fim de melhorar a pecuária do Estado.

Esse artigo é baseado na palestra Representatividade setorial: sustentabilidade e questões com frigoríficos, a experiência da Acrimat no MT, apresentada por Luciano Vacari, superintendente da Acrimat, no Workshop BeefPoint Associações de Pecuaristas , realizado pela AgriPoint em 21 de maio 2010.

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