Por Fernando Penteado Cardoso 1
Dias atrás, perguntaram se valia a pena promover um levantamento da área remanescente de floresta no Estado de São Paulo, a fim de ser re-examinada a exigência de uma reserva obrigatória de 20%.
Ao manifestar minha concordância com o estudo referido, que considerava viável com os recursos disponíveis de imagens espaciais, ponderei o que segue:
1- O valor ora adotado de 20% de reserva obrigatória é um número esotérico, sem qualquer base na realidade, sem qualquer estudo prévio. Alguém inventou o número 20 assim como poderia inventar o número 10 ou 5, sem qualquer base técnica, sem apoio na realidade. Nas áreas agrícolas do estado de SP não existem 20% de floresta a preservar e o cumprimento dessa exigência implicaria em converter áreas produtivas em novas florestas plantadas. Nesse caso, quem iria pagar a conta?
2- A expansão da cultura de cana vem sendo feita com aproveitamento de áreas de pastagens formadas 40 ou 50 anos atrás. Tem motivos econômicos de um desenvolvimento agrícola normal. Não há prejuízo das florestas remanescentes.
3- Aceita-se o conceito de que a floresta deve ser preservada. Pergunto: preservar para que? Pelo clima? Pelos bichos? Pelo conforto? Para passear? Pelo orgulho de possuir um pedaço de mata? De maneira geral a mata significa pobreza. Só removendo a mata é que deixamos penetrar luz para promover a fotossíntese e ensejar a produção. Debaixo da mata só há pobreza, não existe nada. Até os índios são pobres, muito pobres e para comer plantavam mandioca em áreas desmatadas.
4- Tenho dúvidas sobre se a floresta influi sobre o clima, inclusive o da Amazônia. Se toda a água das chuvas se originasse da floresta, não poderia correr para o mar nos volumes que corre. Só a evaporação da mata seria insuficiente. As chuvas que caem sobre a Amazônia vêm todas do mar, vêm das correntes aéreas que trazem a umidade e resultam em precipitações.
Deve ficar claro também que a floresta em equilíbrio não contribui para o seqüestro de carbono, como erroneamente se menciona. A vegetação da mata fixa CO2 na mesma proporção em que é reciclado pela decomposição dos resíduos vegetais. Não fosse assim, ou a floresta teria dimensão descomunal, crescendo sem parar, ou a montanha de resíduos alcançaria a copa das árvores, acumulando-se sem se decompor. Quando se queima, realmente há uma emissão de CO2, em boa parte reabsorvido pela vegetação subseqüente, seja capoeira, seja plantação ou pastagem.
5- Exigir 20% de reserva florestal nas áreas agrícolas do estado de São Paulo é uma utopia. Se tivermos remanescentes florestais, vamos preservá-los com a condição de que a sociedade fique com o ônus. Não há razão para que um agricultor, que eventualmente tenha uma reserva em solo agricultável, somente ele fique com o castigo de não poder dar a essa área uma função econômica.
É louvável que se promova um estudo a ser executado por órgãos especializados. Aliás, qualquer pessoa pode ter uma boa idéia sobre os remanescentes florestais através de programas gratuitos na internet como o Google Earth, que está à disposição de qualquer uma de nós.
A sociedade, através dos governos, deve desapropriar e pagar as florestas que pretende preservar.
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1 Fernando Penteado Cardoso, Engenheiro Agrônomo Sênior, pecuarista em Mogi Mirim / SP
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Em meio a tanta ignorância e insensatez que infelizmente têm ganhado espaço na mídia, afinal a manifestação serena, lúcida e competente de quem conhece o assunto sobre o qual está discorrendo. Nosso aplauso e congratulações ao dr. Fernando, como sempre indo direto ao âmago da questão.
Como tudo no Brasil, esta é mais uma ação demagógica, pois o governo deveria se preocupar em manter as florestas que ainda existem, coisa que não faz, e agora quer bloquear áreas produtivas? É piada…
Prezado Fernando,
Concordo com sua argumentação e sinto que a classe agropecuária não tenha o espaço em mídia suficiente para defender-se.
O BeefPoint está de parabéns pela iniciativa de publicar seu artigo e penso, devemos continuar a policiar essa idéia absurda e descabida de replantio de árvores em SP.
Um abraço,
Paulo Loureiro
Parabéns pela excelente matéria.
Não é possível revertermos de uma só vez todos erros cometidos no passado. Merece nossa gratidão todo esforço e luta dos nossos antepassados, abrindo espaço mata à dentro, descobrindo as riquezas que hoje desfrutamos. Há de se avaliar também, as conseqüências que isto já está nos trazendo e o que poderá trazer futuramente às nossas próximas gerações. Creio num consenso onde possamos reparar gradativamente os excessos cometidos, onde a falta de informação, a obstinação em ver tudo aberto, onde o espírito de conquista falou mais alto que as conseqüências futuras. Este é o preço do nosso progresso!
Sim vamos recuperar, vamos corrigir, vamos produzir de forma eficiente e profissional. Não há necessidade desgastes calorosos, apenas e tão somente conscientização. Pense na sua fazenda, naquela parte dela onde a declividade é acentuada, onde abrigam as nascentes, onde outras inúmeras espécies de animais e de vegetais necessitam de seu habitat natural para sua permanência. Reestruture sua atividade, busque mais produtividade, cuide mais daquilo que você já tem, veja o exemplo do Paraná. Aqui na terra roxa de alta fertilidade, há poucos anos atrás, produzia 100 sacas de milho, 80 sacas de soja por alqueire. Hoje nesta mesma área, nesta mesma fazenda se produz 350 a 400 sacas de milho, 120 a 140 sacas de soja, e por aí afora. Temos muitos pecuaristas abatendo seus animais com idade entre 13 a 18 meses com 15 a 18@ de carcaça, carne de excelente padrão internacional e plantéis com altos índices zootécnicos. Isto prova que é possível superarmos todas adversidades, inclusive a redução da área de produção, compensando com a tecnologia disponível para incremento da produtividade, garantindo um futuro mais promissor às nossa futuras gerações.
Fazer é melhor que filosofar. No Mato Grosso, uma iniciativa inédita juntou pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa da Amazônia) e produtores da região do Xingu em uma ONG chamada Aliança da Terra, para construir um processo de recuperação das APPs (Áreas de Proteção Permanente), avaliação da qualidade de águas e de conservação do solo através de um plano de manejo com acompanhamento de pesquisadores e pelo produtor aliando o conhecimento empírico e prático. É uma forma de assumir um compromisso socioambiental de curto prazo, e ao invés de fazer críticas, os ambientalistas podem conhecer de perto o processo produtivo e criar formas de produzir sem agressão aos recursos naturais.