Vou tentar retirar o emocional, lembrando que muitos pecuaristas permaneceram na atividade graças a esta paixão, pois se fosse baseado exclusivamente no retorno financeiro, um número maior de pecuaristas teria reduzido sua atividade pecuária ou se retirado dela.
Uma pergunta.
Vou tentar retirar o emocional, lembrando que muitos pecuaristas permaneceram na atividade graças a esta paixão, pois se fosse baseado exclusivamente no retorno financeiro, um número maior de pecuaristas teria reduzido sua atividade pecuária ou se retirado dela.
Sendo o Brasil o formador (balizador) dos preços mundiais da carne bovina, por ser o maior exportador e a luz do divulgado aumento médio de 40% nos preços das carnes bovinas, em US$, somente em 2008, pergunto, por que os frigoríficos não anteciparam estas altas da carne exportada, já em 2006 ou 2007?
Foi necessário gerar um crise no setor produtivo, com o conhecido e monitorado abate excessivo de fêmeas. Efeito dos preços abaixo do custo de produção, forçando o pecuarista a matar sua máquina de geração de bois. Se houvesse racionalidade quanto a todos da cadeia usufruírem de lucro, poderíamos ter economizando muitas vidas de matrizes e teríamos hoje um rebanho produtivo maior.
No meu entendimento, os frigoríficos optaram pelo caminho cômodo de pressionar para baixo os preços aos pecuaristas ao invés trabalhar por elevações junto aos importadores.
No passado, frigoríficos e imprensa, alardeavam que o Brasil era o maior produtor de carne bovina e produzia pelos menores preços. Faltou dizer que era a custa do abate de nossas matrizes e da dilapidação do patrimônio dos pecuaristas na razão inversa ao crescimento do patrimônio dos frigoríficos.
Um amigo que trabalhou em indústria multinacional, me afirmou, não é necessário muita competência para vender produto nobre barato! O difícil é exigir preço. Com o agravante, que na carne bovina somos o maior exportador e não existe quem possa nos substituir em volume.
Então por que vender carne barata? Os frigoríficos estavam com suas margens garantidas, mas e o pecuarista? Tal fato se explica quando temos apaixonados produzindo, dispostos a vender abaixo do custo total de produção e acrescidos da falta de cobrança aos seus representantes de classe e omissão de muitos, sejam representantes ou representados.
A citada concorrência desleal dos importadores de gado em pé frente aos frigoríficos exportadores, faltou citar os benefícios fiscais usufruídos por estes. Com relação aos subprodutos, em especial o couro, séria lógico remunerar de forma diferenciada o pecuarista, segundo sua qualidade e agregação de valor. Com o chavão: “está tudo incluído no preço do quilo do boi”, indiferente da qualidade, não podemos pretender uma evolução.
Reafirmo que no RS, os preços ofertados aos pecuarista somente começaram a se elevar após as primeiras exportações de gado em pé, seguido das evidências de redução de rebanho e oferta, efeito do abate excessivo de fêmeas. Fato agora evidenciado a nível de Brasil.
Finalizando, quanto as afirmações do mercado estabelecer livremente os preços dos bovinos, sem interferências, não vamos nos esquecer das condenações de vários frigoríficos pela formação de cartel, segundo parecer do CADE.
0 Comments
Não sei se isto acontecia aí no Sul, mas um outro fator foi o SISBOV, com o qual os firgoríficos ganharam os tubos ao fazer a fatídica pergunta:
– Seu boi tem brinco?
Até o açougueiro do Frigomato se beneficiava disso, ao dizer que os preços de referência eram os de “gado rastreado”. Com isso ofertavam 50 reais a menos por rês, e 90% dos négócios eram fechados.
Ponha aí 20 milhões de cabeças por ano e são muitos milhões – quase bilhão de reais por ano transferidos de nós para eles. Eis aí o tamanho do prejuízo que os apoiadores do SISBOV infligiram à pecuária nacional. Isso é muito dinheiro, suficiente para sustentar interesses dos mais variados intermediários.
A coisa já é difícil quando somos apenas nós contra os frigoríficos, numa negociação penosa, mas com a qual estamos acostumados. Quando entra a intervenção governamental desastrada a coisa desanda. Surge o fantasma do desabastecimento, mercado negro, quebradeira etc. Por sorte o momento internacional é favorável à carne, mas isso um dia pode acabar.
Temos que aproveitar este momento róseo para conseguir agora a derrubada desta lamentável rastreabilidade discriminatória e elitista, com obrigação de identificar cada rês.
Vamos retornar ao modelo que sempre existiu e sempre foi aceito pela UE e, até hoje, pelos nossos outros parceiros comerciais. Com GTA, nota fiscal e SIF. Simples, inclusivista, amigo. Vamos inundar os mercados com a carne de melhor qualidade sanitária do mundo. Atestada e rastreada de maneira simples e confiável.
Prezado Humberto de Freitas Tavares,
Saiba que apenas em falar no tal SISBOV me causa arrepios.
A tempos atrás escrevi um longo artigo no BeefPoint, exatamente em linha com o citado pelo senhor. Ou seja basear nossa comercialização na nota fiscal de produtor, GTA e marca a fogo ou identificação equivalente.
O sindicato do qual faço parte, reportando a vontade da ampla maioria dos seus associados adota esta linha de postura e defesa, em conjunto com vários sindicatos rurais representado mais de 60% da pecuária gaúcha.
Por este fato apoiamos os trabalhos realizados pelos Dep. Heinze, Caiado e Lupion no relacionado a rejeitar o atual sistema de rastreabilidade. Cabe ressaltar que no RS existem interesses conflitantes, relacionados ao SIRB (Sistema integrado de rastreabilidade bovina), utilizado pela maior certificadora local, com benefício financeiro pela concessão do uso, a órgão representativo de classe dos pecuarista gaúchos.
O Sr. não faz idéia das acaloradas discussões que este fato tem gerado no meio sindical. Acrescento ainda que quando presidente do Sindicato Rural de Caçapava, e antes da normatização da IN 17 e algumas anteriores, quase imploramos a Federação, por ofício e conversas, para que ouvissem os produtores e permitissem nossa participação. Em vão, nem resposta recebi, os auto denominados “iluminados”, que tudo sabem e tudo podem, venceram.
Deu no que deu, 22 normativas, que não servem a grande maioria dos pecuaristas e um rastro de prejuízos a estes, ainda em andamento.
No RS temos uma particularidade, em torno de 50% dos abates, ocorrem através de frigoríficos ou abatedouros com inspeção estadual ou municipal, os quais não exigem rastreabilidade, e frequentemente pagam valores superiores aos frigoríficos exportadores, que a exigem, sob pena de redução nos valores, dependendo da sua necessidade e relação com o fornecedor.
Nossa classe está começando a se dar conta das manipulações que sofremos via tentativa de controlar nosso estoque (bois para abate), geração de dificuldades a exportação, terrorismos de mercado, férias coletivas, crises referentes a focos de doenças bovinas e conseqüentes vetos após negados ou amenizados, por vezes com no mínimo a omissão do governo. Sem falar nos números oficiais da pecuária que alardeavam um rebanho acima de 205 milhões de cabeças, e ainda hoje o IBGE não consegue evoluir da “previsão preliminar” dos 169,9 milhões. Um estoque 20% inferior ao estimado já seria suficiente para elevar os preços.
Pergunta, até onde isto favoreceu o governo, através de comida artificialmente barata para a grande massa de votantes. Percebe-se o quanto é importante o produtor estar bem informado, cobrar e participar de suas entidades de classe.
Obs.: Se algum mercado exigir mais do que o citado para importar nossa carne, que especifique o pretendido e nos diremos o custo adicional desta excepcionalidade.
Um abraço ao colega,
Julio M. Tatsch
Amigos, concordo com tudo que foi dito até aqui e gostaria de colocar mais um ponto nessa discussão.
Grande parte da escassez recente de gado para abate refere-se ao elevado abate de matrizes, frente ao baixo preço observado nos últimos anos. Outra parte da escassez é que não se vê abate de novilhas, pois em época de bezerro a R$ 800 todo mundo quer criar.
Num primeiro momento isso é bom, mas causará uma enxurrada de bezerros daqui um tempo.
Por que é que a maioria de nós, pecuaristas, colocamos mais e mais novilhas para serem cobertas se sabemos que isso ocasionará super produção em algum momento do futuro?
Não seria essa atitude um tipo no pé?
Atenciosamente.
Com tanta gente graúda e entendida opinando pelo assunto aí em cima, fico com receio até em dar meu comentário, mas vou arriscar, a meu ver os índices que aparecem todos os dias nos mais variados sites que fornecem o preço da arroba em todo o Brasil, inclusive os da Bolsa de Valores e CEPEA, tinham que ser referentes ao gado sem rastrear (que é a imensa maioria do gado nacional), e sem nenhum tipo de desconto de imposto algum (imposto este que já está mais que pago pelo produtor), quem quiser gado rastreado, que pague 15 % a mais em arroba.
Julio aqui no Oeste da Bahia está acontecendo a mesma coisa em relação as vacas, pois os pecuaristas em vista do preço baixo que estava a arroba do gado venderam as matrizes.
Mas hoje já estamos enfrentando a escassez de terneiros e amanhã: teremos problemas de reposição porque só daqui a 2 ou 3 anos para que tenhamos uma oferta melhor de terneiros.
A escasses de terneiro é tão grande que já saiu em torno de 800 mil reses aqui da região oeste da Bahia este ano, e este gado está indo sabe para onde:
Para, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Minas Gerais, Distrito Federal, tendo eles que vir aqui buscar este gado.
E a gente se pergunta: por que os frigroríficos não pagaram na época preços melhores para os pecuaristas, ou seja, mataram a galinha dos ovos de ouro, e agora estão reclamando que não tem boi para matar.
Até quando os frigroríficos estarão nos explorando, ao invés eles deveriam nos tratar com dignidade e nos ver como parceiros deles, pagando preços justos em épocas boas e ruins.
Vamos enfrentar todas essas dificuldades, mas o importante é que a população esteja tendo conhecimento desta realidade, temos que divulgar mais esta realidade.
Abraços.
Agnaldo, já fiz este mesmo comentário. Os preços que eles apresentam para gado em Goiás não são para gado rastreado coisa nenhuma.
Aliás não existe mais isso por lá. Os coitados que rastrearam todo o gado pensando em tornar-se ERAS, e mandaram gado para parceria com um dos grandes frigoríficos com ações em Bolsa de Valores, receberam a recomendação de arrancar os apêndices auriculares antes de enviar o gado para o confinamento.
Interesses conflitantes, Júlio? Bota conflitante nisso.
Há dias critiquei, aqui no BeefPoint, a posição do presidente da FARSUL, movimentando-se para manter o SISBOV “opcional”. E com isso dar aos frigoríficos o poder de continuar a perguntar se o nosso boi tem brinco.
Quem quiser entender os meandros da questão, basta verificar a rapidez estonteante com que a CNA fechou um acordo de exclusividade com uma certificadora, 20 dias após assinada a portaria que criou o SISBOV.
Ganha um doce quem adivinhar o nome da empresa.
Caros colegas
Inicialmente gostaria de agradecer a todos, pois creio que esta troca de informações e entendimentos seja proveitosa a todos. Também faço um agradecimento em particular ao Beef Point, por nos proporcionar este tão valioso espaço. Da mesma forma que me causa espanto alguns sites de representações de nossa classe, cujo custo benefício é no mínimo duvidoso.
Prezado Leonardo R.S. Bacco, quanto a sua pergunta se a atual redução no abate de fêmeas não traria problemas futuros a renda dos pecuaristas e não seria um tiro no pé. Não pretendo ampliar a discussão. Mas a sua lógica está correta. Frigoríficos somente entendem a linguagem da falta. Não existe outra explicação para a melhora nos preços pagos aos pecuaristas. Graças a Deus, temos uma demanda mundial crescente por proteínas, que provavelmente corrigirá em parte nossos erros.
Relato ao amigo que arrumei discussões homéricas em reuniões sindicais, questionando a vantagem dos financiamentos para retenção de matrizes. Pois, em utilizando tais financiamentos, passaríamos a produzir com um custo maior e de quebra ofertaríamos mais produto que redundaria em queda nos preços ofertados aos pecuaristas. Ou não? Entendo que temos o Incra na nossa cola, exigindo produção, mas primeiro vem a sobrevivência financeira. Também tenho presente que falo de RS, onde rebanho de 500 cabeças são considerados de médios a grandes.
Ao duas vezes colega, Sr. Leoncio V.Silveira Filho, comungo de sua preocupação quanto a percepção do grande público (votantes, que em última análise traçam nosso futuro), quanto aos reais vilões desta conhecida história dos ciclos pecuários, tendo como pagantes pecuaristas e consumidores. Nossos carrascos além de prestarem este desserviço a nação tem o desplante de querer pousarem de vítimas.
No RS, no início de 2008, estampava na capa de um jornal de grande circulação estadual, duas notícias, o embarque de uma carga de bovinos ao Líbano e o anúncio de demissões em um Frigorífico por fechamento. Os anos me ensinaram a duvidar do acaso.
Recomendo matéria: “Retrospecto necessário” da Sra. Marta F.S.Costa
Grande abraço e muito obrigado pela oportunidade
Julio M. Tatsch – Agropecuarista no RS e Agr°
Vocês já ouviram falar da vingança do Chico Mineiro? Pois é, e já tem frigorífico quebrando por aí. O que também não é bom para nós, mas serve para alerta aos predadores frigoríficos que deram um tiro no pé.