Há um divisor de águas na pecuária brasileira. De um lado a indústria frigorífica, enfronhada no comércio internacional de carnes, lucrando milhões de dólares, após o Brasil ter se tornado o maior exportador do globo. Do outro lado, o produtor, que não sente no bolso os reflexos do apogeu conquistado pelo produto de seu trabalho.
A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), contabiliza retração de 2% na cotação da arroba do boi em relação ao ano passado. As exportações avançaram 77% atingindo 1,6 bilhão de dólares de janeiro a agosto. A cotação brasileira da arroba gira em torno de US$ 19, nosso vizinho Uruguai tem a arroba valorizada em até US$ 30.
Os custos de produção, ao contrário, seguem em alta, avançaram quase 8%. Tornando impossível o enriquecimento através da pecuária de corte no País.
“A maioria dos pecuaristas ainda vive da relação de troca. Dá um boi por 3 bezerros e fica feliz”, diz Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria. “Se calculasse na ponta do lápis quanto gasta e quanto ganha, veria que a conta não fecha”.
Segundo uma análise simples de custo e receita feita pela Scot, apenas quem trabalha com a engorda dos animais apurou lucro, mesmo assim, inferior a 4%. Os criadores de bezerros são os mais prejudicados, amargando os maiores prejuízos. A conta é simples: R$ 1.200 (ganho com a venda de um boi) – R$ 380 (compra de um bezerro) – R$ 800 (custo para engordar o animal durante um ano e meio = R$ 20 (retorno por animal, equivalente a 3,7% por cabeça).
“Comparadas com outras áreas do agronegócio, a pecuária é um dos piores investimentos para o produtor”, diz Torres.
Segundo o consultor, muitos pecuaristas investiram nas mais modernas técnicas de produção. Lançando mão de sistemas de confinamento e projetos que permitem aumentar a ocupação das pastagens. Estes têm produtividade acima da média, podendo ganhar até 1.000 por hectare em um ano. No entanto, a maioria dos produtores ganha R$ 80 por hectare. Resultado pífio se comparado com o da agricultura.
Cruzando os braços e arrendando as terras para o cultivo da soja, o pecuarista irá ganhar em média R$ 300 por hectare. “Numa decisão drástica, muitos produtores simplesmente estão abandonando a pecuária”, diz Antenor Nogueira, presidente do Fórum Nacional da Pecuária de Corte e da CNA. “Cerca de 20% das áreas de pastagem foram ocupadas pela agricultura no ano passado”, revela Nogueira.
Fonte: Revista Exame (por Alexa Salomão), adaptado por Equipe BeefPoint
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Eu particularmente gosto muito de ver nas revistas “urbanas”, matérias sobre o agronegócio no Brasil. Até porque a tempos atraz, me indignei ao ver uma pesquisa na “Exame” onde os fazendeiros eram a segunda classe que mais prejudicava o país. Isso hoje esta mudado, pois o agronegócio é o lastro das exportações nacionais, mostrando um pouco mais da realidade da agropecuária, e não só aquelas fazendas com mão de obra escrava, latifundiários improdutivos, grileiros e “coroneis” da roça. A “Veja” mesmo tem hoje na sua capa uma foto que enche os olhos de qualquer agricultor ou pecuarista, com mais de trinta colheitadeiras fazendo a colheita e doze tratores atraz, plantando.
Mas vamos deixar a paixão de lado e vamos falar do que interessa. Quando vejo esses números, que até já comentei a algum tempo atraz, me lembro do que já aconteceu no leite em tempos recentes. Em nome da qualidade do leite, foram jogados no colo do produtor uma série de custos que não eram dele, como resfriar o leite e granelizar o transporte ( com investimento em tanques resfriadores e consumo de energia), manter a produção de leite no inverno ( a custos mais altos com nutrição), melhorar a qualidade da mão de obra, genética, etc, mas a remuneração não acompanha nem de perto o aumento de custo.
No corte hoje vejo algo parecido acontecendo. O produtor investindo em tecnologias novas, correção de pastagens, genética, confinamentos, melhoria da qualidade da carne, rastreabilidade, tudo isso com aumento de custo na produção, e na verdade quem acaba ganhando com isso é o frigorifico que não paga nada a mais por tudo isso, tanto que os valores da arroba nunca tem um aumento real (como o aumento dos insumos), por exemplo, o boi rastreado recebe um bonus no seu valor ou o não rastreado é que é penalizado com valor mais baixo? É só fazer uma pesquisa dos preços históricos da arroba, que veremos a realidade. Os valores médios não mudam, quando consideramos o valor do boi rastreado. Outro dado interessante. Quantos produtores já receberam algum bonus devido a exportação dos seus animais?
Tambem já falei aqui no site que os tamanduás são muito mais inteligentes do que muito empresário. O tamanduá NUNCA mata o formigueiro, para que seu alimento NUNCA acabe. Não é o que fazem muitos empresários de laticinios e frigorificos no nosso pais. Se os pecuarista sairem da atividade, quem vai vender os bois baratos e o leite mais barato do que agua?
Espero que todos acordem a tempo.
Infelizmente, parece que o Brasil é o único país do mundo onde não há incentivo para produzir e exportar. Desde o início deste ano houve inúmeros motivos para fazer com que o preço da arroba aumentasse, mas ao contrário, só diminuiu. Enquanto nos nossos vizinhos uruguaios e argentinos, com a retomada da exportação, o preço disparou. Até quando vamos suportar isso?