Por Oberdan Pandolfi Ermitã1
É tecnicamente reconhecido que a linha que mede a relação entre taxa de lotação e ganho de peso por animal e por área (produtividade), declina violentamente para zero, sempre que a capacidade de suporte ideal é ultrapassada (Gráfico I). Tal fato se explica devido à incapacidade das gramíneas se regenerarem sob pressão constante de pastejo. Alguns estados pecuários como Goiás e Mato Grosso do Sul têm mostrado, nos últimos anos, estabilidade no rebanho ou mesmo sua regressão face ao esgotamento da taxa de incremento de suas pastagens.
1- Elevação na taxa de desfrute, com a ampliação e instalação de novas plantas frigoríficas no estado, para dar flexibilidade à capacidade de abate e com isto maior controle sobre o crescimento do rebanho;
2- Facilitar a saída de animais vivos para outros estados. Em especial de fêmeas jovens, por exemplo por meio de alíquota de ICMS diferenciada; e
3- Elevar a produtividade das nossas pastagens. Por meio de campanhas institucionais e incentivos públicos.
Ainda projetávamos, como condição para estabilizar os índices de produtividade do rebanho, que deveria ocorrer, conjuntamente com as medidas anteriormente destacadas, abate de aproximadamente 1,7 milhões de cabeças durante o ano de 2004. Por outro lado, caso tais medidas não fossem adotadas, alertávamos que o “o mecanismo de ajuste desta problemática será, por um lado, a redução do índice de produção do rebanho e, por outro, o rebate nos preços forçará muitos pecuaristas a migrarem para outras atividades”.
Infelizmente, conforme podemos observar na Tabela 2, a taxa de produção do rebanho sofreu redução de aproximadamente 11% entre 2002 e 2004. No mesmo período, a taxa de natalidade que era de 70,4%, superior à média nacional, baixou para 67,3%.
Para se ter uma perfeita noção do prejuízo causado à economia do estado, em função destes indicadores, com a redução da taxa de produção do rebanho, Rondônia deixou de produzir aproximadamente 502 mil cabeças entre 2003 e 2004. Relevante salientar que como se trata de índices de produtividade, estas 502 mil cabeças, que equivalem à R$ 357 milhões, são recursos líquidos que os produtores deixaram de receber.
Cabe indagar o porquê a pecuária do estado de Rondônia vem caminhando para este cenário indesejável, de retrocesso? O principal motivo é a pequena remuneração auferida pelo produtor, fruto do poder de mercado exercido pelas indústrias frigoríficas do estado, que explicam em grande medida o porquê das observações anteriores terem se frustrado. Senão vejamos.
Conforme o Gráfico 2, em 2003, a remuneração do produtor no estado de São Paulo foi 22% superior ao do produtor em Rondônia. Em 2004, esta diferença se ampliou para aproximadamente 26%, crescendo 4 pontos percentuais. O gráfico também apresenta a comparação em relação ao estado de Mato Grosso, em que se percebe que a diferença cresce mais de 3 pontos percentuais na comparação 2001/2004. Para se ter uma idéia, caso nossa diferença em relação ao Mato Grosso tivesse se mantido no mesmo patamar do ano de 2001, o preço médio da @/boi em Rondônia teria sido R$ 50,00, e não os R$ 48,00 que tivemos na média do ano de 2004. Isto significou prejuízo de mais de R$ 40 milhões para a economia do estado somente em 2004.
Esta realidade se torna mais evidente quando comparamos nossa situação em relação ao estado do Pará. Em 2001, a @ do boi do produtor rondoniense foi remunerada em média 5% a mais que a do produtor paraense. Para nossa surpresa, esta diferença praticamente desapareceu, chegando a pouco mais de 1%, na média do ano de 2004. Relevante salientar que o estado do Pará não está livre da febre aftosa, ao contrário de Rondônia, que desde 2003 é reconhecida internacionalmente como zona livre.
Diante dessa interferência no mercado de Rondônia, tendo como remuneração pela @ valor que não condiz com a realidade do mercado, o produtor rondoniense tende a segurar ao máximo os animais para abate, na expectativa da melhora dos preços, colocando à venda somente a quantidade de animais que atendam suas necessidades financeiras, fazendo com que o abate em Rondônia seja bem inferior ao seu potencial.
Conforme podemos observar no Gráfico 3, a curva de oferta de animais para abate pelo produtor é inclinada para cima, à medida que o preço da @ se eleva, o produtor tende a colocar à venda a maior quantidade de animais possível, e quando o preço diminui, tende a ofertar menos animais. Já a curva de demanda dos frigoríficos, tem comportamento inverso, estes estão dispostos a comprar mais animais, quanto menor o preço da @ pago ao produtor. Quando o mercado é competitivo, este choque de interesses contrários leva a uma situação de equilíbrio no mercado.
Este menor abate, resultou em manutenção da taxa de desfrute no mesmo nível dos anos anteriores. Conforme argumentado anteriormente, a elevação da taxa de desfrute era premissa para manutenção dos índices de produtividade do nosso rebanho, fato que não ocorreu. Com a elevação da taxa de lotação, sem remuneração suficiente para ampliar os investimentos em melhoria e incremento da capacidade de suporte das pastagens o resultado não poderia ser outro, diminuição dos índices de produtividade do rebanho.
Esta realidade poderia ter sido amenizada pela saída de animais do estado e pelo incentivo público à ampliação da produtividade das pastagens. Pelo contrário, conforme registros do IDARON, em 2004 saíram do estado somente 14.202 cabeças, número pouco expressivo quando cotejado ao tamanho do rebanho e tampouco houve qualquer tipo de incentivo ao produtor.
Infelizmente, tudo indica que a perspectiva para os próximos anos não sejam as melhores. A Tabela 3 apresenta a capacidade instalada e projetada de abate no estado para o período 2005/2007, também projeta o abate necessário para que haja estabilização do crescimento do rebanho em função da tecnologia existente e da área de pastagem disponível. Portanto, para que não haja redução ainda maior nos índices de produtividade será necessário abater mais de 2 milhões de cabeças já em 2005. Número impossível em função da capacidade de abate instalada.
1 – Medidas de curto prazo:
a – Liberar a saída de animais;
b – Financiamento para adubação;
c – Comissão para negociar com os frigoríficos critérios de limpeza e alternativas para agregar valor;
d – Governo criar comissão permanente para discutir e propor alternativas para o setor.
2 – Medidas de médio e longo prazo:
a – Gradual desconcentração do setor com incentivo ao surgimento cooperativas e mais indústrias, de outros proprietários
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1Oberdan Pandolfi Ermitã é economista da Método Consultoria Ltda.
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Prezado Oberdan,
Parabéns pela análise. Os números estão aí, não há como contestá-los. Demonstra-se, assim, a importância do trabalho que vocês vêm desenvolvendo.
Um abraço,
Fabiano