O Rio Grande do Sul completou ontem (18) um ano sem registro de febre aftosa. A doença, que atingiu o rebanho gaúcho em dois episódios distintos, 2000 e 2001, e trouxe prejuízos de ordem econômica e social ao Estado, é assunto do passado.
Até o final da próxima semana, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento (SAA) deve concluir o inquérito soro-epidemiológico que está sendo realizado em todo o Estado. Em outubro, será a vez do Escritório Internacional de Epizootias (OIE) conceder novamente ao RS o status de zona livre de febre aftosa com vacinação.
Os últimos animais infectados pela doença foram sacrificados no município de Rio Grande no dia 18 de julho do ano passado, encerrando o episódio que teve início em maio de 2001, quando foi identificado o primeiro foco, em Santana do Livramento. Nessa ocasião, propriedades rurais de seis municípios, Santana do Livramento, Rio Grande, Dom Pedrito, Alegrete, Quaraí e Jarí, foram atingidas pela doença, 1199 animais foram sacrificados, e outros 15.606 foram encaminhados ao abate sanitário em frigorífico.
No episódio ocorrido em 2000, quatro municípios foram atingidos: Jóia, Eugênio de Castro, Augusto Pestana e São Miguel das Missões. 11.087 animais foram sacrificados. Em ambas as ocorrências, o Governo do Estado deflagrou intensas operações para eliminar rapidamente os focos, evitar que o vírus se espalhasse e promover a recuperação econômica dos municípios atingidos.
Para efetuar todas as ações de combate e controle da doença, foram investidos desde 1999, R$ 26.235.679,00. Recursos destinados ao pagamento de diárias de funcionários e indenizações aos produtores que tiveram prejuízos, contratações emergenciais de técnicos e medidas de custeio e investimentos. As operações mobilizaram mais de 1,6 mil servidores públicos estaduais, entre veterinários, auxiliares rurais, profissionais da área da saúde e soldados da Brigada Militar. A estrutura física utilizada contou com 130 automóveis, nove embarcações a motor, sete caminhões, seis retroescavadeiras, quatro motor-home, entre outros veículos e equipamentos. Somente em 2001, as equipes de combate à doença percorreram aproximadamente 3,8 milhões de quilômetros.
Atualmente, a SAA mantém 37 barreiras de fiscalização sanitária (contenção) ativas nas regiões de fronteira com a Argentina e o Uruguai e uma barreira de desinfecção, localizada em Porto Vera Cruz, onde são desinfectados os veículos vindos da Argentina.
Vacinação
Em agosto o Estado vai realizar nova campanha de vacinação, desta vez para imunizar os bovídeos com menos de 24 meses de idade. O restante dos animais está protegido pela cobertura vacinal atingida nas últimas campanhas, cujo índice alcançou 97,5% do rebanho.
A expectativa do chefe do Departamento de Produção Animal (DPA) da SAA, Walter Leo Verbist, é que entre 4,5 milhões e 5 milhões de bovinos e bubalinos recebam a dose. O rebanho total do Rio Grande do Sul é de 14 milhões de cabeças. Os técnicos calculam que até a primeira semana de setembro o trabalho esteja concluído em todos os municípios. O ritmo em cada localidade vai depender da disponibilidade de vacinas.
De acordo com Verbist, o governo estadual já adquiriu 2,2 milhões de doses para serem distribuídas aos pequenos produtores enquadrados nos critérios do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O investimento na compra do medicamento foi de cerca de R$ 1 milhão. O chefe do DPA explica que os demais pecuaristas deverão procurar o produto nas lojas veterinárias, depois de obterem autorização de compra nas inspetorias, de acordo com o tamanho do plantel.
Na última campanha, no início do ano, o preço médio da dose ficou entre R$ 0,75 e R$ 0,85. Se depender dos fabricantes de vacinas, o risco de falta de doses está descartado. O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) revela que hoje existe uma oferta superior à demanda. Dez milhões de vacinas estão estocadas e um lote de mais 10 milhões de doses aguarda aprovação do Ministério da Agricultura na próxima semana. Segundo o Sindan, volume mais do que suficiente para atender à necessidade do Rio Grande do Sul.
Cobertura total
Os pecuaristas de Rio Grande reivindicam aos governos federal e estadual a vacinação completa do rebanho. O município foi um dos mais atingidos pela febre aftosa em 2001, com 19 focos identificados em 18 propriedades.
O produtor Ronaldo Oliveira pretende vacinar todo o rebanho e não somente os animais com até dois anos de idade. “Sempre fomos a favor da imunização”, relata.
Para ele, a proximidade de Rio Grande com a Argentina e o Uruguai e a existência de um porto marítimo no município são fatores suficientes para a defesa da vacina. No ano passado, o criador teve oito animais abatidos cujos exames atestaram sorologia positiva para a aftosa. Hoje, mantém 570 bovinos nas propriedades.
O presidente do Sindicato Rural de Rio Grande, Fernando Almeida, reforça os argumentos do produtor, mas destaca que somente será liberada a vacinação total do rebanho se houver permissão do Ministério da Agricultura. Segundo dados da Inspetoria Veterinária, devem ser vacinados 60 mil terneiros no município. O veterinário responsável, Suli Machado, afirmou que ainda não há uma definição sobre a possibilidade de imunização total do rebanho.
Fonte: Governo do Estado do Rio Grande do Sul e Zero Hora/RS (por Caroline Torma), adaptado por Equipe BeefPoint