Atacar as causas, ou seja, os estabelecimentos que comercializam a carne sem procedência foi um dos mais fortes posicionamentos adotados, na tarde de ontem, durante o seminário regional de combate ao abigeato e ao abate clandestino no RS. O evento foi realizado na sede da Associação dos Médicos Veterinários da Zona Sul (Vetesul) e reuniu em torno de 180 participantes, entre produtores, representantes de entidades e órgãos governamentais.
A principal queixa dos produtores se refere à impunidade dos abigeatários que, mesmo pegos em flagrante, se não possuírem antecedentes ou não representarem risco iminente para a sociedade não ficam presos.
O promotor público Paulo Charqueiro destacou que a pena para os donos destes estabelecimentos, que comercializam a carne sem procedência, varia de dois a cinco anos, por entregar ao consumidor produto inadequado ao consumo. Charqueiro foi aplaudido ao sugerir a melhor organização dos municípios, já que a atribuição de fiscalizar estes estabelecimentos, cabe exclusivamente à vigilância sanitária municipal.
Dados da CPI das Carnes (2003) indicavam que 60% da carne consumida no estado eram de abates clandestinos. Hoje, este número chega a 45%, dados do Sindicato da Indústria da Carne e Derivados do RS (Sicadergs). “Há um processo de redução, mas ainda é um exagero num estado produtor como o nosso”.
Além de trazer prejuízos econômicos, pela ausência de arrecadação de impostos e postos de trabalho que deixam de ser gerados, a carne clandestina se constitui em problema de saúde pública, pois não possui qualidade para consumo.
Além dos reflexos econômicos, as perdas anuais giram em torno de R$ 127 milhões a R$ 130 milhões, há ainda os reflexos sanitários, com o crescimento das doenças, como a hidatidose, cisticercose e tuberculose. “O abigeato deixou de ser um caso de polícia e exige ações integradas dos órgãos de segurança, fazenda, saúde, agricultura, meio ambiente e produtores”.
Dados de 2002, indicam 8.972 registros de abigeato no estado e 10.850 em 2003. Estes dados, no entanto, são superficiais, pois muitos produtores, por acreditarem na impunidade, não fazem o registro. Comparação entre o primeiro semestre deste ano com o mesmo período do ano passado, indica redução de 18,19% nos registros de abigeato.
Depoimento de um ex-chefe de polícia à CPI da Carne, indicou que açougues do interior vendem 50% de carne não inspecionada. A ação de quadrilhas, como na região de Cacequi, que usam o trem para distribuição da carne, ameaçam e matam quem ousar denunciá-los, mudou a postura de alguns produtores, que guardam seus animais em galpões mais próximos à sede da propriedade. Além disso, os animais são tropeados e carregados em caminhões e trens, carneados em propriedades isoladas e frigoríficos irregulares. O produto é “esquentado” através de notas fiscais falsas e vendido ao consumidor.
Fonte: Diário Popular/RS, adaptado por Equipe BeefPoint