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RS defende rastreabilidade pública

O governo gaúcho estuda a criação um sistema público de rastreabilidade de animais ao pequeno produtor, a exemplo do Paraná, que implantará projeto pioneiro no País. O programa paranaense servirá de suporte para o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov).

Na Expointer, o diretor do Departamento de Produção Animal (DPA) da Secretaria da Agricultura (SAA), Walter Verbist, pediu cópia do plano à Secretaria de Agricultura do PR. “Vamos estudar a aplicabilidade ou adaptação no Rio Grande do Sul”. Ele acredita que o software do plano de ação sanitária do DPA, em fase de elaboração, vai facilitar a implantação do banco de dados e reduzir custos, pois prevê o controle do rebanho, contendo todas as informações.

Desde segunda-feira passada (02), não entra carne sem rastreamento nos países da União Européia. No Brasil, apesar da consciência de que é preciso comprovar procedência e qualidade para expandir mercados, os pecuaristas reclamam de ter de arcar com o custo do processo, que oscila entre R$ 2,00 e R$ 6,00, dependendo da região. Com 13 mil associados e detentora de um banco de dados de seis milhões de animais, a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) alerta para falta de condições de alguns estados para aderirem ao Sisbov. O presidente, José Olavo Mendes, defende remuneração por animal rastreado. Segundo ele, na primeira semana de exigência da Comunidade Européia, frigoríficos do MT, GO, TO, PA e BA registraram ociosidade por falta de animais identificados para abate.

Sem animais

As cerca de 830 mil cabeças de gado bovino já rastreadas significam muito pouco perto da necessidade do Brasil em atender aos compradores estrangeiros. Segundo Nelson Pineda, pecuarista e diretor de Informática da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), o número de animais hoje rastreados e certificados seria suficiente para menos de dois meses de exportação para a UE. As vendas brasileiras para o bloco europeu, o maior comprador estrangeiro da carne do país, correspondem à cerca de 15% do abate anual.

Ou seja, se forem abatidas 40 milhões de cabeças/ano, cerca de seis milhões serão destinadas às exportações. Isso significa que pelo menos 500 mil animais terão de estar disponíveis por mês nos abatedouros dos frigoríficos que trabalham com exportação de carne bovina.

De acordo com ele, se a rastreabilidade do rebanho bovino brasileiro não avançar rapidamente, o País corre sério risco de ser rebaixado de categoria na OIE (Organização Internacional de Epizootias). “Perderemos a credibilidade”, afirma Pineda, explicando que o Governo federal deve criar mecanismos pelos quais o produtor possa ser beneficiado pela rastreabilidade.

Para Pineda, o problema é que os pecuaristas brasileiros ainda não se deram conta do que o fim das exportações pode significar. Segundo ele, caso não seja mais possível exportar carne para a Europa, o aumento na oferta interna será tamanho que, no fim das contas, o preço para o próprio produtor vai cair ainda mais.

Para implantação do sistema, cada animal poderá custar em torno de R$ 8,00. “Isso assusta o produtor. Ele não vê porquê aderir ao sistema”, ressalta o diretor da ABCZ. Uma solução viável para dividir os custos da rastreabilidade seria, segundo Pineda, que o governo beneficiasse os produtores que adotassem a rastreabilidade. Os frigoríficos poderiam ser levados a pagar cerca de R$ 1,00 a mais por arroba dos animais rastreados, ajudando o produtor a cobrir os custos do processo. “Bastaria repassar o preço ao consumidor ou mesmo que os frigoríficos ganhassem um pouco menos”, afirma.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Edvar Queiroz, porém, diz que isso é impossível. Segundo ele, boa parte dos frigoríficos do país já adotou a rastreabilidade há mais de dois anos em suas linhas de produção e, assim, não há sentido em “subsidiar” os produtores a fazer o mesmo. Ele admite, no entanto, que existem frigoríficos que ainda não se adaptaram às novas exigências. “Nada, porém, que nos impeça de vender carne para a Europa”, diz. “A rastreabilidade avança rapidamente, em especial em São Paulo, onde o gado é confinado”.

O problema, segundo a ABCZ, é que a velocidade do processo é bem menor no Centro-Oeste e no Norte, onde o gado é criado solto, e nessas regiões estão concentrados mais de 60% do rebanho nacional.

Pineda entende que o caminho para que a rastreabilidade no Brasil dê realmente certo é fazer uma “mesa-redonda” entre frigoríficos, produtores e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para negociar um repasse ao produtor, que seja justo e não prejudique os envolvidos na cadeia produtiva. Atualmente, a tonelada da carne de bovinos brasileiros vendida no exterior é barata. De acordo com Pineda, ela representa valores em torno de U$ 1.500. “Para que o processo funcione é preciso convencer todos os envolvidos de que é necessário ganhar menos, para posteriormente faturar mais,” explica.

Fonte: Correio do Povo/RS, Folha de S.Paulo (por José Sérgio Osse) e Correio do Estado/MS, adaptado por Equipe BeefPoint

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  1. Jorge Andrade de Carvalho Gomes disse:

    O custo da rastreabilidade + certificação estão em torno de R$
    4,00 por animal, e não de R$ 8,00 conforme citado na matéria.