Argumentos contra a flexibilização para entrada de carne desossada e maturada do Mato Grosso do Sul no estado, anunciada pelo Mapa na sexta-feira, inundaram os discursos de lideranças do setor agropecuário da Zona Sul, durante a abertura oficial e homenagens da 79a Expofeira Agropecuária de Pelotas, no sábado.
Os produtores alegam que é hora do Rio Grande do Sul se preservar e impedir o trânsito de produtos de origem animal in natura e o tráfego de caminhões do estado afetado. “É preciso deixar o DPA e Mapa trabalharem, dar respaldo ao seu corpo técnico e não relaxar o controle sanitário por causa de pressões políticas”, defende o pecuarista do Grupo de Trabalho de Produtores Autônomo de Pelotas, Ricardo Vinhas.
Segundo ele, o mercado gaúcho está abastecido e os preços ao produtor deprimidos. “Agora é a oportunidade de enxugar o excedente do mercado e recuperar os preços”, analisa.
Vinhas não aceita a posição do representante gaúcho do Mapa, o superintendente Francisco Signor, que alega preocupação com o abastecimento da indústria e do mercado doméstico e cobra do governo de Santa Catarina a liberação do trânsito de carne maturada e sem osso provenientes do MS. O superintendente fala em criar corredor sanitário para pôr fim ao isolamento.
O assunto deve ser discutido hoje, durante reunião entre dirigentes do estado, Santa Catarina e Paraná, em Porto Alegre. “Qual a verdadeira intenção desta pressão sobre o estado de Santa Catarina que, após estes anos de luta, pela primeira vez pode nos ajudar? A quem interessa o trânsito, no momento, que nos fará correr risco desnecessário?”, questiona.
Até mesmo o homenageado da noite, com o Mérito Rural 2005, Cilotér Iribarrem, reivindicou ao secretário da Agricultura, Odacir Klein, presente ao jantar de homenagens, apoio ao estado de Santa Catarina. “O secretário de Agricultura do estado vizinho disse que as normas não servem para Santa Catarina e esperamos que o senhor diga, as normas não servirão para o Rio Grande do Sul”.
Iribarrem acrescentou que interesses políticos injustos não podem prejudicar o estado. “Desde 2001, quando ocorreram focos de aftosa no RS, ficamos isolados e, apesar de reiteradas tentativas, Santa Catarina não abriu mercado”.
Nesta ocasião, o governo do MS não veio ajudar a resolver a situação do RS, acrescentou. Além disso, ele destacou que negociação, antes promissora, de exportação de gado para o Uruguai foi prejudicada por causa da aftosa no MS.
“Posso garantir que o Poder Público Estadual vai fazer o que deve fazer, evitar o ingresso da febre aftosa no RS”, respondeu o secretário de Estado da Agricultura, Odacir Klein. Antes do jantar, durante coletiva, Klein falou que no estado não entra boi do MS e estados adjacentes nem carne com osso. “Só entra carne sem osso maturada e couro para industrializar, porque a indústria calçadista não pode ser prejudicada”.
Além disso, ele afirmou que deve ser feita varredura rigorosa nas propriedades de fronteira, para determinar se o gado foi vacinado.
Klein questionou declaração dada pelo Tribunal de Contas da União sobre a possibilidade de febre aftosa no RS. “O TCU fiscaliza execução orçamentária e constatou que não está havendo liberação de recursos para fiscalização nas fronteiras, feita pelo Mapa”, disse.
Segundo Klein o RS tem o seu rebanho vacinado e intensificou fiscalização na fronteira, com trabalho junto às propriedades para ver se há problemas de vacinação.
Fonte: Diário Popular/RS (por Luciara Schneid), adaptado por Equipe BeefPoint