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RS: terrorismo na carne bovina

Por Fernando Lopa1

Nesse mês de dezembro o produtor gaúcho de carne bovina enfrentará mais uma batalha nessa “cruzada” que vem lutando nos últimos três anos para comercializar seu produto a preços, que pelo menos, cubram seus custos de produção.

Período esse que, por coincidência, houve uma concentração dos abates por um único frigorífico no estado, mérito e habilidade de sua diretoria e demérito de nossas lideranças políticas e classistas, que ávidos por atender os mais diversos interesses imediatistas, não perceberam que estavam empurrando o produtor, elo mais fraco da cadeia, para o abismo.

Mas voltando ao assunto, agora começou a pressão para abrir as fronteiras do estado para carne do MS, autoridades das mais variadas, movidas novamente por interesses pouco claros, já alardeiam que faltará carne, que o preço subirá 50%, começando o processo terrorista para colocar a opinião pública a favor de seus interesses.

Para ilustrar com dados a verdadeira situação, o site da Emater/RS, em seu acompanhamento de preços, mostra que o produtor vendia em novembro de 2004 o seu boi vivo a R$ 1,67 o kilo, hoje vende a R$ 1,57. Olhando ainda com mais atenção o site, vimos que, computados os preços a partir de 2000, fazendo uma média anual e corrigindo pelo IGP-DI, o produtor deveria estar recebendo R$ 1,95 pelo kg do seu boi, ou seja 24% a mais que os preços praticados hoje, e nem vamos falar nos custos de produção que hoje giram na média de R$ 2,00 o kilo vivo produzido.

Na realidade, é bom que se deixe claro, o preço de venda do produtor de carne no RS vem sendo mantido no mesmo patamar por longos 3 anos, devido a uma condição de mercado que combina concentração de abates por um único frigorífico, entrada de carne do MS a preços predatórios (não por incompetência do produtor do RS, mas pelo favorecimento de alíquotas de impostos dado pelo governo do MS) e excesso de oferta no RS (pelo menos essa era a desculpa dada até outubro deste ano para justificar o aviltamento do preço da carne no estado).

Em contrapartida, os preços da carne na gôndola do supermercado, desde 2000, na sua média anual, sempre subiram, acompanhando o ritmo da inflação.

Então, como fechar essa conta, preços crescentes na gôndola e estáveis na produção? Quem está ganhando dinheiro na cadeia da carne? Como entender que até outubro tínhamos excesso de oferta e em dezembro estaremos desabastecidos?

O produtor gaúcho clama, e necessita, por um realinhamento dos preços da carne, não para provocar inflação, mas para reequilibrar os preços na cadeia, tirando a atividade do prejuízo, fazendo que, quem realmente está ganhando repasse um pouco do seu ganho ao produtor e não mantenha suas margens repassando em forma de aumento de preços para o consumidor final a conta desse realinhamento, pois como vimos se houver aumento de preços, o produtor será o menos culpado da história.

O que se espera de nossas lideranças políticas é que atendam primeiro o interesse da classe produtiva do Rio Grande do Sul e, de nossas lideranças classistas, uma pronta resposta ao terrorismo que começa a ser veiculado na mídia.

Para terminar segue o apelo:

Produtores, nesses três anos, só conseguimos uma vitória significativa na exportação de gado em pé, todas as outras tratativas não alcançaram resultados significativos, agora surge uma real possibilidade de obter um preço digno para se produzir carne, cobrem de suas lideranças, lutem por seus interesses, não deixem mais uma oportunidade escapar, será através dessas pequenas vitórias que gradativamente nós conseguiremos “realmente” reestruturar a cadeia da carne no Estado.

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1Fernando Lopa, Secretário do Núcleo Fronteira Oeste de Hereford e Braford, MBA em Agronegócios

0 Comments

  1. Nagato Nakashima disse:

    Sr. Fernado Lopa,

    Não adianta o senhor ter conhecimento do que vem ocorrendo, sem tomar uma atitude que possa neutralizar a situação.

    No final do ano passado estive em Bagé a convite da Associação dos Criadores de Herefor e Braford, passei pelo Sindicato Rural e fiz alerta a respeito. No mês de agosto voltei a Bagé a convite da Associação fiz uma palestra a respeito poucos compareceram.

    Lamento muito, mas é uma situação criada na década de 60 do século passado que na atual conjuntura não atende mais. A mudança está em nós mesmos.

    Nagato Nakashima
    Médico Veterinário
    Consultor

  2. Fernando Lopa disse:

    Prezado Dr. Nagato,

    Um dos poucos que compareceu a sua palestra fui eu. Na ocasião na sede da Associação, pudemos conversar algumas horas sobre a situação da cadeia produtiva da carne no Brasil, antes e depois de vossa explanação.

    Utilizo os dados de vossa palestra para contestar algumas informações que são veiculadas aqui no RS, de forma, como digo, terrorista, pois se aproveitam da falta de iteração entre os produtores (fruto de padrões culturais vindos desde a época da colonização do RS) e a conseqüente falta de informação conjuntural para obter lucros encima dos mesmos.

    Aqui, continuamos, cada um na sua trincheira, na primeira batalha dessa longa guerra, que é de conscientizar o produtor a cobrar de nossas lideranças constituídas, que exerçam pressão para trazer algum benefício para o setor da produção, processo esse que caminha para frente, lentamente eu sei, mas caminha.

    Certo de que vossa contribuição em muito tem nos ajudado a esclarecer as “mazelas” do mercado da carne, no RS e no Brasil, esperamos (eu e os produtores do RS) que sempre se sinta a vontade para colaborar quando julgar necessário.

    Um abraço

    Fernando Lopa