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Sadia: boatos sobre venda impulsionam alta das ações

Depois de perder R$ 760 milhões com operações com derivativos de câmbio e ver o preço de suas ações caírem consideravelmente, a Sadia registrou uma alta repentina nos seus papéis nos últimos dois dias. As ações preferenciais chegaram a subir 16% no fim da manhã de ontem, enquanto a valorização do Ibovespa era de apenas 1%. A explicação para a disparada, aparentemente fora de contexto, é que uma parte da Sadia estaria à venda.

Depois de perder R$ 760 milhões com operações com derivativos de câmbio e ver o preço de suas ações caírem consideravelmente, a Sadia registrou uma alta repentina nos seus papéis nos últimos dois dias. As ações preferenciais chegaram a subir 16% no fim da manhã de ontem, enquanto a valorização do Ibovespa era de apenas 1%. A explicação para a disparada, aparentemente fora de contexto, é que uma parte da Sadia estaria à venda.

Segundo fontes do mercado financeiro e próximas à companhia, a maior exportadora de frangos do País estaria negociando a entrada de um investidor financeiro, provavelmente um fundo de private equity. O objetivo da empresa, segundo essas fontes, seria vender 15% a 20% da companhia, por um valor entre R$ 700 milhões e R$ 800 milhões, o suficiente para repor as perdas recentes. Procurada, a Sadia não quis comentar a informação.

Nos dois últimos dias, a Sadia foi o alvo preferencial do mercado financeiro. Nas mesas de operação, chegou-se a cogitar que o comprador seria a Nestlé, hipótese prontamente negada pelas duas empresas.

“Digamos que a temporada de boatos está aberta. Outros devem surgir. As empresas estão muito debilitadas com essa falta de crédito. Trata-se, portanto, de um ambiente propício para esse tipo de operação, como fusões e aquisições, e, obviamente, para o surgimento e propagação desses boatos”, explica José Eduardo Amato Balian, professor do Departamento de Economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

O que pode ter alimentado os rumores foi o fato de o presidente da Nestlé no Brasil, Ivan Zurita, ter anunciado, no início do mês, que faria aquisições na área de alimentos ainda neste ano. Como a Sadia está no mercado à procura de um sócio, logo especularam que ela era o alvo mais provável do momento. Analistas e especialistas não apostam nessa operação.

Peter Ping Ho, analista da Planner Corretora, diz que foi impressionante o aumento no volume negociado nos papéis da Sadia durante a manhã de ontem, antes dos desmentidos das duas empresas. “O mercado levou o boato a sério, e o volume negociado das ações da empresa chegou a atingir ontem R$ 52 milhões, quando esse valor vinha de um patamar de R$ 24 milhões – e chegou a bater até R$ 14 milhões em dias de pessimismo no mercado”, compara Ping Ho.

“Não faz sentido. As duas empresas têm portifólios diferentes. Se a Nestlé efetivasse essa compra iria conseguir sinergias em poucos produtos e teria que fragmentar a empresa. Mais coerente seria se a Tysson Foods fizesse a aquisição, pois elas estão no mesmo ramo de negócios”, afirma o especialista da Planner.

CVM investiga uso de informação privilegiada

Segundo o jornal Valor Econômico, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está investigando suspeita de uso de informação privilegiada em negociação com ações da Sadia antes do fato relevante, em 25 de setembro, que anunciou as perdas com derivativos. A CVM não comentou o tema, apenas explicou que a medida não indica abertura de inquérito.

Os relatórios mensais encaminhados pela companhia à CVM com a movimentação de ações por executivos e pessoas do bloco de controle da empresa – documento obrigatório – mostram que a diretoria negociou papéis em setembro. Os controladores também, na fase de diálogo com bancos sobre as perdas.

O relatório encaminhado à CVM mostra que em setembro a diretoria vendeu o equivalente a R$ 185 mil em ações preferenciais no dia 12. Trata-se do mesmo dia em que a empresa começou a desmontar parte das operações com derivativos, que trouxeram prejuízo superior a R$ 890 milhões no resultado do terceiro trimestre e anularam as chances da companhia de registrar lucro no acumulado de 2008.

Também em setembro, pessoas do bloco de controle venderam o equivalente a R$ 512 mil em ações preferenciais entre os dias 9 e 15 e compraram R$ 1,2 milhão depois de divulgarem o prejuízo com derivativos, nos dias 26 e 29. O histórico de 2008 dos relatórios da Sadia encaminhados à CVM mostra que os controladores são bastante ativos nas negociações de ações. A política de negociação de ações da Sadia por executivos, conforme regra da CVM, veda a movimentação no período cuja situação em curso configure fato relevante.

Procurada, a Sadia não comentou o assunto nem mesmo explicou se adotou procedimentos de segurança para melhoria dos controles de informação e dos executivos.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo, da Gazeta Mercantil e do Valor Econômico, resumidas e adaptadas pela Equipe AgriPoint.

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