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Seleção de bovinos Nelore para ganho de peso: Parâmetros reprodutivos

A alguns meses atrás houve uma discussão nos meios de imprensa sobre a qual direção a seleção do Nelore deveria tomar. Basicamente existem duas linhas de seleção, a para a precocidade sexual, e consequentemente menor peso adulto, e por outro lado tem a linha que seleciona animais para ganho de peso, que invariavelmente apresentam maior peso adulto.

Muito se infere que a seleção para animais de maior peso adulto apresentam menor eficiência reprodutiva em relação ao animais de menor tamanho. Inclusive sendo este tópico já levantado em outro artigo já publicado neste radar (O tamanho da vaca de corte e a produção de bezerros, 09/11/2001). Entretanto os trabalhos realizados para este tipo de avaliação são restritos a poucos anos de avaliação, e um número bastante reduzido de animais, e praticamente escassos em ambientes tropicais.

Segundo Mercadante et al (2002), com o acúmulo dos dados dos experimentos de seleção por várias gerações, somando aos aumentos quantitativo e qualitativo dos bancos de dados de criadores e associações de raças, e ao avanço nos estudos de predição tem mostrados que a seleção para maior peso adulto não apresenta efeitos significativos sobre o desempenho reprodutivo.

No Brasil são poucos, ou praticamente inexistentes os trabalhos comparativos entre tamanho corporal de animais Nelore e seus efeitos na reprodução e produtividade. Porém dados de grandes rebanhos de seleção de Nelore têm fortes indicativos de que não há associação negativa entre a seleção para peso adulto e reprodução (Mercadante, comuncação pessoal).

Recentemente foram publicados dois artigos comparando a seleção de bovinos Nelore para peso sobreano com os animais de rebanho controle (não selecionados) quanto aos efeitos no aspecto reprodutivo das fêmeas, sendo 7336 registros de 1425 fêmeas, filhas de 162 touros (Mercadante et al. 2002). Estes dados são frutos de mais de 15 anos do programa de seleção desenvolvido no Instituto de Zootecnia em Sertãozinho.

Mercadante et al. (2002) avaliaram como indicativo do desempenho reprodutivo o número de dias ao parto, sendo que a estação de monta restrita (90 dias, e nos 15 anos a data de entrada foi 15 novembro e saída 15 de fevereiro), com relação touro:vaca 1:25. O manejo reprodutivo e nutricional adotado foi o mesmo para os rebanhos seleção (NeS), controle (NeC). As novilhas entravam na estação de monta com idade média de 2 anos, e descartes eram feitas nas fêmeas que falhavam por 2 anos consecutivos, habilidade materna (rejeição do bezerro), problemas de saúde ou aborto e idade (11 anos).

A variável “dias ao parto”, segundo os autores, vem sendo aplicada, pois o caráter data do parto é realmente observado nas vacas paridas e reportado nas associações por volta do registro dos bezerros. “Dias ao parto” é calculado pela diferença entre a data do parto e a data da entrada da fêmea na estação de monta ao qual originou o presente parto (tabela 1).

Tabela 1: Dias ao parto para animais Nelore selecionados para maior peso ao sobreano (NeS) em relação ao rebanho controle (NeC) .


Ainda com a mesma base de dados Mercadante et al (2003) comparam parâmetros reprodutivos (tabela 2) quanto a peso das novilhas ao início da primeira estação de monta, peso médio das fêmeas ao início da EM, altura ao início da primeira EM, altura no início da EM, condição corporal na primeira EM, condição corporal EM, índice de nascimentos na primeira cobertura, índice de nascimento da segunda cobertura considerando que as novilhas pariram do primeiro acasalamento, e índice de nascimento geral. O índice de nascimento é dada na forma de nota para vacas que pariram e não pariram, onde 1= parições e 0= não paridas.
Tabela 2. Comparação entre características reprodutivas de fêmeas do rebanho de seleção para ganho de peso (NeS) e controle (NeC).


Como pode ser observado na tabela 1 e 2, a seleção para peso corporal não gerou diferenças expressivas no desempenho reprodutivo das fêmeas, mesmo sendo criadas em condições ambientais similares. Apesar do menor índice de nascimentos na de primiparas do NeS em relação ao NeC, não houve diferença estatística significativa, e o índice de nascimento geral dos dois rebanhos foi praticamente o mesmo. Outro ponto é que as novilhas do rebanho seleção ao entrarem na primeira estação de monta apresentavam, em média 54 kg a mais de Peso em relação ao controle, sendo que na média geral esta diferença foi mantida.

Os resultados deste levantamento, com mais de 7 mil fêmeas ao longo de 15 anos, indicam que a seleção permitiu de maneira eficiente aumentar o peso adulto através do melhoramento genético, e sem alteração no desempenho reprodutivo do rebanho.

Isto permite a utilização de touros superiores para ganho de peso no rebanho, e consequentemente maior peso de carcaça e produção de carne/animal, e as filhas destes touros podem, e devem permanecer como matrizes no rebanho, em função de serem tão prolíferas quando as fêmeas tradicionais ou de menor peso adulto.

Referências bibliográficas

Mercadante, M. E. Z.; Packer, I. U.; Razook, A. G.; Cyrillo, J. N. S. G.; Figueiredo, L. A. Dias ao parto de fêmeas Nelore de um experimento de seleção para crescimento. I. Modelo de repetibilidade. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 31, n. 4, p. 1715-1725. 2002.

Mercadante, M. E. Z.; Packer, I. U.; Razook, A. G.; Cyrillo, J. N. S. G.; Figueiredo, L.. Direct and correlated responses to selection for yearling weight on reproductive performance of Nelore cows. Journal of Animal Science, v. 81, p. 376-384. 2003

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