Joanir Pereira Eler1
Em qualquer sistema de produção de gado de corte, a reprodução é um componente de grande importância para um desempenho econômico lucrativo, embora a ênfase quase sempre tenha sido dada à seleção para desempenho ponderal.
As metodologias de análise de características reprodutivas, medidas diretamente na fêmea, tiveram desenvolvimento mais lento e estas características têm sido, até agora, pouco exploradas em termos práticos.
Na metade final da década de 90, pesquisadores da Universidade Estadual do Colorado, EUA, iniciaram estudos relacionados à avaliação genética da prenhez de novilhas. Esta característica de limiar é relacionada com a puberdade e depende simplesmente da exposição das fêmeas ao touro, seja por monta natural ou inseminação artificial, e do controle do diagnóstico de gestação. Os lotes de fêmeas que entram na reprodução devem ser também controlados para formação de grupos contemporâneos corretos, que formam, como sempre, a base de comparação. No final da estação de monta, as fêmeas prenhes recebem a “nota” 1 e as vazias a “nota” 0.
No Brasil, os procedimentos acima foram iniciados pela Agropecuária CFM Ltda, em 1994, com a exposição de novilhas de 14 meses (12 a 16) ao touro e as análises passaram a ser feitas pelo Grupo de Melhoramento Animal da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP.
Característica economicamente importante
Os programas de melhoramento genético de bovinos de corte têm utilizado com muita ênfase o perímetro escrotal (PE). Esta característica é, no entanto, apenas indicadora da fertilidade da novilha, principalmente da idade à puberdade. Por outro lado, a Probabilidade de Prenhez é medida diretamente na novilha, leva em conta a sua fertilidade inerente e, por isto, é a característica econômica de interesse.
A predição do mérito genético (Diferenças Esperadas de Progênie – DEP’s) para Probabilidade de Prenhez tem grande potencial para melhorar a fertilidade da novilha e custa muito pouco. Para uma melhor interpretação desta DEP, tome-se o seguinte exemplo de dois touros extremos, A e B, sendo cada um acasalado com grupos diferentes de vacas do mesmo rebanho. Para simplicidade, assuma-se que toda a progênie é formada de novilhas, todas são retidas para acasalar, e todas têm oportunidade igual no acasalamento. O touro A tem uma DEP de PP14 igual a +25 e o touro B uma DEP igual a –25. Em média, as novilhas filhas do touro A terão uma probabilidade 50% maior de conceber e permanecer prenhes quando comparadas com as filhas do touro B. A metodologia assume que a média de prenhez é de 50% na população. Assim, um touro com DEP 0 (zero) produziria filhas com 50% de probabilidade de emprenhar aos 14 meses. Um touro com DEP igual a +25 produziria filhas com 75% de probabilidade. No entanto, como na população atual a média de prenhez aos 14 meses é menor do que 50%, o touro de DEP +25 produziria filhas com um pouco mais de 75% de probabilidade de emprenhar aos 14 meses.
Para a predição das DEPs é, no entanto, fundamental a percepção e o interesse dos criadores. Nas raças européias, quando se fala de prenhez de novilha está implícito que é em torno de um ano de idade. Para os zebuínos, a idade de reprodução sempre foi tida como 24 meses ou mais. No caso de seleção para precocidade, como na raça Nelore, por exemplo, há necessidade de expor as fêmeas jovens ao touro ou inseminá-las, independente do peso que apresentem no início da estação de monta. Só recentemente, grupos como a CFM iniciaram este trabalho, expondo todas as novilhas aos 14 meses de idade, independentemente do peso. Os resultados da CFM são encorajadores e irão certamente desafiar as Associações de Criadores a colher os dados de prenhez de novilha e, quem sabe, dentro de algum tempo, desenvolver também as suas DEPs para PP14.
Prenhez de novilhas (PP14) x perímetro escrotal (PE)
Ao se dar ênfase à característica Probabilidade de Prenhez, poderia então ser argumentado que a coleta de dados de perímetro escrotal (PE) seria então um esforço perdido! Na verdade não é. O perímetro escrotal, avaliado em torno dos 14 ou 15 meses de idade, é um bom indicador da puberdade da novilha nesta mesma idade. Trabalhos recentes desenvolvidos pelo GMA têm mostrado correlação de 45% entre perímetro escrotal ajustado para 450 dias e PP14. Isto irá permitir a incorporação do PE na análise de PP14, obtendo-se uma DEP única.
A Prenhez de 14 meses (PP14) é uma característica que poderá revolucionar a seleção para precocidade sexual nas raças zebuínas. Os resultados da CFM são encorajadores e, além de colocar no mercado touros que produzam filhas com maior probabilidade de emprenhar aos 14 meses de idade, irão certamente desafiar outros grupos privados ou associações de criadores a colher dados de prenhez de novilhas no sentido de melhorar a precocidade sexual na raça Nelore.
Em algumas regiões, e dependendo da disponibilidade de pastagens, poderia ser discutido um programa alternativo de prenhez de 18 meses. Em relação ao programa tradicional de prenhez aos 24, este teria a vantagem de adiantar o parto em seis meses, permitindo um maior descanso antes da próxima estação de monta e, conseqüentemente, aumentando a taxa de prenhez com possível diminuição da porcentagem de descarte de fêmeas primíparas. Isto implicaria, no entanto, em uma estação de monta especial ou “fora de época”, com sérios complicadores para o manejo da propriedade. Não parece, todavia que esta alternativa seja um substituto para o programa de prenhez aos 14 meses.
Impacto da seleção para precocidade sexual
Um trabalho de simulação realizado em conjunto com a FNP Consultoria de São Paulo mostrou que a redução do primeiro parto de 3 para 2 anos produziria um aumento de 16% no retorno econômico do sistema. Uma observação simplista permite dizer que uma vaca que pare aos dois anos de idade produziria ao longo da vida um bezerro a mais.
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1Professor Titular de Melhoramento Genético Animal na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, Pirassununga, SP.