O agronegócio dos Estados Unidos depende fortemente de imigrantes, especialmente na produção de culturas. Entre esses, uma grande parte ainda atua sem documentação legal, fazendo com que políticas de imigração e fiscalização no trabalho tenham impacto direto no setor e na segurança alimentar. Desde janeiro, a investida de Donald Trump para deportar 1 milhão de imigrantes ainda neste ano, o setor agrícola vinha sendo poupado e era um dos que sofriam menos ações de fiscalização por parte da divisão de Imigração e Alfândega (ICE).
Mas algo parece ter mudado. As batidas policiais desta semana foram devastadoras para muitos e, em meio a todo o caos, a intensificação da fiscalização do ICE passou a mirar o setor agrícola americano. Nesta terça-feira (10), dezenas de trabalhadores foram retirados de seus postos em campos e unidades de embalagem no coração das terras agrícolas da Califórnia, do Vale de San Joaquin ao litoral. Dezenas também foram retiradas de um pequeno frigorífico em Omaha, Nebraska. E 11 trabalhadores foram presos em uma fazenda de laticínios no Novo México.
Este é um jogo perigoso que está sendo jogado, cujos impactos devem repercutir em toda a indústria alimentícia. Os imigrantes impulsionam tudo, da agricultura à embalagem e processamento, passando pela equipe da maioria das cozinhas de restaurantes. E, para alimentar a todos, eles trabalham em alguns dos empregos mais perigosos que existem — muitos empregos que, segundo os empregadores, ficariam vagos. Aumentos de preços e escassez são apenas o começo do que os consumidores começarão a sentir.
O país possui 2,6 milhões de empregos diretos em fazendas, cerca de 1,2% do total da força de trabalho dos EUA, segundo dados Economic Research Service do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) Quando se incluem setores relacionados (processamento, distribuição, serviços etc.), o total sobe para 22,1 milhões de empregos, ou 10,4% dos empregos norte-americanos.
Segundo o jornal Politico, autoridades de imigração realizaram uma operação de busca e apreensão em um frigorífico de Omaha, em Nebraska, na manhã de terça-feira (10) e levaram dezenas de trabalhadores em ônibus, deixando os funcionários da empresa perplexos, pois alegaram ter cumprido a lei. A operação ocorreu por volta das 9h na Glenn Valley Foods, no sul de Omaha, uma área onde quase um quarto dos moradores eram estrangeiros, de acordo com o censo de 2020. Omaha é um centro econômico, agrícola e industrial, com forte presença no setor de alimentos, logística e finanças.
Há estudos mostrando que a deportação em massa de trabalhadores pode causar queda de produção agrícola estimada entre US$ 30 bilhões e US$ 60 bilhões, além de ameaçar a segurança alimentar do país. Em regiões como Wisconsin e Dakota do Sul, onde 70% da mão de obra em fazendas de laticínios é de imigrante, a remoção desse grupo comprometeria completamente a produção.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, por exemplo, junto com prefeitos de vários municípios, tenta barrar o uso militar nas operações e vem acionando a justiça federal. Sem imigrantes (documentados ou não), a produção enfrenta colapso, ao mesmo tempo em que comunidades rurais entram em crise, com medo, protestos e pressão econômica.
As atuais operações de deportação em massa desestabilizam o setor agrícola e a saída seria a expansão de programas legais, como o H‑2A (visto temporário para trabalhadores agrícolas). Ela seria a principal saída de curto prazo, mas enfrenta limitações e falta de estrutura de controle. Outra saída seria a aprovação do projeto de lei Farm Workforce Modernization Act que propõe legalizar trabalhadores agrícolas que já atuam nos EUA, mas ele está parado e enfrenta resistências políticas.
Fonte: Forbes.