Frigoríficos pressionam e indicador recua R$ 0,39
23 de outubro de 2008
Mercados Futuros – 24/10/08
27 de outubro de 2008

Semana de baixa no mercado do boi gordo com frigoríficos forçando recuos de preço

O mercado do boi gordo termina a semana em queda e os agentes do mercado são acometidos por um forte pessimismo em relação aos próximos meses. Este sentimento começou a surgir com o agravamento da crise e indícios de uma possível recessão mundial, afetando principalmente EUA e Europa e se fortalecendo com notícias de problemas com as exportações para Rússia. O indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo a prazo foi cotado a R$ 92,13/@, registrando desvalorização de 1,15%.

O mercado do boi gordo termina a semana em queda e os agentes do mercado são acometidos por um forte pessimismo em relação aos próximos meses. Este sentimento começou a surgir com o agravamento da crise e indícios de uma possível recessão mundial, afetando principalmente EUA e Europa e se fortalecendo com notícias de problemas com as exportações para Rússia.

A crise financeira mundial tem causado incertezas e temores em todos os segmentos da economia e não seria diferente com o setor de carnes. Importadores seguem apreensivos com o futuro da economia mundial e evitam fazer novos negócios, causando preocupações para os frigoríficos exportadores que não sabem como será o futuro das exportações.

Já a Rússia, além das preocupações com uma possível diminuição de consumo, apresenta sérios problemas de crédito e tenta renegociar os valores dos contratos já firmados com os brasileiros, mantendo inclusive cargas paradas nos portos russos esperando soluções para o impasse. Esse entrave e a diminuição do ritmo das exportações para este país deve impactar negativamente no saldo das exportações brasileiras de carne, já que a Rússia é o maior comprador do nosso produto.

Alguns frigoríficos já cogitam encontrar novos destinos para essa carne, mas fontes que atuam no comércio internacional, ouvidas pelo BeefPoint, acreditam que o custo dessa operação seria muito maior e o melhor é negociar com os próprios importadores russos. Este caso não é uma surpresa muito grande, já que estamos falando de Rússia, e este não seria o primeiro episódio de quebras de contrato de exportação. Outro fato é que com o início do frio na Rússia, já era esperada uma diminuição do volume de vendas, já que os custos começam a aumentar e os importadores já trabalharam para formar um certo estoque e diminuir as compras durante este período.

De qualquer forma, o momento é de precaução, já que a crise deve se alastrar pelo mundo e promover uma redução no consumo.

O indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista recuou 1,08% na semana, sendo cotado a R$ 90,82, nesta quinta-feira. O indicador a prazo foi cotado a R$ 92,13/@, registrando desvalorização de 1,15%, porém em relação ao mesmo período do mês de setembro a cotação ainda está 3,05% superior.

Gráfico 1. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista

Tabela 1. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio

A moeda americana segue sua tendência de alta, oscilando abastante, nesta quinta-feira a divisa fechou cotada a R$ 2,3139, com uma alta de 5,92% no período. Após o dólar chegar a R$ 2,52 ontem, o Banco Central anunciou que está disposto a injetar até US$ 50 bilhões no mercado para conter a alta da moeda, que vem desestabilizando empresas e a economia como um todo. Mas apenas em outubro o dólar já subiu 20%. No ano, a alta chega a 30%, uma das maiores no mundo.

O BC informou, por meio de um comunicado, que a medida faz parte de sua “estratégia de mitigação do impacto da crise financeira internacional sobre a economia brasileira”. A medida foi recebida como um “arsenal bélico” para derrubar a cotação do dólar, pressionado entre outros fatores pela crise global, que gera uma “corrida para segurança” fazendo a moeda dos EUA subir com força em todo o mundo.

“O BC mostrou a estratégia e o tamanho da munição. Havia uma dúvida se a munição estava acabando, e ele respondeu que não. US$ 50 bilhões é um volume excessivo, que pode comprimir a taxa para baixo”, disse Sidnei Nehme, diretor da corretora de câmbio NGO, à Folha de S.Paulo.

Olhando para esses entraves que devem afetar a pecuária brasileira, a BM&F segue com forte tendência de baixa. Na semana, todos os contratos de boi gordo apresentaram fortes recuos. O primeiro vencimento, outubro/08, fechou a R$ 88,97/@, nesta quinta-feira, com recuo de R$ 3,50 na semana. Os contratos com vencimento para novembro/08 tiveram variação negativa de R$ 5,86, fechando a R$ 88,46/@.

Gráfico 2. Indicador Esalq/BM&F e contratos futuros de boi gordo (valores à vista), em 16/10/08 e 23/10/08

Segundo Rodrigo Brolo, broker da TradeWire Brazil, “o mercado futuro na Bolsa opera em forte tendência de queda. Com o comércio mundial de commodities parado, inclusive o de carne, com o comprador sem dinheiro e o vendedor com medo de não receber e sem ter os bancos oferecendo ACC (Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio), os frigoríficos alongam escalas um dia e no outro derrubam o preço. O boi não é blindado contra a queda mundial de consumo, e o pecuarista começa a entender a crise e sai vendendo para fazer dinheiro”.

A forte volatilidade do dólar somada aos problemas desencadeados pela crise internacional estão dificultando a operação no mercado futuro. O volume dos contratos dos principais produtos agropecuários negociados na BM&FBovespa tiveram forte redução em outubro. “A crise reduziu a expectativa de alta nos preços do boi. Por isso, muitos investidores que atuam no mercado, incluindo os pecuaristas, encerraram os contratos”, revela Rodrigo Simões, diretor da Guepardo Investimentos.

Assim, durante essa semana os frigoríficos se mostraram pouco dispostos às compras, enxergando uma possível redução nos contratos de exportação – quem foi a SIAL (Salão Internacional de Alimentos) não está trazendo notícias muito boas – e duvidando que o mercado interno conseguirá absorver esse excedente.

Porém a oferta de animais para abate ainda é restrita, as escalas seguem curtas e muitas plantas trabalham com grande ociosidade. Algumas plantas já anunciaram férias coletivas para seus funcionários com objetivo de adequar-se ao cenário de oferta restrita de animais realizando forte pressão aos preços. Além disso, são muitas as plantas que trabalham com ociosidade elevada ou abatem em dias alternados.

Apesar dos preços da carne no atacado terem recuado e dos frigoríficos estarem reportando dificuldades de venda nos preços atuais, a carne ainda segue com preços altos e a queda nos preços é facilmente explicada pelo período do mês em que estamos, quando tradicionalmente o consumo diminui. O equivalente físico segue acumulando valorização de 5,57% em relação ao mesmo período do mês passado.

Segundo o Boletim Intercarnes, a procura é praticamente inexistente, dentro do que era esperado, isto em função da total instabilidade e irregularidade observada no mercado, que deve voltar a apresentar melhora em meados da próxima semana, com posicionamento mais regular das compras para o início do mês.

O traseiro foi cotado a R$ 6,80, o dianteiro a R$ 4,80 e a ponta de agulha a R$ 4,40. O equivalente físico foi cotado a R$ 85,62/@, registrando queda de 4,44% na semana. O spread (diferença) entre indicador e equivalente ficou em R$ 5,20/@, em relação à quinta-feira da semana passada (16/10), o aumento foi de R$ 2,99/@. Vale lembrar que quanto maior o spread menor será a margem bruta dos frigoríficos.

Tabela 2. Cotações do atacado da carne bovina

O indicador Esalq/BM&FBovespa bezerro MS à vista também segue frouxo, caindo 0,31% na semana e sendo cotado a R$ 716,37/@. Como o indicador de boi gordo recuou mais do que o de bezerro a relação de troca diminuiu, ficando em 1:2,09.

O leitor do BeefPoint, Esdrhas Sestak Rodrigues, de São José das Palmeiras/PR, comenta, “aqui na minha região, o bezerro está valendo R$700,00 e a bezerra R$600,00. Os pastos se encontram em bom estado, devido as boas chuvas e o calor. Em dezembro, já vai ser possível ter boi de pasto”.

Agentes que atuam na compra e venda de animais de reposição, comentam que o mercado segue bastante lento, para não dizer praticamente parado. Com a incerteza sobre o futuro do mercado do boi gordo as ofertas são poucas e a procura também.

Também estamos sentindo está indecisão aqui no BeefPoint, através do grande número cartas de usuários pedindo informações sobre o mercado e nos questionando se devem ou não fazer a reposição neste momento. Infelizmente, está é uma pergunta que ninguém no mercado sabe responder.

Como está o mercado do boi gordo e reposição em sua região, em relação a preços, oferta e demanda e número de negócios efetivados? Por favor utilize o box de “cartas do leitor”, abaixo para nos enviar comentários sobre o mercado.

0 Comments

  1. Paulo Cesar Bastos disse:

    O conceito elasticidade-renda para a carne é próximo de 1. Isso quer dizer, em termos práticos, que o acréscimo de renda do consumidor é repassado, na mesma proporção, ao aumento do consumo da carne. Em outras palavras, isso indica que o pecuarista brasileiro tem que apoiar todo programa de melhoria de renda da população.

    Através da melhoria da renda do povo brasileiro é que poderá haver uma melhor remuneração por um produto que vem dos rincões deste nosso Brasil, gerando trabalho e renda no interior e evitando, dessa maneira, o exôdo rural que provoca o inchamento urbano.

    Hoje, temos cerca de 80% da produção de carne bovina consumida internamente. As camadas de maior poder aquisitivo tem um nível de consumo semelhante ou até superior aos níveis dos países ricos, não têm mais como crescer. Só com a melhoria de renda das classes que ainda consomem em índices inferiores ao desejável é que o mercado da carne poderá expandir de modo contínuo e sustentável.

    Refletir é preciso.

  2. Jose Ferreira de Carvalho Filho disse:

    Na atual situação que estamos vivendo, se boi gordo ano que vem, que está proximo, tiver com o preco de oiternta cinco (85,00) dou-me por satisfeito.

  3. JOSE FRANCISCO SOARES ROCHA disse:

    A crise realmente existe, mas há muita especulação por trás e os frigoríficos e importador e estão tirando como sempre partido da situação especulando. Faz parte do jogo e sempre fez.

    A demanda por carne é forte internamente e externamente e boi pronto e bezerro não existe. Precisamos de calma.

  4. Antonio Luiz Junqueira Caldas Filho disse:

    Eu detesto ver o preço das coisas subirem, inclusive o do Boi, da carne no supermercado.

    Sou a favor da redução de custos. Reformulação do setor tributário e diminuição de impostos!

    Ou você acha que é bom um produtor rural, pecuarista, ouvir de uma senhora dona de casa que carne só uma vez por semana?

    Veja o caso do barril de petróleo, caiu quase pela metade e nada!

    Quando sobe é por causa do preço internacional, quando cai o preço do barril. Não cai nada por aqui!

    Tenho dito!
    Abraço a todos!

  5. Francisco Caruso Neto disse:

    As dificuldades no setor pecuário sempre existiram!

    Com tudo não podemos deixar de lembrar que nós brasileiros somos produtores de carne e quem mais?

    Temos que nos adequar as condições; a hora é de hibernar, guardar a pouca gordura que nos resta; para que em um futuro próximo, recuperemos em alto e brado as perdas do passado! E gozaremos dos bons lucros do futuro!

    Toda ação tem uma reação!

  6. mario monazzi disse:

    Como tudo no Brasil, falta organização e união das classes produtoras.

    Se o boi soubesse a força que tem, cerca nenhuma o segurava, e se o povo soubesse a força que tem politico nenhum os enganava, então seria uma boa hora para que todos pecuaristas se unissem e não entregassem seu produto a qualquer preço. Pois os frigorificos oscilam os preços diariamente, os intermediarios, açougues e super mercados, até mesmo atacadistas não mudam seu preço para baixo, somente para cima. Então quem acaba pagando a conta é novamente a classe produtora.

    Meus amigos chega né. A vacina subiu, vermifugo, sal mineral, custo de empregados, adubo, sementes de pastagens, somente nosso produto é que não sobe de acordo com os outros.

  7. Jose Luiz Soares de Mendonca disse:

    Na minha região, Rondonópolis, Mato Grosso, a oferta do boi magro aumentou e diminuiu a procura. Em razao a paralizaçao do INDEA a semana fechou sem negocios de boi gordo, com preço de R$ 80,00/@ e vaca a R$ 76,00/@, com 30 dias.

    No dia 03/12 fizemos um leilão de gado para reposição, os preços de bezerros ficaram em torno de R$650,00 e a bezerra a R$420,00.