Foto: Divulgação/JBS
Depois de parlamentares britânicos pedirem à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) para barrar a proposta de listagem da JBS na bolsa de Nova York, um grupo de senadores americanos também tenta impedir a abertura de capital da gigante de proteínas nos EUA.
Em carta enviada no dia 11 de janeiro ao presidente da SEC, Gary Gensler, os senadores afirmam que a eventual listagem da JBS colocaria em risco acionistas nos EUA. Os parlamentares citam um histórico de “corrupção, abusos dos direitos humanos, monopolização do mercado frigorífico e riscos ambientais” da empresa.
Para os senadores, a listagem da JBS também poderia fortalecer a posição da companhia no mercado americano, o que, argumentam eles, prejudicaria a competitividade do segmento e os agricultores e pecuaristas do país.
Os parlamentares pedem que o órgão avalie a documentação preliminar da JBS para garantir que a empresa prestou todas as informações necessárias sobre esses tópicos sensíveis. “Caso a JBS não consiga sanar essas deficiências de divulgação, pedimos que a SEC se recuse a declarar efetivo o registro da empresa”, escreveram.
A carta cita que, em 2020, a J&F Investimentos, que controla a JBS, declarou-se culpada em casos de suborno no Brasil e nos EUA, inclusive no processo de compra da Pilgrim’s Pride, em 2009. Os senadores citaram também casos de desmatamento na Amazônia ligados à venda de gado à empresa.
Procurada, a JBS disse que a dupla listagem aumentará o escrutínio sobre os processos da companhia, que terão que atender aos padrões da SEC e da bolsa de Nova York. “Stakeholders genuinamente interessados no desenvolvimento e crescimento da companhia e de toda a sua rede de valor apoiam a listagem das ações da JBS em Nova York”, disse a empresa, em nota.
Os argumentos dos senadores ressoam o manifesto do movimento “Ban The Batistas”, que diz lutar para “proteger agricultores, pecuaristas, consumidores e investidores americanos dos riscos de um IPO da JBS”. O grupo menciona ainda uma suposta “tomada desenfreada de poder de seus acionistas majoritários, os irmãos Joesley e Wesley Batista”, que aproveitariam a listagem para elevar para 90% sua posição na companhia.
Segundo o site Politico, especializado na cobertura da política americana, o movimento teria contratado a consultoria Actum para tentar barrar a oferta. No entanto, é difícil conectar a carta dos senadores americanos ao grupo — procurado pelo Valor, o movimento “Ban The Batistas” não informou quais organizações, empresas ou pessoas físicas estão apoiando e financiando o grupo.
Igor Guedes, analista de commodities da Genial Investimentos, afirma que a expectativa da JBS era concluir a oferta antes do fim de 2023, mas que o processo mostrou-se mais trabalhoso do que se pensava. “Estão evitando dar uma nova data e frustrar o mercado, mas o que a diretora de RI fala é que é questão de tempo”, diz.
Segundo ele, a listagem da JBS em Nova York aumentaria a liquidez da companhia nos EUA, onde, hoje, os investidores têm acesso aos papéis da empresa por meio de American Depositary Receipts (ADRs). “A JBS é negociada por valor abaixo dos pares americanos, como a Tyson, quando, para nós, deveria ser o contrário”, afirma.
Guedes avalia que a possível listagem esteja incomodando integrantes da indústria americana de carnes, já que a plataforma diversificada da JBS daria a ela vantagem em relação a frigoríficos que operam apenas com boi nos EUA. “O capital que cobria o gap [no valor de mercado da JBS] em relação aos pares provavelmente sairia dos próprios pares”, diz.
Fonte: Globo Rural.