Sequestro de carbono

Por Fernando Penteado Cardoso

Está na moda o termo seqüestro de carbono – C. Não há escrito sobre ecologia e mesmo conservação do solo que não o mencione. Vem substituindo até o conceito tradicional de matéria orgânica – MO. Uma questão de modismo até certo pondo desiderativo.

Admite-se que o aumento da concentração de dióxido de carbono – CO2 na atmosfera, ao reter o calor recebido do sol, seja responsável pela fase atual de aquecimento de nosso planeta. Lembre-se que ao longo da história geológica da terra, já tivemos outros períodos de extremo calor, alternando-se com épocas muito frias chamadas de eras glaciais.

No decorrer das eras, o chamado gás carbônico – CO2, foi sempre retirado da atmosfera pelos organismos vivos e fixado na forma de matéria orgânica, seja animal ou vegetal. Em tempos pré-históricos esse material carbônico se mineralisou principalmente na forma de carvão de pedra e de petróleo, considerados como fósseis. Ao queimar carvão e destilados de petróleo, estamos devolvendo à atmosfera carbono que dela foi retirado milhões de anos atrás.

Em era mais recente, outra retenção ocorreu pelo crescimento das florestas, formando-se um estoque de C que, do mesmo modo e em muito menor escala, é devolvido à atmosfera seja pela queima após corte, para eliminar a sombra que inibe as plantações, seja pela decomposição de folhas, galhos e outras partes.

Cientistas, ambientalistas e ecologistas recomendam que se queimem menos combustíveis fósseis oriundos do carvão e do petróleo e igualmente menos vegetação (matas, cerrados, etc), embora esta tenha um significado comparativamente muito menor.

Os especialistas admitem uma reciclagem contemporânea do C, o que acontece quando se queima álcool ou óleos vegetais, além do lenho de reflorestamentos, liberando gás carbônico absorvido da atmosfera pouco tempo antes. É uma reciclagem aceitável por ser de curto prazo, sem acrescentar à atmosfera carbono de origem fóssil.

O fogo é sempre um espetáculo pirotécnico que chama a atenção, sendo assim condenado de uma maneira geral, muito embora possa representar uma reciclagem de curto prazo do C retido poucos meses antes. Quando se queimam as folhas secas da cana para facilitar a colheita, p.ex., há uma devolução à atmosfera de menos de 10% do total de C absorvido por essa cultura no decorrer de seu ciclo vegetativo anual.

Recomendam finalmente que se procure reter ou fixar carbono atmosférico através da fotossíntese, ainda que temporariamente, na forma de plantas em crescimento, lenho dos reflorestamentos e culturas permanentes, etc., cujos detritos, ao se decomporem, dão origem ao húmus. A esta retirada de C da atmosfera deram o nome de “seqüestro”.

O seqüestro é temporário, com prazos variáveis, pois o C acaba retornando à atmosfera pela decomposição ou queima. O aumento do teor de húmus no solo talvez seja a retenção de ciclo mais longo, quase permanente, daí advindo sua importância.

Cumpre salientar a respeito que o sistema de plantio direto sobre solo recoberto de resíduos, bem como as pastagens permanentes, proporcionam ambientes altamente favoráveis à formação de húmus, com aumento do seu teor no solo, sendo assim recursos inigualáveis para o almejado “seqüestro de carbono”.

0 Comments

  1. Claudio Henrique Maluf Vilela disse:

    Sobre o artigo do Sr. Fernando Cardoso, fica a seguinte questão: sendo as pastagens excelentes “sequestradoras”de carbono por que até agora não existem vendas de créditos de carbono baseadas em pastagens formadas?

    Claudio Henrique Maluf Vilela
    Cuiabá – MT

  2. José Joaquim Otaviano Pimentel disse:

    Muito bom este tipo de artigo começar a circular na mídia

    Lanço um pequeno desafio:

    Gostaria que alguém que tenha material com informações detalhadas do potencial de fixação de carbono das pastagens, em comparação com a emissão de carbono (principalmente em relação ao metano) pelos ruminantes, disponibilizasse este material via BeePoint.

    Em princípio a fixação de carbono nas gramíneas é muitas vezes superior à emissão de carbono na forma de Metano.

    A razão de apresentar estes dados reside no fato de que os países industrializados têm culpado os ruminantes pela destruição da camada de ozônio devido à emissão de Metano.

    Criticam a ineficiência produtiva dos trópicos como grande causador de elevadas emissões de Metano.

  3. Adalberto Rossigalli disse:

    O artigo, de uma maneira bem objetiva, esclareceu um dos grandes mitos que me acompanhavam e me intrigavam há muitos anos.

    Agradeço ao Dr Fernando Cardoso pela desmitificação deste tabu.

  4. Janete Zerwes disse:

    A Redação do BeefPoint,

    Aproveitando a entrada em vigor em 16 de fevereiro passado do Protocolo de Kyoto, envolvendo o compromisso de 141 paises signatários, de reduzir até 2012 a emissão de gases de efeito estufa – dióxido de carbono (CO2), gás metano (CH4) entre outros. E, a “euforia” em torno da comercialização de créditos – advindos da economia de emissão de gases poluentes, gerada pela utilização de fontes alternativas de combustíveis especialmente Mecanismos de Desenvolvimento Limpo- MDL, que propõe a utilização de resíduos renováveis – dejetos urbanos, resíduos da embutirias de cana, arroz, soja, madeira; resíduos de confinamentos, de pocilgas da suinocultura, etc…, como forma de gerar créditos de carbono comercializáveis, a Comissão de Produtoras Rurais da Federação da Agricultura de Mato Grosso – realizou nos dias 28 e 29 de Março de 2005 o CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENERGIA RENOVÁVEL E CRÉDITOS DE CARBONO, com o objetivo de levantar uma discussão ampla sobre o assunto:

    – Comercialização – Tradings, legislação, elaboração de projetos,…
    – Equipamentos que utilizam resíduos para geração de energia limpa;
    – Metodologias de cálculo de emissão e/ou economia de emissão;
    – Exposição de Estudos sobre a fixação de carbono no solo, etc…

    A conclusão que chegamos após a realização do Congresso, é de que existem muitas pesquisas sendo feitas por cientistas sérios, envolvidos com estas questões, com trabalhos e conclusões de interesse para nós produtores, que possibilitam a aplicação nas nossas atividades agrícolas (plantio direto); pastoris (uso racional do pasto, obedecendo à fisiologia do capim, agregando espécies leguminosas que melhoram a disponibilização de nitrogênio, produzindo mais massa e aumentando a camada de húmus consequentemente), trazendo benefícios para o solo, para os animais que podem aumentar nossa lucratividade através da economia de manejo do solo da melhoria da qualidade alimentar para o rebanho. Tudo isto, beneficiando diretamente a qualidade ambiental, ou melhor, do ar respiramos.

    A idéia central é de que a difusão do conhecimento sobre este assunto, não deve ficar unicamente no foco da comercialização dos créditos – embora a comercialização possa ser considerada um “plus” financeiro para qualquer projeto que se enquadre nas metodologias de avaliação e determinem os mesmos como geradores de créditos comercializáveis.

    Estaremos novamente abrindo as discussões sobre o assunto durante a BIENAL DOS NEGÓCIOS DA AGRICULTURA – promovida pela FAMATO – Federação da Agricultura de Mato Grosso – nos dias 24 a 26 de agosto de 2005 – Centro de Eventos do Pantanal Cuiabá-MT. http://www.famato.org.br

    A Comissão de Produtoras Rurais de Mato Grosso, encarregada de dar continuidade ao assunto levantado anteriormente, convida e aceita sugestões de interesse sobre o assunto “carbono”, que possam ser incluídas nas palestras.

    Janete Zerwes – Coordenadora de Assuntos de Agricultura – Pecuária e Tecnologia – Comissão de Produtoras Rurais – FAMATO-MT

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