Serguei Brener é Médico veterinário formado pela UFMG, já tendo trabalhado na área de assistência veterinária como autônomo e na realização e organização de treinamentos para produtores rurais no Senar-MG.
Atualmente trabalha no Departamento de Sistemas de Produção e Sustentabilidade, na Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Desde fevereiro desse ano é coordenador de Sistema de Rastreabilidade.
Nessa entrevista ao BeefPoint, Serguei Brener fala sobre o novo Sisbov, suas vantagens e desafios.
BeefPoint: O Sisbov foi lançado em 2002 e inúmeras vezes tivemos alterações dos prazos para adequação a norma, o que desestimulava os agentes da cadeia que prepararam para os prazos pré-estabelecidos. O que dá a garantia que com o novo Sisbov, os prazos para adequação serão cumpridos e não postergados?
Serguei Brener: O processo que resultou na Instrução Normativa 017 foi bastante diferente do ocorrido em 2002. Desta vez houve uma longa discussão, quase um ano e meio, com a participação de todos os elos da cadeia através de seus representantes, tendo sido referendada no Fórum Nacional de Pecuária e na Câmara Setorial da Carne. Conseqüentemente, neste “Novo Sisbov” temos um grande pacto que dá sustentabilidade e garante a continuidade.
BeefPoint: Poderá haver algum problema para o produtor que não estiver com o estoque declarado na defesa sanitária em dia ao preencher o formulário para inventário de animais?
Serguei Brener: Não haverá problema, apenas será necessário acertar as informações pois deverá constar o mesmo número de animais nos cadastros do Sisbov, da Unidade Local de Atenção Veterinária e na propriedade. O período de transição dá a possibilidade ao produtor de efetuar as correções antes de aderir ao “Novo Sisbov”.
BeefPoint: Está programada uma “anistia” como já ocorreu em alguns estados, estimulando o recadastramento com dados atuais e corretos?
Serguei Brener: Aqueles que irão participar do Sisbov deverão estar com isso ajustado. Oficialmente, nós não sabemos da diferença. Sabemos que, se é que há diferença, as pessoas têm um prazo para o ajuste, antes de mudar para o sistema novo. Como irão proceder esse ajuste, se os estados irão dar alguma anistia, não é uma decisão que cabe a nós.
Já foi detectado em auditorias casos em que há diferença no estoque de animais. O que é necessário para o Sisbov é que o dado esteja correto. O produtor vai ter que se planejar para fazer esse ajuste, a estratégia é dele. Mas se ele quiser participar do Sisbov, que é voluntário, deve estar com isso acertado.
BeefPoint: Qual é a definição jurídica de ERAS? Uma propriedade com dois arrendatários ou proprietários será considerada um ou dois ERAS?
Serguei Brener: O Estabelecimento Rural Aprovado no Sisbov – ERAS é a propriedade rural cujo proprietário voluntariamente deseje aderir as regras da IN 17, devendo rastrear a totalidade de seus animais, adotar a escrituração zootécnica mínima, controlando os insumos utilizados na produção, declarando como é o seu sistema de produção através de um protocolo. O ERAS deverá ainda ser auditado por uma única certificadora.
Ao fazer a adesão ao “Novo Sisbov”, todos os animais deverão estar identificados e inseridos na BND e portanto é obrigatória a participação de todos os produtores que utilizem a propriedade.
BeefPoint: O protocolo Eurepgap prevê uma auditoria não-anunciada em 10% das propriedades certificadas. Qual a meta de percentual de frigoríficos, certificadoras e fazendas auditadas pelo Mapa em 2007?
Serguei Brener: A normativa do Sisbov estabelece a realização de vistorias pelas certificadoras no máximo a cada 180 dias. O MAPA também irá acompanhar de perto este Novo Sisbov e para isto já temos estabelecidas metas de auditoria para este e para o próximo ano.
100% dos frigoríficos, certificadoras e fábricas de elementos de identificação serão auditados. Além dos dados das auditorias, nós temos outra ação, onde há, no mínimo, um fiscal nos frigoríficos de exportação. Esses fiscais alimentam o sistema hoje com dados do Sisbov. Para certificadoras, frigoríficos e fabricantes de identificadores, iremos no mínimo uma vez em cada uma até o fim de 2007.
Faremos vistoria em 1% das propriedades cadastradas no Sisbov, cuja escolha será da seguinte forma: 100% dos casos de denúncia, a partir dos dados constatados no frigorífico, e o que sobrar será aleatório. Por exemplo, se tiverem 20 propriedades com problemas constatados nos abates nos frigoríficos, iremos nessas 20 e, para completar 800 propriedades, que seria 1% hoje, as outras 780 propriedades seriam escolhidas por sorteio.
Iremos promover também dois cursos para auditores Fiscais Federais Agropecuários neste mês e no mês de novembro. Essa expansão da equipe permitirá a realização de auditorias em todos os Abatedouros Frigoríficos, Fábricas de Elementos de Identificação, Certificadoras, além de auditorias em um grande número de Estabelecimentos Rurais Aprovados no Sisbov e nas Unidades Locais de Atenção Veterinária nos estados. Haverá um trabalho paralelo para apurar todas as denúncias formais encaminhadas ao Sisbov.
BeefPoint: Com o novo Sisbov, o Mapa está mais preocupado com a comunicação da norma, tendo até criado uma cartilha explicativa. Como você analisa a comunicação feita pelo Mapa até o momento e feedback recebido dos produtores?
Serguei Brener: Certamente este cuidado faz parte do espírito do “Novo Sisbov”. O Ministério esta promovendo um grande número de ações de divulgação da norma do Novo Sisbov, pois entendemos que só com o entendimento das regras os envolvidos poderão fazer corretamente as atividades para a rastreabilidade dos rebanhos.
Também as entidades que participaram da discussão e elaboração da norma estão envolvidas no processo de divulgação, o que podemos exemplificar com a cartilha publicada através de uma parceria entre o MAPA, ABIEC, ACERTA e CNA (clique aqui para visualizar a cartilha).
Outras iniciativas importantes estão sendo as palestras de divulgação, o atendimento através do fale conosco do MAPA, a impressão de informativos distribuídos pelos frigoríficos e a expressiva divulgação pela imprensa especializada.
BeefPoint: Existe alguma garantia de que os dados do Sisbov não serão utilizados para outros fins, como por exemplo na área tributária? Em casos de requisição judicial, esses dados serão divulgados, como ocorre hoje com o sigilo bancário?
Serguei Brener: Os dados do Sisbov não são utilizados para ações nesta área, existindo cláusulas de confidencialidade que impedem a divulgação dos dados dos produtores cadastrados no Sisbov.
Entretanto, não podemos ir contra uma decisão judicial. Embora nunca ter havido esse tipo de requisição, hoje a receita federal cruza dados de cartão de crédito, faz estudos de movimentação financeira de pessoa física etc.
Se alguém perguntar, não podemos informar, apenas dar dados genéricos do sistema – que hoje tem 80 mil propriedades cadastradas, coisas desse tipo -, mas sem entrar em detalhes. Se amanhã a receita pedir isso ao supremo, que determinar que façamos, somos obrigados a cumprir.
BeefPoint: Como o Sisbov irá garantir que a rastreabilidade continuará dentro do frigorífico? Leitores do BeefPoint já demonstraram a preocupação de serem punidos, por problemas na carne, quando não confiam nos controles internos do frigorífico.
Serguei Brener: É necessário mostrar o trabalho dos frigoríficos. Estão sendo feitos trabalhos sérios e a rastreabilidade permeia todos os processos, sendo cumprida obrigatoriamente por aqueles que exportam para a União Européia.
BeefPoint: Você poderia, por favor, detalhar um pouco mais como será a auditoria dentro do frigorífico, feita pelo Mapa?
Serguei Brener: No dia-a-dia, temos uma equipe do DIPOA dentro dos frigoríficos. Essas pessoas monitoram e conferem o trabalho de rastreabilidade feito diariamente, seguindo uma instrução de serviço. Uma amostragem de verificação na linha de abate, acompanhamentos que passam pela sala de desossa, até saída ao contêiner. Se é para exportação, um fiscal irá assinar um certificado final. Isso é feito todo o dia.
Quando realizamos uma auditoria, vamos verificar como está sendo feito o trabalho por essa equipe. Conferir se estão fazendo a amostragem corretamente, se estão fazendo a verificação, identificando problemas e relatando as não-conformidades para que sejam feitas as auditorias nas propriedades também.
BeefPoint: O novo Sisbov é uma mudança de paradigma da certificação de origem, para a certificação de processos. Caso a implantação do novo Sisbov seja bem-sucedida, como o senhor avalia a possibilidade do Brasil adequar de forma mais rápida e um número significativo de fazendas em protocolos como o Eurepgap?
Serguei Brener: Todos os protocolos de produção têm entre suas áreas temáticas a rastreabilidade, sejam os em desenvolvimento no Brasil, como por exemplo o SAPI ou os estrangeiros, portanto é um passo dado a adoção da rastreabilidade.
É importante observar que a rastreabilidade é exigida por alguns países, como por exemplo os membros da União Européia, mas também é exigida por alguns compradores aqui mesmo no Brasil.
BeefPoint: Quais serão os desafios para o Estado em adequar a estrutura de fiscalização às necessidades geradas pelo controle mais rigoroso do novo Sisbov? Como superar esses desafios com os freqüentes contingenciamentos da verba para a sanidade?
Serguei Brener: O Sisbov tem hoje uma estrutura bastante enxuta, moderna, com a distribuição de auditores nos vários estados do país, tendo um custo baixo para a realização das auditorias, sendo fácil alocar recursos e cumprir as metas de fiscalização.
BeefPoint: Quando o novo sistema de banco de dados do Sisbov estará pronto? Hoje já é possível se cadastrar como produtor no novo Sisbov, ou ainda é preciso aguardar o novo banco de dados?
Serguei Brener: Está em desenvolvimento um novo sistema com tecnologia mais moderna, segura e ágil. Mas não há descontinuidade no processo sendo que os produtores podem cadastrar propriedades e inserir animais no sistema.
Todos os setores da cadeia estão promovendo adequações para que sejam aprovados os primeiros Estabelecimento Rural Aprovado no Sisbov, o que irá acontecer assim que tiverem sido atendidas as exigências da norma.
Alguns detalhes, cujos procedimentos e prazos para entrar em vigor, estão sendo finalizados, como o cadastramento dos vistoriadores, cada certificadora deve ter um escritório no estado onde irá atuar etc. Hoje não temos nenhuma propriedade certificada. Acredito que em duas ou três semanas, o sistema já esteja em condições de funcionar.
Na próxima semana, acontecerá o curso para os auditores. Queremos que estejam no campo, acompanhando essas primeiras propriedades que serão certificadas, pois irão servir de modelo para as demais. Será uma auditoria de caráter educativo.
Estamos em uma fase final. Tivemos treinamento há duas semanas atrás para os responsáveis técnicos pelas certificadoras, na próxima semana terá para os auditores e há um previsto para as próximas duas semanas para os responsáveis por TI (Tecnologia da Informação) das certificadoras. É uma seqüência para assegurar que tudo irá começar de forma correta.
BeefPoint: Qual a sua recomendação para produtores que já aderiram ao Sisbov? Devem cadastrar mais animais no sistema antigo, antes de 30/11, ou já optar pelo novo sistema?
Serguei Brener: Esta é uma decisão gerencial, sendo importante agora que o produtor leia a cartilha, tire suas dúvidas e tome a decisão que lhe traga mais benefícios. Ele pode, por exemplo, inserir os animais que irá abater durante o ano de 2007 agora e fazer a adesão ao sistema posteriormente.
BeefPoint: Uma das inovações da IN 17 é a contemplação do sistema eletrônico de identificação. O que falta na legislação e na estrutura de fiscalização do Estado para que a identificação eletrônica se torne realidade? O Mapa estabeleceu alguma meta para que as duas coisas possibilitem a adoção do sistema eletrônico?
Serguei Brener: É certo o entendimento de que o elemento eletrônico é um grande avanço, podendo ser usado como ferramenta de manejo. O MAPA procurou viabilizar na norma o uso do sistema permitindo por exemplo a sua reutilização.
BeefPoint: Quais são as forças e fraquezas da IN 17, que tornem o sistema capaz de penalizar o “oportunista” e premiar quem faz o dever de casa corretamente?
Serguei Brener: A nova IN tem muitos pontos positivos, é mais simples e de fácil entendimento, traz junto uma série de ações que permitem esclarecer a todos sobre sua aplicação e o principal, está unindo todo o setor produtivo em torno do objetivo de produzir carne para exportação.
Ela tem bem explicitado quais são as medidas de caráter administrativo que podem ser executadas: advertências, suspensão até desligamento da propriedade, de uma certificadora ou habilitação de um frigorífico do sistema. Essa seqüência está bem determinada, há condição de aplicar a punição para quem cometeu uma não-conformidade, e mais, agravar a punição na reincidência. O ponto mais forte, para mim, está na aplicação das medidas administrativas, que no passado existiam, mas não tão bem escritas como está hoje. Hoje, a norma é mais fácil de explicar.
Mas também a conjugação com esse grupo que está montado com ações educativas, para poder orientar o produtor que está entrando no sistema em um momento inicial, e o grupo de auditores que irá acompanhar no dia-a-dia, auditando as propriedades e as certificadoras, evitando as fraudes. Não vai haver espaço para fraudes como no passado.
O sistema, hoje, recomeça, é um novo Sisbov. Não há nenhuma propriedade dentro. Então, da mesma forma em que a adesão é gradativa, temos condições de fazer uma acompanhamento de perto nesse passo-a-passo da entrada das propriedades na fazenda.
Isso é fundamental, temos que privilegiar quem trabalha sério, e tem muita gente trabalhando assim. Essas pessoas têm que sentir valorizado seu trabalho, de quem fez certo. É um corpo-a-corpo que queremos fazer, para que se diferencie quem aplica a norma e investe no sistema. Quem quiser, está aberto para todos participarem. Mas quem participar, que participe com seriedade, não faça por fazer.
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O Dr. Serguei Brener, explica o novo SISBOV com sua costumeira sabedoria. Ficou claro para quem ler este artigo que as datas propostas para adequação, inserção de animais no novo SIBOV, cadastramento dos produtores e das propriedades ERAS, vai ser mantido e não a menor chance de “virada de mesa”, permitam-me o termo, como já houve no passado. O novo SISBOV, acredito que vem para ficar definitivamente, e a cada ator da cadeia foi dado conhecimento de seus direitos e obrigações.
Como Presidente da ACERTA, recebi vários telefonemas, alguns de apoio outros nem tanto ao pronunciamento do Dr. Serguei, e vou me permitir, também, tecer alguns comentários pontuais.
1. Coloca-se em dúvida a exigência de um escritório estadual para a Certificadora que desejar atuar em outro estado da Federação. Ora, ouvindo os interesse de algumas Certificadoras que são contra a medida estou dando tratos à bola, e me pergunto: se não tenho condições de estabelecer-me com uma filial no estado que desejo atuar, fora de meu estado séde, que tipo de Certificadora serei?
Evidente que o MAPA, deseja que se estabeleça um sistema confiável e com responsabilidade, pois que outra coisa aconteceria, se as responsabilidades de uma falha ou erro de Certificação recaisse num simples representante comercial? Todos sabem até onde vai as responsabilidade de um representante comercial, e por essa razão uma Empresa de Certificação que procura o INMETRO para obter certificação de OC, como exemplo ISO 65, primeiramente deve provar que tem capital registrado para arcar com possíveis indenizações de acordo com o volume de seu negócio.
2. O MAPA deseja que realmente haja uma parceria entre os atores da cadeia, ou seja serviços públicos, produtores, Organismos de Certificação e Frigoríficos, onde um sistema confiável seja a partir de agora edificado.
3. Pode se notar em seu pronuciamento que deve-se dar um basta ao quebrar galhos, jeitinho brasileiro, junto ao novo SISBOV, o tempo de adaptação já passou, foram cometidos erros e enganos, alguns danosos ao sistema, fruto muitas vezes ao nosso pouco conhecimento, ao nosso aprendizado (lembrar que a França, onde se espelharam as primeiras IN´s, levou 14 nos para atingir o atual estágio) a nossa necessidade de atender a UE iniciando a “rastreabilidade” de animais prontos para o abate., e deu no que deu.
4. Notar que com as atuais regras, chegaremos em 2009 com um sistema onde até a simples movimentação de animais entre as propriedades só acontecem de uma propriedade ERA para outra propriedade ERA, que a propriedade ERA vai ter que ter todos seus animais rastreados, iniciar a rastreabilidade logo após a desmama etc.
5. O SISBOV antigo era ruim??? Afirmo que não, o que houve foi fruto da pouca experiência nossa no quesito rastreabilidade. Não deveríamos ter ido afoitos como o fomos, mas isso foi a necessidade de atender a UE, coisa que até hoje muitos não entenderam.
Por essa e por outras tenho a convicção que estamos no caminho certo.
No meu ponto de vista, a grande dificuldade de se alcançar com êxito as normas do novo Sisbov será com os pecuaristas, que mesmo os frigoríficos comprando somente animais rastreados, ainda temos um grande índice de não-conformidade que desclassificam os animais rastreados para UE.
Sendo assim, o manejo de curral nos frigoríficos estão adaptados às novas normas, mas não temos a garantia de que se comprarmos somente animais com brincos e DIA´s (rastreados), estes podem chegar ao frigorífico e perderem seu título de rastreabilidade devido as não conformidades como: DIA não confere com GTA, propriedade não confere com GTA, brinco e sem botton, tempo de permanência nas propriedades etc.
Fábio Leal
Meu ponto de vista com relação ao novo Sisbov é que só dará certo se a fiscalização for intensificada nas propriedades rurais, pois se lá estiver tudo certo, de acordo com as normas do novo Sisbov os problemas nos frigoríficos estarão resolvidos.
Os frigoríficos recebem visitas rotineiras que auditam seus sistemas, portanto, se o governo oferecer condições para os novo Sisbov fazer tudo que estão falando que vão fazer, aí sim, tudo dará certo.
Nós dos frigoríficos estamos de pleno acordo com todas normas, embora as normas devem ser feitas para serem cumpridas, e para isso ela precisa ser com poucas burocracias, envolvendo todas classes produtoras e não somente os frigoríficos como foi até hoje.
No sistema antigo do Sisbov, usaram os frigoríficos como o termômetro de tudo que dava errado na rastreabilidade e a última missão européia viu que não era isso que acontecia, pois o problema esta na fonte produtora da matéria – prima.
Gratos
Claudio Martins e Fábio Leal
Meus parabéns ao dr. Serguei Brener pela maravilhosa e importante entrevista dada ao BeefPoint.
Eu sou supervisor de uma certificadora e acredito neste novo modelo de SISBOV.
Também acho que o Brasil está no caminho certo para conquistar mais confiança na mercado externo, principalmente o mercado europeu e até mesmo o do nosso Brasil.
Gostaria de parabenizar o BeefPoint e o Sr. Serguei, a reportagem está muito bem conduzida, e o Sr Serguei esclarece com muita precisão.
Concordo plenamente que devemos privilegiar quem trabalha sério, temos que continuar na busca de caminhos que nos levem a ser os maiores exportadores pela qualidade e seriedade no que produzimos, e não por preço ou quantidade.
Nós da Plajax também fazemos parte deste grupo que busca a qualidade e seriedade no sistema, mais uma vez parabéns e um grande abraço.
O grande entrave se chama DIA. O pecuarista só coloca o brinco no momento do embarque devido à dificuldade de leitura dos brincos sujos e separação de papéis. E mesmo que ele separe os animais e DIAs para embarque com antecedência, sempre haverá erros, pois os animais não são estáticos, eles mudam de pasto, não vêm ao embarque e devem ser substituídos por outros no dia, o que dificulta muito o processo.
Boi não se guarda em contêiner, nem fica em prateleira. O DIA servirá sim para mais manejo, stress, contusões, e, conseqüentemente, pior qualidade da carne. Não sou contra o Sisbov, mas sim contra o DIA.
O brinco e o botton já são uma identidade, o banco de dados baseados no número do brinco já fornece as informações necessárias, para que mais papel? A isenção do DIA para quem tem identificação eletrônica já prova o quanto o DIA é desnecessário. Triste, para não dizer cômico num mundo informatizado, que tende à extinguir arquivos, documentos, e até dinheiro de papel. Um atraso!!!
Continuaremos a andar de lado… O novo Sisbov peca no básico, ou seja: obrigar o criador a utilizar um número de manejo com 6 algarismos não seqüenciais, é pedir para ser enganado… é impossível documentar o manejo diário no campo, mesmo manejo de grupo no curral com número de manejo tão longo.
Temos em nossa propriedade um número de identificação de 4 algarismos, e apesar de termos treinado nossos funcionários e estarmos utilizando tal identificação há mais de 5 anos, encontramos cerca de 3 a 4% de erros de leitura e transcrição para documentos onde registramos nossas ocorrências (individuais ou de grupo); erros estes que somente são detectados por temos rotinas diárias de lançamento (atividades no campo) em sistema computadorizado e computador ou listagem nos manejos de grupo no curral.
Os frigoríficos utilizam o número do Sisbov uma única vez, e nós criadores teremos que manipulá-lo durante toda a estadia do animal em nossa propriedade (muitas vezes por 7 ou 8 anos), dessa forma tal identificação deveria nos trazer facilidades, mas em vez disso os especialistas de gabinetes em Brasília ditam regras que inviabilizarão nosso manejo diário, pois os erros decorrentes do tipo de identificação proposto destruirá a credibilidade do sistema.
Os sábios de Brasília deveriam ainda obrigar os frigoríficos a participarem do processo de aprovação das propriedades, como propriedades possuidoras de sistemas de produção e manejo que possam garantir a qualidade dos produtos por eles adquirida (exatamente nos moldes da Indústria Automotiva). Afinal quem comercializa o produto final tem grande dose de responsabilidade sobre o mesmo, mesmo que seja para o mercado interno.
Estas observações (lamentos) de quem realiza um trabalho sério, e que realmente acredita no que faz, me faz acreditar que infelizmente continuaremos (Brasil) a fingir que rastreamos, e os responsáveis pelo sistema continuarão a fingir que acreditam que rastreamos. Pena que os clientes no exterior, insistem em fazer auditorias no sistema e sempre nos reprovam, sendo contestados seguidamente com argumentos de que são demasiadamente exigentes, e que existem interesses outros por trás de suas observações.
Infelizmente a identificação (6 algarismos) é só um dos problemas da rastreabilidade, existem muitos outros (bottom, brinco, tatuagem, organização, treinamento, recursos, supervisão, responsabilidade social, e normas realistas que viabilizem o sistema), mas os sábios de Brasília necessitariam conhecer um pouco mais as condições em que os manejos diários nos diversos tipos de propriedades existentes no país são executados e a que custo.
É conversa para mais que um dia… sob sol ou chuva, longe do ar condicionado e da comodidade propiciada pelos gabinetes oficiais de Brasília.
José Manuel de Mesquita
Agropecuária Cestalto
Os Frigoríficos sempre apoiam as normas do Mapa, Sisbov etc, todos têm seus direitos de decidirem, mas que busquem as normas associadas aos frigoríficos, pecuaristas e órgãos oficiais.
Concordo com a opinião dos criadores Sr Rafael Palma Lima e com o Sr José M de Mesquita. O Sr Fábio Leal expôs suas dificuldades de frigoríficos e eu, como sou da área de frigoríficos, também concordo com tudo isso.
São muitas informações para validarem um animal rastreado !!!!!!!!!
Frigoríficos exportadores não têm interesse nenhum em desclassificar animais rastreados, o que queremos é um programa simples que comprove tudo que nossos clientes externos exigem, simplesmente.
O novo Sisbov só tem elogios das certificadoras e das fábricas de brinco, mesmo que não vão cessar suas atividades, pois os brincos (que caem dos bois) e os DIAs (a parte burocrática) não irão acabar. Agora coloquem a mão na consciência e vejam o que frigoríficos e pecuaristas estão tendo que fazer para conseguir atingir um resultado satisfatório….colocar brinco durante o embarque do gado. Isto que chamam de SISBOV, normas fictícias, que para facilitar o manejo, têm que ser desrespeitadas.
Claudio P Martins
Gerente Industrial
Boa tarde a todos os senhores leitores, o meu comentário é só uma coisa.
A partir de quando vamos levar a sério o sistema de rastreabilidade no Brasil? Pois até agora, tudo foi muito confuso, como essa normativa também para quem não conhece, vocês não explicaram nada a ninguém, seus técnicos do governo (Sisbov), se quer sabem responder uma pergunta sobre rastreamento, se temos dúvidas, não conseguimos tirar com ninguém a não ser, se estudarmos nós mesmos o processo.
Um exemplo simples disso é o seguinte: depois da normativa 17 já saíram algumas circulares pelo Dipoa e nenhum órgão da secretaria da Agricultura tem conhecimento, uma vergonha não acham? Circular 38,39 e 41, o que é isso, doce?
A rastreabilidade deveria ser obrigatória para todos, pois só não a fazem pela pressão de grandes pecuaristas e associações. Vamos ser mais coerentes e lutar pelo crescimento da pecuária em nível mundial e não no nível da esquina. Vamos ser homens mais decentes com todos pois, só daí teremos respeito do mundo todo.
Abraços a todos vocês leitores e meus respeitos a todos.
Caro Dr. Brener
Gostaria de saber se o Sisbov tem programado alguma campanha de divulgação e esclarecimento público, via jornais e TV (horário nobre), uma vez que a cartilha teve um alcance de divulgação muito curto.
Os produtores, na sua grande maioria, assim como os consumidores brasileiros, não conhecem “o porquê” do Sisbov. Não sabem a sua real fundamentação e propósitos. O Governo é o único que não precisa pagar para “sair” no jornal das 20horas!
Vejo que isto seria muito importante para uma real retomada da rastreabilidade.
Parabéns pela entrevista.
Luiz Fernando Azambuja Jr.
Gostaria de parabenizar Dr. Brener pela dedicação a pecuária.
Parabéns ao Dr. Serguei Brener!
O que eu acho é que o antigo Sisbov deixou de ter muita credibilidade, e uma das principais barreira deste novo Sisbov vai ser de convencer o produtor que este Novo Sisbov tem credibilidade!
Parabéns pelo artigo. Infelizmente iniciamos uma rastreabilidade de forma errada onde o produtor, ministério e certificadoras vão ter que superar os próprios vícios. O que me traz algumas dúvidas é no tocante aos frigoríficos, pois se há o ministério atuando nas indústrias porquê não vemos peças de vacas (+- 45% dos abates) em nos açougues e supermercados?
Isso que me preocupa, não adianta o produtor fazer a lição de casa e existir um colapso no setor industrial.
Boa noite caros companheiros pecuaristas.
Mais uma vez recebemos uma normativa de guela abaixo. Trabalho deste elaborado por burrocratas, que jamais registraram no curral em dia de ventania, na listajem ou no laptop, o que é rotina, digamos um lote de 100 animais. Para começar, a pessoa que faz a leitura do brinco muitas vezes deve repetir duas ou mais vezes o número para ser ouvido corretamente. Sabiam que os animais berram? E bem alto. No seu escritório pode se exigir disciplina não é?
Pois bem aí já temos a maior fonte de erros involuntários.
Erros de registro, após 50 animais passados na guilhotina surgem, simplesmente porque o operador começa a cansar. Não somente o responsável pode se limitar aos números, mas fatalmente se ver obrigado de corrigir o trabalho dos peões, no bom sentido, quando surge uma rês com problemas que nem sempre são fáceis de analisar e resolver. Ou surgem animais bravos aprontando as suas que levam tempo. Se tiver sorte não quebra nada.
Entendam como nas cartas aqui apresentadas. O pecuarista tem a tarefa mais complicada para executar. E tudo isto por cinquenta Reais a @? Isto é uma piada de muito mal gosto.
Cordialmente
Hans Nagel
Caros pecuaristas,
Estou na faixa divisa zona tampão. Meu município é divisa e acima do perímetro, ou seja, o meu município vizinho já não pode exportar gado para mercado comum europeu, mas como todo bom brasileiro, tem gente fazendo esquemas para esquentar gado vizinho e transportar para área livre para exportação e lucrando alto nas costas dos pecuaristas vizinhos. Isso tudo com aval da rastreabilidade. Tem pecuarista que não tem no físico, apenas no papel e ganhando com isso.
Então pergunto: como confiar na tal rastreabilidade? Pode ter mil maneiras de melhorar, mas nós brasileiros vamos ter sempre uns espertinhos lucrando em cima disso.
Isso é sério…mas como nosso exemplo maior não sabe de nada, tudo vai acabar em pizza até que se prove o contrário.
Concordo com colegas acima onde afirmam da dificuldade que o sistema causa, e como disseram, boi não fica na prateleira e na gaveta.
Acho que o sistema ainda terá que sofrer muitas alterações, e o pessoal do MAPA deve ir mais ao campo para sentir na pele o que é ler um brinco sujo na orelha de um animal, ainda mais uma numeração com 6 dígitos. Sem falar na qualidade dos brincos que estão aquém da necessária para que o sistema de certo.
Outro coisa que irá complicar muito, e isso sinto muito bem na pele aqui no meu escritório e nas fazendas dos meus clientes, é quando aquecer mais as transferências entre fazendas, pois a confusão com números que o pessoal cria é muito grande e a perda de brincos também. E por incrível que pareça, os frigoríficos não aceitam que o animal vá para o abate somente com a segunda identificação (boton, tatuagem ou marca a fogo). Isso existe.
O MAPA solta o norma para o ERAS, e não cria o sistema para a coisa andar.
O pecuarista engole a mudança, prepara-se para o novo processo, e desde que lançou a nova norma o MAPA ainda não tem condições de fazer a coisa andar, nem no método antigo e nem no novo. Isso é uma vergonha.
E mais uma vez o pecuarista é quem paga o pato.
Além de tudo, o processo é caro e penaliza o pequeno, pois terá que arcar com o custo de R$ 500,00 por semestre para a supervisão, alem dos brincos, etc, mesmo que tenha apenas 100 bois.
Tal preco deveria levar em conta o tamanho da propriedade. R$ 500,00 por semestre pode não ser muito para quem tem 1.000 bois, mas pesa para quem tem 100.