O tema mercado do boi gordo é um dos mais relevantes relacionado a rentabilidade do setor pecuário. Por isso é o assunto mais procurado, conversado e discutido. Entender as tendências de mercado dos mais diversos fatores que influenciam o mercado do boi é fundamental para se planejar e aproveitar as oportunidades.
Com o objetivo de conhecer os principais profissionais que trabalham direta e indiretamente com análise de mercado pecuário, o BeefPoint preparou uma série de entrevistas para compartilhar o trabalho destes profissionais, buscamos reunir informações consistentes sobre o tema.
Queremos conhecer mais como essas pessoas pensam, o que prestam atenção, o que consideram mais importante e o que sentem falta ao fazer seu trabalho de análise de mercado.
Para conhecer melhor quem tem se destacado no mercado pecuário no Brasil, acompanhe nossa série de entrevistas.
Confira a entrevista com Guilherme Reis, engenheiro agrônomo, sócio-diretor da Multitrade Assessoria em Agronegócio.
Saiba mais sobre Guilherme Reis:
Guilherme Reis: Sou engenheiro agrônomo formado pela ESALQ-USP, com especialização em nutrição de ruminantes e MBA em gestão empresarial pela FGV. Após alguns anos de experiência no mercado financeiro, hoje sou sócio-diretor da Multitrade Assessoria em Agronegócio. Assessoramos pecuaristas e empresas na gestão de risco de projetos agropecuários e orientamos quais as melhores ferramentas de proteção para a atividade pecuária. Auxiliando no entendimento do mercado futuro e do Mercado de opções aos pecuaristas.
BeefPoint: Quais as principais ferramentas para conseguir analisar o mercado de forma ampla?
Guilherme Reis: A primeira coisa que temos que entender é que o boi ainda é considerado uma commodity e seu mercado é controlado pela oferta e demanda. Basicamente devemos entender os fatores que podem afetar significativamente de forma positiva ou negativa a oferta de animais para o abate e a demanda de carne bovina pelo consumidor.
Devemos conversar com o máximo de pessoas que fazem parte da atividade, mas nas três esferas: pecuaristas, frigoríficos e atacadistas/consumidores. Entendendo o ponto de vista dos três você terá grandes chances de acertar em que rumo o mercado seguirá.
BeefPoint: Quais são os gráficos que você acompanha diariamente para fazer uma boa análise?
Guilherme Reis: Não sou um bom grafista e acho que para o dia a dia da análise do mercado no curto prazo não devemos ficar tentando achar explicações com comparações que não afetam o mercado diretamente. Mas quando estamos analisando um cenário de tendência para longo prazo, aí sim devemos estruturar gráficos um pouco mais elaborados.
Então diariamente prefiro me basear em gráficos básicos como os indicadores do CEPEA para as várias praças do país, diferencial de bases, escalas de abate (informações próprias em coletas com agentes do mercado), preços da carne no atacado e preço da carne bovina em dólares.
BeefPoint: Quais são os principais indicadores para analisar o mercado do boi, na sua opinião?
Guilherme Reis: Quando olhamos para o mercado de curto prazo devemos analisar os indicadores do preço da arroba do boi gordo em diferentes praças do Brasil e do valor da carne no atacado de São Paulo. E não devemos olhar apenas o valor do indicador ESALQ/BM&F, mas também analisar quais foram os valores máximos e mínimos para os negócios efetivados a vista e a prazo.
BeefPoint: O que você lê de notícias, análises e relatórios de mercado? Quais são as leituras indispensáveis?
Guilherme Reis: Leio diariamente matérias no BeefPoint e no site do Notícias Agrícolas, relatórios da Scot, relatórios de corretoras e matérias da Agência Estado.
BeefPoint: Quais os principais fatores devemos olhar pelo lado da oferta e do consumo para uma análise de curto e médio prazo?
Guilherme Reis: Quando olhamos para a oferta de animais para o abate devemos analisar de formas diferentes o primeiro semestre (quanto temos oferta basicamente de bovinos terminados a pasto) do segundo semestre (quando temos o complemento de animais terminados em confinamento).
No primeiro semestre a oferta costuma ser maior, mas os pecuaristas tem um poder de barganha maior segurando seus animais no pasto quando as cotações não são muito favoráveis, já no segundo semestre quando os animais estão confinados este prazo de reter os animais é menor e assim pode haver uma concentração de oferta. A dinâmica é bastante diferente e as oscilações nas cotações podem ser bem maiores.
Com relação ao consumo devemos olhar para o mercado interno e exportações. Basicamente analisar o poder aquisitivo e inflação e a cotação do dólar que deixa nossa carne competitiva lá fora.
BeefPoint: Você poderia nos contar uma história ou um acontecimento, em que conseguiu entender as relações do mercado, fazer uma análise correta da situação, e acertar a tendência de preços? Quais as lições você tirou desse episódio?
Guilherme Reis: No final no primeiro semestre quando analisamos a quantidade de bois abatidos em 2013 estava muito forte, concluímos que apesar da oferta de animais ser maior este ano, a indústria frigorífica estava com muita “fome” de boi e que não restaria boi de pasto com volume para o segundo semestre. Como o confinamento também não tinha previsão de aumento, nós acertamos em dizer que teríamos uma alta moderada para o segundo semestre.
A lição que tirei é que não importa a quantidade de animais que tenhamos para ofertar, se a demanda for boa, a arroba sobe.
BeefPoint: Você poderia nos contar uma história ou um acontecimento, em que aconteceu o contrário, onde não conseguiu entender as relações do mercado, fazer uma análise correta da situação, e errou a tendência de preços? Quais as lições você tirou desse episódio?
Guilherme Reis: Eu previ que os preços iriam perder força no final de setembro devido a uma maior oferta de animais de confinamento, mas isso só ocorreu duas semanas depois. Essa antecipação me custou alguns puxões de orelha e alguns trocados, mas ninguém acerta na mosca.
A lição que tirei é que quando você acha que já subiu tudo, ainda tem mais um pouquinho, mas a correção uma hora é certa. Por este motivo orientamos nossos clientes pecuaristas a fazer uma média e diminuir os riscos da atividade.
BeefPoint: Em sua opinião, quais são os principais dados em falta na pecuária brasileira para que se possa fazer uma análise consistente do mercado? O que poderia ser feito para reduzir esse problema? Qual órgão poderia contribuir de forma mais efetiva?
Guilherme Reis: Eu sei que é difícil pelas grandes extensões territoriais, mas deveríamos ter levantamentos periódicos sobre o volume de animais em fase final de engorda. Isso poderia ser organizado pelo setor privado.
BeefPoint: Qual o maior desafio do analista do mercado da pecuária?
Guilherme Reis: Acho que o pecuarista ainda não enxergou muito valor nos serviços destes profissionais como ocorre nas commodities agrícolas, mas vamos chegar lá.
O maior desafio do analista é conscientizar o produtor que ele deve utilizar ferramentas de proteção que existem no mercado. Pois o que acaba acontecendo é que o pecuarista recebe pelo seu produto o que o mercado diz no dia em que ele vai vender sua produção. Isso é péssimo para seus negócios.
BeefPoint: Qual profissional da área é sua referência?
Guilherme Reis: Minha referência é o Leandro Bovo. Entende muito do mercado e é muito coerente no que diz e escreve sobre o mercado físico e futuro do boi gordo.
BeefPoint: Qual conselho você daria para quem quer começar a trabalhar na área?
Guilherme Reis: Meu conselho é conversar com muita gente que já está no mercado e se possível trabalhar por um período em alguma corretora ou mesa de operações. Mas será a prática e o dia a dia que lhe trará as melhores lições.
Comentário BeefPoint: Muito obrigado Guilherme Reis, por participar ativamente de nosso site como colunista e por contribuir com nossa série de entrevistas sobre análise do mercado. Obrigado por trazer suas ferramentas e por mostrar a importância do analista de mercado para o pecuarista.
1 Comment
Ótimo, e um presente de início de um novo ano. Informação é primordial e , como disse o ” velho ” Chacrinha: “quem não se comunica se trumbica”. Feliz 2014 prá você e obrigado .
João Batista – Provisoriamente, em Roraima – RR ( TÉCNICO EM AGRONEGÓCIOS ).