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Serviço de Inspeção Federal – SIF

Por José Christovam Santos1

Quem sabe sabe. O professor Dr. Pedro Eduardo de Felício, da UNICAMP, com o brilho que lhe é peculiar, em bem lançado e oportuno artigo na internet, aborda, com propriedade e conhecimento de causa, o que ele intitula de paradoxos da indústria nacional da carne: 1) paradoxo da inspeção sanitária; 2) paradoxo da rastreabilidade; 3) paradoxo da classificação de carcaças.

Por familiaridade e oportunidade, em concordância em gênero, número e grau com o professor Felício, faço algumas considerações adicionais acerca da Inspeção Sanitária, embora, até onde vão as minhas limitações, também em nada tenho a discordar sobre os dois outros tópicos abordados.

Realmente, o Serviço de Inspeção Federal, o tradicional SIF, foi até a alguns anos atrás um patrimônio nacional. Com existência que remonta aos idos da 1a Grande Guerra Mundial (1914/18), o SIF é produto da competência e da seriedade dos ensinamentos de grandes mestres europeus e da escola tecnológico-industrial de importantes empresas alienígenas da carne então aqui radicadas. Graças a três gerações de brilhantes e abnegados médicos veterinários inspetores, com remanescentes ainda atuantes, ele constituiu, ao longo de meio século, uma singular escola de trabalho pontificada pela mística do ideal, da competência, da seriedade e do patriotismo.

Não é fácil acreditar que em um país onde, notadamente na área pública, a descontinuidade e a inconseqüência são a mais das vezes a regra, uma instituição de governo tenha conduzido, por quarenta anos (meados da década de 30 a meados da década de 70) um trabalho planejado e de paciente execução continuada, como o que o SIF, com êxito, protagonizou na construção do moderno parque industrial brasileiro da carne, hoje recordista mundial de exportação de carne bovina. E o que mais impressiona e desafia a incredulidade é que este monumental trabalho de ordem tecnológico-industrial, de economia e planejamento, genuinamente nacional, tenha sido conduzido por uma instituição e profissionais de uma área fundamentalmente sanitária, de saúde pública e animal.

Essa longa empreitada da modernização e ampliação do parque industrial da carne, com ênfase para o abate, foi cristalizada pelo notável Programa da Federalização da Inspeção Sanitária, nos cinco primeiros anos da década de 70, uma iniciativa do próprio SIF de âmbito nacional.

Para se ter uma imagem do vulto, da importância e do êxito do programa da Federalização somente em matadouros frigoríficos, o Brasil foi beneficiado – e somente naquele lustro – por 100 unidades modernas, entre novas e de grandes reformas. Cerca de 70% (setenta por cento) da carne consumida no País chegou a ser sob Inspeção Federal.

Deploravelmente, o Programa da Federalização foi, em 1974, derrubado, sem alternativas, por interesses ilegítimos, políticos e econômicos. Embora deixando para o País um impressionante saldo de realizações, em que ficaram patentes acima de tudo a sua eficiência e seus padrões éticos e morais, o SIF foi de então para frente abandonado pela Administração Pública, que se revelou, assim, extremamente incompetente, no mínimo. As diretorias do Órgão que se seguiram, com raríssimas e honrosas exceções, foram desastradas e ineptas.

Com isso, o prestígio, a eficiência e a personalidade marcantes do Órgão despencaram e persiste assim justamente quando ele mais necessita daquelas condições como integrante do esquema das exportações, atualmente em seu ápice.

A acalentada esperança é que a atual – e ainda recente – Diretoria do SIF, jovem, impoluta e competente, reúna os seus melhores esforços na recuperação do seu Serviço e na solução dos seus agudos problemas pendentes, muitos decorrentes da deterioração do Órgão e com implicações nas exportações da carne.

Para essa recuperação, este Serviço tem potencial, sobretudo comprovado em seu brilhante passado. Também indispensável que a alta administração do Governo em considerando a indispensabilidade do SIF e em conhecendo e homenageando a sua história, dê-lhe os recursos para a execução das peculiaridades de seu trabalho. Em termos de exportação de carne, o grande item da atualidade, é fundamental considerar que a eficiência do SIF é condição “sine qua non”. E o Brasil precisa e quer essa exportação.

Cumprimentos ao professor Pedro Felício pela felicidade e oportunidade do tema.

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1José Christovam Santos, Médico Veterinário formado em 1949, ingressou na Inspeção Federal em 1950. Foi chefe da Defesa Sanitária Animal de São Paulo de 1976 a 1979. A partir da década de 70, na Faculdade de Engenharia de Alimentos, da UNICAMP (FEA), exerceu a docência e a pesquisa na Área de Tecnologia de Carnes e Derivados, até 1995. Em fevereiro de 1972, foi designado para presidir a implantação da “Federalização da Inspeção Sanitária no Estado de São Paulo”, que viria privilegiar o incentivo à construção de matadouros-frigoríficos de médio porte, em substituição aos precários estabelecimentos existentes.

0 Comments

  1. José de Barros Vieira disse:

    Gostaria de parabenizar o Dr. José C. Santos pelo artigo e pela notável maneira que comenta o caso da revogação da Lei da Federalização.

    Uma das soluções para que o SIF possa retomar sua credibilidade interna como externa, haja visto a recente suspensão das exportações de derivados de carnes aos EUA face a exigências parecidas e concordantes com as do autor.

    Atenciosamente,

    José de Barros Vieira
    CRMV SP 4022