O Brasil poderá produzir 141,9 milhões de toneladas de grãos em 2010, exportar 18,5 milhões de toneladas e garantir um saldo positivo na balança comercial de US$ 29,3 bilhões, se somadas as 15 principais cadeias produtivas. A previsão faz parte de um estudo elaborado para a Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) que servirá de base para a criação de um plano estratégico para o setor para os próximos oito anos.
Não é a primeira vez que campo e indústrias tentam elaborar um plano estratégico. No entanto, acredita o presidente da Abag, Roberto Rodrigues, nunca houve momento mais oportuno. As eleições no país e a atenção em todo o mundo para a questão do protecionismo agrícola dão força nova às propostas. Ele está otimista com a ampliação de acesso a mercados. “O processo de protecionismo caminha para o fim”, disse. Para ele, a lei agrícola americana (“Farm Bill”) é um dos últimos suspiros do protecionismo. A abertura, acredita, virá em quatro ou cinco anos. Por isso a Abag quer discutir os objetivos do setor e levar essas propostas aos candidatos à presidência da República.
O estudo elaborado por um grupo de economistas liderados por Ivan Wedekin e Paulo Rabelo de Castro, da RC&W Consultores, foi apresentado ontem no Congresso Brasileiro de Agribusiness. Alcançar a produção de 141,9 milhões de toneladas de grãos será possível se o país conseguir elevar um pouco o ritmo de crescimento atual, ou seja, chegar a 4,1% ao ano de crescimento. Se for mantido o cenário de hoje (3,4% ao ano) a safra chegará a 133,1 milhões de toneladas em 2010, calcula o estudo. O saldo comercial para o país poderia ser de 19 milhões de toneladas em grãos. “O Brasil vai assustar ainda mais seus concorrentes”, prevê Wedekin.
O trabalho, que levou em conta o poder de compra no Brasil e no mundo e o crescimento da produção em outros países, vê boas perspectivas para o setor sucroalcooleiro e nas carnes, “o Brasil tem céu de brigadeiro”, nas palavras de Wedekin. O aumento médio de produção será de 3,5% ao ano e de exportação de 4,5%. Ao ver os números, exportadores e produtores acharam suas previsões muito modestas. Falar em 300 mil toneladas de exportação de suínos em 2005 e 1,5 milhão para frango é pouco, é praticamente o que poderemos embarcar neste ano, reclamou um representante do setor. “Mas já combinaram o jogo com os russos?”, brincou Wedekin, ao lembrar que o país é dependente de três mercados para suínos e que Europa e Ásia devem ampliar a produção, o que significa mais concorrência.
O Brasil deve exportar 1,3 milhão de toneladas de carne bovina e a produção atingir 9,5 milhões de toneladas contra as atuais 3,5 milhões. Diante de metas tão ousadas e abundantes, a previsão para o saldo da balança comercial em 2010 é de US$ 29 bilhões.
Com esse crescimento do setor deve melhorar bastante o Valor da Produção Agropecuária (VPA), que pode sair de US$ 38,6 bilhões para US$ 53,9 bilhões em 2010. Isso melhorará a renda per capita no campo, que terá seu PIB crescendo a uma média de 5,7% ao ano, enquanto o PIB urbano deve aumentar 2,1% ao ano no período. “Com esse cenário estaríamos em condições de proporcionar a redistribuição de renda no campo”, disse o economista. Em 2001, por exemplo, a renda per capita no campo foi de apenas 45% da renda nas cidades.
Para Castro, toda essa mudança se dará com menor participação do governo, o que não é ruim. “O setor não precisa de crédito subsidiado. Precisa de uma base de crédito e uma coordenação setorial”, disse, ao sugerir a criação de um Conselho Brasileiro do Agronegócio.
Fonte: Valor On Line (por Carlos Raíces) e Clic RBS/Agrol, adaptado por Equipe BeefPoint